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CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO AOS CONCEITOS DE

1.1 As gradações das relações disciplinares e de suas terminologias

Em 1970, na cidade de Nice, França, a OCDE contou com a colaboração de experts, representantes de vários países, que apresentaram suas posições diante da emergente e urgente necessidade do estabelecimento de uma metodologia interdisciplinar tanto no campo do ensino quanto no da ciência, considerada como um estágio ascendente em relação ao desenvolvimento científico que atingimos na atualidade. Segundo esse documento, a interdisciplinaridade se apresentava como um novo estágio de desenvolvimento científico da humanidade, impulsionado pela necessidade da busca de solução para os problemas complexos que deveriam ser enfrentados e conjugados com a limitação da ciência na ocasião, cujos objetos de pesquisa eram compartimentados.

De acordo com os autores do referido documento, havia um esgotamento desse modo de produção científica solitária, o que solicitava com urgência a adoção de uma nova metodologia: a interdisciplinar. Assim, tanto a ciência quanto o ensino, discutidos sob o ponto de vista da formação universitária, necessitavam passar por adequações a esse novo modo de se conceber, pensar e realizar a ciência.

Conforme Apostel (1973), para a ocasião da reunião da OCDE no ano de 1970, foram convidados autores que representavam diferentes países e abordavam a

interdisciplinaridade com distintas nuances. A intenção era a de que o encontro pudesse oferecer um panorama amplificado da temática interdisciplinar, promovido pela troca de informações e críticas sobre suas bases epistemológicas e suas aplicações ali discutidas. Embora esse encontro objetivasse uma visão ampliada da interdisciplinaridade, Berger (1973) alerta para o fato de que a produção documental resultante desse esforço foi um documento limitado, produto de apenas 12 países participantes dessa discussão. O que não invalida sua relevância e sua grande contribuição para os estudos interdisciplinares atuais.

Destacaremos aqui os autores que compuseram a redação da segunda parte do documento produzido pela OCDE (1973) em decorrência desse encontro. Em tal texto constam seus posicionamentos quanto à temática, às terminologias e aos conceitos concernentes à interdisciplinaridade.

Heckhausen faz uma análise empírica do conceito de disciplina, enquanto Boisot o discute por meio de uma análise formal. Jantsch o trata do ponto de vista de um sistema geral de valores da sociedade global, enquanto Piaget assenta sua abordagem sob o aspecto da pesquisa, segundo a teoria da psicodinâmica do conhecimento. Com essa diversidade, é possível compreender as bases em que se assenta a defesa da interdisciplinaridade.

Todos esses autores partem do conceito de disciplina e chegam a seu grau máximo de integração: a interdisciplinaridade. Em seguida, apresentam o modo sistêmico de estabelecimento de inter-relações que pode vir a se apresentar tanto nas ciências quanto no ensino que é o nível ascendente denominado transdisciplinaridade. Os níveis de gradação existentes entre seus extremos (disciplinar e transdisciplinar) apresentam diferentes denominações e subgradações, correspondentes a diversas formas de integração entre as disciplinas, o que reforça a polissemia presente na ascensão dos níveis de inter-relações gradativas disciplinares, o que também contribui para a polissemia do termo “interdisciplinar”.

Embora nos deparemos com uma grande variação terminológica referente à interdisciplinaridade, observamos que essas, carregam consigo sempre o mesmo princípio: a intensidade das colaborações disciplinares. Para Japiassu (1976, p. 74), “[...] a interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de integração real das disciplinas no interior de um mesmo projeto de pesquisa”.

Vários autores contemporâneos têm dispensado esforços para facilitar a compreensão das gradações disciplinares e sugerem a adoção de mesmas terminologias para seus diferentes níveis de inter-relações. Vemos aqui um contraponto com as questões de fundo interdisciplinar: o fato de diferentes terminologias coexistirem e serem utilizadas para denominar diferentes tipos de integração disciplinar, talvez possibilite a condução de uma nova configuração no modo de conceber o pensamento e a ação humana, sua produção científica e educacional, ampliando as possibilidades criativas e críticas através da não linearização da linguagem e do pensamento humano, como até agora o fizemos e estamos acostumados a conduzir nossas ações, fato esse amplamente combatido pelos defensores da interdisciplinaridade.

Acreditamos que a possibilidade de adoção desse ou daquele caminho terminológico democratiza a utilização das terminologias gradativas das inter-relações disciplinares. Isso porque, ao escolher criteriosamente a terminologia que melhor se aplica aos objetivos propostos em determinado projeto inicializado, promove-se o enriquecimento do entendimento interdisciplinar no sentido interfacetado de sua utilização, seja para fins científicos ou para aplicabilidade prática de menos rigor.

A seguir, apresentaremos os seguintes autores, na ordem que se encontram no documento produzido pela OCDE (1973): Heinz Heckhausen, representante da Universidade de Bochum, Alemanha; Jean Piaget, representante da Faculdade de Ciências de Genebra, Suíça; Erich Jantsch representante da Áustria; e Marcel Boisot, da École des Ponts e Chaussées, Paris, França. No Apêndice B, trazemos uma breve biografia de cada um desses autores, com a intenção de agregar dados que possam favorecer uma melhor compreensão de suas concepções aqui apresentadas.

Também dedicaremos parte deste capítulo para apresentar pesquisadores brasileiros de renome que se dedicam aos estudos da interdisciplinaridade, também expomos uma sucinta biografia de cada um deles no Apêndice B. São eles: o Professor Hilton Japiassu, que aborda o tema interdisciplinar sob o enfoque epistemológico; o Professor Ivan Amorosino do Amaral, que oferece sua contribuição de interdisciplinaridade sob a ótica do ensino de ciências; e a Professora Ivani Catarina Arantes Fazenda, que tem seu foco voltado para a escola e para a aplicabilidade da interdisciplinaridade na dimensão prática e metodológica.

Ainda neste capítulo traremos a posição de uma pesquisadora portuguesa contemporânea de estudos interdisciplinares, Olga Maria Pombo Martins, que muito se

destaca nessa área. Professora do Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa, Portugal, Pombo tem realizado várias palestras e participado de vários encontros no Brasil. Coordenou um projeto de Estudos Interdisciplinares na Universidade de Lisboa, congregando cientistas de vários países do mundo para o estudo e a discussão da temática interdisciplinar. Sua breve biografia encontra-se também no Apêndice B. Por fim, discorreremos sobre a Transdisciplinaridade proposta pelo Cetrans e seus princípios, divulgado na Carta da Transdiciplinaridade no ano de 1994, a qual está disponível no Anexo A dessa tese.