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Mapa 2. Distribuição hierárquica das vias públicas da cidade de Salvador, 2010.

I. O TRABALHO DO MOTORISTA DE TÁ

1.2 Ordenação e legitimação da profissão

A atividade de taxista encontra parâmetros definidos de regulamentação e normatização através de órgãos públicos, sendo na esfera federal chancelada pelo Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, Leis Nacionais de Trânsito. A Secretaria Estadual de Transporte da Bahia e a Superintendência de Transporte Urbano de Salvador, através da Gerência de Táxi – GETAX representam os principais órgãos públicos das esferas Estaduais e Municipais, respectivamente, responsáveis pela definição de normas, emissão e renovação de licença (alvará), realização de vistoria anual das condições dos equipamentos de trabalho, além da fiscalização e controle do exercício profissional da categoria.

O motorista de táxi é definido como condutor de veículos automotor (automóveis, carro) particulares ou locados, de pequeno porte (passeio) destinado ao transporte individual de passageiros dentro de um perímetro urbano e região do município onde está licenciado (SALVADOR, 2007; BRASIL, 2008). O Ministério do Trabalho e Emprego do Brasil classifica a profissão no Código Brasileiro de Ocupações pela numeração 7823-15, a descreve como motorista de táxi, chofer de praça, condutor de táxi, motorista de praça, taxeiro, taxista, sendo aqueles que dirigem e manobram veículos e transportam pessoas, cargas ou valores.

Táxi é um tipo de transporte público individual, considerado alternativo, no qual os passageiros têm ampla escolha de local de embarque ou desembarque, o que não acontece com as modalidades de transporte em massa. O táxi tem como uma das características que o diferencia dos transportes em massa o valor a ser pago, que é calculado pela quilometragem em relação ao tempo percorrido para chegar ao destino, sendo essa operação realizada através do taxímetro. Além da cobrança por quilômetro, o taxímetro também computa a hora parada. Cada fração de quilômetro rodada é conhecido como “bandeirada”, cujo valor inicial obedece a um valor estipulado e regulamentado pelos órgãos públicos responsáveis pelo transporte público.

A profissão de taxista engloba diversas funções: os profissionais realizam verificações e manutenções básicas do veículo, efetuam pagamentos e recebimentos e, no desempenho das atividades, utilizam-se de capacidades comunicativas. Atuam predominantemente nas atividades anexas e auxiliares do transporte, porém podem trabalhar de forma indistinta nas diversas atividades econômicas. O trabalho é realizado de forma individual. Os motoristas utilizam equipamentos e dispositivos especiais, tais como sinalização luminosa, radiotransmissor e taxímetro, em horários regulares ou irregulares, sob supervisão ocasional dos órgãos de fiscalização local. Trabalham seguindo normas de segurança, higiene, qualidade e proteção ao meio ambiente (BRASIL, 2008).

Segundo a GETAX (BAHIA/SALVADOR, 2007), ao motorista de táxi são atribuídas as tarefas de dirigir veículos, transportar pessoas, realizar verificação e manutenção básicas do veículo, manobrar veículos, usar equipamentos e dispositivos especiais, efetuar pagamentos e recebimentos, comunicar-se. E, como competência pessoal, deve: agir com ética, manter-se atualizado, zelar pela segurança dos ocupantes do veículo, trabalhar em equipe, agir com criatividade, demonstrar cortesia, cumprir horário e escalas de trabalho, demonstrar capacidade visual espacial, atender os clientes com polidez, respeitar leis de trânsito, dirigir defensivamente, demonstrar noções básicas de mecânica de veículos, efetuar cálculos matemáticos básicos.

As atividades que os taxistas realizam diariamente incluem serviço aos consumidores como: pagamentos diversos, compra de refeições e medicamentos, transporte de encomendas, transporte de pessoas. Além disso, frequentemente prestam serviços públicos como o atendimento as vítimas de acidente, informam para órgãos de

segurança pública e saúde quando necessário e transmitem informação sobre o trânsito. No Rio de Janeiro e São Paulo, contribuem na localização de veículos roubados por ter contato direto com a Polícia Militar (Jornal do Brasil, 04.04.1978).

