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As marcas das manifestações de junho de 2013

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CAPÍTULO III – GOVERNO DILMA E AS MANIFESTAÇÕES: UMA ANÁLISE

3.1. Governo Dilma: da eleição à crise política e econômica

3.1.1. As marcas das manifestações de junho de 2013

O jornalista Eugênio Bucci (2016), em seu livro A forma bruta dos protestos, em que analisa as manifestações de junho de 2013 à queda de Dilma Rousseff em 2016, considera que o afastamento definitivo da presidente do Palácio do Planalto transcorreu para além do plano imediato – “as revelações de malversação do erário em seu governo, a incompetência no trato com o Parlamento e a recessão causada pela política econômica e fraudulenta”. Contudo, para ele “o empuxo do descontentamento vinha de 2013” (BUCCI, 2016, p.16). Neste cenário, as pedaladas fiscais apenas foram um pretexto formal para ejetar Dilma da presidência.

Dilma já não dava conta do serviço (inclusive do serviço que os mais ricos recebiam dela) e por isso foi demitida do (e pelo) poder. É claro que a chaga da ladroagem, o limbo do desgoverno e a crise econômica desfecharam sua queda, mas a curva irrecorrível do declínio tinha começado três anos antes. Os protestos, com seu tranco duro, vaticinaram o que estava por vir. A primeira infelicidade de Dilma foi não ter compreendido a mensagem. Ela não aquilatou corretamente o alcance daquela energia, que seguiria – e ainda segue – açoitando a máquina pública encarquilhada e os políticos profissionais especializados em parasitá-la (BUCCI, 2016, p.17).

Se para Singer (2015) as razões da derrocada do governo Dilma estariam atreladas ao que ele chamou de “ensaio desenvolvimentista”, o qual teria causado descontentamento gradual de diferentes setores da sociedade, sobretudo o meio financeiro/bancos, classe média tradicional, empresários industriais, entidades de classe, a partir de seu primeiro mandato, Bucci (2016) acredita que a raiz pela saída da presidente teria sido fincada em junho de 2013, particularmente com os protestos de rua que tomaram o país. Fato é que ambos evidenciam que o impeachment da primeira mulher a governar o país ocorreu com base no contexto social e institucional que antecedeu o processo formal em 2016. Os protestos públicos entre 2013 e 2016 sinalizariam que algo não estava bem na política e economia brasileira.

Se concebermos sob o prisma de Bucci (2016, p.31) que as manifestações “a favor da ordem não expõem carências, não escancaram contradições, não movem o conflito e não são notícia (...) [e que com tal perfil] são tão inócuas como um sujeito que se põe, em voz alta, a concordar consigo mesmo”, entenderemos que o fenômeno do movimento do impeachment em 2016, definitivamente, chancelou o descontentamento de significativa parcela da esfera pública, culminando com o fim antecipado do governo Dilma.

Talvez um ponto relevante nos protestos de 2013, revivido nos atos de 2015 e, sobretudo, ao longo de 2016 no movimento do impeachment, foi o descompasso entre a “língua do Estado e a da sociedade” (BUCCI, 2016). Segundo o autor, os gerentes do poder demorariam a reconhecer que a temporalidade da vida social tinha deixado para trás a temporalidade do Estado e as redes interconectadas deram mais densidade, alcance e vigor para os processos naturais do mundo da vida (BUCCI, 2016, p.71-72).

A lentidão da burocracia estatal tem peso de chumbo e, quando comparada à aceleração dos processos comunicacionais do mundo da vida e da esfera pública, assume aspecto de uma parede de basalto, ou de uma âncora hipertrofiada, que suga o navio para o fundo do mar. Quando se encontram cara a cara, esfera pública e Estado (ou sociedade civil e Estado, se quisermos) se opõem como hardwares incompatíveis. E isso não apenas no Brasil. O tema é mundial (BUCCI, 2016, p.77).

Sobre os protestos de 2013, Bucci utiliza de metáfora do campo dos meios de comunicação para fazer um paralelo entre a temporalidade da sociedade civil com a do Estado. “Enquanto o Estado se arrastava na instância da palavra impressa, a sociedade pulsava na instantaneidade e na ubiquidade da instância da imagem ao vivo (BUCCI, 2016, p.84)”. Para ele, a falta de sintonia entre as duas temporalidades “não é apenas um efeito, mas causa do acirramento dos protestos” e ainda a “letargia administrativa e a opacidade do Estado (...) parece indiferente, insensível e, mais grave ainda, não ser público” (BUCCI, 2016, p.86). A partir deste contexto, o jornalista faz uma observação quanto ao posicionamento a ser incorporado pelo Estado frente a demandas da esfera pública em âmbito global.

