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5. A Solvência e a Equidade de um Esquema de Contas Nocionais de Contribuição Definida

5.1 Análise da Solvência

5.1.2 A Solvência de Longo Prazo

5.1.2.2 Stress Tests ao Número de Contribuintes

A existência, no sistema sueco, de uma ligação direta entre as contribuições efetuadas e as responsabilidades por elas geradas torna indiferente a causa da redução do número de contribuintes, a qual pode resultar do aumento da taxa de desemprego, da quebra das taxas de fecundidade, do aumento da emigração, da redução da imigração ou do aumento da mortalidade da população ativa. Assim, de entre as várias causas plausíveis de influenciar a redução do número de contribuintes, optou-se por efetuar os stress tests sobre a taxa de desemprego, porque o efeito de qualquer uma delas no final reflete-se no número de contribuintes. As restantes causas diminuem a população em idade ativa pelo que, mantendo a taxa de desemprego, reduzem também o número de contribuintes. O referido vínculo entre contribuições e responsabilidades torna, assim, indiferente qual das causas ocorre, pois no final o resultado será equivalente. Por exemplo, um aumento, ceteris paribus, do desemprego numa determinada idade equivale, em termos agregados, a um acréscimo, ceteris paribus, da mortalidade nessa mesma idade, dado que as responsabilidades dos desempregados ficam escrituradas na sua conta nocional para receberem a respetiva pensão quando se reformarem, enquanto as contas nocionais dos falecidos são redistribuídas pelas pessoas vivas com a mesma idade, ficando o balanço do sistema igual em ambas as contingências. O mesmo sucederá, de forma análoga, à diminuição do saldo líquido da migração.

A indiferenciação das causas é admissível uma vez que os impactos finais são os mesmos para cada uma daquelas contingências, pois a redução do número de contribuintes nunca implica uma anulação das

responsabilidades escrituradas nas contas nocionais que conduza a uma melhoria da solvência do sistema. Também para a fecundidade tal não se verifica, na medida em que para esta contingência nunca chegam a existir contas resultantes de uma sua quebra.

Em 2011, no exercício de stress tests39

efetuado ao setor bancário sob o patrocínio da European Banking

Authority (2011) a aferição do impacto da taxa de desemprego na solvência dos bancos, causada pelo

nível de incumprimento das prestações pecuniárias face ao crédito concedido, implicava, em 2012, uma subida da taxa de desemprego em Portugal, entre o cenário base expectávele o cenário adverso de 1,7%, o que se traduz numa redução de cerca de 2% do número de contribuintes, sendo este o valor base do choque assumido na determinação dos três cenários testados40

:

- Cenário 1 – Aumento instantâneo e permanente da taxa de desemprego, conducente a uma redução de 2% do número de contribuintes em todos os anos, face à situação de equilíbrio. O objetivo é o de avaliar o efeito de um choque instantâneo, que se mantém no longo prazo. Trata-se do cenário denominado em forma de L;

- Cenário 2 – Aumento anual constante da taxa de desemprego nos próximos 75 anos, traduzida numa diminuição de 2% do número de contribuintes no final deste período, relativamente à situação inicial. O objetivo é o de aferir o efeito de um choque continuado ao longo do tempo. É o designado cenário em forma de ∖;

- Cenário 3 – Aumento da taxa de desemprego nos cinco primeiros anos, conducente a uma redução de 2% do número de contribuintes. No sexto ano retoma-se o valor original de equilíbrio. O objetivo é o de analisar a resposta do sistema a choques temporários de curto prazo que rapidamente voltem à situação original. Se o período de tempo assumido de duração do choque fosse outro, as conclusões seriam análogas, pois parte-se de uma situação de equilíbrio, pelo que mais nenhum fator influencia o sistema a não ser o choque. É denominado de choque em forma de U.

À semelhança do que se fez nos stress tests à longevidade dos pensionistas, os gráficos seguintes apresentam a evolução do fundo de reserva expresso em percentagem do ativo do sistema, para os três cenários de número de contribuintes anteriormente definidos, com e sem ABM.

No gráfico seguinte apresenta-se a evolução do saldo acumulado dofundo de reserva, em percentagem do ativo, sem existência do ABM.

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O objetivo deste exercício de stress test consistiu na avaliação da resiliência do sistema bancário da EU e na solvência individual dos bancos, a cenários adversos. Envolveu mais de 65% dos ativos do sistema bancário da EU e pelo menos cerca de 50% dos setores

bancários de cada Estado-Membro. Para maior aprofundamento consultar European Banking Authority (2011).

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Gráfico 5: Saldo do fundo de reserva - população estacionária - sem ABM -

stress tests ao número de contribuintes

Fonte: cálculos do autor.

No próximo gráfico ilustra-se a evolução do saldo acumuladono fundo de reserva, em percentagem do valor do ativo, com a incorporação do ABM.

