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Frente Povo Sem Medo: contra o impeachment, nasce “sem” ligação com

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CAPÍTULO II – MOVIMENTOS SOCIAIS E POPULARES E OS GRUPOS DAS

2.3. Os grupos nas redes sociais on-line no impeachment de Dilma Rousseff

2.3.4. Frente Povo Sem Medo: contra o impeachment, nasce “sem” ligação com

A organização Povo Sem Medo se intitula “uma frente que reúne diversos movimentos sociais, lutadoras e lutadores, de todo o Brasil. Foi fundada em outubro de 2015 com o objetivo de lutar contra as medidas de ajuste fiscal, o avanço conservador no país, e propor uma agenda de reformas populares” (VAMOS..., 2017, s.d.). O documento informa ainda que

“teve atuação importante nas lutas contra o golpe e contra os retrocessos sociais do governo Temer”, o que evidencia sua crítica ao processo de impeachment de Dilma Rousseff.

Na ocasião de seu lançamento, “desconectada, ao menos oficialmente, de partidos políticos, [a frente] adota um discurso de ‘recuperar as ruas’, que, para eles, foram tomadas por manifestações de caráter conservador desde os atos pós-junho de 2013” (BEDINELLI, 08.out2015). Em carta convocatória de lançamento publicada no Facebook, a organização se posiciona da seguinte forma “contra o ajuste fiscal e o conservadorismo”:

O “ajuste fiscal” do governo federal diminui investimentos sociais e ataca direitos dos trabalhadores. Os cortes na educação pública, o arrocho no salário dos servidores, a suspensão dos concursos são parte dessa política. Ao mesmo tempo, medidas presentes na Agenda Brasil como aumento da idade de aposentadoria e ataques aos de direitos e à regulação ambiental também representam enormes retrocessos. Enquanto isso, o 1% dos ricos não foi chamado à responsabilidade. Suas riquezas e seus patrimônios seguem sem nenhuma taxação progressiva (...).

Ao mesmo tempo, os setores mais conservadores atacam impondo uma pauta antipopular, antidemocrática e intolerante, especialmente no Congresso Nacional. Medidas como a contrarreforma política, redução da maioridade penal, a ampliação das terceirizações, as tentativas de privatização da Petrobras e a lei antiterrorismo expressam este processo. No momento político e econômico que o país tem vivido se torna urgente a necessidade de o povo intensificar a mobilização nas ruas, avenidas e praças contra esta ofensiva conservadora, o ajuste fiscal antipopular e defendendo uma saída que não onere os mais pobres (CARTA..., s.d).

No mesmo informe, o grupo se propõe a atuar “contra a ofensiva conservadora e as saídas à direita para a crise” e “contra as políticas de austeridade aplicadas pelo governo, em nome de ajustar as contas públicas”, e defende “que a crise seja combatida com taxação de grandes fortunas, lucros e dividendos, auditoria da dívida e suspensão dos compromissos com os banqueiros”. A sociedade é instigada a sair para ruas, em prol de reformas populares e pela defesa da “democratização do sistema político, do judiciário e das comunicações e reformas estruturais, como a tributária, a urbana e a agrária”. Esse chamamento mostra que as ações do grupo ocorrem nos ambientes virtuais e off-line, havendo conexão entre ambos.

A organização tem página na internet, está presente no Facebook – com aproximadamente 144 mil seguidores10 – desde outubro de 2015, e disponibiliza conteúdo pelo serviço on-line Issuu. Foram encontrados poucos documentos oficiais que dão conta da atuação da frente nos ambientes on-line e off-line. Não registramos informações de onde provêm os recursos para custeio das ações articuladas pelo grupo nos canais e redes de relacionamento sociais, tão pouco se há uma sede (endereço fixo) utilizada para encontros

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presenciais. As atividades parecem ser geridas por entidades integradas e parceiras da frente, de modo que cada uma desenvolve o trabalho de acordo com os recursos humanos e financeiros que dispõe, articulando como e onde as ações serão realizadas. A liderança referência da Frente Povo Sem Medo é Guilherme Boulos, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), um dos principais articuladores do grupo e fonte recorrente da imprensa no processo de impeachment de Dilma Rousseff.