Mais do que ajustes nas fórmulas de representação partidária ou de financiamento dos partidos, o que o Estado (não apenas brasileiro) requer (para servir à sua respectiva sociedade) é uma atualização de seus trâmites em vários níveis, à luz dos novos padrões tecnológicos e das novas dinâmicas sociais engendradas pelas novas dinâmicas da comunicação social, onde repousa, em trânsito, a matéria inconfundível de que é feita a esfera pública (...). É claro que se trata também de adotar processos menos arrastados em todas as instâncias do Estado, mas se trata, principalmente, de redesenhar a administração pública de acordo com modelos institucionais novos, que estejam aptos a colher as demandas sociais e a entabular com elas entendimentos ágeis e efetivos, em prazos justos e com consequências eficazes (BUCCI, 2016, p.86-87).

Bucci (2016) observa que o Estado permaneceu surdo às reivindicações de 2013 e entre 2014 e 2016 houve uma série de protestos. Neste período a Lava Jato tornou-se o centro da política brasileira; e Dilma venceu as eleições em 2014 em disputa acirrada com Aécio Neves (PSDB). As manifestações públicas que seguiriam em 2015 e 2016 ocorreram a partir de um ambiente político de desencantamento e frustração. Diferentemente de 2013, os

protestos tinham alas claramente definidas. “O rio estava definitivamente bifurcado: de um lado, no veio mais largo, ficavam os que queriam derrubar o governo federal (...). Do outro, num córrego acanhado, fincavam pé os que defendiam o mandato de Dilma, ainda que com restrições” (BUCCI, 2016, p.149). Assim, a presidente recebia críticas de todos os lados.

Os que defendiam a chefe de Estado organizavam atos públicos em que gritavam “Fora Levy” – contra o ajuste fiscal e em pedido à saída do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Entre esses estavam a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a União Nacional dos Estudantes (UNE), o Movimento dos Sem-Terra (MST). Do outro lado, estava à frente dos protestos “uma multidão com um sotaque de direita, embora, (...) marcassem presença crítica manifestantes de esquerda, descontentes com a corrupção no governo federal” (BUCCI, 2016, p.150). O autor observa discursos conflituosos dos grupos pró e contra o governo, tomando como referência os atos públicos que aconteceram nos 13 e 15 de março de 2015 por essas duas alas da sociedade. Dilma teria sua imagem enfraquecida em quaisquer circunstâncias.

No dia 13, as pessoas tentavam dizer que, para o Brasil mudar, era preciso que o governo ficasse. No dia 15, as pessoas tentavam dizer que era preciso tirar o governo para que as coisas continuassem como sempre foram. Se não iguais, quase iguais. Era preciso tirar os ladrões de Brasília. Essa seria a única mudança. Dilma perdia – perdia muito – dos dois lados. Perdia com as duas fórmulas. Os que diziam apoiar seu governo queriam quebrar a coluna vertebral de seu governo: a política econômica. Os que diziam querer derrubar seu governo queriam manter a política econômica que ela tentou implementar, mas não conseguiu de jeito nenhum.E Dilma tinha, ainda por cima, o problema dos ladrões (BUCCI, 2016, p.151).

Com um contexto social e institucional que gradativamente tornou-se inóspito, Dilma foi perdendo cada vez mais apoio e em diversas frentes da esfera pública como já relatado neste capítulo. Daí para o impeachment foi um pulo: bastou um motivo para oficializar o afastamento da presidente e decretar de vez o fim de quase 14 anos de hegemonia do Partido dos Trabalhadores à frente das decisões econômicas e políticas do país. Assim, “as pedaladas fiscais e os decretos orçamentários terminaram sendo a base formal para que o afastamento de uma presidente altamente impopular fosse efetivado, tal como o Fiat Elba para Fernando Collor vinte e quatro anos antes” (VILLAVERDE, 2016, p.15).

O motivo formal que selou a queda da presidente descende de medidas aplicadas a conta gotas pelo governo, o que reforça nossa tese de que o impeachment foi um movimento gradual. Segundo Villaverde (2016) a estratégia fez parte de uma série de ações de manobras contábeis aplicadas nas contas públicas federais para esconder a piora dos indicadores fiscais brasileiros aplicadas desde o final de 2012 e chegando ao seu limite no ano eleitoral de 2014.

