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Mapa 2. Distribuição hierárquica das vias públicas da cidade de Salvador, 2010.

I. O TRABALHO DO MOTORISTA DE TÁ

1.7 A rede de apoio dos motoristas de táxis

Na capital baiana, a rede de apoio dos motoristas de táxi é composta por órgãos públicos (estaduais e municipais), sindicato, associações, operadoras de chamada de táxi, estabelecimentos comerciais que mantêm relação de troca com esses profissionais como, por exemplo, emissoras de rádio locais (AM e FM) que divulgam informações de interesse da categoria e outros trabalhadores que fornecem informações de acontecimentos diversos que ocorrem nas ruas. Os motoristas de táxi são os informantes principais sobre condições de tráfego na cidade.

a. Órgãos Públicos

A GETAX está vinculada à Superintendência de Transporte Público, órgão da Prefeitura Municipal de Salvador, e tem como função estabelecer bases legais e normativas que regulam o funcionamento do transporte público individual, baixa portarias, concede alvarás, licenças, realiza vistorias anuais, regula pontos, filas e estacionamento de táxis, cancela licenças, faz transferência de alvarás, fiscaliza funcionamento dos táxis, aplica punição diante de irregularidades observadas. Além disso, contribui, juntamente com entidades de defesa da categoria (sindicato e associações), para melhorias nas condições de trabalho. É órgão de referência para todos os motoristas de táxi em Salvador.

e taxistas, mas a central de chamada de táxi possui articulação com estes órgãos. Os taxistas referem que são importantes quando ocorre algum sinistro, principalmente quando roubam o carro do taxista. Mas não costumam recorrer à polícia quando os assaltos ou roubos não representam perdas financeiras de grande impacto. Reclamam que o registro de ocorrência policial (BOs) leva tempo para ser realizado e que a resolutividade é muito baixa. Costumam referir sentimento de solidariedade diante das condições de trabalho da polícia

No entanto, culpabilizam e responsabilizam o Estado pela ineficiência na prestação do serviço de segurança pública, que, através da Polícia Militar, tem com estes trabalhadores uma articulação informal. Segundo G.A. (45 anos, policial), eles estão nas ruas e presenciam acontecimentos como acidentes e crimes que ocorrem os espaços púbicos. Portanto, são considerados como informantes potenciais para a polícia. Na cidade do Rio de Janeiro existem mecanismos formais que integram serviços de segurança pública, os taxistas e as centrais de chamadas de táxi.

b. As centrais operadoras de chamada de táxi

Prestam serviços diretamente aos motoristas de táxi através de comunicação integrada entre trabalhadores, central e consumidores, utilizando um radiotransmissor (VHF). Em Salvador, estão cadastradas na GETAX nove operadoras de telemarketing. Destas, a maioria é formada por taxistas através de associações e cooperativas. Mas existem algumas que são empresas voltadas a prestar atendimento de telecomunicação. A função principal dessas cooperativas e empresas é fornecer um serviço de chamada de táxi através de telefone para usuário e encaminhar a solicitação para os associados. A estes cabe cumprir as regras estabelecidas e realizar pagamento mensal referente aos serviços prestados.

De forma simultânea, todos os associados recebem o chamado do serviço. Aqueles que se encontram nas proximidades do endereço do cliente comunicam à central que vão atender à chamada. A partir desse momento, o serviço à central registra o serviço do taxista e passa a acompanhar até que finalize o serviço e passe a estar disponível para novas corridas. Quando o taxista usa o rádio para informar que atenderá ao chamado, na central ficam registrados os dados tanto do cliente quanto do táxi que tem o alvará cadastrado na central.

As cooperativas e associações também trabalham na captação de mercado e clientela fixa e ainda concorre a licitações de empresas privadas e públicas para prestação do serviço de transporte. Atuam organizando serviços assistenciais para os associados com planos de saúde, seguros próprios contra roubos de carro e perdas parciais e totais ou despesas na recuperação do carro envolvido em acidente de trânsito.

Possui uma organização em departamentos, que cuidam das questões administrativas, contábeis, jurídicas da associação. Dispõe ainda de uma comissão de fiscalização e de ética voltada para julgamento de ações dos associados e aplicação de penalidades. Estas são dirigidas àqueles que infligem regras administrativas, financeiras e da cooperativa e assumem comportamentos considerados inadequados. As penas são advertências, suspensão temporária ou permanente do associado.

Existem variados tipos de cooperativas com recursos de acordo com o número dos associados, grau de organização e capacidade de capital financeiro e assistencial. Algumas oferecem planos conveniados com empresas de telefonia, planos de saúde; outras funcionam precariamente e são voltadas apenas para captação de mercado e para articular a interação entre consumidor e taxista. Porém, observa-se que a capacidade de recursos disponíveis determinará os tipos e a qualidade de assistência disponibilizada ao taxista.

