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CRITÉRIOS DE SELEÇÃO 0-10 (2) Vínculo com Agricultura Orgânica e Agroecologia (1)

4.5.3 Potencialidades, limites e dificuldades

Para contextualizar as diferentes potencialidades, limites e dificuldades do BCSAV na visão dos entrevistados procurou-se observar as percepções dos agentes multiplicadores e agricultores envolvidos com o Programa.

Para os multiplicadores envolvidos vários foram os fatores citados pelos multiplicadores entrevistados como potencializadores do Programa no Estado do Rio de Janeiro, entre os quais a disponibilidade de sementes, as instituições envolvidas, os agricultores selecionados como beneficiados e a adubação verde como opção para melhora do solo. A análise estatística demonstrou que apenas a diferença das frequências entre “Adubação Verde” e “Semente” foi significativa com índice de confiabilidade de 95,78% probabilidade deste resultado ser encontrado como verdadeiro para universo dos multiplicadores envolvidos com o Programa. Todas as demais frequências quando comparadas não apresentam diferenças significativas. A tabela 34 apresenta os intervalos de confiança para a frequência dos fatores potencializadores do Programa observados na pesquisa a um nível de significância de 41,91%, o que reflete uma probabilidade próxima de 50% destes resultados refletirem a realidade de todo o universo de multiplicadores envolvidos no Programa.

Tabela 34 - Fatores potencializadores na percepção dos multiplicadores do Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro, em números absolutos e porcentagem nos parênteses, 2015/2016.

Fatores potencializadores Frequência Intervalos de confiança Adubação Verde 2 (11,1%) 0,0% < 11,1 < 25,6% Agricultores 4 (22,2%) 3,0% < 22,2 < 41,4% Instituições 5 (27,8%) 7,1% < 27,8 < 48,5% Semente 7 (38,9%) 16,4% < 38,9 < 61,4%

TOTAL 18

Fonte: Dados da pesquisa (2015-2016) onde 𝜒𝐺𝐿=32 = 2,89 e p = 41,91 %

A prática de adubação verde apesar de milenar, no Brasil apresenta entraves na baixa disponibilidade de material propagativo e de informações a respeito de suas características, benefícios e formas de utilização, em especial para agricultores familiares (WUTKE et al.,2007). Constatou-se durante a pesquisa que foram fatores potencializadores do Programa a doação de sementes, a divulgação dos benefícios da adubação verde, as reuniões para orientações conduzidas pelos agentes multiplicadores, as trocas de sementes nas feiras e a cooperação e coletividade entre os agricultores envolvidos no Programa. Para M.S.M. o grande

potencializador era “[..].porque a semente era dada, se ele [o agricultor] tivesse que comprar a semente ele, não ia plantar. ” (M.S.M., engenheira agrônoma, 11/02/2015, Rio Claro, RJ)

No estado do Rio de Janeiro, o programa BCSAV foi executado por várias instituições sendo que a interação entre os parceiros permitiu com que a troca de experiências promovesse, na visão dos multiplicadores entrevistados, uma alta interação entre o produtor e a instituição de extensão, alavancando o BCSAV. Ficou evidenciado nas entrevistas que os pontos fortes relativos à parceria foram a atuação da Embrapa Agrobiologia, da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro) e do Programa Rio Rural59 que à época buscava difundir o uso de adubação verde para as diferentes microbacias do Rio de Janeiro.

Funcionou legal a interação das instituições, não foi nada premeditado e combinado, mas que funcionou, fortaleceu. O Rio Rural tinha incentivos para adubação verde aí eu aproveitava as sementes do banco de sementes e aí o pesquisador ia lá e ensinava como plantar, dava capacitação para agricultor. A gente fez várias reuniões lá em comunidades rurais, em escolas rurais com agricultores que estavam envolvidos nesta prática de adubação verde e projeto microbacias, então esta parceira, interação com várias entidades fortaleceu muito. (E.L.C.F., engenheiro agrônomo, 08/04/2015, Teresópolis)

Uma instituição é construída a partir das competências das pessoas vinculadas a ela. Outro ponto de destaque na implantação do Programa foram as pessoas que já trabalhavam em uma ótica participativa e que se engajaram nas diferentes atividades e que apresentavam diferentes projetos que se inter-relacionavam.

Eu acho que um dos pontos foi a parceria com a Embrapa, pessoas que estavam lá trabalhando, pessoas da Pesagro. O próprio programa Rio Rural que na época com as práticas de incentivo para adubação verde. A gente na época ligou uma coisa com a outra. O pessoal da Embrapa ia la, explicava como funcionada, dava curso. Era muito bom. (J.S.M.V., engenheiro agrônomo, 08/04/2015, Porciúncula, RJ).

