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O REGIME PREVIDENCIÁRIO BRASILEIRO

3.1 O Direito Previdenciário na Constituição Brasileira

3.1.2 O Regime Próprio da Previdência dos Servidores Públicos

Em face da especial vinculação do servidor público com o empregador – o Estado –, o regime previdenciário sempre mereceu disciplina constitucional especial, distinta daquela atinente aos demais trabalhadores que se dedicam à prestação de serviços na seara privada.

Muitos são os traços que distinguem as duas categorias de trabalhadores, a começar pelo vínculo que une os seus integrantes aos respectivos empregadores. Há contornos gerais a serem observados no regime ditado pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), podendo, no entanto, existir liberdade de convenção entre as partes, ao passo que na vinculação do servidor estatutário tal possibilidade simplesmente não existe, somente podendo haver atuação sub lege, ou seja, debaixo da lei e estritamente de acordo com ela.

Deve-se ressaltar que depende do vínculo trabalhista existente entre as partes, se de natureza contratual ou estatutária, para ser feita a escolha do regime previdenciário ao qual

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será integrado o trabalhador. Enquanto os servidores públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios podem possuir regime próprio de previdência, ou excepcionalmente estarem integrados ao regime geral, como é o caso dos servidores contratados por tempo determinado53 e dos ocupantes de cargo em comissão, os demais trabalhadores vinculam-se obrigatoriamente a este último, conforme dito anteriormente.

Dessa análise verifica-se que não se confundem o regime trabalhista e o regime previdenciário, os quais estão ligados umbilicalmente, mas que são institutos completamente distintos, conforme será explicitado no item a seguir.

Os servidores públicos federais, investidos em cargo de provimento efetivo, contam com regime próprio de previdência, conforme preceitua a atual Constituição Federal,

in verbis:

“Artigo 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003).”

No que diz respeito ao Regime Previdenciário Próprio do Servidor Público (RPPSP), veja-se a seguir o que estabelece a Lei n.º 8.112/1990:

“Artigo 183. A União manterá Plano de Seguridade Social para o servidor e sua família.

§ 1º O servidor ocupante de cargo em comissão que não seja, simultaneamente, ocupante de cargo ou emprego efetivo na administração pública direta, autárquica e fundacional não terá direito aos benefícios do Plano de Seguridade Social, com exceção da assistência à saúde. (Redação dada pela Lei nº 10.667, de 14.5.2003).”

No parágrafo primeiro, como se observou, a fim de que não fosse dada margem a quaisquer outras interpretações, tratou o legislador de deixar claro que a cabeça do artigo refere-se especialmente ao servidor ocupante de cargo efetivo, conforme conceito apresentado no artigo 2º da Lei n.º 8.112/90, segundo o qual: “para os efeitos desta Lei, servidor é a

pessoa legalmente investida em cargo público”.

Por seu turno, o artigo 3º e seu parágrafo único trazem o necessário esclarecimento sobre o conceito e a possibilidade de acesso a cargo público, assim dispondo:

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“Artigo 3º - Cargo público é o conjunto de atribuições e responsabilidades previstas na estrutura organizacional que devem ser cometidas a um servidor. Parágrafo único. Os cargos públicos, acessíveis a todos os brasileiros, são criados por lei, com denominação própria e vencimento pago pelos cofres públicos, para provimento em caráter efetivo ou em comissão.”

A interpretação possível dos artigos acima reproduzidos permite concluir que somente o servidor efetivo e sua família podem vincular-se ao Plano de Seguridade Social mantido pela União.

Merece destaque, mais uma vez, o fato de que os servidores públicos federais ocupantes de cargos de provimento em comissão, sem vínculo efetivo com a Administração Pública Federal, vinculam-se, obrigatoriamente, ao Regime Geral de Previdência Social (RGPS), tendo em vista determinação neste sentido estabelecida pelo já citado parágrafo primeiro do artigo 183 da Lei n.º 8.112/1990 combinado com a Lei n.º 8.213/1991. Estes dispositivos disciplinam o Regime Geral da Previdência Social, além da Lei n.º 8.647, de 13 de abril de 1993, que dispõe sobre a vinculação do servidor público civil ocupante de cargo em comissão sem vínculo efetivo com a Administração Pública.

Ainda quanto ao sistema previdenciário dos servidores públicos, é importante dizer que a Emenda Constitucional 20/98 acrescentou o § 14 ao artigo 40 da Constituição, autorizando a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios a limitarem a cobertura do RPPSP ao teto do Regime Geral da Previdência Social, desde que instituíssem fundos de pensão para os seus servidores.

Em 2003, a Emenda Constitucional 41/2003 modificou a redação dada pela Emenda Constitucional 20 ao § 15 do artigo 40, substituindo a exigência da Lei Complementar por Lei Ordinária e determinando que o fundo de pensão do servidor ofertasse aos seus participantes planos de benefícios somente na modalidade de contribuição definida.

Embora prevista pela Constituição de 1988 a Previdência Complementar do servidor público, apenas em 2012 foi aprovada a lei que autorizou a criação da Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal (Funpresp).

Com isso, para os servidores que ingressarem no serviço público após a instituição do fundo, haverá limitação ao valor das aposentadorias e pensões no serviço público civil, que deixará de ser integral ou de ter por base de cálculo a totalidade da remuneração, e ficará limitado ao teto do Regime Geral de Previdência Social (RGPS). E para fazer jus a esse benefício limitado ao teto, o servidor contribuirá com 11% até esse limite.

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Com relação aos servidores públicos temporários, estes estão sujeitos ao Regime da Previdência Social. Como explica Di Pietro (2013, p. 635), “para o servidor ocupante

exclusivamente de cargo em comissão, bem como de outro cargo temporário ou de emprego público, aplica-se o regime geral de previdência social (§ 13 do artigo 40)”, sendo válido,

para fins de aposentadoria, o tempo de contribuição na Administração Pública enquanto servidor temporário.

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CAPÍTULO 4