• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 5 ATIVIDADES PARTICIPATIVAS: OBJETIVOS, RESULTADOS E

5.1 Entender o Contexto

5.1.5 Atividade 5 Redesign de um Controle Remoto de TV

A partir dos resultados obtidos na atividade anterior, buscou-se identificar uma estratégia para evitar que os participantes precisassem utilizar coordenação motora fina, uma maneira para apoiar a criatividade e imaginação, e ainda que o problema relacionado ao tempo e impaciência dos participantes não ocorresse.

Assim, o objetivo desta atividade foi explorar um conjunto limitado de pecinhas como material de prototipação, investigando a acessibilidade, potencial criatividade e se é viável para criar design alternativos. Esta atividade consistiu em construir um protótipo de baixa-fidelidade de um controle remoto de TV que os participantes poderiam entender e utilizar. A escolha do redesign de um controle remoto de TV ocorreu baseado nas observações feitas

nas primeiras atividades de que os participantes utilizavam o controle remoto e por ser um objeto que se acreditava ser conhecido pela maioria da população em dias atuais.

Os participantes foram divididos em três grupos de 2 a 3 integrantes e solicitados que construíssem um controle remoto com o material provido pelos pesquisadores. Cada grupo recebeu um kit (Figura 5.4) com quatro bases “vazias” de controle remoto feitas com isopor e diferentes conjuntos de botões em EVA com cores e formatos diferentes – o kit foi proposto e desenvolvido pelos pesquisadores. Na atividade anterior (Atividade 4 - desenhos), foi percebido que os participantes tiveram dificuldade em desenhar algo “do zero”, mesmo objetos concretos como uma TV ou uma flor. Além disso, alguns participantes tiveram dificuldades em segurar uma caneta ou um papel para desenhar, por isso a exploração deste tipo de material durante essa atividade.

Figura 5.4 - Kit de material que cada dupla ou trio recebeu para realizar a atividade. O Kit era composto por: 4

bases para o controle (duas cores e dois formatos), 4 conjuntos de números (duas cores e dois formatos), 4 botões menu (4 cores), 3 conjuntos de botões volume (três cores e três formatos), 3 conjuntos de botões canal (três cores e três formatos), 4 botões power (quatro cores) e 6 botões mudo (dois formatos e três cores).

Os setes participantes desta atividade construíram o controle remoto em três grupos (duas duplas e um trio). Os controles remotos resultantes não eram completamente funcionais e os participantes tiveram dificuldade ou foram incapazes de descrever ou explicar seus designs. Em dois grupos, um participante escolheu e organizou todos os elementos enquanto o outro integrante apenas observou. Em um grupo um participante colocou um botão duplicado de

volume no controle. Embora ele não tenha conseguido ler o que estava escrito no botão, ele disse que o escolheu devido ao alto contraste de cores. Em um outro grupo, o participante que estava mais ativo tentou obter a opinião do companheiro, mas não obteve sucesso.

No grupo de três pessoas, os integrantes tentaram se comunicar e escolher os botões juntos. Os pesquisadores não entenderam o layout (houve botões duplicados e botões numéricos misturados com outros botões de controle), e os participantes foram incapazes de explicar isso. Um participante disse “eu não entendo nada. Eu estou fazendo, mas não estou entendendo”.

Após realizarem o design de seus controles remotos por aproximadamente 1 hora, como forma de avaliar os designs criados, cada grupo tentou simular o uso do controle do outro grupo como por exemplo, fingindo ligar uma TV, mudar de canal ou aumentar o volume. Um controle não tinha botão para ligar, assim os participantes não foram capazes de simular essa tarefa. O criador do controle explicou que a TV seria ligada pressionando o botão numérico “um”, mas não soube explicar como desligar a TV. Na Figura 5.5 a seguir um dos controles criados pelos grupos pode ser visto.

Figura 5.5 – Participantes simulam o uso do controle-remoto.

Por meio dessa atividade, verificou-se que alguns participantes nunca utilizaram um controle remoto antes. Por isso, muitos dos padrões de um controle de TV como os botões de ligar, mudo, mudar o canal e alterar o volume, por exemplo, não fizeram sentindo para eles e não ajudaram a identificar a funcionalidade dos botões. Um participante se sentiu desconfortável por nunca ter utilizado um controle remoto. Durante toda a atividade, ele repetiu que na próxima

vez “faria melhor”.

Embora alguns participantes nunca tenham utilizado o controle remoto antes, todos os grupos montaram um controle remoto com os elementos dados a eles. Por meio dessa atividade foi possível entender melhor as vantagens e desvantagens de prototipar com elementos já prontos.

Uma vantagem é que esse tipo de prototipagem pode ser mais inclusivo do que desenhar: organizar os elementos requer menos habilidades motoras do que desenhar em um papel e com os materiais corretos, pode até ser conduzida com pessoas com comprometimento visual. Além disso, organizar os elementos permite explorar e reconfigurar os elementos mais facilmente do que apagar linhas em um desenho ou iniciar um novo. Para os participantes prototiparem um domínio desconhecido, esta técnica provê um início concreto, ao contrário de um pedaço de folha em branco.

A desvantagem desta técnica é que os protótipos ficam restritos aos elementos disponíveis, mas a técnica poderia ser adaptada se os elementos fossem criados em outras atividades de DP ou permitir que eles fossem criados durante a sessão.

O principal objetivo desta atividade foi investigar se a técnica era viável, o que foi confirmado, e analisar como os participantes interagem entre si. Como não houve um mediador instigando uma comunicação e nenhuma outra regra imposta, como esperado, os participantes dificilmente se comunicaram. A única conversa que aconteceu em alguns grupos foi do tipo “Está certo colocar essa peça aqui?”, cuja resposta sempre era afirmativa.