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Os atores e as conexões: os elementos das redes sociais na internet

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CAPÍTULO I – DOS CONCEITOS CLÁSSICOS SOBRE COMUNIDADE AO

1.2. Comunidades nas mídias e redes sociais e suas conexões

1.2.2. Os atores e as conexões: os elementos das redes sociais na internet

O estudo das redes sociais na internet perpassa, necessariamente, pela abordagem sobre os elementos constituintes desta rede (RECUERO, 2011). Os atores, representados por pessoas, instituições ou grupos, formam os chamados nós ou nodos da rede. Estes integram o primeiro elemento das redes sociais. O segundo consiste nas conexões da rede, que abrangem os laços sociais formados a partir da interação social entre os atores.

A autora do livro Redes Sociais na Internet (2011, p.25-26) diz que os atores são “as pessoas envolvidas na rede que se analisa. Como partes do sistema, os atores atuam de forma a moldar as estruturas sociais, através da interação e da constituição de laços sociais”. Nessa

comunicação mediada por computador, trabalha-se “com representações dos atores sociais ou com construções identitárias do ciberespaço”. Assim, são exemplos de atores ou nós da rede perfis, hashtags, fanpages, blog, canais no Youtube, entre outros. Esses atores sociais, na verdade, são representações dos atores sociais, ou seja, “são espaços de interação, lugares de fala construídos pelos atores de forma a expressar elementos de sua personalidade ou individualidade”.

Enquanto os atores representam os nós (ou nodos) da rede em questão, as conexões de uma rede social podem ser percebidas de diversas maneiras. Em termos gerais, as conexões em uma rede social são constituídas dos laços sociais que, por sua vez, são formados através da interação social entre os atores. (...) Essas interações são percebidas graças à possibilidade de manter os rastros sociais dos indivíduos os quais continuam ali. (...) Estudar a interação social compreende, deste modo, estudar a comunicação entre os atores. Estudar as relações entre suas trocas de mensagens e o sentido das mesmas, estudar como as trocas sociais dependem, essencialmente, das trocas comunicativas (RECUERO, 2011, p.30-31).

Com base nos estudos de Watzlawick, Beavin e Jackson, Recuero (2011, p.31-41) diz que a interação representa um processo sempre comunicacional. Na visão deles, a interação é “aquela ação que tem um reflexo comunicativo entre o indivíduo e seus pares, como reflexo social; (...) e tem sempre um caráter social perene e diretamente ligado ao processo comunicativo”. A partir destes princípios, Recuero analisa que “estudar interação social compreende, deste modo, estudar a comunicação entre os atores”.

A partir da compreensão de que todo laço social é relacional, Recuero (2011, p.40-41) divide em dois tipos de laços sociais firmados nos ambientes digitais: os laços associativos construídos a partir de uma interação social reativa; e os laços dialógicos que compreendem interação social mútua. Os laços sociais podem configurar-se ainda como fortes e fracos. Os primeiros “se caracterizam pela intimidade, pela proximidade e pela intencionalidade em criar e manter uma conexão entre duas pessoas”. Já os laços fracos são “relações esparsas, que não traduzem proximidade e intimidade”.

Castells (1999, p.445) analisa a constituição dos tipos de laços que se mantêm nas comunidades virtuais e físicas, havendo uma distinção fundamental quando se trata da questão da sociabilidade. Para ele, “a Rede é especialmente apropriada para a geração de laços fracos múltiplos” e a internet favorece a expansão e a intensidade de laços fracos, gerando interação social entre as pessoas conectadas.

Os laços fracos são úteis no fornecimento de informações e na abertura de novas oportunidades a baixo custo. A vantagem da Rede é que ela permite a criação de laços fracos com desconhecidos, num modelo igualitário de

interação, no qual as características sociais são menos influentes na estruturação, ou mesmo no bloqueio, da comunicação. De fato, tanto off-

line quanto on-line, os laços fracos facilitam a ligação de pessoas com

diversas características sociais, expandindo assim a sociabilidade para além dos limites socialmente definidos do auto-reconhecimento. Nesse sentido, a internet pode contribuir para a expansão dos vínculos sociais numa sociedade que parece estar passando por uma rápida individualização e uma ruptura cívica (CASTELLS, 1999, p.445).

