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de oposição, também foi arrasada e incendiada Por essa hora, no fim da manhã, as ruas de Porto Alegre estavam tomadas por milhares de populares

No documento Vargas e a crise dos anos 50 (páginas 81-84)

revoltados e replcta."i de escombros e cinzas. A fumaça que saía de vários

edifícios em chamas era vista em toda.

o:;;

as direçõe.."i.

o carnaval da tristeza _ 85 Os partidos políticos de oposição não tiveram melhor sorte que as rádios e os jornais. O mesmo grupo que destruiu a Rádio Difu.<o;ora encontrou-se

com o que atacou o

Diário de NotIcias

e, juntos, rumaram para o diretório

do Partido Libertador, na rua General Câmara, esquina com a rua dos Andradas. Rapidamente, subiram as escadas e tudo o que havia na sala -

móveis, material de propaganda, armários etc. - foi jogado pela janela c

incendiado. Também a sede do Partido Social Democrático,51 na pnu;a da Alfândega, sofreu com os revoltosos. A porta de aço que protegia as instalações do partido, porém. irritou ainda mais as pessoas que passaram a jogar pedras e pedaços de pau. Após oferecer grande resistência, ela foi arrombada e todo o material partidário foi defenestrado e queimado em seguida. A Frente Democrática, a Frente Popular, o Partido Socialista, o Partido Social Progres.."iista e o Partido da Representação Popular sofreram o mesmo destino: invadidos, devastados e incendiados.

É

interessante observar como a ira das pessoas manifestou-se em relação

à

imprensa,

às

rádios c aos partidos políticos de oposição ao PTB e ao

trabalhismo no Rio Grande do Sul. O ato de agredir o outro implica o uso de um veículo, verbal ou material, envolto necessariamente por um simbo­ lismo que infonna a própria natureza da violência. A população gaúcha, ao atacar os adversários, não utilizou ovos ou frutos podres, querendo com isso humilhar ou diminuir. Valer-se de pedras, com o objetivo de ferir ou machucar, foi recurso eventual. Ao atacar especificamente a oposição, os revoltosos utilizaram o fogo com o inUJito de, ao mesmo tempo, destruir e

purificar.

É

curioso e el<XJüente, ne..;;se sentido, que

A Tribuna,

jornal do

PCB,

não tenha sido incendiada, mas apenas empastelada.

Em Porto Alegre, como no Rio de Janeiro, os manifestantes

encenaram

sua indignação e revolta. A noção de teatro, aqui, novamente pennite desvendar rituais plenos de significados simbólicos. "Em todas as socieda­ des", diz Thompson, "o teatro é um componente essencial tanto do controle

político como do protesto ou, inclusive, da rebelião"

(1992,

p.

70).

Se na

crise de agosto a oposição conservadora manipulou cenários e atores, agora era o momento de a população encenar seu contrateatro. Ocupando o palco das ruas e dividindo-se em grupos, os amotinados distribuíam papéis entre os que carregavam bandeiras, retratos de Vargas, alto-falantes e aqueles que invadiam. destruíam e incendiavam. Elegeram seus amigos e seus inimigos, estes caçados implacavelmente pela cidade. Recorreram ao simbolismo do fogo para fazer desaparecer aqueles que ameaçaram suas expectativas

5 1 No Rio Grande do Sul, o PSD aliou-se aos partidos de oposição e partiCipou ativamente da

86 • Vargas e a crise dos anos SO

políticas.

O

protesto gaúcho teve sua encenação e a trama principal foi a

violência popular.

Até aquele momento, o governador do Rio Grande do Sul, general Ernesto Dornelles, primo de Getúlio Vargas, não havia acionado o disposi­ tivo policial-militar para reprimir o povo. A imprensa conservadora, indig­ nada com os acontecimentos na capital gaúcha, atacava Dornelles:

"O

Governador do Rio Grande do Sul, general Ernesto Dornelles, nenhuma providência tomou para evitar as depredações, e cruzou os braços quando os manifestantes passaram a atear fogo aos jornais

e às estações de rádio ... s2

Para os jornais, a revolta popular era ·chefiada por notórios agentes comunistas" e, sem repressão policial, "a turba alucinada pôde concluir a obra de destruição ante os olhos pasmos da população, que assistiu estarrecida a inominável selvageria".

Na verdade seria muito difícil para Ernesto Dornelles, governador pró­ ximo a Vargas, usar dos mesmoo métodos repressivos praticados na capital da República. Com sua atitude, Dornelles talvez procurasse dar um recado

às

elites políticas conseIVadoras: este território é nosso, aqui é diferente.

Somente por volta

das 16

horas, quando o motim tornava-se ameaçador para

toda a cidade, o governador pediu auxílio ao comandante da Zona Militar Sul. Enquanto as tropas militares não invadiam as ruas, os amotinados conti­ nuavam os ataques aos opositores de Vargas. Se, num primeiro momento, as agressões voltaram-se para aqueles considerados pela cultura política popular como os inimigos "internos'" do presidente, como partidos, rádios e jornais, agora a revolta dirigia-se para aqueles vistos como os inimigos "'externos", referidos, inclusive, na carta-testamento: o imperialismo e suas representações oficiais e comerciais. Como afirma Banington Moore Jr., "'especialmente em tempos de crise política, uma parcela muito importante da fonna como as pessoas decidem quem elas são encontra-se na dccisão sobre quem são os seus inimigos� (1987, p. 209).

A primeira vítima foi a representação diplomática norte-americana, invadida, saqueada e totalmente destruída. No prédio onde se localizava o consulado, no edifício Rheingantz, encontravam-se também vários escritó­ rios e muitos consultórios médicos e dentários. Todos eles foram devastados, particularmente a Alfaiataria Maboni, cujo material de trabalho, corno tecidos, manequins e máquinas de costura, lançados na calçada, perdeu o valor. Somos levados a acreditar que, no imaginário popular, talvez a proximidade físiea das salas comerciais e médicas com a diplomacia dos EUA surgisse como cumplicidade com os interesses daquele país.

o carnaval da tristeza . 87 o

National City Bank, símbolo do capital estrangeiro, foi atacado por

outros grupos. Antes de arrasarem completamente as instalações do banco,

No documento Vargas e a crise dos anos 50 (páginas 81-84)

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