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6.2 institucionalização da internacionalização

6.2.2 Produtividade Internacional e seus Desafios

6.2.2.2 Mobilidade Estudantil e Acadêmica para se Construir as Capacidades

Outro aspecto abordado sobre a internacionalização dos programas de mestrado e doutorado em Administração diz respeito à mobilidade estudantil e acadêmica. Esta é uma perspectiva que se intensificou no período analisado.

“A história de mandar e receber alunos, que eu acho que continua forte, e nos últimos cinco anos, por exemplo, no caso brasileiro isso se acentuou com a nova abertura que o Brasil faz para receber estudantes estrangeiros, principalmente de países africanos e latino-americanos, eu acho que isso é um ponto relevante para a internacionalização'. (E10)

A mobilidade acadêmica foi apontada como uma das formas mais eficazes de se construir as capacidades relacionadas ao aprendizado de outro idioma e à construção de parcerias internacionais de pesquisa. Para E11, o Brasil apresenta uma geografia considerada periférica e distante dos grandes centros acadêmicos. Há a questão da língua portuguesa, somada à dimensão continental que, historicamente, fez com que vários acadêmicos não tivessem um contato mais próximo com os vizinhos latino-americanos. Soma-se a esse fato o monoglotismo nacional. “Ou seja, no Brasil pode-se lecionar e pesquisar em português em oito milhões e meio de quilômetros quadrados e em um universo de mais de 200 milhões de pessoas” (E11).

“...é como os Estados Unidos, mas eles têm a vantagem de falar inglês. Eles são também monoglotas, tão monoglotas quanto nós, mas eles falam inglês, que se transformou numa língua de cultura. Isso é uma vantagem” (E11).

Esse aspecto geográfico-sociológico, apesar de apresentar mudanças recentes, ainda está presente na mentalidade de alguns pesquisadores nas Ciências Sociais Aplicadas.

“[…] somos um país continental, e temos aqui todos os recursos naturais, e de certa forma podemos adicionar a esses recursos naturais, os recursos humanos, sem necessidade de maior relacionamento com o mundo. […] para

nós, brasileiros, a internacionalização é algo particularmente difícil, porque temos várias coisas que conspiram, na nossa cultura e na nossa história, contra internacionalização. O Brasil, historicamente, está longe de tudo." (E11)

Nenhum entrevistado contestou a relevância e preponderância da língua inglesa nos meios acadêmicos, pois essa é a forma de a pesquisa produzida no Brasil ser veiculada internacionalmente. Apesar de não se ter detectado nas entrevistas um discurso de resistência em relação a essa língua inglesa, 70% dos entrevistados apontaram que adquirir essa capacidade não é algo trivial e que possa ser feito no curto prazo. O domínio do idioma inglês ainda é um desafio para vários acadêmicos no Brasil não somente da Administração mas em todas as áreas em geral.

O fato é que uma parte expressiva não domina o idioma inglês de forma satisfatória para internacionalizar seu trabalho e sua carreira. Isso tem uma questão histórica de insucessos no ensino e aprendizagem do idioma inglês no Brasil. Segundo Cox e Assis- Peterson (2008), a história do Brasil em relação ao ensino da língua estrangeira tem sido de fracasso, mesmo porque de 1961 a 1996 (durante 35 anos) não havia a obrigatoriedade do ensino de língua estrangeira no ensino básico público brasileiro (COX e ASSIS-PETERSON, 2008). Com relação às escolas particulares, a situação não melhora muito, pois há uma baixa carga horária disponibilizada para a disciplina de língua inglesa somada a um processo de ensino-aprendizagem ineficaz do inglês (PESSOA; PINTO, 2013). Essa herança histórica tem uma repercussão direta nos acadêmicos que estão atuando nos programas de pós- graduação stricto sensu e enfrentam a necessidade de ter um domínio amplo da língua inglesa. Conforme afirma Bourdieu (1991), a linguagem representa um poder simbólico, traduzido pela capacidade social que possibilita o emprego adequado dessa competência em determinada situação (BOURDIEU, 1991). Ou seja, a demanda pelo domínio da língua inglesa faz parte de um discurso que é determinado e controlado por condições sociais de produção e utilização. Essas condições estão traduzidas pelas regras práticas de regulação e distribuição do poder. Aqueles que detêm essas capacidades possuem mais poder social.

Para E8, as bolsas de pós-doutorado em países de língua inglesa seriam a principal forma para se construir genuinamente essa capacidade linguística. Mas outros desafios se

apresentam, em especial para os docentes das escolas particulares, como as dificuldades para abandonar suas atividades acadêmicas durante esse período. Questões familiares também foram colocadas quando se precisa mudar por um período de tempo levando toda a família junto.

