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Capítulo 5 ATIVIDADES PARTICIPATIVAS: OBJETIVOS, RESULTADOS E

5.1 Entender o Contexto

5.1.6 Atividades 6 Entrevista com Funcionários do LVC

As entrevistas tinham por objetivo entender e conhecer mais os participantes, bem como as suas dificuldades do dia-a-dia por meio da ótica de alguns profissionais que cuidam e lidam com eles.

As entrevistas foram feitas individualmente com quatro funcionários do LVC (uma terapeuta ocupacional, uma recreacionista e duas cuidadoras) de maneira oral. A entrevista continha 13 perguntas pré-estabelecidas, mas durante a entrevistadas com cada uma das funcionárias, novas perguntas surgiram. As perguntas abordavam os problemas que pessoas com comprometimento cognitivo enfrentam, como esses problemas se manifestam no LVC e como os funcionários lidam com eles. As perguntas podem ser vistas no Apêndice D. Diversas dificuldades que os idosos enfrentam no LVC foram relatados durante as entrevistas, porém a seguir serão destacados os principais.

dificuldade em entender as atividades. Assim, umas das perguntas da entrevista era “Quando eles [os idosos] não entendem as atividades, eles pedem ajuda para você ou você percebe que eles não estão entendendo e você vai lá explicar?”. A recreacionista respondeu: “Depende da atividade que a gente faz: algumas vezes, por mais que eles estão jogando e eles não entendem, a gente explica uma, explica duas, explica três vezes. No momento que eles vão jogar e sentem dificuldade, tem uns que já não querem mais brincar. Até os independentes: têm algumas idosas que quando se fala em conta, raciocínio, não querem mais. Uma vez fui trabalhar com eles o IMC [Índice de Massa Corporal] da musculação, levei todos na biblioteca e fui ensinar as contas. ‘Ah não! Não sei fazer contas’. ‘Calma gente, eu vou ensinar’. Eu peguei um por um, coloquei lá no quadro o peso, a altura, a fórmula… até o medo de digitar na calculadora. A insegurança. Eles são inseguros. Depende muito de calma para você estar ajudando eles, porque senão… tem uns que não querem”. Quando questionada também sobre isso, a Terapeuta Ocupacional respondeu: “O envelhecimento também influi bastante, e a dificuldade. A maioria é analfabeta, não sabe ler, nunca fez algo novo. Tudo vai do histórico e do envelhecimento. Também aqui eles têm muita ajuda. Por exemplo: eles vão fazer as refeições, tem a funcionária que prepara o prato. Eles estão naquela rotina de serem ajudados. É diferente de um idoso que reside na sua casa, que tem suas coisas. Isso também influi um pouco”.

Uma das cuidadoras relatou que quando eles estão fazendo alguma coisa e do nada param como se estivessem perdidos eles não conseguem se lembrar sozinho e se situar e que é importante não os forçar devido a mudança de humor. “A gente deixa eles lá um pouquinho e depois a gente volta de novo. Eles não conseguem lembrar sozinhos. A gente temos (SIC) que tirar eles daquele foco para eles não ficarem irritados ou nervosos”.

A mudança de humor também foi abordada. A recreacionista relatou que a mudança de humor “oscila muito. A gente vai conversando com eles, porque se eu for encerrar a atividade no momento que oscila muito, a gente precisa saber a hora de chamar a atenção. Tem uma idosa que sabe jogar dominó, ela adora. Por ela seria dominó todos os dias. Conforme ela não sabe, às vezes ela fica brava. Então você tem que conversar com ela, tem que saber que não é assim. Tem uns que não sabem perder, só querem ganhar. Tem que saber que todos estão aqui pra jogar, pra interagir, pra socializar um com o outro. É um jogo, uma brincadeira. Depende muito de cada um, do tipo de cada um”. Uma das cuidadoras falou: “Temos que ter um jogo de cintura. Então se a gente ver que eles não quer (SIC) uma coisa, a gente vai explicar e ai eles acabam aceitando”.

