• Nenhum resultado encontrado

C APÍTULO II E NQUADRAMENTO TEÓRICO

3.3 Breve história sobre a investigação-ação

Numa breve síntese histórica e considerando como referência os estudos de Latorre (2007), as ideias que estabeleceram as primeiras linhas de um conceito que se aproximava do conceito de I-A não são bem precisas. Pode-se dizer que têm as suas origens em alguns movimentos e tendências nas ciências da educação e num conjunto de outras iniciativas de reforma social iniciados no final do século XIX.

No entanto, é no início do século XX que com John Dewey o conceito de I-A ganhou mais força quando, de maneira mais concreta, se discutiram posições e se questionaram os métodos de pesquisa científicos usados na altura e em investigação educacional. Sugeriu também uma nova aproximação à investigação e aos seus métodos, no sentido de se desenvolverem processos de investigação de uma forma direta nas práticas educativas. As teorias de Dewey sobre investigação eram já muito inovadoras para época, pois confrontavam os problemas educacionais convidando os investigadores, profissionais e todos os outros envolvidos a trabalharem na própria comunidade educativa e a orientarem os seus esforços na resolução conjunta de problemas.

As conceções de Dewey sobre a educação foram bastante influentes na investigação em educação e no avanço da mesma, baseada noutros métodos que não os científicos. Na década de 40 do século XX, um importante contributo para as ideias de Dewey sobre a investigação enquanto ação veio de Kurt Lewin que, curiosamente, não era um educador, mas um psicólogo social. Lewin (1946) propôs um modelo de investigação que incluía ciclos de ação, que iam desde a análise ao apuramento dos factos, à conceptualização, ao planeamento, à execução e, finalmente, à avaliação.

Este autor apresentou de forma objetiva que a necessidade de realizar uma investigação deveria residir nos problemas de um determinado grupo social e que a investigação devia ser feita apenas pelos envolvidos nesse grupo. Os seus trabalhos demonstraram que para realizar este tipo de investigação há a necessidade de apoio e formação aos participantes para o desenvolvimento de novas competências: “devemos considerar a ação, a investigação e a formação como um triângulo que deve ser mantido coeso para o bom funcionamento de qualquer um dos seus cantos”. (ibid, p.42). É assim que nasce o triângulo de Lewin, representado na figura 1:

Figura 1. Triângulo de Lewin (1946)

É então a Lewin que se deve o nascimento do termo investigação-ação, classificando-a como uma ação de nível realista, sempre seguida por uma reflexão autocrítica objetiva e uma avaliação dos resultados, assente num triângulo, sendo a base necessária para a compreensão dos seus objetivos.

Depois dos primeiros passos dados por Lewin, seguiram-se outros na construção de uma nova conceção de investigação. No entanto, sem se perder a objetividade e conseguindo-se a validação do conhecimento atingido. Lewin (1946) definiu um processo como uma elaboração conceptual e prática que ainda hoje vigora nos trabalhos de I-A representados por uma espiral auto-reflexiva, numa espiral de fases em que cada uma das quais compõe um ciclo de planeamento, ação e verificação de factos referentes ao resultado da ação.

Depois dos pressupostos de Lewin e num período que durou até início dos anos 60, se a ação em investigação foi utilizada por diversos investigadores, por outro lado levou a que vários detratores colocassem em causa a sua cientificidade e fosse apontada como uma versão menos rigorosa de investigação experimental e não uma alternativa para profissionais da investigação.

Posteriormente, McTaggart (1991) aponta para uma compreensão de uma ação de investigação que surgiu em vários países, enquanto o seu declínio acontecia nos Estados Unidos.

Foi assim que, na década de 70, através do trabalho de Lawrence Stenhouse e posteriormente John Elliott e Clem Adelman, o interesse na I-A foi fortalecido, tendo-se manifestado de forma exponencial no contexto educativo britânico. Este foi um valoroso contributo de onde saíram as principais conceções que ainda hoje se encontram estabelecidas nesta metodologia e de onde surgiram diferentes modelos, alguns deles alternativos à própria conceção de I-A tradicional.

Stenhouse foi um dos nomes mais significativos nesta evolução histórica, tendo refletido sobre a I-A realizada pelos professores como um elemento central na evolução e capacidade de testar o currículo e de alterar as formas de inovar o processo educativo. Posteriormente Stenhouse definiu que a função da I-A era capacitar os práticos a estudarem os seus problemas cientificamente, de forma a orientarem, corrigirem e avaliarem as suas práticas e ações, sempre no sentido de uma mudança social.

Já para Elliot (1978), a I-A é vista como uma forma de produzir novos conhecimentos a partir da compreensão que os professores possuem sobre a sua situação, refletindo sobre ela e agindo no sentido de a transformar. Elliot estabelece algo de mais significativo e aproximado a uma definição mais atual e abrangente de I-A, destacando a importância da existência de um diálogo entre os participantes, no sentido de uma consciência construtivista do processo de investigação, colocando o investigador numa posição em que se envolve na realidade desses mesmos participantes e numa construção conjunta e partilhada do conhecimento. Posteriormente, Elliot afirma que a I-A deve ocorrer envolvendo o trabalho colaborativo de grupos de pessoas interessadas em contribuírem para a resolução imediata de preocupações práticas nas quais todos estão inseridos, mas agindo sempre num princípio de partilha e confiança, em torno de uma estrutura acordada entre si.

Mais recentemente, Carr & Kemmis (1986) são dois dos nomes mais próximos da I-A. Estes autores apontam as potencialidades da I-A quando esta é pensada num contexto que tenha em consideração as determinações históricas e os condicionantes filosóficos. A I-A estará nesse caso a criar uma conceção de investigação alicerçada na racionalidade emancipatória, podendo desta forma atingir aqueles ideais de liberdade de pensamento e de ação a partir das leituras que os sujeitos fazem da sua própria realidade.

Já Angulo (1990) propõe um conceito de I-A onde se constituam comunidades de investigadores ativos e críticos, devendo os professores tornar-se investigadores das suas próprias práticas, contribuindo para uma ciência de educação crítica construtiva.

De qualquer forma, seriam inúmeros os autores que poderíamos citar, numa análise histórica e conceptual mais exaustiva. Destacámos aqui aqueles que considerámos mais importantes na própria evolução do conceito de I-A. O que nos importa é realçar que a I-A, enquanto metodologia de investigação, assume uma posição destacada, assumindo-se também para nós neste estudo como uma ferramenta essencial e indispensável para o desenvolvimento do professor enquanto profissional, envolvido num contexto educacional e tecnológico diversificado.