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4 O PROGRAMA BANCO COMUNITÁRIO DE SEMENTES DE ADUBOS VERDES NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

4.1. O Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes (BCSAV)

4.1.1. Uso de adubos verdes como prática agrícola

A adubação verde é uma prática agrícola antiga, sendo que há mais de 2000 anos chineses, gregos e romanos já a utilizavam visando o aumento da produção das lavouras (WUTKE et al., 2010). Trata-se de uma prática que consiste no uso de espécies vegetais, preferencialmente leguminosas, em rotação ou em consórcio com culturas de interesse

econômico. Ela visa a manutenção da fertilidade do solo, colaborando para o aumento da produtividade agrícola com respostas a médio e longo prazos (ESPINDOLA et al.,1997), sendo que essas espécies podem cobrir o solo por determinado número de meses ou durante o ano todo (WUTKE e AMBROSANO, 2007).

No Brasil estudos realizados pelo Instituto Agronômico de Campinas remontam 100 anos demonstrando que uma das maiores contribuições da adubação verde consiste na adição de grandes quantidades de fitomassa ao solo, permitindo a elevação do seu teor de matéria orgânica (LASSUS, 1990).

Como técnica utilizada há milênios, sua adoção na agricultura foi incentivada antes da entrada dos insumos químicos derivados do petróleo. No início do século XX, o governo dos Estados Unidos distribuiu sementes e recomendações técnicas para seu emprego. Com o advento dos adubos químicos solúveis, que geravam lucros para os setores industriais, o uso de adubos verdes foi praticamente suprimido, a ponto de no momento, uma das restrições ao seu uso está na dificuldade de encontrar sementes para compra.

A prática agrícola da adubação verde pode ser aplicada tanto em sistemas convencionais de produção quanto em sistemas orgânicos, nos quais encontrou grande ressonância visto que a finalidades destes sistemas são:

II – a preservação da diversidade biológica dos ecossistemas naturais e a recomposição ou incremento da diversidade biológica dos ecossistemas modificados em que se insere o sistema de produção; III – incrementar a atividade biológica do solo; IV – promover um uso saudável do solo, da água e do ar, e reduzir ao mínimo todas as formas de contaminação desses elementos que possam resultar das práticas agrícolas; V – manter ou incrementar a fertilidade do solo a longo prazo; VI – reciclagem de resíduos de origem orgânica, reduzindo ao mínimo o emprego de recursos não- renováveis; VII – basear-se em recursos renováveis e em sistemas agrícolas organizados localmente. (BRASIL, Lei n° 10.831 de 23 de dezembro de 2003. Art 1°, inciso 1).

Entre outros benefícios da adubação vede pode-se citar a contribuição para a conservação do solo, ao minimizar os efeitos da erosão e promover sua descompactação, estruturação e aeração; aumento do teor de matéria orgânica e a disponibilidade de água e nutrientes; contribuição para maior disponibilidade de nitrogênio por meio da fixação simbiótica, reduzindo os custos de produção ao diminuir a aquisição de adubos nitrogenados; redução da incidência de vegetação espontânea e de infestação de pragas nas culturas de interesse econômico, contribuindo para o equilíbrio ecológico dos agroecossistemas; utilização de algumas partes das plantas tanto na alimentação humana e quanto na de animais; e redução

do uso de insumos externos utilizados para incremento da fertilidade do solo. (LIMA FILHO

et al., 2014)

Apesar dos benefícios existem limitações para produção em larga escala das espécies usadas como adubos verdes, segundo Wutke et al. (2010, p. 8-9):

 Desconhecimento sobre as características das plantas em determinados sistemas de produção e das épocas de semeadura mais adequadas;

 Pouca divulgação desta prática entre os agricultores;

 Pouca informação em tecnologia de produção e em estudos agronômicos, incluindo-se os de melhoramento genético, havendo poucos cultivares lançados;

 Germinação irregular de sementes de adubos verdes, causando falhas no plantio de dificuldade de manejo das plantas no campo;

 Inadequação ou inexistência de equipamentos para semeadura e beneficiamento das sementes;

 Ciclo longo de algumas espécies;  Dificuldades na colheita; e

 Não disponibilidade rotineira de sementes ou sementes sem qualidade.

No Brasil, dos fatores acima citados, destacam-se entraves tais como a baixa disponibilidade de material propagativo e de informações a respeito de suas características, benefícios e formas de utilização, em especial para agricultores familiares (WUTKE e AMBROSANO, 2007).

O principal ponto para se utilizar esta tecnologia é o acesso às sementes para o primeiro plantio. Normalmente estas sementes não são muito fáceis de encontrar no comércio, além de serem muito caras para os pequenos agricultores. (WUTKE e AMBROSANO, 2007, p.2)

Aliado a isto, o mercado de insumos agropecuários não tem interesse em práticas como a adubação verde que trazem para o agricultor a possibilidade de autossuficiência nos anos seguintes (VOGT et al.,2012), visto que o comércio de sementes de espécies utilizadas como adubos verdes e a divulgação e incentivo ao seu uso não são comuns no setor privado. É difícil encontrar material de propagação e, quando encontrado, é geralmente comercializado com preços elevados. Progressivamente perdeu-se o interesse econômico pela produção de sementes para adubação verde.

A estas limitações soma-se que a adubação verde é pouco divulgada e há pouco estímulo às pesquisas nesta área (VOGT et al., 2012), fatores que diminuem mais ainda a

disponibilidade de material propagativo destinando a práticas com o uso e manejo dos adubos verdes.

No estado do Rio de Janeiro, das 58.482 propriedades cadastradas pelo Censo Agropecuário de 200631, somente 1.216, aproximadamente 2,08%, declararam utilizar adubos verdes. Por outro lado, 16.358, aproximadamente 27,97%, utilizavam adubos químicos nitrogenados e 3.293, aproximadamente 5,63%, não nitrogenados. Nota-se com essas informações que na época a utilização de adubação verde era pequena e tudo indica que assim permanece apesar do potencial de ganhos que essa tecnologia apresenta.

Uma das formas de garantir a oferta destas sementes são os Bancos Comunitários de Sementes, que podem ser organizados por um agricultor ou grupos de agricultores. Nesse caso, em parte da área plantada são colhidas sementes que serão utilizadas nos anos seguintes sem que haja necessidade de novas compras. As espécies usadas como adubos verdes podem ser incorporadas ao solo, mantidas em cobertura na sua superfície ou cultivadas até a colheita das sementes garantindo-as para o ano seguinte, ou mesmo fornecendo renda extra para o agricultor quando colocadas à venda (WUTKE e AMBROSANO,2007).

Segundo VOGT et al. (2012)

[...] cabe ao Estado suprir essas lacunas criando meios para que, em parceria com diferentes segmentos da sociedade, seja viabilizado o acesso dos produtores de insumos e às técnicas apropriadas à agricultura orgânica como é o caso da adubação verde [...] por meio de políticas públicas não assistencialistas e estratégicas que promovam a organização e a participação ativa dos agricultores como é o caso do Banco Comunitário de Sementes. (VOGT et al., 2012, p. 53)