“Foi quando a estratégia deixou de ser uma aposta de política econômica e passou a se testar os limites legais” (VILLAVERDE, 2016, p.59). Lembramos que a escolha do governo Dilma por esse tipo de “manobra” não foi um privilégio seu. Outros chefes de Estado tinham usado o mesmo expediente – em outro contexto social, político e histórico – e passaram incólumes de questionamentos sobre gestão das finanças públicas e responsabilidade fiscal.

3.1.2. Um relato: das manobras das contas públicas às “pedaladas fiscais”

Um dos motivos que sentenciou a queda definitiva do governo Dilma em 31 de agosto de 2016, com o impeachment pelo Congresso Nacional, foi a acusação de manipular o orçamento federal, com ações envolvendo o Tesouro Nacional e o Ministério da Fazenda. Porém, as “pedaladas fiscais”, como ficou conhecida essa prática de “manipulação”, foi uma estratégia adotada pela equipe do alto escalão com ciência de que as manobras praticadas eram ilegais. No entanto, o expediente adotado pela gestora do Executivo já havia sido utilizado por outros presidentes no passado – Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e Lula, por exemplo, recorreram aos mesmos artifícios, mesmo que em proporções diferentes.

O assunto é complexo demais e, certamente, será tratado por outros pesquisadores. Por essa razão, não mergulharemos no debate da questão legal do tema que levou ao afastamento da presidente Dilma em comparação aos seus antecessores. O objetivo aqui é apenas fazer um breve relato sobre o que foram as “pedaladas fiscais”, seus principais protagonistas e motivações. Tais elementos podem ter sido utilizados nos discursos dos grupos das redes sociais aqui estudados nas ações de articulação e engajamento social nos ambientes virtuais, particularmente o Facebook.

O jornalista João Villaverde (2016) narra os bastidores da crise que levou ao fim o governo Dilma Rousseff sob a ótica das manobras nas contas públicas, ou seja, das “pedaladas fiscais”. Segundo ele, o tema teria sido abordado de forma técnica na 110ª reunião do conselho curador do FGTS, em maio de 2009, entre outros assuntos. Naquela ocasião, a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN) teria afirmado ao “Tesouro Nacional de Arno Augustin e Marcus Aucélio que se a Caixa concedesse adiantamentos ao Tesouro estaria consumida uma infração da Lei de Responsabilidade Fiscal” (VILLAVERDE, 2016, p.27).

O autor analisa ainda que as medidas da nova matriz macroeconômica tiveram um “custo real” que não “deveria aparecer nas contas públicas”. Assim, se dá a série de manobras contábeis: uma prática sigilosa do governo Dilma. O balão de ensaio seria a reforma no setor elétrico para baratear o preço da eletricidade.

O balão de ensaio dessas manobras se deu na maior das intervenções do governo Dilma Rousseff: a mudança de regras no setor elétrico para gerar uma forte redução na conta de luz. As manobras contábeis atingiram outro patamar por causa da complexidade do setor e da intricada relação entre o Tesouro Nacional, a estatal Eletrobras, as diversas companhias federais, estaduais e privadas no ramo de distribuição de energia e os grandes contratos de construção e exploração de usinas hidrelétricas (...). Acender uma lâmpada no Brasil passou a ter um custo secreto – e devido ao aumento do endividamento público decorrente dessa medida, um preço final total que continuará a ser pago pelos brasileiros nos próximos anos (VILLAVERDE, 2016, p.59).

Outro setor de autoridade da política econômica que configura entre os protagonistas da crise das “pedaladas fiscais” é o Banco Central. Villaverde (2016, p.80) considera maio de 2014 “como o momento em que a crise fiscal brasileira ficou flagrante”. Até então, o governo conseguia apresentar superávits fiscais mensais15, porém, naquele mês o déficit fiscal primário foi de R$ 11 bilhões – o pior já registrado na série histórica do BC desde 1996. Aquele seria o primeiro de muitos que se repetiriam e se estenderiam por mais dois anos.

O autor relata também outro fato estranho não comentado pelo Tesouro e Banco Central quando da divulgação dos dados fiscais: o enigma de R$ 4 bilhões em uma conta separada de uma instituição financeira privada nacional. O BC incorporou o dinheiro no resultado fiscal; não fosse isso o superávit seria de R$ 15 milhões. O cerne da questão é que os recursos eram referentes à Previdência Social e não foram contabilizados pelo Banco Central porque o banco privado tinha feito uma alteração no seu registro contábil.

