• Nenhum resultado encontrado

Vem pra Rua: visibilidade no impeachment e abertura de caminho na política

No documento Download/Open (páginas 76-81)

CAPÍTULO II – MOVIMENTOS SOCIAIS E POPULARES E OS GRUPOS DAS

2.3. Os grupos nas redes sociais on-line no impeachment de Dilma Rousseff

2.3.2. Vem pra Rua: visibilidade no impeachment e abertura de caminho na política

Dilma, iniciou suas atividades no final de 2014. A entidade se propõe a atuar contra a situação econômica, política e social do país e defende que o caminho para um Brasil democrático e justo é o combate à corrupção, erguer a bandeira da ética na política e defender um estado capaz de servir a sociedade4. Na internet e redes sociais, o grupo se apresenta como “um movimento suprapartidário, democrático e plural que surgiu da organização espontânea da

4

sociedade civil para lutar por um Brasil melhor” (SOBRE..., s.d.). Afirma ainda que suas principais bandeiras são “a democracia, a ética na política e um estado eficiente e desinchado” (SOBRE..., s.d.). Além do site, o Vem pra Rua tem três canais de relacionamento com a sociedade: Instagram, Twitter e Facebook. Esta última rede social agrega quase 1,7 milhão de seguidores5. Para o grupo, há várias formas da sociedade se opor ao status quo, sendo as redes sociais também um dos caminhos de “ir às ruas”.

O Vem pra Rua já levou mais de 2 milhões de pessoas às ruas de todo o Brasil nas manifestações de 2015. Em parceria com diversos outros movimentos sociais, engajamos a sociedade civil brasileira e mobilizamos as pessoas para participarem de grandes manifestações e passeatas em mais de 240 cidades brasileiras (...). Contudo, não é só nas passeatas e nas manifestações que se “vai à rua”: podemos mobilizar nossos amigos e conhecidos nas redes sociais, podemos nos organizar para cobrar de políticos e de funcionários do Estado brasileiro, podemos nos engajar na tarefa de cobrar de nossos representantes – nas câmaras municipais, nas assembleias legislativas, no congresso federal – para que sejam honestos, transparentes e eficazes na defesa dos interesses de nosso país. A rua não é só a manifestação: é onde acontece a sociedade brasileira (SOBRE..., s.d.). O posicionamento do Vem pra Rua, e até mesmo dos outros três grupos selecionados para análise nesta dissertação, reforça a característica de mobilização social de novos grupos que emergem na sociedade contemporânea. Trata-se do ativismo digital, assunto abordado a partir de estudos e pontos de vista de vários pesquisadores mencionados neste trabalho. O grupo utiliza ainda o aplicativo de mensagens instantâneas disponível para diversas plataformas de smartphones, o popular WhatsApp, como ferramenta de comunicação e engajamento de voluntários interessados em “colaborar” com as ações da entidade.

Para o grupo, “uma das formas de colaborar com o movimento é a doação de tempo, que será aplicado em tarefas realizadas pelo grupo: envios de mensagens, disparos de WhatsApp e preparação das saídas às ruas, entre outras atividades” (JUNTE-SE...,s.d.). As contribuições financeiras são recebidas pela internet por meio do sistema PayPal, que permite a qualquer cidadão fazer transferência de dinheiro on-line. Os recursos são destinados à ONG Abraça, “parceira do Vem pra Rua, sem fins lucrativos, que faz a gestão dos valores doados”. Ainda de acordo com o grupo, “os valores recebidos nas doações serão investidos na produção e administração de conteúdo do site e das mídias sociais, no relacionamento com a mídia, nas ferramentas de controle e pesquisa e nas manifestações e atos que acontecem em

5

todo o Brasil” (FAÇA..., s.d.). As principais lideranças são Rogério Chequer6

e Colin Butterfield, que, inclusive, assinam juntos o livro que relata a história do grupo.

Ganhar visibilidade por meio das redes sociais a partir do discurso contra o sistema – na ocasião o governo Dilma Rousseff – para depois lançar-se na vida política, ao que parece, faz parte da cartilha de líderes e integrantes dos grupos que se articularam nas redes sociais on-line estudados nesta dissertação. Nas eleições municipais de 2016, houve membros do Vem pra Rua que concorreram a cargos políticos.

Em entrevista à BBC Brasil, Chequer disse naquela época que não haveria propaganda para os candidatos e que essas pessoas teriam de se desligar do “movimento” para se candidatar. “O nosso objetivo é que não exista a tentação de usar um movimento suprapartidário para fazer campanha política. Queremos nos manter isentos para exercer pressão política em todos os partidos sem limitações” (DAS RUAS..., 2016, 27 set.).