Em Salvador, taxistas relataram a existência de pessoas que não se sentem à vontade em fazer determinadas atividades e contratam o serviço de táxi para realizar, pagando valores correspondentes ao grau de complexidade ou desconforto da tarefa. Um dos entrevistados conta que já prestou serviços inusitados como transportar materiais para rituais religiosos – “despachos”. Informou ainda que existem outras demandas, como transportar mercadorias e receber dinheiro pela entrega. Nesse caso, há possibilidade de envolvimento com atividades ilícitas, que tanto podem ser do conhecimento dos taxistas como podem ser omitidas. Cabe aos taxistas, antes de aceitar qualquer serviço, saber o que é transportando para evitar que seja usado como “avião” (transporte de drogas e mercadorias ilegais).

“Recebi uma chamada e, quando cheguei lá, tinha um bode preto, uma bacia, velas,

vários instrumentos que acho que era para fazer um despacho. Fiquei com receio, mas fui. Outros colegas receberam um dinheiro para colocar um despacho lá numa

encruzilhada” (T.E., taxista, 56 anos).

A atividade de taxistas extrapola as descrições legais. Muitos deles chegam a dar apoio psicológico, conselhos, auxiliam passageiros a tomar decisões. Os clientes muitas vezes sentem-se confortáveis em falar sobre seus problemas para o taxista, provavelmente pela proximidade física e posição em que se encontram dentro carro, e por se tratar de pessoas desconhecidas e com baixa probabilidade de reencontro. Alguns taxistas mantêm a postura discreta diante do “desabafo” do outro, mas existem aqueles que emitem opinião, conselhos e tentam convencer o passageiro.

“Um dia um passageira estava tão abalada que me pagou para eu ficar rodando pela cidade e ficar conversando. Passei quase duas horas entretendo a moça. Ela chorava muito, mas não me disse o que tinha acontecido. Se ela quisesse falar falaria, mas não falou e eu fiz só o que ela pediu”. (M.J., 56 anos, taxista,).

Transportar passageiros é um serviço conhecido como “corrida”, sendo a

“bandeirada” considerada a mensuração do espaço percorrido, como se fosse a unidade

básica do serviço de transporte de passageiros. Caso um cliente percorra apenas alguns metros utilizando o serviço de táxi, pagará por uma quilometragem ou pela distância mínima percorrida.

A bandeirada está dividida em dois tipos de tarifas a serem praticadas regularmente e conhecidas como “bandeira 1” e “bandeira 2”. A “bandeira 1” refere-se à tarifa praticada dentro do limite de distância definido dentro do perímetro urbano, transportando até dois passageiros e quando as corridas ocorrem dentro de horário compreendido como administrativo, que vai das 6 da manhã às 22 horas. A “bandeira 2” pode ser praticada quando são superados os limítrofes dentro do perímetro urbano, sinalizados com placas nas vias públicas, em horários noturnos entre as 22 e 6 horas da manhã, e quando se transportam mais dois passageiros ou objetos que ocupem volume. Geralmente, para as corridas que atendem a esses critérios, os usuários estabelecem negociação quanto ao preço de todo o percurso desejado. Durante períodos de festa, como o Carnaval, essa é uma prática muito frequente.

A bandeira define espaço de tempo e distância, e valor praticado da tarifa mínima: R$ 3,45. De segunda a sexta-feira, das 6h às 22h, a tarifa é praticada de acordo com a bandeira, mas, a partir das 22h às 6h e nos finais de semana, a tarifa adotada é de acordo com a bandeira 2, o que significa um acréscimo de 30%. Esta tarifa com acréscimo é regulamentada para situações de transporte de quantidade superior a dois passageiros. Neste caso, independe do dia e horário, e o uso de ar-condicionado pode ser cobrado como adicional. Porém, nesse caso, não fica esclarecido o valor do acréscimo, o que sugere ser algo negociado entre as partes (SALVADOR, 2010).

Além da bandeirada, existe a tarifa por quilômetro rodado, a hora lenta e hora parada. A primeira corresponde ao valor cobrado por quilômetro rodado (R$ 1,70 para bandeira 1 e R$ 2,45 para bandeira 2). A segunda, um valor extra para quando o táxi trafega em velocidade lenta condicionado pelo desejo do passageiro ou por condições do trânsito, e a última refere-se ao período em que o táxi permanece parado, por interesse do passageiro. Neste caso, é cobrada uma tarifa especial no valor de R$ 20,00.