Outras organizações que integram a Frente Povo Sem Medo são: Intersindical - Central da Classe Trabalhadora, União Nacional dos Estudantes (UNE), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Associação Nacional dos Pós-graduandos (ANPG), Federação Nacional dos Estudantes do Ensino Técnico (Fenet), Círculo Palmarino, Igreja Povo de Deus em Movimento (IPDM), Coletivo Juntos, União da Juventude Rebelião (UJR), Juventude Socialismo e Liberdade (JSOL), Coletivo Construção, Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), Fora do Eixo/Mídia Ninja, Coletivo Cordel, União Brasileira de Mulheres (UBM) e Bloco de Resistência Socialista. Notamos também que, desde sua origem, movimentos que integram a frente têm certo vínculo com legendas políticas:

Ligada ao PT, a CUT faz parte das duas frentes [– a central compõe também a Frente Brasil Popular]. Na Povo Sem Medo também estão os movimentos estudantis Juntos! e Rua-Juventude Anti-capitalista, ligados ao PSOL, a União da Juventude Socialista (UJS) e a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), ligados ao PCdoB, além do MTST, que já havia elevado o tom contra o Governo ao ocupar em 23 de setembro a sede do Ministério da Fazenda contra as políticas de cortes no programa de habitação Minha Casa, Minha Vida (BEDINELLI, 2015, 08.out).

A exemplo de outros grupos estudados nesta dissertação, a Povo Sem Medo estreitou relacionamento com partidos políticos no percurso de sua história a ponto dos partidos virem a integrar sua base organizativa. Em dezembro de 2017, lançou o “Vamos! Sem medo de mudar o Brasil11”, documento que dá diretrizes para que um programa de esquerda “responda a grave crise que estamos vivendo e lance bases para a construção de uma sociedade mais justa” (VAMOS..., 2017, s.d.). O material de 20 páginas resulta de 55 debates presenciais em 24 cidades e 134 mil acessos on-line e traz propostas de “governo” estruturadas em seis eixos – economia, poder, comunicações e cultura, territórios e meio ambiente, saúde e educação, e negro, feminista e LGBT. O “Vamos” teria sido elaborado com a participação de partidos políticos que hoje integram a frente, além de representantes de movimentos sociais e populares de sua base histórica:

11 Ver mais sobre Vamos! Sem Medo de Mudar o Brasil – Resultados Finais no serviço on-line Issuu. Disponível

Após quatro meses de debate, a Frente Povo Sem Medo concluiu as diretrizes para o programa de governo do Vamos, movimento que nasce da busca de uma alternativa ao PT. Inspirado no Podemos espanhol12, o Vamos tem como seus idealizadores o coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Guilherme Boulos, possível candidato à presidência pelo PSOL – [o que veio a se confirmar em 2018]. A elaboração do documento de 20 páginas contou com a participação de petistas como o ex-ministro Tarso Genro (...). A Frente Povo Sem Medo, que se projetou em atos contra o impeachment de Dilma Rousseff, é integrada pelo MTST, PSOL, PT, PCB, UNE, CUT, Intersindical, e outros (SEABRA; RODRIGUES, 2017, 10 dez.).

Pelo exposto, notamos que a Frente Povo Sem Medo tem bastante similaridade com a Frente Brasil Popular, sobretudo nas ações articuladas nas redes sociais tanto nos ambientes on-line quanto off-line e composição de sua plataforma, ou seja, constituída por movimentos sociais e populares. O elo com partidos políticos, que seria a principal diferença entre as duas frentes, parece ter caído por terra. A Frente Povo Sem Medo aderiu a participação de partidos políticos em sua estrutura organizativa, tanto que nas eleições de 2018 Guilherme Boulos vai concorrer ao pleito de presidente da República pelo PSOL. O grupo apresenta também características próximas aos conceitos de movimentos sociais e populares detalhados neste capítulo, como luta por demandas de classes sociais menos favorecidas, atuação nas esferas públicas on-line e off-line e outras. Podemos enquadrar a Frente Povo Sem Medo, assim como a Frente Brasil Popular, como uma “agremiação” de movimentos sociais e populares com presença nos ambientes virtuais e off-line.

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