A alteração tinha sido feita no mês de fevereiro e somente em maio é que o Banco Central identificou o problema (...). Na reunião entre técnicos do Tesouro e do Banco Central realizada em junho, dias antes da divulgação oficial dos dados referentes a maio, ficou entendido que ao menos aquele episódio não estaria diretamente ligado aos problemas que estavam ocorrendo entre o Tesouro e os bancos no repasse de recursos públicos. Esses problemas, pouco depois, seriam identificados: eram “as pedaladas fiscais” (VILLAVERDE, 2016, p.82-83).

15 Superávit primário é o resultado positivo de todas as receitas e despesas do governo, excetuando gastos com

pagamento de juros. O déficit primário ocorre quando esse resultado é negativo. Ambos constituem o "resultado primário". O resultado primário é importante porque indica, segundo o Banco Central, a consistência entre as metas de política macroeconômicas e a sustentabilidade da dívida, ou seja, da capacidade do governo de honrar seus compromissos. A formação de superávit primário serve para garantir recursos para pagar os juros da dívida pública e reduzir o endividamento do governo no médio e longo prazos. Em 2014, o resultado primário foi negativo pela primeira vez desde que o Banco Central começou computar dados do setor público, que inclui governos federal, estaduais, municipais e empresas estatais, em 2001. O déficit foi de R$ 32,5 bilhões em 2014. Em 2013, houve um superávit de R$ 91,3 bilhões (SUPERÁVIT..., Portal Senado Federal, s.d). Disponível em: < https://www12.senado.leg.br/noticias/entenda-o-assunto/superavit>. Acesso em: 27 maio 2018.

Villaverde (2016, p.89-90) observa que a partir do episódio dos R$ 4 bilhões teve início um processo “frenético de investigação sobre as contas públicas” e que aquele dinheiro poderia ter relação com as “pedaladas fiscais” do Tesouro com as instituições financeiras. O que se entendida por “pedalada” até aquele momento era a manobra de o governo lançar pagamentos nos dias finais de cada ano, aproveitando-se do feriado bancário para que o dinheiro saísse dos cofres federais em janeiro do ano seguinte. Esta seria uma maneira de burlar a inscrição de “restos a pagar” uma vez por ano.

Já as “pedaladas fiscais”, como a operação ficou conhecida, envolvia o atraso sistemático de repasse de recursos federais a bancos controlados pelo governo, os quais passaram a usar dinheiro do próprio caixa para continuar oferecendo os benefícios públicos. A adoção da “pedalada fiscal” foi uma saída escolhida pelo Tesouro Nacional para evitar o aumento da dívida pública e a piora dos resultados fiscais do governo em consequência da chamada “nova matriz macroeconômica”, conforme contextualiza Villaverde:

O governo abrira mão de quase R$ 25 bilhões por ano em arrecadação com a desoneração da folha de pagamentos (...) e o plano de reduzir a conta de luz custaria quase R$ 20 bilhões em gastos novos do Tesouro. Além disso, a arrecadação caía mês a mês com a desaceleração da economia. A equipe econômica decidiu, então, que não poderia ser exposto à sociedade nenhum dos problemas evidentes nas contas públicas que decorreriam de mudanças externas e também das escolhas políticas do governo de conceder desonerações e aumentar gastos. A decisão era clara: as contas públicas não poderiam desmentir os discursos otimistas do ministro da Fazenda, Guido Mantega, do secretário do Tesouro Nacional e da própria presidente da República (...). A principal saída escolhida pelo Tesouro Nacional foi a adoção da “pedalada fiscal” (VILLAVERDE, 2016, p.102).

Ocorre, então, que a manobra da chamada “pedalada fiscal” passou a ser uma prática continuada do governo Dilma. A estratégia envolveu as principais autoridades federais da política econômica – Tesouro Nacional, Ministério da Fazenda, Banco Central, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, BNDES e Advocacia-Geral da União (AGU). Também entrou neste enredo o Tribunal de Contas da União (TCU). O resultado final: “uma conta total de quase 72 bilhões de reais em ‘pedaladas fiscais’ e um processo de impeachment da presidente da República no Congresso Nacional” (VILLAVERDE, 2016, p.93) por infringir a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).

