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2.1 As instituições

2.1.4 O Processo de Construção Social

A análise da construção social das instituições e de sua natureza endógena demonstra que as instituições não são contratos equilibrados entre atores individuais buscando seus próprios interesses ou entre as arenas para a contenção das forças sociais. Elas são coleções de estruturas, regras e procedimentos operacionais padrão que têm um papel parcialmente autônomo na vida política (MARCH; OLSEN, 2005). Para March e Olsen (2005), uma instituição é uma coleção relativamente duradoura das regras e práticas organizadas, embutidas em estruturas de significação e recursos relativamente invariantes diante do volume de negócios dos indivíduos e relativamente resistente às preferências idiossincráticas e expectativas deles e as mudanças de circunstâncias externas. (MARCH & OLSEN, 2005).

Nessa perspectiva, a ação habitual, as rotinas, os procedimentos operacionais padrão e as atividades padronizadas são fundamentais no processo de construção social institucional. Elas podem ser incorporadas e transportadas pelas atividades estruturadas na forma de comportamento habituais e de rotinas. As rotinas são transportadores que dependem das ações padronizadas que reflitam o conhecimento tácito dos atores que estão profundamente arraigados nos hábitos e nos procedimentos baseados no conhecimento e nas crenças

inarticuladas. March e Simon (1958) apontaram que os repetitivos “programas de desempenho” foram um ingrediente central representando a confiabilidade das organizações (MARCH; OLSEN, 2005; SCOTT, 1995; SIMON, 1977).

O processo de construção social obedece à lógica de adequação, que é uma perspectiva sobre como a ação humana deve ser interpretada. A ação é impulsionada por regras ou normas de comportamento consideradas adequadas, exemplares e organizadas de forma institucional. Nesse âmbito da adequação, há os componentes cognitivos e os normativos. Os indivíduos seguem as regras porque as percebem como algo natural, de direito, esperado e legítimo. Essas obrigações estão encapsuladas em um papel, uma identidade, em algum membro de uma comunidade política ou coletividade social, e estão imbricadas nas expectativas das instituições presentes nesse contexto (MARCH & OLSEN, 2008).

Os autores também analisaram essas regras de adequação em um contexto de instituições políticas formalmente organizadas e em um ambiente político, buscando compreender se o papel do comportamento orientado por regras na vida pode iluminar o pensamento sobre a vida política. Ou seja, como essa codificação das experiências em regras, em memórias institucionais e em informações processadas é moldada e como ela dá forma a um sistema político. Esse comportamento dos atores sociais de seguir determinadas prescrições internalizadas, tais como: as regras, os códigos e os princípios de conduta, definidos socialmente como normais, verdadeiros, corretos, sem fazer, ou, apesar de se fazer o cálculo de suas consequências ou de sua utilidade esperada, é de origem antiga, pois tratam da importância das regras e das identidades para a orientação da vida humana. Apesar de essa composição variar um pouco dependendo da área, a ideia central é que os seres humanos mantêm um repertório de funções e de identidades, a qual fornece orientações por meio de regras de comportamentos adequados para cada situação específica. Seguir as regras de um papel ou de uma identidade é um processo cognitivo relativamente complexo, que envolve o comportamento reflexivo e o racional. Agir de forma adequada é proceder de acordo com as práticas institucionalizadas de uma coletividade, com base em entendimentos mútuos e, muitas vezes, tácitos sobre o que seria a verdade, o razoável, o natural, o justo e o bom. Contudo, o fato de uma regra de ação ser definida como apropriada por um indivíduo ou por uma coletividade pode refletir sua aprendizagem a partir da história, mas não garante sua eficiência técnica ou sua aceitabilidade moral (MARCH & OLSEN, 2005, 2008).

A adequação das identidades, situações e regras de comportamento pode ser baseada na experiência, no conhecimento especializado e na intuição. Sua correspondência pode ser baseada nas expectativas do papel desempenhado. A correspondência também pode carregar consigo uma conotação de essencial, de modo que as atitudes, os comportamentos, os sentimentos apropriados ou as preferências relacionadas ao cidadão, ao profissional ou ao bom funcionário público serão aqueles que são essenciais para ser um bom cidadão, um bom profissional ou um bom funcionário público. Ou seja, o essencial não seria no sentido instrumental de ser necessário para executar uma tarefa ou de ser socialmente esperado, nem de se tratar de uma convenção de definição arbitrária, mas sim no sentido de que sem o qual não se pode pretender ser um cidadão, profissional ou funcionário público adequados. Na maioria das vezes, os seres humanos desempenham uma ação, tentando responder a duas perguntas elementares: Que tipo de situação é esta? O que uma pessoa do meu perfil faria em situação como esta? (MARCH & OLSEN, 2005, 2008).

O processo de construção social também é visto como permanente e contínuo nos níveis macro, meso e micro. No nível macro, a ciência, as profissões e os meios de comunicação operam para construir novas categorias, tipificações e conexões causais. No nível meso, os indivíduos operam dentro das arenas sociais particulares, tais como, nas configurações dos ambientes de trabalho e familiar e dos sistemas educacionais, que carregam com eles muitas regras culturais codificadas e rotinas sociais. E na interação cotidiana em nível micro, os indivíduos se apropriam e empregam esses quadros culturais mais amplos, mas também improvisam e inventam novos entendimentos e interpretações que norteiam suas atividades diárias. Estes sistemas de conhecimento e de regras preexistentes geram constrangimentos aos indivíduos. Ao mesmo tempo, os indivíduos também informam e capacitam esses sistemas, em um processo de mão dupla (BERGER et al., 1974; BERGER & LUCKMANN, 2004; BERGER & REDDING, 2010; GLENN & BERGER, 2000).

De acordo com Rodrigues e Child (2008), a perspectiva distingue os níveis de análises: “Analysis at macro (economy and society), meso (sector) and micro (company) levels provides for a contextual perspective, and the longitudinal time frame enables this perspective to be treated historically” (RODRIGUES; CHILD, 2008).

No caso desta pesquisa, a internacionalização da pós-graduação stricto sensu apresenta no nível macro o Governo e sua agência responsável pelas diretrizes da pós- graduação no Brasil, a Capes; no nível meso, há as universidades; e no nível micro os

programas de pós-graduação e suas equipes.