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Uma passagem sobre movimentos sociais e populares no Brasil: dos anos de

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CAPÍTULO II – MOVIMENTOS SOCIAIS E POPULARES E OS GRUPOS DAS

2.1. Movimentos sociais e populares

2.1.2. Uma passagem sobre movimentos sociais e populares no Brasil: dos anos de

No Brasil, temos assistido a momentos diferenciados da participação dos movimentos sociais e populares na esfera pública. Gohn (2010, p.20) observa que, se nos anos de 1970 e 1980, eles “contribuíram decisivamente, via demandas e pressões organizadas, para a conquista de vários direitos sociais novos”, que se fizeram valer na Constituição brasileira de 1988, a partir de 1990 surgem outras formas de organização popular, mais institucionalizadas. Entre estas, a autora cita Fóruns Nacionais de Luta pela Moradia, pela Reforma Urbana e Fórum Nacional de Participação Popular.

Em outra obra, Gohn (2006, p.278-279) destaca em seus estudos sobre movimentos sociais urbanos que os anos de 1980 foram marcados por um novo panorama na prática e na teoria. Na prática, as lutas foram pelo acesso à terra e por sua posse, pela moradia; articulação do movimento dos transportes, movimentos de favelados, movimentos de desempregados, movimentos pela saúde. Ou seja, as demandas foram por melhoria das condições de existência, de vida. Quanto aos estudos sobre movimentos sociais, “pesquisar a identidade dos movimentos, ouvir suas falas, captar suas práticas cotidianas foram se tornando objetivos centrais nas preocupações dos analistas”.

Ainda nos primeiros anos da década de 80, no plano da realidade brasileira, novos tipos de movimentos foram criados, fruto da conjuntura político- econômica da época. Foram movimentos que se diferenciaram tanto dos movimentos sociais clássicos – dos quais o movimento operário é sempre tido como exemplar – como também dos ‘novos’ movimentos sociais surgidos nos anos 70, populares ou não populares. Foram os movimentos dos desempregados e das Diretas Já, que se definiam como campo da ausência do trabalho e na luta pela mudança do regime político brasileiro (GOHN, 2004, p.285).

Mais mudanças ocorrem no campo das lutas sociais no Brasil na década de 1990. O movimento popular rural cresce vertiginosamente no país. Criado em 1979 em Santa Catarina, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) se transforma no maior movimento popular do Brasil nos anos 90. Na mesma década, sugiram novos movimentos sociais centrados em questões éticas ou de revalorização da vida humana. “A violência generalizada, a corrupção, as várias modalidades de clientelismo e corporativismo, os escândalos na vida política nacional, etc., levaram a reações no plano moral” (GOHN, 2006, p.304-305). Ela

acrescenta que outras duas tendências se fortaleceram no cenário social nessa época, tendo relação direta com os movimentos sociais: o crescimento das ONGs e as políticas de parcerias implementadas pelo poder público local.

Estas tendências são faces complementares das novas ênfases das políticas sociais contemporâneas, particularmente nos países industrializados do Terceiro Mundo. Trata-se de novas orientações voltadas para a desregulamentação do papel do Estado na economia, e na sociedade como um todo, transferindo responsabilidades do Estado paras as ‘comunidades’ organizadas, com intermediação das ONGs, em trabalhos de parceria entre o poder público estatal e o público não-estatal e, às vezes, também com a iniciativa privada (GOHN, 2006, p.309-310).

Em outro de seus estudos, Gohn (2010, p.30) afirma que ao longo dos anos 90 os movimentos sociais em geral, e os populares em especial, “passaram a atuar em rede e em parceria com outros atores sociais”. Nesta nova fase, foram implementadas outras práticas, exigindo maior qualificação dos militantes. Tem-se, então, uma redefinição de laços e relações, tanto no âmbito urbano quanto na área rural.

O exercício de novas práticas trouxe também um conhecimento mais aprofundado sobre a política estatal, sobre os governos e suas máquinas. Demandas pela ética na política e uma nova concepção de esfera pública foram os primeiros saltos dessa aprendizagem, seguidos de uma completa rejeição pelos rumos das atuais políticas neoliberais, geradoras de desemprego e exclusão social. As redes, as parcerias entre movimentos e as ONGs criaram um novo movimento social: contra a globalização predominante, geradora da miséria; eles clamam, articulados em redes internacionais, pela defesa da vida com dignidade. O perfil do militante dos movimentos sociais se alterou e as teorias estão a exigir de nós explicações mais consistentes (GOHN, 2010, p.30-31).

Ainda segundo Gohn (2010), as lutas e as demandas dos movimentos sociais no início do século 21, no Brasil, se desenvolvem a partir de dez eixos temáticos:

1) lutas e conquistas por condições de habitabilidade na cidade (...); 2) mobilização e organização popular em torno de estruturas institucionais de participação na estrutura político-administrativa da cidade (...); 3) mobilizações e movimentos de recuperação de estruturas ambientais, físico- espaciais, assim como de equipamentos e serviços coletivos (...); 4) mobilizações e movimentos contra o desemprego; 5) movimentos de solidariedade e apoio a programas com meninos e meninas nas ruas, adolescentes que usam drogas, portadores de HIV e deficiências físicas; 6) mobilizações e movimentos dos sem-terra (...); 7) movimentos étnico- raciais (índios e negros); 8) movimentos envolvendo questões de gênero (mulheres e homossexuais); 9) movimentos rurais pela terra, reforma agrária e acesso ao crédito para assentamentos rurais; e 10) movimentos contra as políticas neoliberais e os efeitos da globalização (...) (GOHN, 2010, p.31).

Temas dessa ordem ganham força no contexto político-institucional brasileiro na contemporaneidade. Esses processos sociais são afetados pelas novas formas de comunicação, portanto, não podem ser dissociados do novo mundo virtual. Como sinalizou Sorj (2016, p.12), “as transformações sociais (...) são anteriores ao surgimento da comunicação via internet, que é influenciada por essas tendências preexistentes, ao mesmo tempo em que as modifica”. Na análise sobre as manifestações públicas assistidas em 2016 a partir das ações de grupos articulados e organizados nas redes sociais on-line no processo do impeachment temos de considerar esse arcabouço. Os estudos teóricos desses elementos darão sustentação para a análise empírica das fanpages dos grupos que selecionamos neste trabalho.

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