• Nenhum resultado encontrado

C APÍTULO II E NQUADRAMENTO TEÓRICO

2.2 As ferramentas da Web e da Web 2

2.2.4 As ferramentas da Web 2.0 na educação

Conhecendo um pouco das características, vantagens e desvantagens das ferramentas da Web 2.0, é-nos agora possível determinar como as mesmas podem ser utilizadas e aplicadas em contexto educativo. Quer esse contexto seja global, quer como no nosso caso, centrado numa determinada disciplina do currículo. No caso específico de EVT, o mesmo aplica-se a ferramentas para a pesquisa, análise e seleção de conteúdos mas, sobretudo, da natureza da EVT, para a produção, desenvolvimento e criação de trabalhos e projetos referentes a conteúdos e áreas de exploração desta disciplina. Isso mesmo implica a atualização permanente dos professores e um conhecimento dessas ferramentas por parte dos mesmos, contribuindo para o seu desenvolvimento profissional e contínuo, para melhor poder aplicar esses conhecimentos em contexto educativo. É aqui que também o paradigma educativo pode mudar, permitindo que estas ferramentas contribuam para um papel mais colaborativo e orientador do professor, em detrimento de um papel demasiado transmissor de conhecimento.

Tendo a Web 2.0 alterado a forma como os utilizadores interagem na Internet, essa facilidade acaba por ter implicações na educação e na forma como se utilizam as ferramentas e os seus utilizadores (professores e alunos) se posicionam perante a rede e o próprio conhecimento e a sua partilha. Mais do que aceder a um determinado conteúdo, os utilizadores interagem com ele e isso é notório na educação e na forma como os alunos e professores processam, organizam e partilham o conhecimento. A existência de um quase infindável número de aplicações online permite a alunos e professores, um novo mundo de comunicação, partilha, colaboração e conhecimento num ambiente em rede (Solomon & Schrum, 2007).

É cada vez mais comum nas nossas escolas a utilização de blogues, wikis, apresentações multimédia, vídeos e um quase interminável número de outros produtos que, devido à sua facilidade de utilização, simples e imediata, permitem um crescente trabalho em rede (Alexander & Levine, 2008). A essa realidade das TIC em contexto escolar é impossível ficar indiferente, mesmo considerando que, segundo Anderson (2007), a utilização de muitas dessas ferramentas não decorre diretamente das tecnologias em si, mas dos serviços que as mesmas proporcionam a determinados contextos educativos, sendo verdadeiras ferramentas de aprendizagem e trabalho colaborativo, o que veremos posteriormente ser o caso para a disciplina de EVT.

Segundo Anderson (2008), as potencialidades de utilização do computador na educação remontam mesmo aos primórdios do próprio computador. Com o sucessivo desenvolvimento das tecnologias, em todas as suas vertentes, cada vez mais se tornou pertinente a integração das TIC em contexto escolar, não só para melhorar a forma de ensinar e as próprias aprendizagens mas também mudar o conceito de educação. A educação e o ato de aprender deixa de se circunscrever a um contexto formal, nas escolas, passando a estar associada a uma aprendizagem informal, os conteúdos e a informação tornam-se acessíveis em qualquer hora e em qualquer local. Para este fator concorre a grande evolução que na última década ocorreu com a chegada da Web 2.0, modificando a forma como as pessoas acedem, gerem e trocam informação e conhecimentos para além da própria forma como se relacionam e que são verdadeiramente importantes no mundo da educação (Redecker, 2009).

Da nossa experiência enquanto docentes, é fácil constatar que na educação os padrões de ensino e aprendizagem se alteraram bastante desde a introdução das ferramentas da Web 2.0 no ensino. Há uma predisposição muito maior dos alunos para utilizarem estas tecnologias e o trabalho do professor tem-se adequado a esse contexto, alterando tanto a forma de ensinar e aprender como o relacionamento e a socialização entre os vários intervenientes no processo educativo. As ferramentas da Web 2.0 e os serviços por ela disponibilizados envolvem alunos e professores para aprendizagens mais motivadoras e imediatas (Matos, 2010).

