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C APÍTULO II E NQUADRAMENTO TEÓRICO

3.7 Considerações prévias sobre a metodologia utilizada para desenvolvimento do estudo

Tal como abordado anteriormente neste capítulo, em contexto educativo, as metodologias de investigação, na sua maioria, suportam-se em paradigmas quantitativos e qualitativos. Para este estudo considerámos a utilização dos dois paradigmas de forma a superar as divergências existentes entre eles e num modelo em que ambos se complementam, triangulando-se dados e contribuindo para que a investigação fosse capaz de produzir conhecimento assim como resolver situações problemáticas mas, sem dúvida, privilegiando o paradigma qualitativo.

É neste prisma que para este estudo surge a opção por uma metodologia de I-A que assenta num paradigma sócio-crítico, distanciando-se dos paradigmas positivistas, caracterizados pelo excessivo objetivismo e neutralidade e pela propensão para a subjetividade (Morales, 2003),

assentando nas práticas investigativas a conceção ideológica e valorativa que está presente na investigação e que acaba por determinar o conhecimento que daí possa resultar.

Segundo Coutinho (2005), uma investigação deve sempre conter em si uma intenção de mudança e este paradigma faz também incidir o seu foco sobre o conhecimento emancipatório, que pretende pôr a nu as ideologias que condicionam o acesso ao conhecimento e operar ativamente na transformação dessa realidade. Caracterizada como uma metodologia de pesquisa ativa que impõe que as pessoas implicadas tenham algo a dizer e a fazer, não se reveste de um simples levantamento de dados ou de relatórios a serem arquivados, mas pretende-se que os investigadores desempenhem um papel ativo na própria realidade dos factos observados (Thiollent, 2002) e muitas vezes contribuam para a própria alteração dessa mesma realidade.

Tal como nos referem Cook & Reichardt (1986), este paradigma permite a um profissional ter uma disciplina no sentido de saber quais são os problemas ou as questões que pretende solucionar, proporcionando uma orientação no sentido de resolver os problemas e dando-nos a capacidade de escolher a melhor ferramenta para a realização do estudo, estabelecendo-se quais as metodologias, técnicas de recolha de dados e tratamento dos mesmos que melhor se adequam. Sabendo que o paradigma sócio-crítico surge numa perspetiva oposta ao reducionismo e objetivismo, características de uma postura positivista, a I-A, tal como a selecionámos como metodologia preferencial para esta investigação, no seu domínio sócio-crítico, permitiria observar a realidade de forma dinâmica, evolutiva e interativa, analisando as situações do quotidiano escolar de professores e alunos em contexto de EVT, resolvendo problemas identificados no estudo e, propondo uma alteração curricular.

De acordo com Huxham & Colin (2007), a I-A é um tipo de metodologia de investigação que se encontra em ampla expansão e o seu contínuo crescimento nas várias áreas do conhecimento é mais uma prova da sua reconhecida importância. Segundo Caetano (2004), a I-A é um processo de investigação na ação, pela ação e para a ação, onde os próprios atores/autores participam ativamente na pesquisa, desde a sua fase de conceção até à fase de síntese/formalização.

Assim, as várias etapas entrelaçam-se num afinamento constante de modelos de formação e investigação, aprofundamento de saberes e sua conceptualização. Os resultados da I-A são simultaneamente práticos e teóricos. O conhecimento subsequente tem um impacto direto e permanente nas mudanças da prática. Esta metodologia procura ajudar no desenvolvimento profissional, através da participação dos indivíduos enquanto profissionais e investigadores. Por isso, a I-A converte-se numa metodologia que fomenta os conhecimentos ricos em prática (Somekh, 2008).

Para Reeves (1998), um dos principais aspetos a ter em conta na análise de uma investigação ligada às tecnologias em educação passa por uma distinção entre finalidades/objetivos da investigação e orientações metodológicas. Assim, tivémos em conta vários fatores como a epistemologia que inspira o investigador e o paradigma dominante em que vai

desenvolver o seu trabalho, premissas donde provêm as orientações metodológicas que adotámos no desenvolvimento do estudo.

