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C APÍTULO II E NQUADRAMENTO TEÓRICO

2.4 As comunidades de prática

2.4.2 Conceito de comunidades de prática

Apesar das CoP se perderem na história da Humanidade, isto se entendermos que os seres humanos desde os tempos mais longínquos se juntavam partilhando conhecimentos uns com os outros, construindo assim um conhecimento, que apesar de espontâneo se poderia considerar compartilhado, só recentemente é que mereceram uma abordagem empírica e teórica com rigor científico. Como refere Saint-Onge & Wallace (2003) as CoP, como contexto estratégico, são uma expressão nova de uma estrutura muito antiga que promove a colaboração e a aprendizagem.

Na perspetiva de O'Brien & Sarkar (2004), o conceito de CoPdata de 1980, altura em que o Instituto de Investigação sobre aprendizagem ligada à Xerox Corporation, em Palo Alto (Califórnia) pretendeu resolver problemas de produtividade. Os estudos realizados parecem ter revelado que o desempenho dos indivíduos daquela empresa estava associado ao relacionamento interpessoal dos funcionários e à natureza social do trabalho. A emergência de uma mudança nesta matriz empresarial, no que se refere ao relacionamento social, traduzidas em práticas de convivência e de partilha de sentimentos, problemas e questões profissionais parecem ter alterado o nível de produtividade. Nesta visão mais ampla sobre o conceito de CoP, consideram-se estas como ferramentas para a construção do conhecimento que se gera naturalmente nas relações sociais estabelecidas em contextos de trabalho de caráter informal.

Como já foi referido na subsecção anterior, a maioria da literatura existente vai no sentido de outorgar a Lave & Wenger (1991) a autoria do cunho das CoP. No entanto, Matos (2005) refere que há autores que atribuem o cunho do conceito a Brown & Duguid (1991). Independentemente da discussão sobre a paternidade do conceito, o que importa aqui é que de facto, pela primeira

vez, segundo Matos (2005) se enfoca a conceção coletiva da aprendizagem sobre a ideia clássica que a limita a um processo individual.

Lave & Wenger (1991) e Connie & Hung (2003) apontam que o conceito de CoP não se refere apenas a uma comunidade entendida no sentido usual em que um grupo de pessoas vivem fisicamente próximas, mas sim, comunidade num sentido em que grupos de pessoas partilham um modo de vida comum. Ou seja, comunidade, segundo Connie & Hung (2003) significa, também, ser um grupo de pessoas socialmente independentes que discutem problemas comuns, tomam decisões e partilham práticas.

Do ponto de vista de investigadores como Lave & Wenger (1991), Wenger (1998), Foulger (2005) e Buysse, Sparkman & Wesley (2003), o propósito da sua teoria assenta na ideia de que as CoP estão em toda a parte e estamos envolvidos nelas, quer no trabalho, na escola, em casa, nos nossos interesses cívicos e mesmo de lazer, independentemente da função ou grau de responsabilidade. Evoluindo estas comunidades para interações cada vez mais fortes e solidárias nos seus interesses, não só entre os seus membros, mas também com o mundo, vão-se desenvolvendo aprendizagens coletivas e individuais, resultantes destas relações comunitárias, fazendo sentido, segundo Wenger (1998) designá-las de Comunidades de Prática. Ainda de acordo com este mesmo investigador, o conceito de CoP define-se segundo três dimensões:

1) as práticas que as comunidades desenvolvem centradas em objetivos comuns que passam pela partilha de ideias, experiências e saberes permanentemente discutidos e renegociados;

2) a cumplicidade mútua que gera laços tornando uma CoP uma entidade social e;

3) as aprendizagens resultantes desse relacionamento comunitário, nomeadamente, rotinas, sensibilidades, artefactos, vocabulário, estilos e outros são um conjunto de recursos comum a todos, continuamente reconstruídos.

Estas são algumas características distintivas em relação a outros tipos de comunidades. No entanto, Wenger (2002) considera que uma comunidade deve ser entendida como CoP se efetivamente assumir uma intencionalidade. Por exemplo, a aprendizagem pode ser o motivo pelo qual uma dada comunidade se une. Assim, do ponto de vista de Wenger (1998), a característica mais importante das CoP é a capacidade e o poder que estas comunidades têm para aprender, para construir e, também, reconstruir o conhecimento.

Com a rápida evolução do mundo, cada vez mais globalizado, associado aos desenvolvimentos tecnológicos, dos quais a Web 2.0 é um conceito bem visível, as CoP foram-se adaptando e o conhecimento é, também, desenvolvido a um ritmo acelerado, assente nas ferramentas tecnológicas entretanto disponibilizadas. Estas, fazem emergir novos modelos de relacionamento e consequente reflexo nas práticas das CoP – Comunidades de Prática online e Comunidades Virtuais de Prática. Apesar desta mudança de paradigma, as comunidades

continuam a ser formadas por pessoas. Neste mesmo sentido, Hughes & Campbell (2000) referem que a formação de uma comunidade passa pela comunicação e pelas interações que ocorrem entre as pessoas. A comunicação será então o processo e as interações são os elementos que configuram uma comunidade e lhe conferem identidade, de tal modo que os seus elementos sentem que fazem parte dessa comunidade.

Segundo Matos (2005), qualquer dos modelos, com recurso ou não às ferramentas da Web é potencialmente válido, podendo as TIC contribuir de forma diferente para a implementação e desenvolvimento das CoP. No entanto, apesar da integração curricular das ferramentas digitais, suportadas pelas TIC em EVT ser o cerne do nosso estudo, as CoP construídas para tal não se centraram primordialmente na utilização de um sistema online, mas antes presencial e apenas com uma vertente de participação online limitada e circunscrita à partilha de documentos e para uma forma de comunicação mais permanente que fosse além da formação e da comunidade que se reunia presencialmente, com regularidade. Isto sem esquecer, naturalmente, outros artefactos tecnológicos usados para a disseminação dos produtos realizados no âmbito do trabalho realizado, visibilidade que os participantes nas CoP gostavam de sustentar. Nesse sentido, e respondendo a essa problemática, dedicaremos a próxima subsecção.