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Capítulo 5 ATIVIDADES PARTICIPATIVAS: OBJETIVOS, RESULTADOS E

5.1 Entender o Contexto

5.1.16 Atividade 16 Quarto dos Sonhos

Visto a dificuldade dos participantes em fazer abstração e criar um wireframe na atividade anterior, foi idealizada uma atividade para trabalhar a abstração necessária durante a

prototipagem. Para isso foi realizada uma atividade cujo objetivo foi explorar o processo de prototipagem coletiva, bem como a criatividade e abstração durante o processo. A atividade foi dividida em três etapas: i) exemplificação e explicação da atividade; ii) criação da planta do quarto do LVC; e iii) criação coletiva da planta de um quarto. Por meio das duas primeiras etapas era esperado que os participantes entendessem a atividade e abstração que deveria ser feita para a criação das plantas. Já com a etapa 3, era esperado que eles fossem capazes de criar uma planta de um quarto coletivamente, como se fosse uma atividade de BrainDraw, porém sem a cronometragem do tempo.

Inicialmente, na primeira etapa, um dos pesquisadores mostrou a foto de um quarto para os participantes e em seguida desenhou a planta desse quarto, representando inclusive o local da cama, mesas e outros objetivos presentes. Em seguida foi realizado um outro exemplo: a planta da sala em que a atividade estava sendo realizada também teve sua planta desenhada. Essas plantas foram discutidas para identificar quais elementos das plantas correspondem à sala ou à foto, como forma de mostrar aos participantes a relação entre uma planta/wireframe/protótipo e algo concreto/real.

Na segunda etapa (Figura 5.21), foi solicitado que os participantes, em duplas, desenhassem a planta dos seus quartos do LVC (os residentes vivem em quartos compartilhados por até quatro pessoas por quarto), e indicassem a posição da mobília.

Figura 5.21 – Dupla de participantes fazendo a representação de seus quartos do LVC.

divididos em dois grupos para, coletivamente, criarem a planta do “quarto dos sonhos” deles. Os pesquisadores participaram como co-designers. Para ajudar a imaginação dos participantes, foram mostrados a eles 17 fotos de quartos desde os mais clássicos e tradicionais, até quartos futurísticos. Os participantes de cada grupo criaram a planta desse quarto adicionando, cada um, um elemento após o outro participante adicionar; dois ciclos foram feitos. Ao final, os quartos foram discutidos em grupo e em seguida apresentados para o outro grupo.

Todos os participantes concluíram a segunda parte da atividade, mas alguns preferiram desenhar sozinhos (P8, P10 e o P17). Além disso, alguns participantes expressaram preocupações por considerarem que eles não sabem desenhar. Nas duplas, os participantes desenharam se comunicando bastante. Uma dupla alegou que seus quartos eram idênticos, em nível abstrato (número de camas, tipos de mobília), mas não no nível concreto (posição de cada móvel, decoração etc.).

No começo da terceira etapa da atividade, alguns participantes pensaram que eles deveriam criar a planta de um dos quartos das fotos mostradas para eles. Depois de algumas explicações, os dois grupos puderam desenhar as plantas. O participante P5 preferiu não desenhar, mas pediu a outro para desenhar suas ideias quando era sua vez. O participante P17 não entendeu que era um desenho coletivo e sempre escreveu e desenhou objetos que ele gostaria em seu próprio quarto, mesmo se alguém já tivesse desenhado esse objeto.

O primeiro grupo criou um quarto possível de existir e expressou contentamento durante a discussão em grupo. O segundo grupo percebeu que o seu quarto estava muito cheio, tinha objetivos repetidos desnecessariamente e um layout insatisfatório. O participante P6 teve dificuldade em desenhar e ficou relativamente quieto durante a fase de desenho, porém na discussão participou ativamente, apontando falhas e compartilhando sua opinião.

Nesta atividade, havia oito participantes e, embora, inicialmente alguns participantes tenham se sentido intimidados por terem que desenhar (P8, P13, P17), as duas últimas etapas da atividade correram como esperado. A atividade permitiu que todos os participantes contribuíssem de acordo com seus desejos. Alguns preferiram pedir a outros desenharem para eles, mas como os desenhos eram baseados em rodadas, todos puderam se expressar e contribuir. Aqueles que não puderam contribuir visualmente, contribuíram oralmente. Para aumentar a acessibilidade em outras atividades, poderia ser utilizado uma mescla entre colagens e desenhos. Comparado a outras atividades, inclusive nas quais os pesquisadores participaram, esta atividade teve mais conversa entre os participantes.

Não é possível afirmar se as fotos mostradas aos grupos apoiaram a criatividade ou a ideação. Contudo, nas plantas criadas alguns elementos que apareceram não estavam

presentes nos quartos dos participantes no LVC, mas estavam em alguma das fotos que eles viram.

O intuito dessa atividade era expor os participantes à abstração necessária em um processo de prototipagem. Assim, por meio do uso de plantas baixas de um quarto, que podem ser entendidas como um artefato semelhante a um wireframe, por exemplo, esperava-se que os participantes se familiarizassem com esse tipo de abstração para, talvez, serem capazes de colaborar com a criação de um wireframe de uma aplicação.

Além disso, foi possível verificar aspectos de inclusão nesta atividade, pois quem não se sente confortável em desenhar, pode solicitar a outro participante e pode participar ativamente de uma etapa de discussão, de modo que todos participem, mesmo que com papéis diferentes. Ainda, ao contrário de técnicas como brainwrite e braindraw, a técnica utilizada nesta atividade evitou o paralelismo presente nessas outras. Ainda que o paralelismo permita o desenvolvimento de várias ideias ao mesmo tempo, para um público que tem dificuldades e características cognitivas distintas, a concepção de uma única ideia possibilita que todos se concentrem apenas nela, reduz a carga cognitiva, evita a fadiga cognitiva para tentar interpretar e entender o conceito que está sendo desenvolvido.

Figura 5.22 – Um dos participantes durante a etapa da criação coletiva do quarto.