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CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO AOS CONCEITOS DE

1.6 Hilton Ferreira Japiassu

No início da década de 1970, Hilton Japiassu31 iniciou seus estudos sobre a interdisciplinaridade, momento do surgimento das questões acerca desse tema no mundo ocidental. Atualmente, o autor oferece ao cenário brasileiro uma significativa produção por meio das publicações acerca da interdisciplinaridade no campo da ciência e da

31 Hilton Japiassu: *26 mar. 1934, Carolina, Maranhão; † 27 abr. 2015, Rio de Janeiro. Licenciado em

educação. Dispomo-nos a expor algumas colocações do autor a seguir, mesmo que de forma sintética.

Para Japiassu (1994), a interdisciplinaridade é um imperativo nos dias atuais, embora reconheça que ela parece mais exercer o papel de diagnosticar e denunciar o esgotamento da ciência e de seu fracionamento e a consequente pulverização do conhecimento do que realmente promover uma ação mais avançada no desenvolvimento do universo científico e educacional. Para esse autor, apesar de a interdisciplinaridade ser aceita e considerada no universo acadêmico, ela ainda não se efetivou de modo pleno, ao que ele atribui o estado imperialista de base positivista enraizado em nossa sociedade.

A interdisciplinaridade surge no acaloramento das discussões de caráter epistemológico. Porém, Japiassu (1994) não só a discute sob esse aspecto, mas também reflete sobre a necessidade do interdisciplinar no ensino universitário, contexto em que são formados os especialistas, os intelectuais e os futuros cientistas. Os alunos ainda ficam confinados em escolas sem portas e sem janelas, imersos em limites reducionistas, sem pontes disciplinares que interliguem os conhecimentos que adquirem, conforme trata o referido autor.

A necessidade iminente da compreensão e da busca de soluções para os problemas atuais de grande complexidade tornam significativas a revisão e a transformação dos espaços escolares organizados de forma alveolar. Dessa maneira, será possível estabelecer outro espaço, que fomente a formação de uma consciência social articulada com a troca e a colaboração disciplinares, que promova trocas generalizadas de informações e críticas, que permita a ampliação da formação geral e o preparo para o engajamento de pesquisas em equipe, que oriente os alunos para a independência e a crítica social, entre outras características indispensáveis para se pensar e agir interdisciplinarmente (JAPIASSU, 1976).

A polissemia presente no termo interdisciplinaridade conduz o autor a iniciar sua discussão terminológica a partir da disciplinaridade, chegando a seu grau máximo de integração disciplinar: a transdisciplinaridade. Contudo, ele a considera um desejo longínquo a ser alcançado, talvez utópico de efetivação real, posto que ainda nos encontramos em processo de iniciação de um novo modo de pensar e agir cientifica e educacionalmente.

Para Japiassu (1994), as escolas chegam hoje a realizar no máximo apenas ações em nível pluridisciplinar. Isso se justifica pelos impeditivos consolidados na

fragmentação contínua e no imperialismo presente nos espaços escolares, conforme o referido autor, os quais são apegados na legitimação de um conhecimento autoritário, arrogante e gerador de cancerização intelectual, havendo urgência em sua revisitação sob o olhar ampliado da interdisciplinaridade.

Japiassu (1976) apresenta a definição de disciplina e de quatro níveis de gradações de integração disciplinar. Parte da multidisciplinaridade enquanto trabalho isolado sem qualquer relação entre disciplinas, passa para a pluridisciplinaridade, que podemos assemelhar a um ensaio de seu estágio gradativo ascendente ─ a interdisciplinaridade ─ seguido pelo último nível gradativo, a transdisciplinaridade, o que detalharemos a seguir. Iniciaremos pela definição de Disciplinaridade, que vem a ser a exploração científica especializada em certa área ou domínio homogêneo de estudo. Para o autor, a disciplina é designada como uma ciência, como uma atividade de pesquisa, e também é utilizada para significar o “ensino” de uma ciência enquanto disciplina curricular.

Segundo o pesquisador, se pretendermos ter clareza do que trata o interdisciplinar é necessário fazer uma separação. Devemos colocar de um lado o multi e o pluridisciplinar, por se tratarem de categorias que possuem pouca ou nenhuma colaboração entre si. E, de outro lado, devemos considerar o interdisciplinar e o transdisciplinar, que pressupõem a colaboração entre as disciplinas e as interdisciplinas.

A Multidisciplinaridade designa um trabalho em que as disciplinas se apresentam de forma justaposta, sem necessariamente se envolver de modo coordenado em um trabalho de equipe entre as várias disciplinas. Ou seja, elas se desenvolvem de maneira estanque, sem ultrapassar seus limites fronteiriços, não há intenção de estabelecer relações com as outras disciplinas.

O termo Pluridisciplinaridade trata de um nível de pouca ou quase nenhuma colaboração disciplinar. Ele se caracteriza pela justaposição de diversas disciplinas, havendo uma cooperação entre elas, mas com objetivos distintos e sem coordenação. Nesse caso, as disciplinas que fornecem informação atuam como colaboradoras de outra disciplina, sem que haja inter-relação entre si, estabelecendo uma relação de dependência ou subordinação. Assemelham-se a esse tipo de ação trabalhos escolares desenvolvidos por professores de diferentes disciplinas. Estas contribuem com seu conhecimento para auxiliar no estudo e na compreensão de um determinado problema central, não ultrapassando o limite da mera colaboração e não estabelecendo, portanto, um intercâmbio disciplinar entre ambas que ocasione cooperação mútua.

O autor concebe a Interdisciplinaridade como “axiomática comum a um grupo de disciplinas conexas e definidas no nível hierárquico imediatamente superior, o que introduz a noção de finalidade” (JAPIASSU, 1976, p.73). Nota-se que há uma relação entre as disciplinas, caracterizada por um sistema de dois níveis coordenado pelo nível superior, com cooperação. Isso equivale, na escola, a uma ação docente e discente em que, diante de um determinado fenômeno ou problema a ser estudado, duas ou mais disciplinas colaboram entre si com um propósito único, transpondo seus limites territoriais. Nesse momento, não há supremacia entre as disciplinas, mas uma ação colaborativa de conhecimentos direcionados para um único objetivo.

A Transdisciplinaridade é considerada pelo autor como o último grau da interdisciplinaridade, identificado pela “coordenação de todas as disciplinas e interdisciplinas do sistema de ensino inovado, sobre a base de uma axiomática geral” (JAPIASSU, 1976, p.74). Nesse estágio há níveis e objetivos múltiplos e uma finalidade comum entre os sistemas com coordenação entre si. Dessa forma, todas as disciplinas envolvidas estabelecem colaboração e cooperação mútuas. Esse estágio é o último da interdisciplinaridade, se consideradas de forma ascendente as relações estabelecidas pelas disciplinas por meio de sua gradação.