• Nenhum resultado encontrado

As mensagens programáticas

No documento Vargas e a crise dos anos 50 (páginas 167-170)

O governo Vargas não contou com um projeto de governo, como o Plano Salte de Dutra ou o de Metas de

JK,

mas as diretrizes básicas do seu governo estão nas mensagens que eleaprcsentava anualmente ao Congresso c ao país,

enumerando as realizações de sua política industrial e anunciando as novas

22 Relatório de 1952 dn CDI, documento do Arquivo Osvaldo Arnnha/CPDOC. reproduzido

o difícil caminho do meio • 173

propostas.

As

mensagens alimentavam os planos

das três

agências planeja­

doras e eram alimentadas por elas."

Nelas aparecem as propostas de resolução da questão energética (petróleo e eletricidade), da expansão da siderurgia, do reequipamento do setor de transportes (trens, navios, portos) e da relação destas medidas precedentes com a indústria de equipamentos e de bens de capital. As mensagens buscavam também justificar a necessidade de optar pelo envolvimento do Estado em setores essenciais, na qualidade de empresário. Os projetos de desenvolvimento da infra-estrutura ernrn ambiciosos. Não visavam o supri­ mento da demanda não atendida, mas se propunham a alargar a oferta

antecipando-se à demanda e criando condições para um contínuo crcscimen­

to industrial. Estimulariam sobretudo o crescimento da indústria de base, considerada o setor prioritário a ser propulsionado paralelamente aos projetos do petróleo, da eletricidade e dos transportes.

Na área siderúrgica, as mensagens anunciavam a duplicação da capaci­ dade de produção da Companlúa Vale do Rio Doce, a expansão da Compa­

nhia Sidenírgica Nacional, o estÚTIulo

à.."i

empresas privad.:'\s de aços espe­

ciais e o incentivo à instalação da Usina Sidenírgica alemã Mannesmann,

que Vargas chegou a inau gurar pouco antes de sua morte, em agosto de 1954.

Durante seu governo, foram também incentivadas duas outras grandes siderúrgicas: a Acesita (pertencente ao Banco do Brasil) e a Belgo-Mineira. A produção de laminados de aço passa, através dessa política de expansão

da siderurgia, de 572 mil toneladas em 1950 para 1 milhão em 1956, quase

chegando a suprir toda a demanda do país." O investimento aplicado nos cstabelecimentos novos ou já existentes faz com que a produção de aço

dobre entre 1955 e 1960, passando de

1,2

para 2,2 toneladas, levando o país

em 1963 à quase auto-suficiência no suprimento do aço (90% do consumo

total). No período 1947-55 a indústria de aço superou o crescimento do setor

industrial, aumentando 14,5% ao ano, enquanto a produção industrial cres­

cia a 9%?'

Na área da indústria quúnica, as mensagens de Vargas anunciavam que

o governo daria atenção especial à produção de insumos industriais desse

23 Para uma análise das mensagens de Getúlio Vargas como programas de governo, ver Draibe,

Sonia. Rumos e metamorfoses. Estadn e industrialização /10 Brasil 1930-1960. Rio de

Janeiro, Paz e Terra, 19R5.

24 O consumo aparente de laminado de aço em 1955 correslxmdeu a 1,2 milhào de toneladas;

nesse ano o pais produzira quase 1 milhão de toneladas. Ministério do Planejamento e Coordenação Económica/Epca. Diagnóstico preliminar. Deseln'olvimellto industrial: siderurgia e metais IIão·ferrosos. 1966. p. 34.