As operadoras de chamada de táxi exercem funções importantes para os associados, principalmente selecionando uma clientela. Por ser identificada e ter endereços conhecidos ou registro do local onde foi originada a chamada, adquire a função de proteção ao trabalhador e ao consumidor.

Os motoristas de táxi associados a alguma central operadora de chamada de táxi revelaram que o serviço, além de realizar a captação de clientes, protege o taxista de grande parte das investidas criminosas, pois os passageiros são identificados, assim como a origem e destino da corrida. Para esses taxistas, a central operadora funciona com uma espécie de filtro, tanto para o usuário quanto para o trabalhador.

As centrais de operadoras de chamada de táxi funcionam como o meio de comunicação mais eficaz entre os motoristas. As operadoras exercem o papel importante na rede de comunicação e apoio em situações suspeitas e concretização de

ações de violência contra os motoristas. Tomam providências, auxiliando quando o taxista está em situação de risco, acionando serviços necessários de acordo com o tipo de problema. Divulgam os assuntos entre os associados, possibilitando a organização coletiva dos taxistas que seguem em apoio ao colega. A depender da gravidade do problema, fazem transmissão todos os associados e, quando necessário, para outras operadoras de chamada com a finalidade de dar ampla divulgação de um determinado fato ou notícia.

Observamos que existem várias cooperativas em pontos de táxis como estratégia de organização e controle territorial e de mercado. Funcionam como equipamento de proteção e comunicação entre associados. Algumas funcionam vinte e quatro horas; outras em turnos que variam entre seis da manhã e 22 horas.

c. SINDTAXI e AMT

O Sindicato dos Motoristas de Táxis da Bahia - SINDTAXI foi fundado na década de 1960 e vem, ao longo dos anos, travando batalhas na conquista de melhorias nas condições de trabalho. Analisando os artigos do jornal A Tarde entre as décadas de 1980, 1990 e 2000, foram vários registros de movimentos da categoria organizados pelo sindicato reivindicando aumento de valores das tabelas, financiamentos de carros com incentivos fiscais e ações de segurança pública contra a criminalidade que vitimiza taxistas. Porém, ainda na década de 90, inicia-se um conflito entre taxistas e dirigentes sindicais, tornando cada vez mais escassas as manifestações públicas de apoio ao sindicato. Atualmente, os taxistas referem que o Sindicato exerce apenas a função burocrática de representar a categoria junto a órgãos estatais. A posição dos entrevistados é polarizada entre os que defendem a desfiliação da entidade e o descrédito total por ela e os que admitem a necessidade e importância de fortalecer a entidade.

A Associação Metropolitana de Taxistas - AMT representa a categoria diante de órgãos públicos e privados. Desenvolvem ações de apoio assistencial com seguros e planos de saúde, casas comerciais e de serviços de manutenção do táxi conveniados, ações políticas, e promove atividades de lazer e integração da categoria através do mais importante campeonato de futebol entre times de taxistas que ocorre anualmente. Alguns taxistas acreditam e apoiam as ações da AMT, outros não sabem da existência

nem de seu funcionamento. Muitos taxistas associados em cooperativas não estão associados à AMT.

As cooperativas e associações parecem estar em plena expansão em Salvador. Existem as grandes cooperativas como COMTAS, COMMETAS, CHAMETAXI, TELETAXI, dentre outras que têm números de associados acima de 200. O curioso é que passam a serem instituídas diversas associações em pontos espalhados pela cidade. Esse tipo de organização social começa com grupo de taxistas que frequentam um mesmo ponto e passam a organizar fila e adquirir recursos como telefone coletivo e conquista de clientela local. Então partem para a burocratização como meio não só de organização formal do grupo, mas de controlar o território e mercado local contra a invasão de taxistas que não fazem parte daquele grupo e que eles chamam de "paraguaios". Dessa forma, os taxistas utilizam a burocratização e a institucionalização formal do controle do espaço e mercado, expulsando aqueles que não pertencem ao grupo.

As associações nos pontos agem solitariamente quando o assunto são mercado e competitividade. Então defendem o território com fúria. Porém, quando o assunto é risco de vitimização de taxistas por violência ou acidente envolvendo colegas, as divergências são anuladas e seguem em solidariedade, principalmente entre membros do mesmo grupo, mas não são indiferentes com colegas de profissão, mesmo que desconhecidos.

II. A CULTURA OCUPACIONAL E O ORDENAMENTO