Para Santaella (2013, p.37), há uma tendência nas relações construídas nos ambientes digitais para criação de laços fracos e, com muito menos frequência, laços fortes. Sua análise é baseada na abordagem de Viana sobre os grupos das redes sociais: estes “se formam e se mantêm coesos ou não, uma vez que o tempo e o espaço são dinâmicos, efêmeros e fragmentados entre as perspectivas que cada um pode gerar ou absorver nesses âmbitos de convivência”.

Ainda no âmbito das conexões de uma rede social na internet, Recuero (2011, p.44-47) discorre sobre o capital social e, após analisar os estudos de diversos autores, ela conclui que não há concordância quanto ao conceito, mas que este “refere-se a um valor constituído a partir das interações entre os atores sociais”. Seu conceito é construído a partir da análise de três autores: Putnam (2000), sendo este associado à ideia de virtude cívica, de moralidade e de seu fortalecimento através de relações recíprocas; Bourdieu, cuja definição engloba “um recurso que é conectado ao pertencimento a um determinado grupo e o conhecimento e o reconhecimento mútuo dos participantes de um grupo”; e Coleman (1988) que “conceitua capital social como um valor mais geral, capaz de adquirir várias formas na estrutura social”. Assim, Recuero (2011, p.50) considera capital social como:

(...) um conjunto de recursos de um determinado grupo (recursos variados e dependentes de sua função, como afirma Coleman) que pode ser usufruído por todos os membros do grupo, ainda que apropriado individualmente, e que está baseado na reciprocidade (de acordo com Putnam). Ele está embutido nas relações sociais (como explica Bourdieu) e é determinado pelo próprio conteúdo delas (Gyarmati & Kyte, 2004; Bertoloni & Bravo, 2001). Portanto, para que se estude o capital social dessas redes, é preciso estudar não apenas suas relações, mas igualmente o conteúdo das mensagens que são trocadas através delas (RECUERO, 2011, p.50).

Para a jornalista (2011, p.54) “o capital social (...) pode nos auxiliar na compreensão dos laços sociais e do tipo de rede social formada através das ferramentas sociais observadas na internet”. Daí a importância de estudar o conteúdo das interações e conversações e não apenas a existência das conexões nas redes sociais. Esta seria uma maneira de compreender de

forma mais completa a qualidade das conexões das redes sociais. O capital social é ainda fundamental para entender os “padrões de conexão entre os atores sociais na internet”.

Ao abordar a interação social na internet, Primo (2007, p.11) diz que esta “é caracterizada não apenas pelas mensagens trocadas (o conteúdo) e pelos interagentes que se encontram em um dado contexto (geográfico, social, político, temporal), mas também pelo relacionamento que existe entre eles”. Portanto, os estudos devem ir para além do “olhar para um lado (eu) ou para o outro (tu, por exemplo)”. Neste processo, ele destaca a importância de atentar-se para o “entre”: o relacionamento. Assim, “trata-se de uma construção coletiva, inventada pelos interagentes durante o processo, que não pode ser manipulada unilateralmente nem pré-determinada”.

Em seus estudos sobre as interações da Web 2.0, o autor (2007, p.2-7) observa também que ela “tem repercussões sociais importantes, que potencializam os processos de trabalho coletivo, de troca afetiva, de produção e circulação de informações, de construção social de conhecimento apoiada pela informática”. Para ele, uma rede social é muito mais que uma conexão de terminais. “Trata-se de um processo emergente que mantém sua existência através das interações entre os envolvidos. Esta proposta, porém, focar-se-á não nos participantes individuais, e sim no ‘entre’(interação = ação entre)”.

A partir das colocações dos autores (RECUERO, 2011; CASTELLS, 1999, SANTAELA, 2013; PRIMO, 2007) sobre as conexões nas redes sociais, notamos quão fundamental é considerar a qualidade dos relacionamentos que se dá nos ambientes sociais on-line. A qualidade está relacionada não apenas aos conteúdos postados pelos “interagentes”, mas também a forma de relacionamento que se estabelece entre os envolvidos no ambiente digital. Desta forma, no trabalho de observação dos “nós da rede” deve-se considerar o monitoramento de interatividade, interação, conversação; e a mensuração de visibilidade (tamanho da rede e conexões), popularidade (o quanto o ator promove a interatividade) e engajamento (intensidade ou alcance da rede medida pela relação entre visibilidade e popularidade).

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