25 Baer, Wemer. 11Iede'l'elopmemofBraúliallsteelindustry. Nashv:ille, Vanderbih University

t74 • Vargas e a crise dos anos SO

setor, aos derivados do petróleo e aos produtos fannacêuticos. Todo esforço foi feito para a implantação da Companhia Nacional de Álcalis em Cabo Frio e para isso o governo negociou créditos na França e usou recursos do

BNDE. A companhia, entretanto, só foi inaugurada em 1960. Várias compa­

nhias estrangeiras que atuavam na área química receberam incentivos cam­ biais e fiscais para se instalarem no país. Dentre elas o presidente citava as companhias de fertilizantes, que estavam se instalando em São Paulo. O aumento da capacidade de rermo do petróleo foi rápido após a instalação da

Petrobrás. Ao rmal de 1955 o país já processava 100 mil barris por dia de

derivados nas refinarias do Estado e em particulares, e por essa época a

refinaria de Cubatáo entrava em operação, processando, sozinha, 4S mil

barris por dia."

A política de transportes do governo Vargas, presente nas suas mensa­ gens, envolvia:

a) o reequipamento do sistema de transportes: marítimo-fluviais (reapare­ Ihamento de portos, dragagens de rios), ferroviários (eletrificação de ferrovias e renovação do equipamento; produção de vagões, locomotivas e material ferroviário); pavimentação de rodovias.

b) construção naval {expansão e reequipamento do Arsenal da Marinha e do Estaleiro Lage, no Rio de Janeiro).

c) implantação da indústria de veículos (jipes, tratores, caminhões, ônibus e automóveis).

d) aviação (montagem de aviões pela Aeronáutica, a partir da importação

das

partes e com o desenvolvimento progressivo da fahricação de aviões

para treinamento militar e de helicópteros; criação de tecnologia de aviação, a qual deu lugar ao Instituto Tecnológico da Aeronáutica, que

entrou em funcionamento em 1953 em São José dos Campos, SP).

As

indústrias puxadas pelo desenvolvimento do setor transporte seriam:

bens de capital (guindastes, material ferroviário, material naval), material elétrico, cimento e asfalto, indústria química, laminação de metais e meta­ lurgia. Na área do cimento, cinco novas fábricas, inclusive uma em Volta Redonda, foram construídas no governo Vargas. Com a duplicação da

produção do cimento, de 1950 para 1954, o país caminhou para a substitui­

ção completa da importação desse produto, a qual se deu em 1957/58.

A produção do alumínio cresceu rapidamente no período, passando de

400 toneladas em 1 95 1 para 6.300 1. em 1956 (27% do consumo brasileiro

o difícil caminho do meio • 175

no ano). A Companhia Brasileim de Alumínio, do grupo Ermírio de Mames, inici.a a produção de alumínio em Someaba, São Paulo, em

1954."

As

mensagens mostravam de fonna latente a colaboração entre os miti­

lares e a indústria civil nesse esforço de industrialização. A indústria de

annamentos se beneficiava com as metas de induslrialização do governo Vargas� assim como a indústria naval e a aviação. dominadas pelas forças annadas. Os militares tinham assento na Comissão de Desenvolvimento Industrial, na Comissão Mista Brasil-Estados Unidos e na Assessoria Eco­ nômica (a colaboração ""voluntária" do chefe

da

Casa Militar de Vargas, Lúcio Meira). Inversamente, os industriais emm chamados

à

Escola Supe­ rior de Gue"" e a outros organismos militares para discutir fonnas de atuarem juntos no desenvolvimento industrial. A Marinha criou um escritó­ rio cm São Paulo pam compras de material da indústria paulista e negocia­ ções sobre empreendimentos conjuntos. Foi por pressão dos militares, interessados em produzir binóculos no país, que o setor de instrumentos óticos foi considerado prioritário pela

cm.

Em 1 954

Vargas afinnava em sua mensagem ao Congresso que os industriais haviam recebido mais de Cr$ 56 milh.xs no ano anterior para atender a contratos militares. O papel do setor privado na defesa nacional aumentou no período Vargas. Além dos contratos, os militares fariam a intennediação com outros organismos do governo pam a obtenção de emprés­ timos, isenções fiscais e assistência técnica para as indústrias privadas.18

No documento Vargas e a crise dos anos 50 (páginas 167-170)

Outline

Documentos relacionados