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No governo: o projeto de industrialização vertical

No documento Vargas e a crise dos anos 50 (páginas 160-162)

Vargas via dois caminhos nas relações econômicas internacionais do Brasil. De um lado, a aüança com os EUA, dos quais pretendia obter empréstimos públicos e colaboração técnica para a industrialização brasilei­ ra. Sabia também que iria depender do fornecimento externo de petróleo para incrementar a produção interna de derivados, e de equipamentos e

créditos para os projetos de infra-eslnttura. O presidente mostrava-se aberto

à

vinda de empresas estrangeiras interessadas em instalar empreendimentos

locais nas áreas priorizadas por seu governo.

Por outro lado, reconhecia a necessidade de voltar-se para a Europa, buscando nela créditos, assistência técnica e trocas comerciais.

Não havia portanto um projeto autárquico, anti-Estados Unidos, na

proposta inicial de GehÍlio Vargas. O salto para a integração vertical da

industrialização, se representava menor dependência da importação de certos produtos, significava também a nece,''isidadc de importar novos insu­

mos e equipamentos. O que se colocava claramente, desde a campanha, era

que o Brasil devia diversificar suas relações econômicas e comerciais com os EU A e a Europa.

Vargas concentrou os projetos de industrialização de seu governo em duas áreas: a Assessoria Econômica e o Ministério da Fazenda.

Ao assumir o governo, fonnou um gnlpo de assessores técnicos para desempenhar simultaneamente as funções de uma secretaria infonnal de planejamento e de assessoria ao gabinete nas questões do dia-a-<lia do presidente. Inicialmente recrutou para a Assessoria Econômica Rômulo de Almeida, que montou o restante da equipe. Ela cra constituida por técnicos especializados em planejamento e política industrial (como Rômulo) e em

energia elétrica e política mineral (como Jesus Soares Pereira c João Neiva

Figueiredo). Em geral, provinham de outras áreas do serviço público, tendo aí entrado através de concurso do Departamento de Administração e Servjço Público (Dasp), e haviam tido experiência prévia de assessoria em organis-

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mos como o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, o Conselho Federal de Comércio Exterior e o Conselho Nacional do Petróleo. Rômulo de Almeida fora também assessor de Roberto Simonsen e Euvaldo Lodi no Departamento Econômico da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

entre 1946 e

1950,

tendo formulado com eles um projeto de indll,trialização

para

os pós-guerra que previa o tratamento da questão energética, tarifária e o reequipamento industrial. As verbas da Asscs..·;;oria Econômica eram tão reduzidas que a CNI complementava de inicio o salário de Rômulo de Almeida, ainda que ele já tivesse se afastado do Departamento Econômico.9 Esse fato evidencia a proximidade entre o presidente e os industriais, o que viabilizou a formação de uma aliança getulista: o principal assessor de Vargas vinha da CNI; seu ministro da Fazenda, Horácio Larer, e o presidente do Banco do Brasil, Ricardo Jafe!, eram industriais paulistas; e o presidente da CNI, Euvaldo Lodi, era deputado federal pelo PSD mineiro e tinha livre trânsito no gabinete presidencial.

Compllnbam também a Assessoria Econômica Inácio Rangel, Pompeu Aciolly Borges, Ottolmy Strauch e Saldanha da Gama. Essa era a equipe fIxa, mas ela contava também com grupos técnicos eventuais, recrutados de agências governamentais confonne a necessidade de infonnaçõcs. Como colaborador 'voluntário" (nas palavras de Rômulo de Almeida), o organis­ mo dispunha da ajuda do comandante Lúcio Meira, subchefe da Casa Militar. Vários dos trabalhos des."" organismo eram também compartilhados por Cleantho de Paiva Leite."

Um traço característico desses técnicos era a orientação nacionalista não-ortodoxa, que lhes permitia abrir lugar para a participação controlada do capital estrangeiro em empreendimentos como a Petrobrás. Eram tam­ bém assessores leais ao presidente.

Coube

à

Assessoria Econômica formular os projetos de criação da

Petrobrás e da Eletrobrás, bem como prover os recursos que alimentariam essas empresas. Dessa forma, para cada projeto seguia-se uma proposta de pequena refonna fiscal, para provimento de capital àquela área. Como as

políticas do petróleo e da energia elétrica culminaram

na

criação de empre­

sãs

púhlicas, pode-se dizer que, além de planejar, a Assessoria realizou, sem

grande alarde, uma refonna administrativa e fiscal pela via incrcmentalista.

9 Almeida, Rômulo de. Prefácio. ln: Pereira, Jesus Soares. Petróleo, energia elétrica e

sideru.rgia. Depoimtmto a Medeiros Lima. Rio de Janeiro, Paz e Terra, t975; Almeida,

Rômulo de. Política econômica do segundo governo Vargas. In: Szmrecsanyi, Tamas &

Gmnziera., R. Op. clt.; e entrevista da autora comJaci Magalhães, 1981/82.

10 Sobre a Assessoria Econômica, além dos depoimentos de Rômulo de Almeida ao CPOOC (1980) e deseus artigos citados na nota anterior, vera análise de Maria Celina S. O'Araujo, op. cit., p. 134-11.

o difícil caminho do meio _ 167

sem ter de recorrer a medidas que gerariam rupturas no interior do Estado.

Os

primeiros projetos interligando as políticas energéticas com a indústria de equipamentos pesados surgiram ali, sendo depois transferidos para a

j Comissão de Desenvolvimento Industrial, no Ministério da Fazenda. A sugestão da criação da CDI proveio da assessoria que, sobrecarregada com a elaboração dos projetos do petróleo e o aconselliamento cotidiano

à

Presidência, optou por descentralizar tarefas de planejamento, passando-as para o ministro Horácio Lafer. Também nela foram fonnulados o Plano Nacional do Carvão, o Banco do Nordeste e uma série de projetos na

área

agrícola.

No Ministério da Fazenda foram criadas duas agências para elaborar planos e projetos voltados para a industrialização e a infra-estrutura energé­ tica: a Comissão Mista Brasil-Estados Unidos e a Comissão de Desenvolvi­ mento Industrial.

A

Comissão Mista Brasil-Estados Unidos

(CMBEU) se estabeleceu a

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