59 O Programa Rio Rural tem como grande desafio a melhoria da qualidade de vida no campo,

conciliando o aumento da renda do produtor rural com a conservação dos recursos naturais, incentivando a adoção de sistemas produtivos sustentáveis, com técnicas mais eficientes e ambientalmente adequadas. É executado pela Superintendência de Desenvolvimento Sustentável da Secretaria de Agricultura e Pecuária do Estado do Rio de Janeiro (Seapec), o Rio Rural possui financiamento do Banco Mundial e apoio da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). As atividades do programa envolvem uma ampla rede de parceiros, que inclui entidades do poder público, ONGs, empresas e centenas de organizações rurais. Disponível em: http://www.microbacias.rj.gov.br/pt/rio- rural#sthash.iMq3gmqr.dpuf acesso em 06/07/2016.

Constatou-se nas entrevistas, tanto com multiplicadores quanto com os agricultores, que o programa BCSAV aliado às suas potencialidades também apresentava diversas “fragilidades” as quais trataremos aqui como limites e dificuldades para sua efetivação.

Um dos fatores que potencializou o uso da adubação verde e BCSAV foi a capacidade do técnico local em organizar a comunidade ou onde a organização social já existia. Aonde não foi feito um trabalho comunitário, onde os técnicos não conversam entre si e sem um mínimo de organização estruturada a coisa não andou. (J.L.G., engenheiro agrônomo, 11/01/2016, São Gonçalo, RJ).

Vários foram os fatores citados pelos entrevistados como limitantes do Programa no estado do Rio de Janeiro, entre os quais a assistência técnica, sementes, aspectos fitotécnicos, comunicação eficiente e falta de organização social. A análise estatística demonstrou que a diferença das frequências entre “falta de organização social” e “assistência técnica” é significativa com índice de confiabilidade de 95,78%. A diferença das frequências entre “comunicação eficiente” e “assistência técnica” é pouco significativa com índice de confiabilidade de 87,56% e a diferença das frequências entre “falta de organização social” e “Comunicação eficiente” não é significativa com índice de confiabilidade de 37,13%. Destaca- se que quanto maior o índice de confiabilidade, maior a probabilidade do resultado alcançado ser valido para outro grupo de multiplicadores deste universo de pesquisa. A tabela 35 apresenta os fatores limitantes do Programa observados na pesquisa a um nível de significância de 37,68%, isto é 62,32% de certeza de que estes resultados não tenham ocorrido por acaso.

Tabela 35 - Fatores limitantes na percepção dos multiplicadores do Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro, em números absolutos e porcentagem nos parênteses, 2015/2016.

Fonte: Dados da pesquisa (2015-2016) onde 𝜒𝐺𝐿=42 = 4,22 e p=37,68 %

O principal limitante ao êxito do Programa BCSAV apontado pelos agentes multiplicadores foi a falta ou a inadequada assistência técnica aos agricultores. Petan (2010) observou em sua pesquisa sobre as percepções e tendências da Política Nacional de Assistência

Fatores limitantes Frequência Intervalos de confiança Falta de organização social 2 (11,1%) 0,0% < 11,1 < 25,6% Comunicação eficiente 3 (16,7%) 0,0% < 16,7 < 33,9% Aspectos fitotécnicos 3 (16,7%) 0,0% < 16,7 < 33,9% Sementes 3 (16,7%) 0,0% < 16,7 < 33,9% Assistência técnica 7 (38,9%) 16,4% < 38,9 < 61,4%

Técnica e Extensão Rural (Pnater) que os serviços de Ater orientados para a agricultura familiar utilizam de metodologias participativas e orientação agroecológica. Para uma ação mais efetiva, as instituições precisam disponibilizar para estes agentes condições logísticas e financeiras que permitam uma apropriação desta orientação traduzidas em práticas a serem trabalhadas com o agricultor.