Dias antes, os líderes do Vem pra Rua, apresentavam um discurso mais flexível no que diz respeito à isenção para exercer pressão política. Ao deixar uma dedicatória escrita a próprio punho ao presidente Michel Temer em um exemplar do livro de sua autoria, Chequer se posiciona da seguinte forma: “Presidente, esperamos que tenhamos muitos projetos alinhados daqui para frente” (REVERBEL,..., 2016, 20 set.). Já Colin Butterfield escreveu: “Presidente, vamos mudar esse país. Conte conosco onde pudermos ajudar. Precisamos escancarar, desmontar e reconstruir” (REVERBEL,..., 2016, 20 set.).

Não foram encontrados nos materiais analisados informações quanto ao estatuto e ao endereço da sede do grupo, embora tenhamos observado que as articulações com a sociedade civil ocorrem nos ambientes on-line e off-line para além das manifestações civis públicas. Nas redes sociais, o Vem pra Rua busca instigar “todos os brasileiros” a se manifestarem contra o governo, a falta de ética, políticos corruptos por meio de grandes manifestações, no entanto, as críticas ao sistema no pareceu serem direcionadas. Notamos que o grupo se apropria dos recursos tecnológicos e das facilidades permitidas a partir da disseminação da internet para chamar a sociedade para atuar também no mundo off-line, o que reforça a necessidade de concebermos estas atividades, de fato, como “subsistemas interconectados” (SORJ, 2015). Além disso, suas ações têm como foco críticas ao sistema político, do qual quer fazer parte.

6

Rogério Chequer é uma das principais lideranças do Vem pra Rua. Em 2016, lançou o livro “Vem pra Rua: a história do movimento popular que mobilizou o Brasil” (Matrix, p.292), com Colin Butterfiel, cofundador do grupo. Em dezembro de 2017, pediu afastamento da entidade para concorrer ao governo do Estado de Paulo, pelo Partido Novo, nas eleições de 2018.

2.3.3. Frente Brasil Popular: contra o impeachment, agremiação de movimentos sociais e defesa política e ideológica de esquerda

A criação da Frente Brasil Popular7 foi oficializada em 5 de setembro de 2015, após a Conferência Nacional Popular, realizada em Belo Horizonte (MG), em evento que contou com a participação de mais de 2.600 militantes, de 66 movimentos populares e organizações políticas do país. Conhecido por FBP, o grupo se propõe a atuar "em defesa da democracia e por uma nova política econômica" e apresenta-se como “uma aliança popular que aglutina (diferente de apenas representar) todas as formas do povo se organizar” (FRENTE..., 2015, s.d.). Está presente no Facebook desde agosto de 2015, e registra 156 mil seguidores8. Outros canais de comunicação e relacionamento são o portal, Twitter, Youtube e Issuu.

Sua base de representação na sociedade é composta por partidos políticos, sindicatos, centrais sindicais, movimentos populares, sociais, pastorais de igrejas, movimentos de mulheres, jovens, negros, povos indígenas, movimentos culturais, de comunicação social, intelectuais, artistas e outros. Entre eles estão: Central Única dos Trabalhadores (CUT), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), Via Campesina, Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento Nacional pela Soberania Popular Frente à Mineração (MAM), Movimento Camponês Popular (MCP), Federação Única dos Petroleiros (FUP), Confederação Nacional de Entidades Negras (Conen), União Nacional dos Estudantes (UNE), Levante Popular da Juventude, Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Consulta Popular, Marcha Mundial das Mulheres, Rede de Médicas/os Populares, Associação de Juízes pela Democracia, Rede Nacional de Advogados Populares (Renap), Sindicato dos Engenheiros do Estado – RJ (Senge-Rio), Central de Movimentos Populares (CMP), além de parlamentares e dirigentes de diversos partidos e correntes partidárias, como o PT, o PCdoB, o PSB e o PDT.

O grupo tem uma “Plataforma Política”, composta por seis pontos originários de “um denominador mínimo comum de todos os movimentos, partidos, organizações e indivíduos que integram a Frente Brasil Popular” (FRENTE..., 2015, s.d.). Os dois primeiros têm como foco sua base social: “trabalhadores e trabalhadoras, a ampla maioria do povo brasileiro”. Os dois seguintes mostram que a FBP concebe os temas do Estado e da Nação a partir de “uma democracia popular, base da soberania nacional”. Os dois últimos consideram as mudanças

7 Ver mais em http://frentebrasilpopular.org.br e @FrenteBrasilPopular. 8

estruturais mínimas indispensáveis a serem realizadas: “reformas que afetem a distribuição de propriedade, da renda e do poder, resultando em transformações cujo êxito depende de sua integração com a região latino-americana e caribenha”. Na cartilha que norteia suas principais diretrizes, a FBP evidencia a necessidade de ser vista como um “movimento”, cuja estrutura organizativa leva em conta as especificidades dos movimentos sociais existentes.

A FBP precisa ser construída no espírito de movimento. O caráter da Frente, seus objetivos, seus programas, mas principalmente suas ações e sua inserção nas lutas sociais concretas, é que determinarão a melhor forma de estrutura organizativa. Assim, devemos priorizar as iniciativas capazes de mobilizar e construir unidade de ação. E, a sua capilaridade também deve ser pensada em função dos planos de lutas sociais concretas.

