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3. A Abordagem Teórica a uma Gestão da Transição

3.3 A Determinação do Capital Inicial

Tomando como referência o valor dos salários passados, o Capital Inicial, 𝐶𝐼𝑇,𝑖, para o indivíduo i, no

instante T, será dado por:

𝐶𝐼𝑇,𝑖 = ∑ 𝑐∗𝑤 𝑖,𝑡𝐼𝑡 𝑇 𝑡=1 (3.1) com 𝐼𝑡 = ∏(1 + 𝛼𝑡) 𝑇−1 𝑡=1

e

𝐼𝑇 = 1 ,

sendo 𝑤𝑖,𝑡 o salário do i-ésimo trabalhador no instante t, 𝑐∗ a taxa de contribuição do capital inicial, 𝐼𝑡 o

índice de revalorização das contribuições efetuadas até ao instante t, T o instante em que o capital inicial é calculado e creditado na conta e 𝛼𝑡 a taxa de retorno do instante t.

O capital total na aposentação é composto pela soma do capital inicial, determinado aquando da introdução do esquema NDC (eventualmente convertível em capital nocional inicial), acrescido das contribuições feitas nos anos subsequentes, adequadamente revalorizadas. Observando a expressão (3.1), resulta existirem três parâmetros fundamentais na determinação do capital inicial: 𝑤𝑖,𝑡, 𝑐∗ e 𝛼𝑡. No

que se segue analisar-se-ão formas possíveis da sua obtenção.

3.3.1 Os Salários Passados

Na determinação do capital inicial, a variável salarial é fulcral, visto dela resultar diretamente o montante anual das contribuições. Se houver um registo individualizado dos salários passados, a sua utilização é indispensável, dado o nível de rigor que aporta ao cálculo em apreço. Quando não exista, a alternativa reside no recurso a estatísticas oficiais a nível nacional, para estimação das remunerações. Seguidamente, descrevem-se três metodologias propostas em Palmer (2006b) para obtenção daquele capital a partir do tipo de informação disponível sobre salários:

- Hipótese I: Utilização das Contribuições Efetivamente Pagas no Passado – na possibilidade de se dispor do histórico das contribuições passadas, o que equivale a trabalhar-se com o registo passado dos salários, o problema do apuramento do capital inicial circunscreve-se à revalorização das contribuições até então efetuadas. A atribuição aos indivíduos do capital inicial resulta assim de forma simples e rigorosa, em linha com os descontos efetuados;

- Hipótese II: Uso do Histórico Salarial Conjugado com a Taxa de Contribuição do Futuro Esquema NDC – faz-se incidir a nova taxa de contribuição sobre o registo das remunerações passadas, quando disponível, revalorizando-as;

- Hipótese III: Utilização do Número Individual de Anos de Serviço – quando existam registos fidedignos acerca do número de anos de descontos efetuados, mas não haja informação fiável sobre os rendimentos individuais ou contribuições passadas, no momento da implementação, pode-se combinar aquela contagem com três subopções de tratamento salarial, nomeadamente:

a. Combinação da Antiguidade Individual com o Salário Médio Nacional – usa-se o salário médio nacional, do ano anterior à introdução do novo regime. O produto

deste pela antiguidade de cada trabalhador dará o capital inicial. Possui a vantagem do esquema se iniciar com uma escala em conformidade com o nível de evolução dos rendimentos médios em vigor;

b. Combinação da Antiguidade Individual com o Salário Médio Nacional Real ou Histórico por Género e por Idade – semelhante ao método anterior, mas nesta abordagem o salário nacional encontra-se estatisticamente distribuído por género e por idade. Dado o maior nível de detalhe da informação, é expectável a obtenção de montantes mais rigorosos, comparativamente aos da anterior, especialmente em populações detentoras de diferenças salariais médias influenciadas por aqueles dois fatores. A utilização de informação corrente ou histórica dependerá dos elementos disponíveis, influenciando o nível de rigor alcançável;

c. Combinação da Antiguidade Individual com o Salário Médio Individual determinado com base em Estimativas Imediatamente Anteriores e/ou Posteriores à Introdução do Novo Esquema – aplica-se o período de descontos à estimativa do salário médio individual no momento exatamente anterior ou posterior ao da determinação do capital inicial. Esta opção tenta refletir a distribuição passada dos rendimentos médios individuais e, simultaneamente, a das contribuições, com base na situação corrente do participante. Em nossa opinião, é uma assunção teoricamente justa, por admitir que os rendimentos atuais refletem o posicionamento passado relativo entre trabalhadores. Quando aplicada a países em que a informalidade laboral é elevada, ao usar-se informação de salários correntes, após implementação, está a incorporar-se um prémio para aqueles que declarem rendimentos e, consequentemente, contribuam após a conversão.