Na ação educativa, de modo diferente de outras áreas do mundo empresarial, o computador, as TIC e o acesso a determinadas ferramentas não alterou em grande medida os objetivos, finalidades e métodos dos professores, apenas alterando aspetos particulares que, tal como Hargadon (2008) refere, devem-se a alguma resistência dos professores no uso das tecnologias por considerarem a mudança complexa e, acima de tudo, pela inexistência de software específico que pudesse promover a integração do computador como parte do processo educativo. Apesar deste postulado, consideramos que atualmente já existem muitas aplicações da Web 2.0 que podem ser usadas em contextos específicos e assim ser integradas como parte do processo educativo que, no caso da disciplina de EVT, utilizados para produção e criação de trabalhos de expressão gráfica e plástica (entre muitas outras) são de importância muito relevante. De qualquer forma, concordamos com a posição de Hargadon (2008) quando defende que existem ferramentas e recursos que facilitam a realização de determinados trabalhos apesar de não serem o foco principal do processo educativo pois não alteram o modo de ensinar e aprender, sendo apenas um meio que pelas suas características pode potenciar, no caso da EVT, novas abordagens.

Ainda segundo Hardagon (2008), destacando-se a evolução das tecnologias e a entrada no mundo da Web 2.0, esta mudança permitiu no campo da educação que as tecnologias passassem a ser consideradas fundamentais, quer pela sua natureza, quer pelo potencial educativo e pedagógico que podem ter. O mundo da Web 2.0 permitiu a entrada num fascinante mundo novo

na educação, democratizando o acesso à informação para alunos e professores, desde a facilidade de criação e partilha de conteúdos, à interação entre agentes do processo educativo, alterando oportunidades de aprendizagem e tornando-as agora muito mais acessíveis a todos, para culminar tudo isto num processo mais colaborativo. Este enorme potencial educativo reforça- se pela quantidade e sobretudo qualidade de muitas das ferramentas da Web 2.0 permitindo envolver os utilizadores na aprendizagem apelando à sua colaboração, participação e diálogo. No fundo, um novo conceito que passa daquilo que era o “Read Only” da Web 1.0 ao “Read/Write” da Web 2.0 (Hayman, 2007).

A Web 2.0 acaba por ser um ambiente propício para os educadores fazerem dessa tecnologia um espaço integrante das suas práticas contribuindo para uma aproximação dos alunos e proporcionando-lhes ferramentas para interagirem entre si e com as aprendizagens (Hargadon, 2008). Segundo Coutinho (2008), existem estudos que dão conta da utilização cada vez maior de ferramentas da Web 2.0 na educação, quer pela sua facilidade e simplicidade de utilização quer pelo seu baixo custo ou mesmo gratuitidade, permitindo a sua integração nas práticas letivas com os alunos. Apesar disso, a mesma autora enfatiza que essa utilização é mais notória por parte dos alunos havendo alguma resistência à mudança por parte dos professores, sobretudo ao nível do desenvolvimento de práticas educativas com os alunos. Os alunos ganhariam mais pela implementação de práticas educativas com recurso a ferramentas da Web 2.0 pois, para além de as utilizarem e dominarem como próprias ferramentas originais de comunicação, permitem a abertura a um mundo normalmente fechado e a uma dimensão onde o conhecimento se constrói entre o formal e o informal, a aprendizagem e o divertimento (ibid).

No mesmo sentido posiciona-se Costa (2008) que realça o valor da aprendizagem lúdica como um aspeto forte para a motivação dos alunos e que cria condições para uma responsabilização da aprendizagem por parte dos alunos, ou assumida por eles, constituindo esta mudança uma charneira fundamental na mudança de paradigma. Também Hargadon (2008) enaltece que em contexto educativo a Web 2.0 fortalece os professores despertando, para além da motivação, a curiosidade, a partilha, a participação e sobretudo o desejo de um trabalho colaborativo que permite um desenvolvimento profissional contínuo com os seus pares. Podemos mesmo afirmar que para muitos professores que já utilizavam a Internet, as ferramentas da Web 2.0 acabam por dar mais sentido e uma sequência lógica ao trabalho que já desenvolviam, permitindo-se agora maior visibilidade e participação, fruto da partilha e colaboração.