A estrutura organizativa da FBP deve levar em conta as especificidades e a diversidade dos movimentos sociais já existentes, das lutas e campanhas em curso, dialogar com essa realidade, prestar atenção para as novas formas organizativas, os coletivos e redes sociais já existentes, sobretudo em nível estadual. A FBP se propõe a ajudar nestas lutas e nas organizações já existentes (FRENTE..., 2015, s.d.).

Em outra publicação – o Jornal Frente Brasil Popular9 – de edição especial e única, a Frente declara publicamente sua linha política e ideológica ao afirmar que “representa, acima de tudo, uma tentativa da esquerda responder, da forma mais unitária possível, à ofensiva conservadora em curso” (EM DEFESA..., s.d.). Também se posiciona com relação ao governo Dilma Rousseff, ao grupo de oposição e, subliminarmente, ao processo de impeachment:

Não se trata de uma aliança de apoio ao governo da presidente Dilma Rousseff, ainda que um de seus compromissos seja a defesa da legalidade democrática e do mandato sacramentado pelas urnas. A outra linha de atuação da FBP é o combate à política econômica adotada pelo governo depois da reeleição: o chamado ajuste fiscal. A Frente luta simultaneamente contra o golpismo, representado pelos setores mais conservadores, e contra o sequestro da agenda governamental pelos interesses do capital financeiro. Sem propósitos eleitorais, a Frente é um instrumento de mobilização aberta a todas as correntes democráticas e de esquerda (EM DEFESA..., s.d).

Na cartilha da FBP há uma descrição sobre a estrutura organizativa do grupo que contempla âmbitos nacional, estadual e municipal em instâncias políticas denominadas de coletivos, plenárias e conferências. Pelas diretrizes, está previsto que os coletivos funcionem como instâncias amplas, compostas por representante de entidades, movimentos, sindicatos e partidos aderentes ao Programa Mínimo da FBP. As plenárias são instâncias de mobilização, agitação, formação e organização de atividades de massa, e poderão eventualmente referendar

9 O Jornal Frente Brasil Popular - Ano 1 - Edição Especial foi uma publicação única da FBP. Ao que parece, sua

veiculação, que não é datada, se deu para reforçar a divulgação da criação do “movimento”, ocorrida em 5 setembro de 2015. O conteúdo está disponível no portal http://frentebrasilpopular.org.br, na aba “publicações”.

ou modificar propostas e sugestões de atividades, campanhas e ações estratégicas aprovadas nos coletivos. As conferências foram concebidas como espaços de estudos e aprofundamento dos problemas que afetam o povo brasileiro; de análises e debates estratégicos sobre a política brasileira; e, de construção de mobilizações e unidade popular. O documento dá conta de nortear outras ações da organização, que relatamos por serem pertinentes à nossa pesquisa:

Tarefas específicas, como comunicação, divulgação, produção de eventos/cultura, articulação parlamentar e demais aspectos organizativos serão executados em parceria com entidades, movimentos, sindicatos e partidos da FBP. Futuramente, caso isto se mostre necessário e viável, a FBP poderá criar, no âmbito das secretarias operativas, estruturas específicas e permanentes para dar conta dessas tarefas.

Nos municípios, bairros e regiões das grandes cidades, a FBP deverá incentivar a realização de atividades unitárias, populares e abertas à participação de qualquer cidadão interessado, para debater os problemas nacionais e um programa de alternativas que atenda os interesses do povo. Estas atividades de base poderão ser organizadas nas categorias profissionais, em universidades/escolas, empresas/local de trabalho, setoriais de atuação nos movimentos, ou outras formas de organização não prevista (EM DEFESA..., s.d).

Pelo exposto, notamos que a Frente Brasil Popular segue uma linha de atuação que muito se aproxima da definição de “movimentos sociais e populares”, sobretudo por agregar diversas frentes originárias dessas bases de atores sociais. Ao que parece o espaço físico utilizado pelo grupo é a sede nacional da Central Única dos Trabalhadores – rua Caetano Pinto, nº 575, Brás, São Paulo (SP) – uma das entidades parceiras da Frente. Embora disponibilize documentos e materiais sobre a história, formação e constituição do grupo, e até mesmo conteúdos que espelham as ações de comunicação nos atos contra o impeachment de Dilma, nas redes sociais, não observamos elementos que tratem de recursos financeiros para manutenção e desenvolvimento das atividades do “movimento”. Nos meios de comunicação digitais analisados não verificamos “pedidos” de contribuição e doações ao grupo. Notamos ainda que houve parceria nas atividades desenvolvidas no processo de impeachment do grupo com a frente Povo Sem Medo, cujo perfil e atuação serão delineados a seguir.

2.3.4. Frente Povo Sem Medo: contra o impeachment, nasce “sem” ligação com

No documento Download/Open (páginas 76-81)