O governo Vargas não contou com um projeto de governo, como o Plano Salte de Dutra ou o de Metas de
JK,
mas as diretrizes básicas do seu governo estão nas mensagens que eleaprcsentava anualmente ao Congresso c ao país,enumerando as realizações de sua política industrial e anunciando as novas
22 Relatório de 1952 dn CDI, documento do Arquivo Osvaldo Arnnha/CPDOC. reproduzido
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propostas.
As
mensagens alimentavam os planosdas três
agências planejadoras e eram alimentadas por elas."
Nelas aparecem as propostas de resolução da questão energética (petróleo e eletricidade), da expansão da siderurgia, do reequipamento do setor de transportes (trens, navios, portos) e da relação destas medidas precedentes com a indústria de equipamentos e de bens de capital. As mensagens buscavam também justificar a necessidade de optar pelo envolvimento do Estado em setores essenciais, na qualidade de empresário. Os projetos de desenvolvimento da infra-estrutura ernrn ambiciosos. Não visavam o supri mento da demanda não atendida, mas se propunham a alargar a oferta
antecipando-se à demanda e criando condições para um contínuo crcscimen
to industrial. Estimulariam sobretudo o crescimento da indústria de base, considerada o setor prioritário a ser propulsionado paralelamente aos projetos do petróleo, da eletricidade e dos transportes.
Na área siderúrgica, as mensagens anunciavam a duplicação da capaci dade de produção da Companlúa Vale do Rio Doce, a expansão da Compa
nhia Sidenírgica Nacional, o estÚTIulo
à.."i
empresas privad.:'\s de aços especiais e o incentivo à instalação da Usina Sidenírgica alemã Mannesmann,
que Vargas chegou a inau gurar pouco antes de sua morte, em agosto de 1954.
Durante seu governo, foram também incentivadas duas outras grandes siderúrgicas: a Acesita (pertencente ao Banco do Brasil) e a Belgo-Mineira. A produção de laminados de aço passa, através dessa política de expansão
da siderurgia, de 572 mil toneladas em 1950 para 1 milhão em 1956, quase
chegando a suprir toda a demanda do país." O investimento aplicado nos cstabelecimentos novos ou já existentes faz com que a produção de aço
dobre entre 1955 e 1960, passando de
1,2
para 2,2 toneladas, levando o paísem 1963 à quase auto-suficiência no suprimento do aço (90% do consumo
total). No período 1947-55 a indústria de aço superou o crescimento do setor
industrial, aumentando 14,5% ao ano, enquanto a produção industrial cres
cia a 9%?'
Na área da indústria quúnica, as mensagens de Vargas anunciavam que
o governo daria atenção especial à produção de insumos industriais desse
23 Para uma análise das mensagens de Getúlio Vargas como programas de governo, ver Draibe,
Sonia. Rumos e metamorfoses. Estadn e industrialização /10 Brasil 1930-1960. Rio de
Janeiro, Paz e Terra, 19R5.
24 O consumo aparente de laminado de aço em 1955 correslxmdeu a 1,2 milhào de toneladas;
nesse ano o pais produzira quase 1 milhão de toneladas. Ministério do Planejamento e Coordenação Económica/Epca. Diagnóstico preliminar. Deseln'olvimellto industrial: siderurgia e metais IIão·ferrosos. 1966. p. 34.
25 Baer, Wemer. 11Iede'l'elopmemofBraúliallsteelindustry. Nashv:ille, Vanderbih University
t74 • Vargas e a crise dos anos SO
setor, aos derivados do petróleo e aos produtos fannacêuticos. Todo esforço foi feito para a implantação da Companhia Nacional de Álcalis em Cabo Frio e para isso o governo negociou créditos na França e usou recursos do
BNDE. A companhia, entretanto, só foi inaugurada em 1960. Várias compa
nhias estrangeiras que atuavam na área química receberam incentivos cam biais e fiscais para se instalarem no país. Dentre elas o presidente citava as companhias de fertilizantes, que estavam se instalando em São Paulo. O aumento da capacidade de rermo do petróleo foi rápido após a instalação da
Petrobrás. Ao rmal de 1955 o país já processava 100 mil barris por dia de
derivados nas refinarias do Estado e em particulares, e por essa época a
refinaria de Cubatáo entrava em operação, processando, sozinha, 4S mil
barris por dia."
A política de transportes do governo Vargas, presente nas suas mensa gens, envolvia:
a) o reequipamento do sistema de transportes: marítimo-fluviais (reapare Ihamento de portos, dragagens de rios), ferroviários (eletrificação de ferrovias e renovação do equipamento; produção de vagões, locomotivas e material ferroviário); pavimentação de rodovias.
b) construção naval {expansão e reequipamento do Arsenal da Marinha e do Estaleiro Lage, no Rio de Janeiro).
c) implantação da indústria de veículos (jipes, tratores, caminhões, ônibus e automóveis).
d) aviação (montagem de aviões pela Aeronáutica, a partir da importação
das
partes e com o desenvolvimento progressivo da fahricação de aviõespara treinamento militar e de helicópteros; criação de tecnologia de aviação, a qual deu lugar ao Instituto Tecnológico da Aeronáutica, que
entrou em funcionamento em 1953 em São José dos Campos, SP).
As
indústrias puxadas pelo desenvolvimento do setor transporte seriam:bens de capital (guindastes, material ferroviário, material naval), material elétrico, cimento e asfalto, indústria química, laminação de metais e meta lurgia. Na área do cimento, cinco novas fábricas, inclusive uma em Volta Redonda, foram construídas no governo Vargas. Com a duplicação da
produção do cimento, de 1950 para 1954, o país caminhou para a substitui
ção completa da importação desse produto, a qual se deu em 1957/58.
A produção do alumínio cresceu rapidamente no período, passando de
400 toneladas em 1 95 1 para 6.300 1. em 1956 (27% do consumo brasileiro
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no ano). A Companhia Brasileim de Alumínio, do grupo Ermírio de Mames, inici.a a produção de alumínio em Someaba, São Paulo, em
1954."
As
mensagens mostravam de fonna latente a colaboração entre os mitilares e a indústria civil nesse esforço de industrialização. A indústria de
annamentos se beneficiava com as metas de induslrialização do governo Vargas� assim como a indústria naval e a aviação. dominadas pelas forças annadas. Os militares tinham assento na Comissão de Desenvolvimento Industrial, na Comissão Mista Brasil-Estados Unidos e na Assessoria Eco nômica (a colaboração ""voluntária" do chefe