Os agricultores têm uma boa vontade inicial muito grande, mas por conta de faltar o facilitador isso acaba se perdendo, se perde a partir do momento em que ele conseguiu a produção e fazer um armazenamento, nós aqui no Rio tivemos dificuldade para isso. Necessita ter um facilitador físico, não só através da apostila, de uma capacitação, tem que ter um cara que agregue, traga a necessidade daquele agricultor armazenar semente, dar continuidade em novas áreas de plantio, ter áreas disponíveis para fazer a multiplicação, então eu acho que o que faltou foi isso. (L.H.S.T., engenheiro agrônomo, 22/04/2015, Magé, RJ)

Acho que quando uma coisa é feita, se ele não for frisada a importância com acompanhamento de técnicos junto ao agricultor, vendo a dificuldade do agricultor, fazendo valer, contando só com nosso conhecimento, ela não dá certo. Acho que o limitante foi o acompanhamento e continuidade para ela fixar. O agricultor está acostumado a plantar do jeito dele, e não dando certo, ele abandona e isto é um fator que prejudica qualquer projeto. (I.S., consultora, 11/06/2015, Seropédica, RJ )

[...] existe uma apropriação da prática pelo agricultor, mas isso exige que a gente vá dar assistência técnica, um suporte por traz. Eu acho que para a coisa expandir, dar mais certo faltava uma assistência técnica de verdade, uma orientação, esta parte você deixa para semente, a outra parte você aduba. E dizer para ele que é mais barato deixar a terra no pousio se adubando do que usando intensamente. (K.C., engenheiro agrônomo, 22/04/2015, Teresópolis, RJ).

Foi observado durante as entrevistas desestímulo do produtor em adotar a prática da adubação verde, o que pode estar diretamente correlacionado à falta de interesse deste na manutenção de um banco de sementes, familiar ou comunitário. Esta situação relaciona-se aos problemas fitotécnicos que possam vir a enfrentar com essas culturas, tais como manejo durante a época das secas, manejo de doenças, produção de sementes entre outras.

O uso da adubação verde depende de manejo adequado que precisa ser acompanhado com uma assistência técnica mais pontual, onde o modo do plantio, colheita, incorporação no solo e produção de sementes possam ser realizados. Entretanto um sério obstáculo para uma assistência técnica adequada, no caso do Programa, foi a falta de recursos financeiros, o qual impactou tanto a multiplicação das sementes quanto as visitas necessárias para o acompanhamento de semeio e da colheita.

A instituição estava com falta de combustível, o que inviabilizou uma maior multiplicação das sementes. Então há esta dificuldade logística de se locomover e chegar ao produtor. Então faltou este contato da assistência técnica junto ao produtor rural. [...] eu me lembro de que na época algumas sementes vieram atrasadas e inviáveis. (K.C., engenheiro agrônomo, 22/04/2015, Teresópolis, RJ).

Outra limitação do Programa foi a falta de recomendação adequada durante a capacitação dos multiplicadores para o uso das espécies de adubos verdes disponibilizadas, tópico que segundo os entrevistados não era abordado com os detalhes fitotécnicos necessários para o manejo das diferentes espécies previstas no Programa. Para os multiplicadores entrevistados “[...] uma coisa é você dar a semente, explicar como planta, dar uma alternativa simples, difícil é as pessoas se apropriarem disso” (A.P.P., engenheira agrônoma, 22/04/2015, Teresópolis, RJ).

[...] a gente nem sempre tem tempo para sair buscando informações, e ao mesmo tempo falar com o produtor para ele usar o que eu não sei. A gente tem responsabilidade, a gente não fica falando também só porque deram as sementes. Então eu fiquei meio assim sem saber direito o que fazer. (M.S.M., engenheira agrônoma, 11/02/2015, Rio Claro).

Na implantação do Programa BCSAV houve dificuldade em encontrar agricultores que apostassem na ideia da adubação verde, visto que os resultados desta prática não são imediatos, ocupam terras produtivas e demandam mão de obra. Conforme explicado I.S. “[...] não contesto o resultado do uso de leguminosas não, eu acho que dá certo sim, porém a questão de mão de obra, de espaço acaba limitando” (I.S., consultora, 11/06/2015, Seropédica). Uma das estratégias utilizadas foi emprestar para as pessoas testarem a prática com o compromisso de devolver após um ano. Entretanto nem todos os agricultores plantaram e devolveram as sementes. Destacou-se que no começo houve grande rotatividade entre os próprios agricultores, nas diferentes regiões do estado, o que levou as instituições envolvidas a focarem em agricultores experimentadores já conhecidos.

Isso foi o limitante, porque aí precisa de um acompanhamento e esse acompanhamento a gente não tinha como dar [...] alguns plantaram e não colheram sementes, alguns colheram muito mais do que a gente pediu, mas eu acho que faltou este acompanhamento, de ter um recurso para fazer um acompanhamento, por que a gente ganhava para fazer uma inspeção ou outra e faltou este ponto da organização coletiva. (A.P.P., engenheira agrônoma, 22/04/2015, Teresópolis, RJ).