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Mapa 2. Distribuição hierárquica das vias públicas da cidade de Salvador, 2010.

I. O TRABALHO DO MOTORISTA DE TÁ

1.1 Breve histórico da profissão

Começamos por conhecer como surgiu o serviço de transportar pessoas em centros urbanos. É um serviço quase tão antigo quanto o surgimento das cidades. O primeiro serviço desse gênero apareceu na Antiguidade, com a invenção de um carro que tinha duas rodas, puxado pela força humana, e tinha o nome de riquexó. Eram veículos exclusivos das elites, que possuíam escravos para tracioná-los. Daí em diante, com necessidade de transportar mais pessoas e ganhar mais velocidade, os carros passaram a ter mais rodas e espaço interno. Mas eram os escravos que continuavam fazendo a tração do referido transporte (WIKIPEDIA, 2008).

Na Idade Média, em consequência da queda do Império Romano, os carros e carruagens desapareceram das grandes metrópoles devido ao fato de a população ter

migrado para a zona rural. Em Londres, em 1605, apareceram as primeiras carruagens de aluguel. Em 1634, as ruas de Londres já experimentavam os engarrafamentos, o que levou à regulamentação e limitação do número de carruagens. No século XIX, as grandes cidades tinham centenas de carruagens de aluguel (ALVES, 2005).

Os primeiros táxis motorizados apareceram em 1896, na Alemanha, época em que Freidrich Greiner inventou um equipamento de cobrança de tarifa do transporte chamado taxímetro. Daí nasce a denominação táxi. Em 1907, o mundo já conhecia e utilizava os serviços de táxi, e o taxímetro passou a ser de uso obrigatório. Dessa forma, institucionaliza-se esse tipo de transporte público, surgindo o chofer de praça, mais tarde chofer de táxi e, depois, motorista de táxi. No início do século XX, os serviços de táxi foram legalizados. Passou a ser obrigatória a aferição dos taxímetros, e os carros de praça foram padronizados com pintura diferenciada e faixas (VILAR, 2004).

No Brasil, o surgimento dos transportes coletivos coincide com o processo de colonização e, principalmente, com a vinda da família real. As carruagens eram os meios de transporte utilizados pela nobreza e pela realeza. Usava-se também a mão-de- obra escrava para a tração das carruagens. Aos poucos, as carruagens foram dando lugar aos carros de praça ou de aluguel. Foi na cidade de Curitiba, durante a década de 70, que surgiu o primeiro serviço de radio-chamada (radiotáxi). O aumento do número de táxis e usuários cresce junto com as cidades. As distâncias entre lugares na cidade passaram a ser uma realidade que exige o incremento do transporte público e privado (ALVES, 2005; STIEL, 2001).

A explosão do crescimento demográfico reforçou as distâncias entre os quatro pontos das grandes cidades. Simultaneamente, a indústria automobilística expande-se, possibilitando o acesso à compra de carros no século XX. Transportar pessoas tornou-se uma opção de trabalho com incentivos fiscais garantidos pelo Estado. Os táxis passaram a compor o sistema de transporte público individual, e a profissão passa a ser regulamentada e controlada pelo Estado. A regulamentação, entre outras coisas, limita a quantidade de táxis em cada capital brasileira, utilizando como parâmetro a proporção de um táxi para cada quinhentos habitantes (DURÃES, 2006).

O arquivo temático de matérias jornalísticas sobre “táxi” do jornal A Tarde, do período entre 1974 a 2006, apresenta registros locais e de outros estados brasileiros,

como Rio de Janeiro e São Paulo, sobre as mudanças ocorridas durante o longo dos anos na profissão.

Os primeiros táxis brasileiros na década de 1930 eram carros possantes, modelos Chevrolet, Dodge, Plymouth, Chrysler, que mais tarde tornaram-se estorvo para o trânsito. Eram apelidados por “banheiras”, “rasga-calças”, pela má conservação dos estofados. Aos poucos foram aposentados, desaparecendo com seus donos. Na década de 1960, enquanto a Inglaterra fabricava carros específicos para táxi, já com vidro que separava fisicamente passageiro e motorista, no Brasil era os Volants-Volks que faziam o transporte individual de passageiros – sem conforto e com muito barulho do motor (O GLOBO, 24.06.1975).

