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O DIREITO COMPARADO

5.1 O Vínculo existente entre os Estados e o Servidor Público

O vínculo formado entre o Estado e o servidor ocupante de cargo público tem sido considerado, tradicionalmente, como de natureza estatutária. Entende a doutrina que o regime estatutário da função pública é o que melhor atende aos interesses da supremacia do interesse público, visto que é fixado e alterado unilateralmente pelo Estado, sempre que necessário à consecução dos interesses públicos.

Sabe-se que há diferentes tratamentos dados ao regime trabalhista. Tanto há países que entendem os regimes estatutários como matéria de Direito Público como há também Estados que entendem a função pública como uma relação de Direito privado.

A fim de se ter uma visão geral sobre a questão da função pública no mundo, reproduz-se a seguir o resultado de um estudo, feito em 2007, realizado pelo Instituto Nacional de Administração (INA) e pelo DGAEP (Direcção-Geral da Administração e do Emprego Público), com apoio do governo de Portugal, do Fundo Social Europeu e do Programa Operacional da Administração Pública.

5.1.1 Dados do relatório final do Estudo Comparado de Regimes de

Emprego Público de Países Europeus

De acordo com os dados do relatório final do Estudo Comparado de Regimes de Emprego Público de Países Europeus88, publicado em 2007, em praticamente todos os nove

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O estudo foi realizado pelo Instituto Nacional de Administração (INA) e pelo DGAEP (Direcção-geral da administração e do emprego público), com apoio do governo de Portugal, do Fundo Social Europeu e do

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países pesquisados – Itália, França, Espanha, Irlanda, Finlândia, Alemanha, Suíça, Suécia e Reino Unido – ocorre a dualidade de regimes de emprego público. Ou seja, a nomeação e o contrato individual de trabalho (CIT). Na Suécia acontece apenas o CIT, no entanto regido pelo Direito Público.

Enquanto a nomeação é regulada pelo Direito Público (o Direito Administrativo), o CIT segue o Direito Privado (a lei geral do trabalho), com exceção do que ocorre na Suécia, citado anteriormente, na França, com os funcionários que não são titulares, e na Espanha, onde, segundo o estudo, embora “os CIT sejam regulados pelo direito privado, estão abrangidos por um quadro legal comum a todo o emprego público”.

Com relação às reformas administrativas, o Estudo revela que:

“Genericamente as reformas têm incidido nos seguintes vectores: abertura do emprego público aos contratos individuais de trabalho (mas sempre regulados por contratação colectiva), descentralização, aumento da autonomia dos organismos públicos (total ou parcial em função da especificidade de cada país), adopção de modelos de gestão por objectivos e de avaliação de desempenho, flexibilização dos processos de progressão e mobilidade, introdução de critérios de desempenho nos sistemas remuneratórios.”

Sobre a forma de ingresso no serviço público, nos nove países em questão, o estudo esclarece que:

“Na Suíça, na Irlanda, na Itália e na Finlândia o recrutamento é sempre por concurso público, tanto para o regime de nomeação como para o regime de contratação individual. Na França, pratica-se o concurso público externo para o pessoal a recrutar, em regime de nomeação, com excepção de algumas funções específicas (militares e magistrados) em que os concursos são internos. Na Alemanha, também, se utiliza o concurso público para recrutamento dos funcionários públicos. Mas a nomeação só acontece após um período de estágio probatório.”

No Reino Unido só são realizados concursos públicos para os Civil Servants89 e na Suécia o concurso é feito apenas para o recrutamento de juízes e diplomatas. Ainda de acordo com o estudo “na Espanha o processo de recrutamento é definido pelos serviços, não

existindo uma regra comum obrigatória. Na Finlândia, apesar da prática corrente de recrutamento por concurso, os respectivos métodos e critérios são definidos pelos organismos”.

Programa Operacional da Administração Pública. Disponível em http://www.dgaep.gov.pt/upload/homepage/ Relatoriofinal.pdf. Acesso em 21 mai 2013.

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Especificamente sobre os servidores públicos alemães, Araújo (1998, p. 327) explica que:

“A Lei fundamental de Bonn de 1949 (Grundgesetz) torna possível a coexistência, no âmbito da Administração Pública, de pessoal sujeito a um estatuto de direito público – os funcionários públicos (Beamten) – e de pessoal regido pelo regime privado – os empregados públicos (Arbeitnehmer). Estes, por sua vez, subdividem-se em duas categorias: os Angestellten, empregados que exercem atividades de caráter intelectual, e os Arbeiter, empregados cujas atividades são predominantemente manuais.”

Saindo do continente europeu, serão apresentadas algumas peculiaridades do servidor público em outras partes do mundo.

No México, por exemplo, havia uma distinção entre funcionário e servidor público que foi extinta em 1982 com a reforma constitucional. Em seu artigo 108, a Constituição Mexicana90 dispõe que:

“Se reputarán como servidores públicos a los representantes de elección popular, a los miembros de los poderes judicial federal y judicial del Distrito Federal, a los funcionarios y empleados y, en general a toda persona que desempeñe un empleo, cargo o comisión de cualquier naturaleza en la administración pública federal o en el Distrito Federal, así como a los servidores del Instituto Federal Electoral.”

Sobre a denominação atribuída a servidores em lugar de funcionários, Guerrero (1998, p. 52-53) assim considera:

“La nueva denominación de servidores en lugar de funcionarios, contribuye no sólo a desterrar la prepotencia, negligencia y desdén con que suelen conducirse diversos servidores públicos de cualquier nivel, sino a hacer conciencia en la propia comunidad sobre la función de servicio que los mismos desempeñan y la pertinencia en exigirles el estricto cumplimiento de sus obligaciones, así como el correspondiente respeto a los derechos e intereses de los gobernados, en beneficio del Estado de derecho.”

Segundo a nova Ley del Servicio Profesional de Carrera en la Administración

Pública Federal91 mexicana, publicada no Diário Oficial daquele país, em 2007, o ingresso ao serviço público federal está a cargo de comitês técnicos de seleção. Em seu capítulo 6, artigo 17, dispõe a lei que:

“los Comités Técnicos de Selección son los cuerpos colegiados que se integran en cada dependencia, así como en los órganos administrativos desconcentrados

90 Constitución Política de los Estados Unidos Mexicanos, disponível em http://www.diputados.gob.mx/Leyes

Biblio/pdf/1.pdf. Acesso em 22 mai 2013

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Disponível na íntegra em http://www.diputados.gob.mx/LeyesBiblio/regley/Reg_LSPCAPF.pdf. Acesso em 22 mai 2013.

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de la misma, para llevar a cabo los procesos de reclutamiento y selección para el ingreso y promoción en el Sistema”.

No artigo 18, está previsto que estes comitês devem

“I. Instruir la integración del expediente del concurso de que se trate; II. Resolver dentro del plazo de noventa días naturales posteriores a la publicación de la convocatoria en el Diario Oficial de la Federación, los procedimientos de selección en que intervenga”.