• Nenhum resultado encontrado

Novas formas de sociabilidade e comunidades virtuais

No documento Download/Open (páginas 32-35)

CAPÍTULO I – DOS CONCEITOS CLÁSSICOS SOBRE COMUNIDADE AO

1.2. Comunidades nas mídias e redes sociais e suas conexões

1.2.1. Novas formas de sociabilidade e comunidades virtuais

A inserção da internet no dia a dia da sociedade moderna transformou a maneira como as pessoas se relacionam, ou seja, a forma de sociabilidade entre os indivíduos mudou e continua se reconfigurando ininterruptamente. Passamos a falar de comunidades virtuais, de pessoas que se relacionam nos ambientes digitais on-line, e muitas vezes, sequer conhecem aqueles com quem interagem. Essa legião de internautas tem ainda uma imensa flexibilidade de transitar em diferentes agrupamentos sociais como já mencionamos nesta pesquisa. Mas, o

que são comunidades virtuais, como se constituem e até que ponto elas transformam as relações sociais entre os humanos na sociedade contemporânea?

Castells (1999, p.442-443) recorre a Rheingold para tratar dos primeiros debates sobre o nascimento de uma nova comunidade que, a partir da disseminação da internet no mundo, passa a reunir pessoas que se conectam on-line em torno de valores e interesses comuns. Segundo ele, “é uma rede eletrônica autodefinida de comunicações interativas e organizadas ao redor de interesses ou fins em comum, embora às vezes a comunicação se torne a própria meta”.

Para Castells (2003, p.48), as comunidades virtuais apresentam características que descendem da própria internet, em que o mundo social desta é tão diverso e contraditório quanto a própria sociedade. Ele diz que “a cacofonia das comunidades virtuais não representa um sistema relativamente coerente de valores e normas sociais”. O sociólogo espanhol apresenta duas características fundamentais comuns às comunidades virtuais.

A primeira é o valor da comunidade livre, horizontal. A prática das comunidades virtuais sintetiza a prática da livre expressão global, numa era dominada por conglomerados de mídia e burocracias governamentais censoras. (...) O segundo valor compartilhado é o [de] formação autônoma de redes. Isto é, a possibilidade dada a qualquer pessoa de encontrar sua própria destinação na Net e, não a encontrando, de criar e divulgar sua própria informação, induzindo assim a formação de uma rede. (...) Assim, embora extremamente diversa em seu conteúdo, a fonte comunitária da internet a caracteriza de fato como um meio tecnológico para a comunicação horizontal e uma nova forma de livre expressão. Assenta também as bases para a formação autônoma de redes como um instrumento de organização, ação coletiva e construção de significado (CASTELLS, 2003, p.48-49).

A formação das comunidades on-line, na visão de Castells (2003, p.53), reinventou a sociedade a partir da apropriação da capacidade de interconexão por redes sociais de todos os tipos. Essas novas comunidades expandiram a interconexão de computadores em alcance e usos. “Elas adotaram os valores tecnológicos da meritocracia, e esposaram a crença dos hackers no valor da liberdade, da comunicação horizontal e da interconexão interativa, mas usaram-na para sua vida social, em vez de praticar a tecnologia pela tecnologia”.

Nas primeiras aproximações acerca das características das comunidades virtuais vimos que estas são grupos interconectados pela rede, seja por computadores ou por dispositivos móveis, em que há uma comunicação horizontal e livre e que estas também são autônomas, permitindo a organização de ações coletivas e apropriação de suas ferramentas para atividades na vida comunitária on-line e off-line. Castells (1999, p.444), ao analisar Wellman, compreende que não há necessidade das “comunidades virtuais” se oporem às “comunidades

físicas” porque elas são diferentes. Elas têm “leis e dinâmicas específicas, que interagem com outras formas de comunidade”.

Welman e Gulia demonstram que, assim como nas redes físicas pessoais, a maioria dos vínculos das comunidades virtuais é especializada e diversificada, conforme as pessoas vão criando seus próprios “portfólios pessoais”. Os usuários da internet ingressam em rede ou grupos on-line com base em interesses em comum, e valores, e já que têm interesses multidimensionais, também os terão suas afiliações on-line (CASTELLS, 1999, p.444).

