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CAPÍTULO 3 INTERDISCIPLINARIDADE E PRÁTICAS

5.2 Quanto ao descritor Ano de Defesa

Observamos segundo os dados depreendidos desses Descritores de Análise, que a primeira defesa de um trabalho de pesquisa voltado para a Prática Interdisciplinar em Educação Ambiental no Brasil, ocorreu no ano de 199051, nove anos após a primeira defesa de uma dissertação brasileira em EA (1981). Esse é um dado que nos surpreendeu do ponto de vista da prática interdisciplinar, já que a discussão sobre a interdisciplinaridade circunda os meios acadêmicos brasileiros desde a década de 1970, com as obras de Hilton Ferreira Japiassu e Ivani Catarina Arantes Fazenda, pioneiros no Brasil.

Todavia, ao mesmo tempo que a data dessa publicação revela que a abordagem interdisciplinar da prática em EA na educação básica se deu após 19 anos das discussões deflagradas em Nice, também indica seu vanguardismo enquanto primeiro trabalho investigativo voltado para essa temática específica, sendo seguido por outro trabalho defendido somente cinco anos após, em 1995.

51 Doc. 18: SANTOS, S. R. P dos. Projeto AVE: um espaço interdisciplinar de Educação Ambiental do

Se direcionarmos nossa atenção para a EA, sabemos que até essa época pouco ou quase nada se tratava sobre a Educação Ambiental nos programas ou orientações curriculares de âmbito nacional, o que muito bem expressa os PCN Meio Ambiente (ano 1998, v. 10.3, p. 174) “Até meados da década de 90 não havia sido definida completamente uma política nacional de Educação Ambiental”, o que reforça nossa análise quanto ao primeiro documento identificado, bem como com a concentração de trabalhos ocorridos na década seguinte, movidos muito provavelmente pelos resultados e implementações decorrentes da Rio-92 e dos PCN, o que está conforme com a afirmação de González-Gaudiano e Lorenzetti (2009, p. 193) ao tratarem do “[…] impulso gerado com a aprovação da Política Nacional de Educação Ambiental, assim como a criação do seu Órgão Gestor, permitiu dar melhor expressão ao movimento ambientalista que despertou a partir da Rio 92”.

Vale destacar que na segunda metade dos anos 1980, a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, formulou novas propostas curriculares para o ensino fundamental (então 1º grau), tendo a Proposta Curricular de Ciências, publicada na sua versão definitiva em 1988, como eixo integrador a concepção de Ambiente. Estampava-se ali uma tendência de, ao menos na disciplina escolar de Ciências, colocar a Educação Ambiental com destaque central no currículo. Quase dez anos depois, em dezembro de 1997, a Educação Ambiental passa a ser incorporada (ao menos como orientação) nos currículos escolares do ensino fundamental, com a edição dos Parâmetros Curriculares Nacionais e, em particular, com o Tema Transversal “Meio Ambiente".

Já os anos de 2000, apresentam forte concentração dessas pesquisas com um total de 18 documentos contabilizados. Podemos observar na Figura 16 uma forte concentração de trabalhos de pesquisa na década de 2000, seguido de nenhum trabalho identificado nos anos de 2010 a 2012. Esse fato muito provavelmente se deve à não inserção de todas as pesquisas que foram defendidas nessas datas no Banco de Teses e Dissertações da Capes, fonte que alimentou o acervo do EArte. Acrescentamos a esse fato, a informação de que a inserção das pesquisas no Banco de Teses e Dissertações da Capes demanda cerca de dois anos ou mais para compor a totalidade dos trabalhos defendidos.

Após a defesa dessa tese novamente nos empenhamos em buscar dados referente ao ano de 2010 no Banco de Teses e dissertações utilizado como fonte para os dados da nossa pesquisa, entretanto até a presente data (dezembro de 2016) esses dados ainda não se encontravam disponibilizados e tomamos conhecimento de que as pesquisas referentes ao ano

de 2010, ainda estavam em processo de análise e classificação pelos pesquisadores do EArte, para somente após esse processo serem inseridas no Banco do EArte.

FIGURA 16 - Distribuição por Década das 21 Teses e Dissertações que Estudaram a Prática Interdisciplinar em EA na Educação Básica

Fonte: Banco Eletrônico de Teses e Dissertações do EArte.

Temos conhecimento, por exemplo, de alguns trabalhos de pesquisa que tiveram suas defesas nos anos de 201052, que foram orientados pelo Profº Dr. Maurício Compiani do Instituto de Geociências da Unicamp. Do mesmo modo que temos conhecimento desses trabalhos, certamente outros devem haver em demais Instituições de Ensino Superior brasileiras, o que poderá ser verificado em pesquisas futuras.

Ao estabelecer um paralelo com a pesquisa de Nogueira (2008), a autora identificou a defesa da primeira prática interdisciplinar direcionada para os anos iniciais do ensino fundamental no Brasil no ano de 1991, enquanto para as pesquisas direcionadas

52 Sheila Zanchi Ceccon. Estudo de Caso do Programa de Educação Ambiental Fruto da Terra: a

pedagogia de projetos como instrumento de Educação Ambiental. 2010. Dissertação (Mestrado em Ensino e História de Ciências da Terra), Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP. Orientador: Mauricio Compiani.

Carla Gracioto Panzeri. Sentidos e Práticas: a Educação Ambiental construída por professores participantes do projeto ribeirão anhumas na escola. 2010. Tese (Doutorado em Ensino e História de Ciências da Terra), Instituto de Geociências da Unicamp, Campinas, SP. Orientador: Mauricio Compiani.

0 3 18 0 1980 1990 2000 2010 Qu anti d ad e d e Pes qui sas Décadas

Distribuição da Produção de Pesquisas por

Década

a Prática Interdisciplinar na Educação Básica brasileira em EA, se identificou a primeira defesa no ano de 1990.

Notamos, que os anos de 2004 e 2006 são os únicos que tiveram três defesas, havendo uma queda nos dois anos seguintes com uma produção cada ano de 2007 e 2008, sendo que, o último ano identificado nessas produções foi o de 2009, contribuindo com duas pesquisas para o tema investigado, o que igualmente ocorre com os anos de 2002, 2003 e 2005.

As pesquisas defendidas na década de 2000 correspondem a 85% do total de trabalhos encontrados na nossa investigação, o que anuncia um crescimento das pesquisas envolvidas com o tema que estamos estudando.

No mais, muito embora seja visível um discreto aumento na produção acadêmica brasileira a partir do ano de 2002, ainda assim o cenário pouco avança nesse contexto de pesquisa, o que significa uma média de duas pesquisas/ano, o que descortina um campo de trabalho bastante amplo ainda a ser investigado.

Algumas questões nos conduzem a refletir sobre esses dados: Quais fatos colaboram para a existência desse hiato investigativo no campo educacional da Educação Básica brasileira (2010-2012)? No ambiente educativo, é percebida a subjacência da interdisciplinaridade em relação à transversalidade? Os pesquisadores sentem-se instrumentalizados para direcionar suas pesquisas educacionais no campo da interdisciplinaridade? Há interesse do Estado no fomento dessas pesquisas? Qual a compreensão de interdisciplinaridade que os docentes possuem enquanto prática educativa?

Essas são algumas indagações das muitas que poderão derivar dessa constatação, para as quais recomendamos investigações futuras.