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C APÍTULO II E NQUADRAMENTO TEÓRICO

3.6 As limitações do modelo de investigação-ação

A análise é um método utilizado na I-A e caracteriza-se por um constante “vai e vem” entre as componentes teórica e prática, as hipóteses, interpretações e métodos de análise (Bardin, 1977). Numa perspetiva de utilização de um método sobretudo qualitativo, é na análise de conteúdo que surgem as situações mais complexas e problemáticas para os investigadores.

A análise de conteúdo, sendo um processo arborescente, é considerada um processo moroso: as técnicas e interpretações atraem-se colocando-se a questão na tónica da quase infinitude do discurso. É um processo que deve comportar categorias de observação que devem posteriormente ser codificadas (Bardin, 1977; Bogdan & Biklen, 1994).

Este termorefere-se aos códigos segundo os quais a maior parte da informação sobre o contexto, a situação, o tópico ou os temas podem ser classificados (Bogdan & Biklen, 1994). Segundo Bardin (1977), a categorização é um processo de tipo estruturalista e comporta duas etapas:

• o inventário onde se pretende isolar os elementos;

• a classificação para repartir os elementos, e portanto procurar ou impor uma certa organização às mensagens.

Para Croll (1995), os aspetos fundamentais da observação sistemática devem atender a três princípios fundamentais:

1. definir previamente todos os procedimentos de investigação;

2. operacionalizar rigorosamente as categorias e os critérios de classificação;

3. permitir a recolha de dados de natureza quantitativa e que sejam suscetíveis de tratamento estatístico.

Estes procedimentos implicam uma relação dialética entre a teoria e a prática mediante uma reflexão crítica (Wellington, 2000) em que o conhecimento nasce durante a prática e na prática, obrigando à formação de uma consciência de intencionalidade e de controlo, a capacidade de poder pensar sobre o próprio pensamento, constituindo o único garante para a difícil assunção de uma profissionalidade emancipatória, enquadrando-se esta abordagem no paradigma

interpretativo das Ciências da Educação, onde está implícita a subjetividade do investigador (Sá- Chaves, 2002; Gómez, 2007). Para autores como Carr (1983) ou Wellington (2000), essa subjetividade contém as suas próprias fragilidades sendo importante que se exerça sobre as mesmas uma forte consciência crítica, não permitindo atropelos simplistas e outros modos explicativos, cuja coerência não deva ser ingenuamente questionada.

Para olvidar estas situações, a solução possível passa pela validação dos resultados e que consiste numa abordagem mista dos fenómenos a ser estudados, contemplando-se um cruzamento de dados ao nível qualitativo e quantitativo (Denzin & Lincoln, 2000). Sabendo-se que a investigação qualitativa é particularmente importante para o estudo das relações sociais, o contexto educativo, no estudo dessas relações e de uma maneira mais restrita nas interações ocorridas dentro da sala de aula, é muito importante.

A investigação qualitativa é sobretudo orientada para a análise de casos concretos, as suas particularidades de tempo e de espaço, partindo das manifestações e atividades das pessoas nos seus contextos próprios. Por isso, a investigação qualitativa pode definir caminhos para as ciências da educação, transformando-as em programas de pesquisa, mas mantendo a necessária flexibilidade, em relação aos seus objetos e atividades, realçando-se neste campo dois pontos:

1. o regresso ao particular, manifesto na formulação de teorias e na condução de estudos empíricos, orientados não só para questões universais e abstratas, para tratar de problemas concretos, específicos, que não surgem de forma geral, mas ocorrem em tipos específicos de situações;

2. o retorno ao conceito de oportunidade, presente na necessidade de situar os problemas estudados e as soluções a propor no seu contexto histórico ou temporal, descrevendo-os nesse contexto e explicando-os com base nele.

Numa outra perspetiva, a investigação quantitativa, fundamenta-se no método hipotético- dedutivo onde são estabelecidas hipóteses. Elabora-se, como consequência, um plano e um conjunto de procedimentos para submetê-las à prova. Neste caso, os conceitos incluídos nas hipóteses (as variáveis) são posteriormente medidos, transformando-os em dados quantificáveis para serem analisados através de técnicas estatísticas, podendo ser generalizadas para um universo mais amplo, consolidando deste modo as suas crenças.

A abordagem quantitativa foca-se especialmente aos instrumentos utilizados para a recolha de dados, com base nas suas qualidades métricas, nomeadamente no que se reporta à consistência interna. A recolha e a análise dos dados é utilizada neste contexto para responder às questões da investigação e testar as hipóteses previamente estabelecidas, confiando neste sentido na medição numérica, na contagem e no uso da estatística para estabelecer com exatidão os padrões de comportamento (Sampieri, Collado & Lúcio, 2006).

Tanto o método de investigação qualitativo como o quantitativo possibilitam abordagens interessantes perante um mesmo problema, mas que não necessariamente tenham que apontar para a redução de uma ao papel de subordinada, ou para definir a outra, como a verdadeira investigação (Landsheere, 1986). Qualquer modelo comporta inevitavelmente elementos de estruturação dedutiva, mas também indutiva (Quivy & Campenhoudt, 1998).

É sobretudo para responder a essa dicotomia que surge o processo de triangulação. A articulação entre ambos os métodos – qualitativo e quantitativo – equivale a dizer que cada método se pode manter autónomo, funcionando lado a lado, tendo como ponto de encontro o assunto estudado. Segundo Flick (2005), podem surgir desta articulação três tipos de situações:

1. os resultados qualitativos e os resultados quantitativos convergem, confirmam-se mutuamente e apoiam as mesmas conclusões;

2. os dois resultados evidenciam aspetos diferentes de um problema, mas complementam- se e conduzem a um quadro mais completo;

3. os resultados qualitativos e os resultados quantitativos são divergentes ou contraditórios.

Utilizando-se diversos métodos para a recolha de dados, o investigador recorre a várias perspetivas sobre a mesma situação, obtendo informações de diferente natureza que possibilitam, posteriormente, proceder a comparações entre as diversas informações, efetuando assim a triangulação, situação que aplicámos no desenvolvimento do nosso estudo. Neste sentido, combinar a investigação qualitativa e a quantitativa, permitiu produzir um melhor conhecimento, mais alargado e mais completo do problema.

3.7 Considerações prévias sobre a metodologia utilizada para