(...) os atrasos do Tesouro no repasse de recursos obrigatórios a instituições financeiras controladas pelo próprio governo constituíram uma operação de crédito e, assim, violaram o artigo 36 da Lei de Responsabilidade Fiscal. O artigo veda que uma instituição financeira pública conceda empréstimos ao próprio controlador, e foi isso que, segundo Oliveira [Júlio Marcelo de Oliveira, procurador do Ministério Público de Contas (MPC)], aconteceu

com as pedaladas. Sem os recursos do Tesouro, os bancos foram forçados a continuar operando suas obrigações com recursos próprios, gerando uma dívida com o governo, que seria paga em algum momento do futuro, com correção por juros (VILLAVERDE, 2016, p.177).

Embora a defesa de Dilma Rousseff tivesse se apoiado no discurso de que prática identica àquela condenada pelo TCU tinha sido adotada no passado por outros presidentes – e foi, ainda que em menor proporção – o argumento não foi suficientemente forte, tão pouco convincente, para mantê-la no cargo. Na avaliação de Villaverde (2016, p.212), antes mesmo de o parecer final do TCU, já havia a compreensão na oposição e nos movimentos contrários a chefe de Estado de que a rejeição das contas de 2014 era o caminho para se chegar ao impeachment. De fato, este foi um dos motivos formais que a afastou definitivamente da presidência da República em 31 de agosto de 2016.

Pelos autores consultados, notamos que eles convergem para um mesmo ponto: que o impeachment de Dilma foi uma consequência de fatores para além do plano imediato. As ações da presidente desde o seu primeiro governo, sobretudo a partir da implementação da nova matriz econômica (SINGER, 2015; VILLAVERDE, 2016), a falta de percepção do governo com relação às demandas da sociedade que eclodiram nas ruas a partir de 2013 (BUCCI, 2016), a perda de apoio em diversos segmentos da sociedade, especialmente depois de uma reeleição apertada, com promessas de campanha não cumpridas (SINGER, 2015; BUCCI, 2016; VILLAVERDE, 2016), entre outros fatores do contexto social e institucional apresentados ao longo desta dissertação. Assim, o processo de impeachment, ancorado nas pedaladas fiscais e nos decretos orçamentários, nada mais foi que a base formal para tirar Dilma Rousseff do Palácio do Planalto.

Na medida em que recapitulamos, mesmo que sucintamente, a trajetória dos governos Dilma Rousseff (2011-2016), ampliamos nosso repertório para analisar mais assertivamente as estratégias de comunicação dos grupos das redes sociais on-line no que diz respeito ao engajamento e à participação popular pelo Facebook. A seguir, passaremos à análise dos convites virtuais de eventos e das interações dos seguidores em suas fanpages.

3.2. A construção e desconstrução de Dilma e seu governo pelos grupos nas

redes sociais on-line

Esta parte da pesquisa visa a apresentar a “construção e desconstrução” de Dilma e seu governo por meio das estratégias de comunicação dos grupos que atuaram a favor e contra o

impeachment nas redes sociais, particularmente pelo Facebook, para engajar seguidores a comparecerem em eventos articulados nos ambientes off-line. O período de estudo é de 1º de março a 31 de agosto de 2016, ou seja, do mês do principal ato público contra o governo – em 13 de março – até a votação do impeachment no Senado, com a decisão do Parlamento pela saída da presidente da República, naquele ano.

Com base em “concepções teóricas da abordagem, articulando-se com a teoria, com a realidade empírica e com os pensamentos sobre a realidade” (MINAYO, 2009, p.15), buscamos compreender as grandes manifestações públicas em tempo de redes sociais digitais. Dessa forma, o objeto empírico deste estudo foi um recorte das publicações dos grupos Movimento Brasil Livre (MBL) e Vem pra Rua (a favor do impeachment); e Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo (contra o impeachment), em suas fanpages.

Adotamos a análise de conteúdo como proposta metodológica, segundo as orientações de Bardin (2011), para observar 89 convites virtuais de eventos sobre atos públicos e a interação dos seguidores nas fanpages dos grupos mencionados a partir da divulgação destas atividades nos ambientes on-line. Através dos dados encontrados e tratados, buscamos identificar as estratégias de comunicação adotadas com foco no engajamento e na participação popular no processo de impeachment de Dilma Rousseff. A pesquisa consistiu em análise quantitativa e qualitativa e o estudo exploratório do material coletado.

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