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O MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES DO BRASIL

nº 3.917/81, que autorizava a contratação de Auxiliar Local em caráter precário e demissível ad nutum, foi revogado pelo art 93 da Lei nº 7.501/86,

4.2.2 Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal

Ao Supremo Tribunal Federal (STF) compete, precipuamente, a guarda da Constituição74. Contudo, a despeito de não restar dúvida alguma quanto ao fato de que somente em matéria eminentemente constitucional caberia a interposição de recurso ao STF, não tem sido esta a prática adotada pela Advocacia-Geral da União.

Sabe-se que uma das causas da sobrecarga e da consequente lentidão da Justiça é o excesso de recursos interpostos pela União. No entanto, a pretexto da contrariedade ao disposto no artigo 5º, XXXV75, e 93, IX76, tornou-se lugar comum a interposição, pela Procuradoria-Geral da União, de todo e qualquer tipo de recurso possível, com o propósito de desconstituir as decisões dos Tribunais que vêm, desde os idos de 1993, concedendo aos Auxiliares Locais o direito de se verem enquadrados no Regime Jurídico Único, de acordo com o artigo 243 da Lei n.º 8.112/1990 e artigo 19 do ADCT (Atos das Disposições Constitucionais Transitórias).

Em relação a esta questão, o ex-Advogado da União e atual ministro do Supremo Tribunal Federal, José Antônio Toffoli, em entrevista concedida em 06 de maio de 200977, quando indagado se o Estado não seria o principal culpado pelo excesso de ações e de recursos intermináveis, assim se pronunciou:

“O estado já foi um dos maiores provocadores de ações na Justiça por causa da época da inflação. Ainda temos alguns esqueletos no Supremo, mas esse rescaldo dos planos econômicos está acabando. Aqui na AGU estamos tentando contribuir para reduzir mais ainda a morosidade da Justiça. Criamos câmaras de conciliação para evitar que brigas entre órgãos federais cheguem à Justiça. O governo precisa se mexer, modernizar-se constantemente, porque o cidadão não pode ter raiva do estado, como ocorre hoje. O estado precisa ser mais ágil e o governo não pode ser um bicho-papão”.

74Constituição Federal do Brasil, artigo 102.

75Constituição Federal do Brasil, artigo artigo 5º,“XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário

lesão ou ameaça a direito”.

76Constituição Federal do Brasil, artigo 93, “IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão

públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)”

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Da fala do eminente ministro Toffoli, merece especial destaque a alegada razão motivadora da necessidade de que o governo precisaria modernizar-se constantemente, sob o argumento de que “o cidadão não pode ter raiva do Estado”.

Tendo em vista que tal entrevista foi concedida no momento em que o atual Ministro do STF ainda ocupava o cargo de Advogado-Geral da União, vê-se que teria ele exercido pouca influência sobre os membros da Advocacia Pública, pois que a nefasta prática da interposição de recursos não só continuou a existir, como tem tomado novos rumos, senão mais perversos, agora muito mais prejudiciais aos direitos dos Auxiliares Locais.

Tem sido corriqueira a interposição de Embargos de Declaração, sob a alegação de que o julgado merece ser aclarado, tendo em vista a omissão e a contradição ali presentes. No entanto, os fundamentos adotados no recurso demonstram que foram tomados, nos dias atuais, novos rumos que contradizem totalmente a idéia esposada pelo antigo chefe da Advocacia da União que, na mesma entrevista, declarou ter aceitado o cargo justamente para enfrentar o desafio de mudar a cultura jurídica.

Dessa maneira, a questão que merece aqui ser destacada diz respeito aos recursos reiteradamente interpostos pela Advocacia Geral da União em oposição às decisões dos órgãos judiciais quando dos julgados favoráveis ao enquadramento dos Auxiliares Locais em cargo compatível com a função desempenhada.

Ao longo das últimas décadas que sucederam a edição da Constituição Federal de 1988, a Advocacia-Geral da União tem se insurgido contra o direito dos locais, pela apresentação de argumentos diversos que parecem não condizer com as normas estabelecidas e já apresentadas neste trabalho, conforme será analisado no último capítulo. Uma análise histórica dos argumentos apresentados pela AGU, no sentido de contestar, ou até mesmo de se insurgir contra os acórdãos do Superior Tribunal de Justiça (STJ) demonstra claramente o inconformismo daquele órgão.

Parte de toda essa questão envolvendo a situação dos Auxiliares Locais, todavia, está perto de ser decidida pelo Supremo Tribunal Federal que, em sessão realizada em setembro de 2011, reconheceu a repercussão geral da matéria relativa ao enquadramento, como servidor público estatutário, do Auxiliar Local contratado antes do advento da Constituição Federal de 1988.

A análise a ser feita pela egrégia Corte dirá respeito à interpretação do artigo 19 do ADCT (Atos das Disposições Constitucionais Transitórias), a fim de se identificar se o

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brasileiro contratado antes da entrada em vigor da Constituição de 1988 tem o direito de obter estabilidade na forma do Regime Jurídico estabelecido pela Lei n.º 8.112/90. Confira-se a ementa do referido julgado, in verbis:

Recurso Extraordinário. 2. Missão Diplomática no Exterior. 3. Contratação de

Auxiliar Local anteriormente à Constituição de 1988. 4. Acórdão recorrido que

concede a ordem em mandado de segurança para determinar o enquadramento da recorrida em cargo compatível com as funções que exercia. 5. Interpretação

do artigo 19, parágrafo 2º, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) para identificar existência ou não de óbice à estabilidade. 6. Tema que

alcança relevância econômica, política e jurídica que ultrapassa os interesses subjetivos da causa. Questão que reclama pronunciamento jurisdicional deste Supremo Tribunal Federal. Repercussão Geral reconhecida. (RE 652229 RG,

Relator(a): Min. GILMAR MENDES, julgado em 29/09/2011, DJe-204 DIVULG 21-10-2011 PUBLIC 24-10-2011 EMENT VOL-02613-03 PP- 00443).78 (grifei)

De se ver, pois, que a questão ainda não foi analisada pelo Supremo Tribunal Federal Brasileiro, não havendo, portanto, entendimento jurisprudencial da questão constitucional a respeito do tema, já que até a presente data foi o Superior Tribunal de Justiça que analisou a questão e tendo por base tão somente as normas infraconstitucionais.