Ainda na década de 1960, foram regulamentadas as primeiras empresas de táxi, com a justificativa de proporcionar melhor qualidade do serviço em comparação com taxistas autônomos, que eram vistos como “mal educados”, costumavam recusar passageiros e eram acusados de praticar cobrança de preços acima dos valores da tabela. Desta mesma década, há registro de que os taxistas cariocas foram considerados como mal-humorados pelos consumidores. As empresas começaram a utilizar o serviço de chamada por telefone, mas desistiram depois de um ano de funcionamento, alegando que os taxistas tinham dificuldade de comunicar-se com a central. A queixa dos donos de empresa de táxi era que “taxistas é uma categoria difícil. Eles não aceitam regras, querem mandar em tudo e não colaboram com as mudanças” (O GLOBO, 06.01.1978).

No período entre 1960 a 1970, as pessoas amargavam na espera e na esperança de ser atendido por serviço de táxi. Naquele período, o jornal O Globo registra que pegar um táxi na cidade era como “uma missão perigosa”. Naquela época existiam adolescentes e adultos que trabalhavam ganhando gorjetas das pessoas para conseguir um táxi. A fotografia que ilustrava a matéria continha a cena de adolescentes correndo atrás de um táxi em movimento, tentando fazê-lo parar para atender ao chamado do passageiro. Quando conseguia o táxi, o passageiro retribuía pagando aos garotos pelo serviço. Mas a prática não durou, pois em 1975 a situação se reverteu. Faltavam passageiros na praça e iniciava-se um longo período de dificuldades para os taxistas. Foram concedidas novas licenças a ponto de causar excessos na oferta do serviço de táxi.

Entre os assuntos tratados, encontramos reportagens do ano de 1974 que já afirmavam problemas enfrentados pela categoria. Com o elevado preço de combustível e de manutenção do carro, além dos riscos diários, a profissão era referida como “perigosa”, com elevado risco de assalto e atentados. “Eles vivem em constate ameaça e

na expectativa de algo ruim acontecer”. Naquela época, já associavam a sensação de

insegurança e medo à onda de crimes. Também reclamavam dos altos custos com diárias de táxis de empresas, referindo dificuldades em arcar com o pagamento. “Todos têm que trabalhar com carro próprio porque não dá para pagar pra terceiros” (Jornal Folha do Norte, 06.06.1974).

Um repórter do jornal O Globo passou 12 horas trabalhando como motorista de táxi e, no final da jornada, havia apurado apenas o valor para pagar a diária. Reclamava que estava com mãos dormentes e joelhos doloridos. Ele acrescenta que ser motorista de táxi é profissão ruim, alegando que a jornada de trabalho era exaustiva, podendo ultrapassar 12 horas diárias e os profissionais chegavam a rodar, aproximadamente, de 200 a 300 km. Mesmo assim, só conseguiam superar o valor da diária graças às gorjetas dos passageiros (O Globo, 27.10.1974).

Em 1975, os taxistas deixaram de rejeitar passageiros. Em Salvador, foram criados mais 22 pontos de táxi no centro da cidade. Havia problemas com a oferta do serviço, pois, segundo o DETRAN, naquela época muitos taxistas eram estudantes, funcionários públicos, comerciantes que trabalhavam com táxi apenas nas horas de folga. As empresas de táxi passaram de 12 para 24 para atender às necessidades locais e melhorar a qualidade do serviço de transporte. (Jornal A TARDE, 12.01.1976).

No final da década de 1970, os táxis lotação, apesar de clandestinos, não tinham desaparecido. Reportagem retrata que muitos taxistas foram presos praticando esse tipo de transporte e foram enquadrados até no AI-5 como criminosos políticos pelo tipo de serviço que prestavam – transportar pessoas de forma clandestina (O GLOBO, 20.03.1977).

As últimas décadas do século passado foram marcadas por movimentos políticos e manifestações coletivas da categoria em protesto contra as regras impostas por órgão do Estado e tabelas com preços considerados inadequados. Em Salvador, particularmente, durante a década de 1980, aconteceram várias passeatas de taxistas

organizadas pelo Sindicato dos Taxistas da Bahia contra os “chapas frias” e contra empresas de táxis e valores das diárias. O crescimento do número de táxis clandestinos e os valores das diárias eram apontados como causadores da crise no mercado de trabalho da categoria. (A TARDE, 17.11.1983).

Na década de 1990, as notícias eram os pontos de táxi clandestinos criados por taxistas que começavam a interferir no trânsito da cidade. Os clandestinos continuavam a crescer. Representante da Prefeitura Municipal do Salvador alegava incapacidade de eliminá-los. Nesse mesmo período, o consumidor passa a denunciar a exploração dos taxistas do Terminal Rodoviário que praticavam preços acima da tabela. As filas de táxis cresceram e os passageiros desaparecem. Surge a ideia de rodízio entre taxistas. (A TARDE, 01.05.1990; 03.05.1991; 06.02.1996).