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O MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES DO BRASIL

nº 3.917/81, que autorizava a contratação de Auxiliar Local em caráter precário e demissível ad nutum, foi revogado pelo art 93 da Lei nº 7.501/86,

4.3 As Consequências da Contratação dos Auxiliares Locais

Conforme visto anteriormente, o Estado brasileiro há mais de seis décadas contrata brasileiros e estrangeiros a quem se destina a função denominada de Auxiliar Local, os quais prestam serviços públicos no exterior sem que haja qualquer lei ordinária que disponha sobre a criação de cargo ou emprego destinada a este quadro de agentes públicos.

Induvidosamente, como já visto anteriormente, a admissão deste pessoal sempre se deu pela Administração Pública direta federal, já que feita por órgãos desta pessoa jurídica, quais sejam, postos do Ministério das Relações Exteriores sediados fora do Estado brasileiro, sendo tal admissão realizada para o exercício de uma função pública, o que não deixa dúvidas de serem os Auxiliares Locais agentes públicos no sentido mais amplo do termo, conforme estudado no terceiro capítulo deste trabalho.

Ocorre que, como visto também no referido capítulo, a Administração Pública direta, nos termos da Constituição vigente no país desde 1988, somente pode admitir agentes

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Disponível em https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=201002244719&dt_publicacao =09/05/2011. Acesso em 27.09.2013.

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para o exercício de cargo, emprego ou função pública, sendo que para os dois primeiros é obrigatória a prévia aprovação em concurso público, salvo no caso de cargo em comissão e, para os cargos de provimento efetivo, nas hipóteses expressamente excepcionadas no texto constitucional.

Conforme visto no item 5.2.1 deste capítulo, a jurisprudência brasileira vem reconhecendo que a atividade exercida pelos Auxiliares Locais contratados antes do advento da atual ordem constitucional tem natureza de cargo público, não havendo, até então, discussão judicial a respeito do regime jurídico aplicável aos contratados após a Constituição.

Tal questão será objeto de análise do próximo capítulo, contudo, cabe aqui considerar que, atualmente, o regramento constitucional impõe ao Estado brasileiro, como regra, a admissão de pessoal mediante prévia realização de concurso, com vistas ao atendimento dos princípios da moralidade e impessoalidade, evitando os sempre existentes “apadrinhamentos” e visando à efetividade do serviço público brasileiro.

Certo é que, portanto, em não se tratando de exceção constitucional à realização de concurso público, não pode a Administração admitir pessoal sem o preenchimento desse requisito, o que, contudo, nunca foi exigido dos Auxiliares Locais.

Ainda, em consequência da contratação dos Auxiliares Locais sem a submissão deles a um regramento específico e diante das normas atualmente vigentes que a eles impõe a submissão às normas trabalhistas e previdenciárias do país onde são contratados, é possível destacar alguns direitos garantidos a todos os trabalhadores contratados pelo Estado brasileiro mas que a eles são negados, dentre os quais o direito à aposentadoria pela Previdência Social brasileira nos mesmos moldes aplicados aos servidores públicos que trabalham no Brasil, visto que os contratados locais não contribuem com a Previdência Social brasileira por não lhes ser reconhecido vínculo trabalhista com a União, mas sim com o Estado onde têm domicílio.

Pelo fato de não ocuparem cargo público na Administração Pública brasileira, o trabalhador que presta serviços no exterior na função de Auxiliar Local não tem o direito à inscrição como contribuinte do Sistema Previdenciário brasileiro, ficando sujeito à Previdência do país em que são contratados quando esse Estado assim o permite. No caso de não aceitação de recolhimento para a previdência local, o Auxiliar Local é compelido a filiar- se ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), no Brasil, pelo regime geral de previdência, destinado aos empregados celetistas.

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Portanto, os problemas que surgem em razão da contratação do Auxiliar Local sob a premissa de ser a ele aplicável a legislação do país onde for contratato, tanto no que diz respeito às regras trabalhistas quanto às regras previdenciárias, estão relacionados aos direitos desses agentes públicos à submissão a um regime jurídico brasileiro que proporciona garantias individuais, bem como ao direito à filiação a um regime previdenciário brasileiro que é garantido a todo e qualquer agente público, seja ele contratado pela Administração direta ou indireta brasileiras, o que não se garante ao Auxiliar Local por não lhe ser reconhecido um vínculo jurídico-administrativo.

O que se verifica, na prática, é um total desamparo em que vivem os chamados contratados locais, pela total ausência de proteção previdenciária e social a que o Estado brasileiro vem submetendo não só os cidadãos brasileiros, mas também os estrangeiros que, residindo no exterior, buscam alternativas de trabalho junto aos Postos de representação diplomática do Brasil.

De se ressaltar que foi com a edição da Lei n.º 7.501, de 27 de junho de 1986, instituidora do Regime Jurídico dos Servidores do Serviço Exterior brasileiro, que foram estabelecidas novas regras para a contratação de Auxiliar Local, impondo-lhes a submissão às normas locais, a partir do que a relação trabalhista dos Auxiliares Locais foi substancialmente alterada, tendo havido grave prejuízo para os trabalhadores, especialmente para aqueles que residem em países que não permitem a filiação ao seu sistema previdenciário, como é exemplo os Estados Unidos da América.

Portanto, diante desse quadro, o objetivo desta tese é a busca de soluções que visem proporcionar aos Auxiliares Locais as garantias trabalhistas e previdenciárias dispensadas a todos os demais servidores e funcionários da iniciativa pública e privada brasileiras.

Para tanto, será essencial a distinção entre os novos contratados e a situação daqueles que foram contratados antes da edição da Lei n.º 8.112/90 – que deveriam ter sido enquadrados em cargo público logo a seguir à publicação do Regime Jurídico Único, como vem reconhecendo a jurisprudência brasileira.

É do conhecimento público em geral, muito especialmente da Advocacia Geral da União e do Ministério Público Federal – até porque atuam nos processos judiciais que tramitam no Poder Judiciário brasileiro - além do Tribunal de Contas da União, que tramita

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um sem número de ações judiciais nas quais os chamados Auxiliares Locais solicitam o direito ao enquadramento em cargo público.

A Advocacia Geral da União mantém, no que se refere às ações judiciais propostas pelos Auxiliares Locais, sua postura de defensora do Estado brasileiro a qualquer custo, sob a alegação de que os contratos de tais servidores estariam regidos pela legislação do país onde são prestados os serviços, além de outras fundamentações que vêm sendo, reiteradamente, renegadas pelo Poder Judiciário brasileiro.

Desde os idos de 1993 que muitos Auxiliares Locais, contratados antes da edição da Constituição de 1988, vêm buscando assegurar os seus direitos trabalhistas e o enquadramento em cargos públicos. Fazem isso tanto por meio de ações trabalhistas intentadas junto aos Tribunais do Trabalho quanto via ação Ordinária no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, bem como pela impetração de Mandados de Segurança (contra ato do Senhor Ministro de Estado das Relações Exteriores) perante o Superior Tribunal de Justiça.

Apesar dos diversos argumentos de defesa que vêm sendo apresentados pela Advocacia-Geral da União, os tribunais brasileiros têm decidido a favor do direito ao enquadramento em cargo público a todo servidor que em 05/10/88 possuía mais de cinco anos de exercício continuado na função. A decisão está amparada pelas disposições do artigo 19, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias de 1988, e do artigo 243 da Lei n.º 8.112/90, conforme se vê das ementas dos julgados transcritas neste capítulo e colacionadas em anexo.

A análise a respeito de todas essas questões, portanto, será feita no próximo capítulo.