Como foi percebido nas primeiras atividades, esses idosos possuíam dificuldade na comunicação. Por isso foi perguntado: “Se comunicar com os idosos, por exemplo, se interagir

com eles, nem sempre é simples, como vocês lidam com isso? Como vocês percebem que eles estão mais receosos? ” A terapeuta ocupacional respondeu que criar vínculos é fundamental neste processo. “A gente tenta sempre chamar, formar o vínculo, com todos, mesmo aquele que não quer participar, que não quer vir, que tem dificuldade. A gente tenta fazer o vínculo, primeiro de tudo. Amizade, vínculo, é o vínculo. Pra tentar trazer o máximo. Têm uns que não querem, se isolam”.

Durante a entrevista também foi perguntado quais as maiores dificuldades que os idosos encontram no LVC. A terapeuta ocupacional respondeu que é a adaptação. “Alguns não se adaptam. Então a gente tem que ir orientando. O dia-a-dia é orientação. Muitas vezes o grupo, alguns se isolam, que é próprio deles. Então é mais assim, adaptação no início. No dia- a-dia a gente está avaliando. Às vezes eu troco o companheiro de quarto, porque cada um é de um jeito. São quatro em cada quarto. Então às vezes a rotina ali, cada um é de um jeito, de uma maneira. Então eles têm que se adaptar à rotina. A própria rotina aqui, porque não é uma casa. Eles têm um quarto. O mundo deles é um criado mudo e um armário. Então tudo isso já é uma mudança. E aqui têm horário pra sair, horário para chegar”. Quanto às estratégias para adaptação, ela disse: “É bem individual, vai muito deles, né? Dele aceitar, se adaptar com a rotina. Porque a gente tem um grupo chamado “Boas Vindas” que reúne todos os novos, e explica como é, as normas, o acolhimento. Então vai muito dele se adaptar”.

Por fim, vale a pena destacar um comentário da recreacionista, o qual influenciou na decisão da aplicação que foi desenvolvida com os participantes desta pesquisa. Foi perguntado se ela conseguiria imaginar alguma coisa que poderia dar mais qualidade de vida para os idosos. Ela respondeu: “A paciência com eles. Eu acho que cada um tendo um pouco de comunicação e paciência pra estar sentando ali com eles, tá ouvindo o que ele tem a falar pra você. Tem muitos idosos aqui que são muitos carentes. Muitas vezes no nosso dia-a-dia ele quer que você sente ali com ele, que você escute o que ele tem pra falar. Isso falta muito. Poderia ser mais até entre eles. Até mesmo entre os idosos a gente vê isso, porque os [idosos] dependentes estão aqui embaixo e tem muitos [idosos] independentes que eles não vêm aqui; ou só passam e tem alguns que não cumprimentam. Muitos daqueles dependentes, eles estavam lá em cima [local do residencial dos idosos independentes], mas por causa da sua condição, eles desceram. Eles acabam sendo excluídos pelos outros. Por mais que a gente pense em interagir com eles, fazer as atividades com eles, levando os independentes e dependentes juntos, você acaba notando que eles são excluídos pelos outros. E muitos acham que por eles estarem aqui [em baixo], eles [dependentes] estão nas últimas, são inferiores. E não é isso! Você tem que tá junto trabalhando isso com eles, trazendo eles pro mundos deles também. Eu acho que

se cada um de lá interagisse mais, você fazer uma atividade com eles, como se fosse a da bexiga pra eles falarem os nomes dos colegas aqui, tem uns que sabem tudo e outros que não. E por quê? Porque não interagem, não socializam muitos ”.

Por meio das entrevistas foi identificado que os idosos possuem dificuldade de adaptação quando se mudam para o lar e ainda, possuem dificuldade em memorizar as normas internas e de comunicação entre eles no LVC.