Num posicionamento contrário, existem porém professores que colocam bastante resistência à utilização das ferramentas Web 2.0 em contexto educativo, seja por questões de privacidade, falta de tempo disponível ou até por não conseguirem acompanhar a evolução das tecnologias ou por não terem formação específica na área. Estas preocupações acabam por dificultar a utilização destas ferramentas ficando assim o seu potencial condicionado, sendo mais difícil o desenvolvimento de práticas educativas mais atuais e de trabalho em rede.

Circunscrevendo aqui o desenvolvimento do nosso estudo, decorrente deste posicionamento, a oportunidade que criámos ao envolver os professores participantes na investigação numa formação adequada, aliada ao princípio de constituição de uma verdadeira comunidade de prática para integração das ferramentas digitais em EVT, favoreceu bastante o desempenho dos professores. Tal como no exemplo do Classroom 2.0 criado por Hargadon (2008), também aqui, no nosso caso, a rede que se criou permitiu que um vasto conjunto de professores interessados em utilizar as ferramentas digitais na disciplina de EVT pudessem partilhar experiências, discutir e colaborar acerca de um assunto que era de interesse comum e de grande especificidade, sendo notórios os benefícios que daí advieram. Um desses exemplos foi a atualização de práticas educativas por parte dos professores e a promoção de um desenvolvimento profissional aliado a práticas inovadoras e associado a novas abordagens curriculares que desconheciam em contexto educativo.

Hargadon (2008) defende mesmo a distinção entre redes sociais e redes educativas, sendo estas últimas caracterizadas por três ordens de necessidades e que foram aplicadas no nosso estudo, nas comunidades criadas: a capacidade de colaborar com os outros; a capacidade de criar um elo de ligação comum que no caso foi a especificidade da integração das ferramentas digitais em EVT; e a facilidade de encontrar, criar, gerir, armazenar e partilhar conteúdos (como no caso do blogue EVTdigital, o EVTux ou os manuais de apoio à utilização das ferramentas). Tudo isto permitiu resultados visíveis no desenvolvimento profissional dos professores que trabalharam no nosso estudo, enquanto colaboradores, tanto a nível específico como globalmente, na educação em geral, enquanto membros da sua comunidade educativa.

Como referem Costa (2008) e Crook, Fisher, Graber, Harrison & Lewin (2008) os professores podem oferecer resistências, mas essas resistências dependem especialmente do contexto em que estão inseridos por considerar que o fator diferenciador reside na autoformação e autodidatismo e esse foi, de facto, algo que procurámos, explicando o contexto do nosso estudo e convidando à participação todos os interessados nesta mobilização comum de integração das ferramentas digitais em EVT. É cada vez mais importante os docentes terem uma atitude positiva perante as TIC, integrando as mesmas nas suas atividades letivas, sendo ao mesmo tempo intervenientes, produzindo e gerindo conteúdos, tendo capacidade de criticar e comunicar em rede, sendo colaborativos e participando em comunidades com interesses comuns (Coutinho, 2008), tal como precisamente se passou no nosso estudo.

É fundamental pensarmos nesta mudança, importando envolver todos os agentes intervenientes no processo educativo numa cultura de integração das tecnologias na educação, tornando-se normal a sua utilização. Naturalmente, criando-se também condições de formação, de mecanismos de ajuda e apoio técnico e pedagógico, indispensável a uma plena integração das TIC, em verdadeiras comunidades de prática. Ala-Mutka, Punie, & Redecker (2008) acreditam também que estas novas ferramentas da Web 2.0 criam novas oportunidades para a educação,

potenciando as atividades letivas e as aprendizagens dos alunos, facilitando-se a comunicação, colaboração, criatividade e inovação. Para a formação de professores, as tecnologias podem trazer uma melhoria na qualidade e diversificação de estratégias de ensino com potenciais efeitos para a aprendizagem e resultados escolares dos alunos (Redecker, 2009).