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MBL: protestos pelo impeachment, captação de recursos e escalada política

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CAPÍTULO II – MOVIMENTOS SOCIAIS E POPULARES E OS GRUPOS DAS

2.3. Os grupos nas redes sociais on-line no impeachment de Dilma Rousseff

2.3.1. MBL: protestos pelo impeachment, captação de recursos e escalada política

“entidade que visa mobilizar cidadãos em favor de uma sociedade mais livre, justa e próspera. Defendemos a Democracia, a República, a Liberdade de Expressão e de Imprensa, o Livre Mercado, a Redução do Estado, Redução da Burocracia”2

. Está presente nas redes sociais on- line deste o final de 2014, sobretudo no Facebook desde 1º de novembro de 2014. Mantém diversos canais de comunicação em plataformas digitais – site, Twitter, Instagram e Youtube – sendo o Facebook o que detém maior número de seguidores: mais de 2,6 milhões de pessoas acompanham o grupo nas redes sociais3.

2 Ver mais @mblivre e http://mbl.org.br/. 3

Embora tenha forte presença nas novas mídias digitais, o grupo disponibiliza poucas informações institucionais nas redes de relacionamento. Promove, anualmente, congressos para discussão de temas diversos com a sociedade, como educação, saúde, sustentabilidade, reforma política, economia, justiça e transporte e urbanismo. Para financiar suas atividades, o MBL busca levantar recursos por meio da venda de produtos nas redes sociais e contribuições de membros do grupo também angariadas pela internet.

Contudo, ao que parece o grupo, que ganhou notoriedade no período do processo de impeachment de Dilma Rousseff, se articula com outras esferas públicas para financiar suas ações. Durante a campanha anti-Dilma, foi citado na grande imprensa pelo recebimento de apoio financeiro de partidos políticos para a impressão de panfletos e uso de carros de som, em manifestações pelo impeachment, no evento de 13 de março de 2015.

O MBL (Movimento Brasil Livre), entidade civil criada em 2014 para combater a corrupção e lutar pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), recebeu apoio financeiro, como impressão de panfletos e uso de carros de som, de partido políticos como o PMDB e o Solidariedade. Quando fundado, o movimento se definia como apartidário e sem ligações financeiras com siglas políticas. Em suas páginas em redes sociais, fazia campanhas pertinentes para receber ajuda financeira das pessoas, sem ligação com partidos. (...) Em nota enviada ao UOL, Renan Santos confirmou a autenticidade do áudio e informou que o comitê do impeachment contava com lideranças de vários partidos, entre eles, DEM, PSDB, SD e PMDB (LOPES; SEGALLA, ..., 2016, 27 maio).

Ao que tudo indica as negociações do grupo para a captação de recursos com outras esferas da sociedade é uma prática recorrente. Segundo a Revista Piauí, mais recentemente teria sido criado um grupo de WhatsApp chamado “MBL – Mercado” que “serviria como interface entre o movimento e executivos de médio e alto escalão do mercado financeiro – pelo menos 158 funcionários de instituições como Banco Safra, XP Investimentos e Merrill Lynch” com o objetivo inicial de “levantar dinheiro para financiar o MBL e levar as pautas dos executivos às discussões públicas e aos encontros a portas fechadas que os membros do MBL teriam com políticos e lideranças nacionais” (ABBUD, ...., 2018, 03 out.).

O envolvimento com assuntos da política também parece ter ido além das demandas apontadas nas manifestações públicas do impeachment. Nas eleições municipais de 2016, 45 integrantes do MBL se candidataram a pleitos em diversas localidades do país, sendo a maioria filiada ao PSDB e DEM (Democratas). Oito foram eleitos, entre eles, Fernando Holiday, que assumiu uma cadeira na Câmara de São Paulo. Um dos líderes do MBL, ele concorreu ao pleito pelo DEM e obteve mais de 48 mil votos (MBL..., 2016, 03 out.).

As principais lideranças do MBL são Kim Kataguiri, Fernando Holiday e Renan Santos. Embora o grupo atue no mundo off-line, sobretudo nas manifestações pelo impeachment em 2016 e articulações com outras esferas da sociedade, não registramos sede física (endereço) ou ata de fundação da “entidade”. O único endereço localizado no site – rua da União, 137, Vila Mariana, São Paulo – é o do “Movimento Renovação Liberal” na página de contribuições do portal, cujo CNPJ é 22.779.685/0001-59. Ao que parece o MRL é a instituição que recebe os recursos destinados ao MBL, conforme aponta trecho de reportagem na imprensa.

Todos os recursos que recebe por meio de doações, vendas de produtos e filiações são destinados a uma "associação privada" — como consta no site da Receita Federal —, chamada Movimento Renovação Liberal (MRL), registrada em nome de quatro pessoas, sendo três delas irmãos de uma mesma família: Alexandre, Stephanie e Renan Santos. Este último é um dos coordenadores nacionais do MBL e um dos rostos mais conhecidos do grupo. (...) Três membros desta mesma família, além de uma quarta pessoa, aparecem como únicos associados da Renovação Liberal, a entidade privada "sem fins econômicos e lucrativos" que recebe o dinheiro do MBL. Seu estatuto, registrado em cartório em julho de 2014, diz que se trata de uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP). De acordo com a legislação brasileira, doadores de uma OSCIP podem descontar do Imposto de Renda as colaborações feitas a uma entidade como o MRL (RENOVAÇÃO..., 2017, 29 set.).

Não convém nos alongarmos nos detalhes da relação entre o MBL e MRL por não ser o foco desta pesquisa. As explicações apresentadas acerca do grupo tiveram tão somente o objetivo de tentar definir o enquadramento deste “ator” do impeachment de Dilma Rousseff na ocasião das manifestações de 2016. Analisaremos a seguir os três grupos restantes para, ao final deste capítulo, apresentarmos nossas considerações quanto aos seus perfis no contexto dos novos movimentos na era digital em paralelo aos conceitos sobre movimentos sociais e populares e formas de participação e comunicação popular já mencionados neste capítulo.

2.3.2. Vem pra Rua: visibilidade no impeachment e abertura de caminho na política

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