Gráfico 6: Saldo do fundo de reserva - população estacionária - com ABM -

stress tests ao número de contribuintes

Fonte: cálculos do autor.

O gráfico seguinte apresenta a evolução do índice de equilíbrio perante a ocorrência dos três cenários.

-2,5% -2,0% -1,5% -1,0% -0,5% 0,0% 1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73 Per ce n tagem d o ativ o d o si ste m a Ano de Projeção

Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3

-0,12% -0,10% -0,08% -0,06% -0,04% -0,02% 0,00% 0,02% 1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73 Per ce n tagem d o ativ o d o si ste m a Ano de Projeção

Gráfico 7: Índice de equilíbrio - população estacionária - com ABM -

stress tests ao número de contribuintes

Fonte: cálculos do autor.

Da análise aos gráficos, no que respeita aos cenários alternativos estabelecidos, podemos concluir que: - No cenário 1, sem a existência do ABM, o esquema caminha continuadamente no sentido do

aumento da insolvência, estabilizando ao fim de 58 anos em cerca de -2,1% do ativo (Gráfico 5). Com a incorporação do ABM, dá-se a sua ativação apenas no início, nos três primeiros anos, provocando um corte permanente de, aproximadamente, 2,06% nas pensões e nas contas nocionais (Gráfico 7). Por outro lado, atendendo à simplificação admitida das pensões não terem indexação, ao sofrerem um corte permanente de 2,06%, então, inicialmente, regista-se um saldo positivo de 0,06%, entre as contribuições recebidas e as pensões pagas, resultante da diferença entre o corte das pensões de 2,06% e os 2% da diminuição dos contribuintes e consequentemente das contribuições,que vai reduzindo, o que permite a recuperação gradual do fundo de reserva e o retorno à situação de solvência (Gráfico 6). Conclui-se que, perante a ocorrência de um choque desta natureza e magnitude, o esquema torna-se solvente, embora muito tardiamente, no longo prazo, mas não consegue repor os valores iniciais das contas nocionais e das pensões;

- No cenário 2, verifica-se uma diminuição anual continuada das contribuições. Assim, como se observa no Gráfico 5, perante um choque deste tipo, um esquema NDC não assegura a solvência de longo prazo. Com a inclusão do ABM, este será sempre ligeiramente ativado durante todo o período de vigência do choque, aumentado cumulativamente o seu impacto ao longo do tempo (Gráfico 7). Tal sucede porque o número de contribuintes não só não estabiliza como se reduz um pouco todos anos. Assim, o sistema não consegue regressar ao equilíbrio dos saldos e o

96% 97% 98% 99% 100% 101% 1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73 Ano de Projeção

fundo de reserva perde continuadamente valor denotando, no longo prazo, alguma tendência de manutenção dessa perda (Gráfico 6).

Conforme se observa no Gráfico 7, as contas nocionais e as pensões iniciam uma trajetória decrescente, nunca havendo o restabelecimento do montante original. Da observação do Gráfico 5, conclui-se que, sem a incorporação do mecanismo, o sistema conduz a uma trajetória sempre negativa do valor do fundo de reserva e de uma forma mais acentuada do que na hipótese em que o mesmo se encontra embutido. Assim, perante um choque com estas caraterísticas, conclui-se que o esquema NDC sueco nunca é solvente, não permite a manutenção nem a reposição dos elementos do passivo;

- No cenário 3, no Gráfico 5 constata-se que o sistema começa por evoluir para a insolvência até ao sexto ano, infletindo o seu comportamento a partir desse momento, atingindo a solvência por volta dos 72 anos. Com a inclusão do ABM sucede, de início, o mesmo que no cenário 1, registando-se um aumento brusco dos saldos negativos acumulados do sistema (Gráfico 6), acompanhado de um corte súbito no valor das pensões e das contas nocionais, de cerca de 2,06%, conforme ilustrado pelo Gráfico 7. Decorridos cinco anos do choque original, as contribuições voltam ao seu valor inicial, o que permite recuperar o valor das pensões e das contas nocionais (Gráfico 7), repondo-se a solvência do sistema, com saldos acumulados excedentários, de harmonia com o Gráfico 6. Conclui-se que, perante um choque deste tipo, o esquema responde nos dois anos posteriores ao do final do prazo do choque com a reposição da posição de solvência e das rúbricas do passivo.

Da observação dos gráficos, conclui-se, à semelhança do ponto anterior, que a ativação do ABM contribui para a melhoria da solvência, dado que no cenário 1, com a incorporação daquele estabilizador, o sistema retorna à solvência, no longo prazo. No cenário 2, o esquema acumula sucessivamente défices, mas inferiores aos do cenário correspondente sem o mecanismo. No cenário 3, o sistema torna-se solvente com e sem a incorporação do ABM, ocorrendo, no primeiro caso, o reposicionamento mais rapidamente, isto é, num muito curto período de tempo, quando comparado com a situação de ausência do mecanismo.