Recuero (2011, p.140) também se baseia em Welman para dizer que existem variados tipos de conexão nos agrupamentos sociais na internet, que estão relacionados ao processo de surgimento da “aldeia global”. Assim, essa variedade não seria uma mudança causada pela internet. O conceito de comunidade virtual seria visto como “um agrupamento com laços de diversos tipos, aproximando-se de agrupamentos mais centrados em redes sociais particulares e menos em grupos pequenos e coesos”. Para apresentar diferentes pontos de vista sobre o tema, a autora recorre a Rheingold (2011, p.137), que prevê um maior comprometimento e interação nos grupos, diferentemente de Welman.

As comunidades virtuais são agregados sociais que surgem da Rede [internet], quando uma quantidade suficiente de gente leva adiante essas discussões públicas durante um tempo suficiente, com suficientes sentimentos humanos, para formar redes de relações pessoais no ciberespaço (RECUERO, 2011, p.137).

Com base nos estudos deste professor norte-americano, Recuero (2011, p.137) diz que “os elementos formadores da comunidade virtual seriam: as discussões públicas; as pessoas que se encontram e reencontram, ou que ainda mantêm contato através da internet; o tempo; e sentimento”. Para a jornalista, “esses elementos, combinados através do ciberespaço, poderiam ser formadores de redes de relações sociais, constituindo-se em comunidades”.

Recuero (2011, p.138) recorre também a outros autores para prosseguir com sua análise. Segundo a autora, Lemos diz que “as comunidades virtuais eletrônicas são agremiações em torno de interesses comuns, independentes de fronteiras ou demarcações territoriais fixas”. Ele se baseia em Maffesoli com relação à pós-modernidade social caracterizada pelo retorno ao comunitarismo e à superação do individualismo para respaldar seu conceito sobre o tema. Assim, o autor compreende “a sociabilidade na internet como não institucional, onde o indivíduo atua através de ‘máscaras’, em rituais” e que os agrupamentos humanos virtuais se dão de duas formas: comunitárias e não comunitárias.

As primeiras [comunitárias] são aquelas onde existe, por parte de seus membros, o sentimento expresso de uma afinidade subjetiva delimitada por um território simbólico, cujo compartilhamento de emoções e troca de experiências pessoais são fundamentais para coesão do grupo. O segundo tipo [não comunitárias] refere-se a agremiações eletrônicas onde os participantes não se sentem envolvidos, sendo apenas um locus de encontro e de compartilhamento de informações e experiências de caráter totalmente efêmero e desterritorilizado (apud RECUERO, 2011, p.138-139).

Para Recuero (2011, p.146-147), formatar o conceito de comunidade virtual “é uma tentativa de explicar os agrupamentos sociais surgidos no ciberespaço. Trata-se de uma forma de tentar entender a mudança da sociabilidade, caracterizada pela existência de um grupo social que interage, através de uma comunicação mediada pelo computador”. Ela compreende que faz parte do ciberespaço o encontro de grupos sociais com diferentes características.

Enquanto alguns autores definem os grupos sociais no ciberespaço como comunidades virtuais a partir da definição de laços fortes e interação social concentrada, além de capital social e compromisso com o grupo, outros explicam que as relações são mais fluidas e emocionais, embora também possuam capital social, interação e mesmo laços sociais mais fracos. Neste sentido, o conceito de comunidade virtual é amplo, e compreende, simplesmente, grupos sociais (...). A única característica comum, de tais grupos, parece ser a presença de capital e interação social e laços decorrentes deles (RECUERO, 2009, p.146-147).

Assim como vimos falta de consenso entre os pesquisadores no que tange ao conceito “comunidades”, o mesmo é observado com relação ao termo “comunidade virtual”. Apesar de pontos de vistas diferentes, há no debate de pesquisadores deste campo de estudos característica comum no que tange aos grupos das redes sociais, como bem colocou Recuero (2011): as questões sobre a presença de capital e interação social e os laços que se formam a partir da constituição desses agrupamentos humanos no ciberespaço.

No documento Download/Open (páginas 32-35)