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C APÍTULO II E NQUADRAMENTO TEÓRICO

3.2 O conceito de Investigação-Ação

No campo educativo, é comum reconhecer a característica de que muitas situações apenas acontecem uma só vez e, assim, por esse facto, não serem integralmente replicáveis (Mialaret, 2001). Considera-se que os diferentes momentos estudados não podem ser compreendidos senão

em relação à sequência do seu desenvolvimento específico, num dado contexto particular, sendo que as soluções encontradas não podem ser consideradas universais.

Também os dados obtidos nestas condições educativas são simultaneamente de ordem qualitativa e de ordem quantitativa (ibid), não existindo razões para que ambos não sejam utilizados nas investigações e que contemplam a figura do professor como investigador (Croll, 1995).

Este tipo de investigação, aplicado à prática docente, remete-nos assim para as teorias da ação (Bru, 2001). O ensino não passa por ser uma atividade rotineira onde se aplicam metodologias predeterminadas, destacando-se mais a sua estrutura global, numa atividade intelectual/política e de gestão de pessoas e recursos (Ponte, 2002). Para Alarcão (2004), o bom professor tem de ser também um investigador, desenvolvendo uma investigação em íntima relação com a sua função docente.

Neste contexto específico, a opção metodológica assumida por nós enquadra-se no contexto da investigação participativa, definida como um processo integrador e que combina a investigação, a educação e a ação. Na investigação participativa, a dominância da metodologia utilizada é a da I-A, onde encontramos referência a métodos e técnicas de recolha de dados bastante diversificados, quantitativos e qualitativos, como: documentos, questionários, diários de registo, observação participativa, visualização de gravações de observações anteriores, fotografias ou técnicas estatísticas (Bogdan & Biklen, 1994).

Na I-A, pode-se evitar o pragmatismo excessivo de uma abordagem mais positivista, tecnicista, através dos métodos unicamente qualitativos e vice-versa (Habermas, 1997), situação que define uma opção de uma continuidade entre as diversas abordagens, entre o paradigma positivista e o paradigma interpretativo (Lessard-Herbert, Goyette & Boutin, 1990). Esta complexidade encerra em si imperfeições, transportando alguma incerteza e o reconhecimento do irredutível, uma vez que, a abordagem quantitativa e a qualitativa, não têm o mesmo campo de ação (Bardin, 1977).

O termo investigação-ação surgiu na década de 40 do século XX e implicava que os professores investigassem e estudassem problemas reais, individualmente ou com os seus colegas. Este processo, segundo Olson (1991) consistia em cinco passos:

1. Identificação de uma área problemática;

2. Formulação de problemas específicos, que sugiram procedimentos para a sua verificação;

3. Recolha e análise de dados;

4. Conclusões referidas às hipóteses com base nos dados acumulados e sua análise; 5. Conclusões de verificação noutros contextos.

Ainda segundo este autor (ibid), citando Collier, enfatiza que a modalidade de I-A, orientada e submetida à ação integrativa e participativa, produz incomparavelmente mais resultados sociais que a modalidade especializada e isolada. Corey, citado por Olson (1991), identifica cinco condições necessárias para a I-A e que genericamente ainda hoje se mantêm:

1. Liberdade e vontade para tratar problemas;

2. Oportunidade para desenvolver modalidades criativas nas aprendizagens e nos materiais; 3. Conhecimento acerca dos processos grupais e cooperativos;

4. Preocupação com a recompilação de evidências; 5. Tempo e recursos para a avaliação.

Outros autores de referência como Bogdan & Biklen (1994) referem que a I-A consiste na recolha de informações sistemáticas com o objetivo de promover mudanças sociais. Esta metodologia preocupa-se com questões que se reportam à modificação das práticas existentes permitindo aumentar a consciencialização acerca dos problemas e o empenho na sua solução, servindo como estratégia organizadora para agregar as pessoas ativamente face a questões particulares. Esta metodologia ajuda a ganhar confiança fortalecendo o empenho e encorajando a prossecução de novos objetivos sociais particulares (ibid).

Já para Kemmis (1984), a I-A é uma forma de pesquisa autorefletida, realizada pelos participantes em situações sociais com vista a melhorar a racionalidade e a justiça: (i) das práticas sociais ou educacionais; (ii) da sua compreensão dessas práticas e (iii) das situações em que essas práticas têm lugar. Outros autores como Lewin (1946) a I-A é definida como um ciclo em espiral sendo utilizada para projetos de intervenção que normalmente necessitam de uma intervenção a curto prazo.

Apesar da I-A ser um conceito que, ao longo do tempo, viveu de múltiplas interpretações e mesmo algumas contradições e polémicas, convém destacar que da análise realizada, o conceito chave genericamente aceite enquadra-se numa perspetiva de mudança pela ação e colaboração entre o investigador e investigados, sendo a sua finalidade principal a melhoria de qualquer situação previamente identificada através de uma intervenção ativa em colaboração com todos os intervenientes no processo (Costa & Paixão, 2004).

Em contexto educativo, no paradigma da I-A, os professores estudam os processos de ensino e aprendizagem nas próprias salas de aula, realizando estudos de casos sobre estudantes ou grupos de estudantes e efetuando descobertas sobre os mesmos, os seus alunos e as suas práticas. Seguindo este processo, os professores fundamentam a sua análise sobre o seu processo de ensino e a aprendizagem realizada pelos alunos, investigando-se assim todo o processo de ensino e aprendizagem mediante a observação e descrição daquilo que se observa. Neste tipo de investigação, os professores aprendem acerca dos seus alunos descobrindo

informações sobre o ensino e a aprendizagem. A investigação da aula surge da preocupação pelos alunos e do desejo de ensinar (Avery, 1991).

Segundo Elliot (1991), a I-A constitui assim uma forma de resistência criativa, pois transforma uma velha cultura profissional de professores baseada em fórmulas e preservada em rotinas, promovendo uma nova atitude de coragem para criticar e negociar a mudança das estruturas curriculares que enformam as práticas dos professores. Para Cohen & Manion (1994) a I-A é um procedimento in loco, com vista a lidar com um problema concreto localizado numa situação imediata, significando que o processo é constantemente controlado passo a passo, durante períodos de tempo variáveis. Enfatiza-se mesmo que esta metodologia está em contínua evolução não terminado quando o projeto acaba. A I-A precisa de ser planeada de forma sistemática como qualquer outro tipo de investigação. Consiste numa abordagem que se revela particularmente atraente para os educadores devido à sua ênfase prática e centrada na resolução de problemas, tão particular neste contexto específico em que desenvolvemos o nosso estudo.