Como referimos anteriormente, podemos afirmar que neste estudo utilizámos uma visão holística, recorrendo a algumas das características do paradigma interpretativo e também nas premissas do paradigma sócio-crítico. Interpretativo, porque o investigador procurou, numa fase inicial, compreender e interpretar a realidade, implicando-se ele mesmo na investigação, no sentido da produção de novo conhecimento. Trata-se de um paradigma naturalista e de cariz qualitativo.

Como afirma Coutinho (2005), este paradigma pretende substituir as noções científicas da explicação, previsão e controlo do paradigma positivista, pela compreensão, significado e ação e que vai interagindo e entrando no mundo pessoal dos sujeitos e no contexto social onde se inserem. Há uma procura permanente em tentar compreender a realidade, sendo ela própria encarada como múltipla e divergente, orientando-se o investigador na necessidade de a compreender e interpretar. Neste paradigma, os valores do investigador exercem uma influência significativa no processo, uma vez que terá de existir uma dependência derivada do relacionamento entre o sujeito/objeto e, como tal, existindo o risco natural de alguma subjetividade. Tal como o paradigma sócio-crítico, o interpretativo apresenta como objetivo a generalização das hipóteses de trabalho em contexto e tempo determinados, recorrendo à utilização de explicações ideográficas, indutivas, qualitativas e centradas sobre as diferenças.

Outra situação prende-se na necessidade, enquanto investigadores, de questionar de uma forma implícita, por exemplo, quais os significados que os docentes envolvidos na investigação poderão criar em conjunto no sentido de gerar aprendizagem (Erickson, 1986). Desta forma, a investigação incidirá sobre o modo como se desenvolvem e mantêm estes sistemas de significado e não apenas sobre os comportamentos observáveis. Acrescente-se que este paradigma assenta, também, no relacionamento e influência recíproca entre a teoria e a prática e em critérios de credibilidade, confirmação e transmissibilidade, utilizando uma metodologia humanista- interpretativa, em que se baseiam os estudos de caso – como, em certa medida, é o caso desta nossa investigação – empregando técnicas qualitativas, descritivas, nas quais o investigador, enquanto mentor mas também participante, se torna no principal instrumento e no motor da investigação.

Recorremos também a um paradigma sócio-crítico, uma vez que se pretendia que fosse motor de mudança e transformação social e educativa, utilizando com frequência estratégias de reflexão sobre a prática dos próprios atores. Assim, o investigador foi um sujeito mais comprometido e envolvido na mudança. Claramente, podemos classificar este paradigma o mais próximo da investigação em ciências da educação e do que realizámos, aplicável no nosso estudo, por envolver o desenvolvimento da multimédia e da tecnologia em educação num contexto

escolar muito delimitado (em relação a uma disciplina específica), a integração das ferramentas digitais na mesma e, sobretudo, a promoção de mudanças.

Assume-se assim um afastamento do paradigma positivista pelo seu excessivo objetivismo e neutralidade. É precisamente num oposto que nos situamos - o paradigma sócio-crítico – que tal como Habermas (1987) refere, uma investigação deve conter em si uma intenção de mudança que vai crescendo no conceito do conhecimento emancipatório, ao mesmo tempo que pretende demonstrar as ideologias que condicionam o acesso ao conhecimento e operar ativamente na transformação de uma realidade (Coutinho, 2005). Esta perspetiva teórica, sendo caracterizada por um maior dinamismo na forma de encarar a realidade, maior interatividade social, maior proximidade do real pela predominância da prática, da participação, da reflexão crítica, da intencionalidade transformadora e de uma atitude operacional de práticas, torna-se para nós na estrutura basilar onde acabam por vir apoiar-se muitos dos investigadores que pretendem desenvolver investigações em educação.

Desta forma, torna-se evidente uma ligação de dependência entre os dois conceitos: se, por um lado, o pensamento reflexivo leva a uma prática reflexiva, essa mesma prática, num movimento circular de retorno, terá de levar de novo ao pensamento reflexivo, de forma a retirar conclusões e, assim, gerar novo conhecimento.

Por último, referimos que tanto o paradigma sócio-crítico como o interpretativo, pelas suas potencialidades, características e funcionalidades, e porque servem de ligação à metodologia de I- A, foram aqueles que mais se adequaram a este estudo.