Recomenda-se a escolha de uma das opções anteriores suportada na informação disponível e em critérios claros e justos, evitando-se discriminações politicamente difíceis de defender. Independentemente da hipótese escolhida, subsistindo direitos garantidos não financiados é imprescindível a criação de um imposto, a ser imputado externa e explicitamente como uma componente do processo de transição.

3.3.2 A Taxa de Contribuição

Defendemos que a abordagem mais rigorosa de apuramento do capital inicial reside na Hipótese I, do ponto 3.3.1, ou seja, na adoção da taxa de contribuição vigente no passado, pois garante os direitos adquiridos até à data da transição. No entanto, a fixação da taxa de contribuição para o novo sistema deverá atender às vantagens e desvantagens decorrentes da sua alteração, sobretudo ao peso que a despesa acarreta e à adequação do nível de rendimentos na reforma. O aumento da taxa de contribuição

num esquema NDC apresenta a vantagem de proporcionar taxas de substituição superiores e, consequentemente, um maior nível de rendimentos na reforma, por contrapartida com a diminuição do rendimento presente disponível dos indivíduos. Incrementar a taxa de contribuição conduz a um aumento das rúbricas do balanço e, como tal, ao valor absoluto dos riscos a que o sistema se encontra exposto. A propósito deste aumento, Góra & Palmer (2004) chamam a atenção que, havendo estabilidade fiscal, a manutenção da taxa de contribuição ajuda a controlar automaticamente a escala do sistema e que um seu aumento se traduz num acréscimo do valor das contas e como tal do passivo. Ao invés, uma diminuição da taxa de contribuição provoca efeitos contrários, reduzindo taxas de substituição e a exposição ao risco. Ponderadas estas lógicas e considerando que, neste momento, será muito difícil defender social e economicamente uma reforma estrutural que provoque uma redução do rendimento disponível no presente aos indivíduos, face ao momento de austeridade orçamental que Portugal atravessa e que a introdução de um esquema NDC proporcionará taxas de substituição inferiores às do esquema NDB (as respeitantes a este último conduzem a uma elevada dívida implícita e incomportável para Portugal), em Serrano (2014) recomenda-se, então, a manutenção da taxa de contribuição no novo regime NDC para o nosso país.

Ainda no âmbito da fixação das taxas de contribuição, importa referir que, quando um Estado opta por manter transitoriamente o regime de benefício definido para uma parte da população, será provavelmente necessária a criação de um imposto exógeno ao esquema NDC, destinado a colmatar o diferencial de financiamento, o qual tende a desaparecer à medida que o tempo passa. Importa não esquecer que uma das principais motivações de uma transição é implementar-se uma arquitetura financeiramente sustentável, onde o nível e a manutenção da taxa de contribuição ao longo do tempo sejam questões fulcrais.

3.3.3 A Taxa Interna de Rendimento

Considerando a exaustiva explicação desenvolvida no ponto 2.3.4 sobre esta variável e pretendendo-se salvaguardar os direitos adquiridos à data de transição, acrescentamos ainda que o tratamento mais rigoroso reside em indexá-los à taxa de revalorização dos direitos em formação do anterior regime. Esta abordagem seria coerente, por exemplo, com a revalorização salarial estabelecida no regime português (artigo 27.º, do Decreto-Lei n.º 187/2007, de 10 de maio). Todavia, se se assumir no seu apuramento a indexação do futuro regime, seja ao salário médio ou à massa contributiva total, entendemos que o idêntico tratamento entre o cálculo dos direitos adquiridos no passado e os que se constituirão no futuro é uma abordagem consistente e una, provavelmente com poucos desvios face à revalorização vigente no regime antigo.