Somados aos desafios linguísticos e de mobilidade acadêmica, há o fato de que os custos de internacionalização são altos. O pesquisador precisa ter qualificação, domínio da língua e tempo para fazer pesquisa. Na visão de E13, as instituições públicas de ensino recebem mais recursos do que as privadas. Por sua vez, as instituições privadas nem sempre financiam todo esse processo, ficando a cargo do professor os custos, integrais ou parciais da internacionalização. Mesmo em relação aos professores com dedicação exclusiva, as escolas particulares, ao fracionarem sua carga horária, deixam apenas duas horas semanais para a pesquisa. Outras são um pouco mais generosas.

"Então, eles acabam tendo que usar os fins de semana para pesquisar, porque duas horas por semana você não faz pesquisa com duas horas. Muitas vezes, elas não custeiam a ida a congressos, participação de congressos, e eles o fazem com recursos próprios. Então, o que eu tenho escutado é que o programa de internacionalização é um problema a mais para o professor, uma dor de cabeça a mais." (E10)

"Há uma uma discriminação das universidades privadas em relação às públicas." (E13)

Foi apontado a necessidade de a Capes criar instituições catalisadoras que permitam “um apoio mais forte para a internacionalização, além do que já é feito” (E7). Oferecem-se bolsas de estudo sanduíche nos editais para mobilidade de professores, mas há uma demanda de abertura de editais específicos de tradução de artigos, publicações e indexações internacionais, de acordo com E7.

“Custa caro hoje. Um professor que tenha dificuldade, ainda que ele fale inglês, que ele entenda e possa interagir com outros professores, ele não consegue escrever um artigo em inglês de alta qualidade. Então, o conteúdo do que foi desenvolvido tem altíssima qualidade, mas a língua, o idioma, a forma como é escrito, não é adequado para um Journal de alta relevância internacional.” (E7)

“Para isso, a gente precisa fazer ou a tradução, e isso custa por artigo, em torno de 3 mil e 500 reais, ou a revisão. A revisão custa em torno de mil e 500 reais. Isso com revisores altamente qualificados, para realmente ser aceito num Journal com o JCR, acima de 2 e meio.” (E7)

Para E7, várias vezes, os programas de pós-graduação não possuem esses recursos, ficando então a cargo do professor, que precisa usar seus rendimentos próprios para financiar, e internacionalizar sua pesquisa. Muitos desses professores estão contratados como professores horistas e não recebem recursos para pesquisar, nem para publicar.

“Se a Capes não ajuda nesse sentido, é difícil o professor ter que desembolsar cerca de RS 3.500,00 para escrever em inglês, para poder internacionalizar a pesquisa dele; ou seja, para que outros pesquisadores internacionais saibam o que ele está pesquisando” (E7)

Apesar dos desafios com relação às barreiras linguísticas, da mobilidade acadêmica e daos altos custos da internacionalização, há o entendimento por parte dos entrevistados de que se eles escreverem apenas em português, terão um escopo limitado da divulgação de suas pesquisas.

“Por isso, então, acho que a Capes tinha um papel de apoiar cada vez mais a mobilidade internacional tanto de alunos quanto de professores. Ela já faz, mas eu sugiro que faça com mais força e em outras questões que são acessórias, como traduções de artigos.” (E7)

Os entrevistados apontaram que a Capes é o principal financiador desse processo de internacionalização, junto com o CNPQ, mas enfatizaram a Capes, pela missão que ela possui, de desenvolver recursos humanos para a pós-graduação no Brasil. Essa é uma tarefa que desafia tanto os governos estadual quanto o federal e suas agências. Desafia também as universidades que possuem programas de pós-graduação e seu corpo docente.

A pesquisa qualitativa buscou apontar algumas visões de acadêmicos com relação aos desafios eles enfrentam com o processo de internacionalização dos programas de mestrado e doutorado em Administração no Brasil, confrontando suas opiniões com as diretrizes estabelecidas pela Capes.

7 A PESQUISA QUANTITATIVA E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Nesta seção, se utilizam os Cadernos de Indicadores da Capes para aplicar a metodologia quantitativa no estudo da internacionalização dos cursos de mestrado e doutorado em Administração, Ciências Contábeis e Turismo de 1998 a 2012 e apurar sua relação com o desempenho dos programas, por meio de uma análise de clusters. O capítulo da metodologia qualitativa tem por objetivos:

• Explicar os procedimentos de coleta de dados;

• Detalhar as quatro etapas da coleta de dados;

• Realizar uma análise descritiva dos dados;

• Verificar a correlação existente entre o desempenho do programa de mestrado e doutorado e o número de conteúdos internacionais que este possui, no período de 1998 a 2012;

• Apurar a correlação existente do número de conteúdos internacionais e a nota CAPES das universidades e o número de docentes ao longo do tempo.