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Mapa 2. Distribuição hierárquica das vias públicas da cidade de Salvador, 2010.

I. O TRABALHO DO MOTORISTA DE TÁ

1.5 O quantitativo de táxis e motoristas de tá

No Brasil e em vários outros países, os táxis trabalham por meio de licenças emitidas pelo Poder Público. O número de licenças é definido apenas pelos órgãos públicos municipais responsáveis pelo transporte, sendo este calculado utilizando-se como base a população total de cada cidade. A referida licença ou alvará de funcionamento, ou documento de permissão, é o documento essencial e indispensável para que o taxista possa exercer regularmente a profissão. Na ausência desse documento, o profissional fica impedido de realizar a atividade de transporte público individual, tornando uma atividade clandestina e sujeita a penalidades, como apreensão do veículo e suspensão temporária ou definitiva da Carteira Nacional de Habilitação.

Como regra nacional, o cálculo para definir a quantidade de licenças concedidas em cada centro urbano utiliza como parâmetro o número de um taxista para cada 500 habitantes. Porém o que tem sido denunciado pelos sindicatos e associações é que, em quase todos os grandes centros urbanos no Brasil, existe um excedente de táxis licenciados interferindo no equilíbrio do mercado, gerando alta competitividade.

Os motoristas de táxis precisam, além de portar a Carteira de Nacional de Habilitação do tipo "B", da licença concedida por órgão municipal ou estadual autorizando exercer a profissão de motoristas de táxi. O número de licenças adota o limite de concessão de acordo com o número de alvarás expedidos, sendo que para cada alvará expedido para o motorista autônomo são permitidas duas licenças: uma para motorista principal e a outra para motorista auxiliar. E quando se trata de táxi vinculado a empresa, pessoa jurídica, é concedido um número de até três licenças para motoristas na categoria de motoristas auxiliares, sendo que o número geralmente coincide com o número de táxis correspondentes à frota total da empresa.

Segundo informações da Superintendência de Transporte Urbano e Gerência de Táxi do município de Salvador, com base nos dados de março de 2010, existem 6.996 permissões concedidas, sendo estas divididas em 6.804 para motoristas autônomos e 192 para frota vinculada a empresas de táxi. Cada permissão permite a licença de motorista principal e auxiliar para os autônomos tem a estimativa de 13.600 motoristas. E para empresas considerando uma licença para cada veículo são 384 motoristas de táxis vinculados a empresas. Porém, verifica-se que existe a possibilidade de que na

empresa sejam concedidas até três licenças para o mesmo veículo. Se trabalhadores revezam em turnos diferentes com o mesmo veículo, a estimativa cresce para 576 o total. Portanto, aproximadamente são 14 mil motoristas de táxi com licenças expedidas em Salvador para um período de um ano.

No Estado da Bahia, os números são aproximados, pois, na maioria dos municípios, não existe o processo de concessão de licença ou alvará regulamentando o transporte de passageiros individuais. Diante disso, as informações cedidas pelo Sindicato dos Motoristas de Táxi referem que existe um número aproximado de 18 mil permissões em todo o estado. Destes, 90% estão concentrados na Região Metropolitana de Salvador, na cidade de Feira de Santana e nas cidades com mais de 100 mil habitantes.

A cidade de São Paulo agrega hoje o maior número de táxis do Brasil, com aproximadamente 33 mil táxis, dos quais cerca de quatro mil são táxis de frotas, ou seja, de propriedade de 58 empresas locadoras, sendo estimado um número de aproximadamente de 70 mil motoristas de táxi. No Rio de Janeiro, são 34 mil, quando o necessário seria 23 mil, verificando, com isso, um excedente de nove mil veículos. E o número de motoristas licenciados se aproxima do verificado em São Paulo, 70 mil. (A Tarde, “Salvador tem 1.215 táxis além do permitido”, 27.04.2008).

Em Salvador, não são concedidos novos alvarás desde 1992, porém, com cálculo de um táxi para cada 500 habitantes, há um excedente de 1.215 veículos, justificando a não concessão de novas licenças, mas apenas renovação das já existentes (SALVADOR, 2007). Representante do Sindicato da GETAX e motoristas de táxis reconhecem que essa situação veio a inflacionar o mercado de transferência da licença, tornando verdadeiro patrimônio daqueles que a possuem.

A licença ou alvará adquire um valor de mercado, variando de cidade para cidade. Por exemplo, no ano de 2004, a Prefeitura de Nova Iorque leiloou uma licença do serviço de táxis e os interessados pagaram cerca de $ 360 mil dólares. Na cidade do Rio de Janeiro, uma licença ou alvará custa cerca de R$ 60 mil (sessenta mil reais), e em São Paulo, o valor varia entre R$ 35 mil a R$ 45 mil (trinta e cinco a quarenta e cinco mil reais) para os táxis do tipo comum. Dependendo do ponto de estacionamento e categoria do táxi, pode custar mais de R$ 120 mil (cento e vinte mil reais).

Em Salvador, no mercado paralelo, o alvará custa entre R$ 45 mil (quarenta e cinco mil reais) a R$ 60 mil para táxis comuns. Os táxis especiais (cooperativas) podem chegar a R$ 140 mil (cento e quarenta mil reais). Motoristas de táxi argumentam. porém, que a situação de excedente tem gerado desvalorização da categoria, redução dos ganhos, aumento da competitividade e incremento da clandestinidade (A Tarde, “Salvador tem 1.215 táxis além do permitido”, 27.04.2008).

O número de táxis na cidade é bem maior do que anunciam os dados oficiais, pois é visível a existência dos táxis que transitam irregularmente sem o alvará, além daqueles considerados como transporte clandestino. Os táxis irregulares são carros padronizados (brancos com faixas azul e vermelha nas laterais), identificados com letra e número de alvará, com taxímetros, mas que circulam sem a renovação de licença. Os táxis clandestinos são carros comuns, sem nenhuma identificação, que realizam o transporte de passageiros sem nenhum tipo de cumprimento de norma exigida para esse trabalho. Apenas coloca-se um carro de passeio a serviço da comunidade para realizar transporte clandestino. Estima-se que esse tipo de transporte pode superar o número de três mil veículos, conforme informações da GETAX e Sinditaxi.

As licenças são concedidas com prazo de validade anual tanto para o carro quanto à condição de motorista de táxi, sendo realizada pela GETAX vistoria do automóvel e renovação da licença como motorista. Devido à alta rotatividade de pessoas na profissão, muitas das licenças de motoristas de táxi não chegam a ser renovadas, sendo estas transferidas para os motoristas iniciantes na profissão.

Em Salvador, segundo a GETAX, estão cadastradas 13 empresas de frota de táxi com um número total de 192 veículos. As empresas adotam estratégia de alta rotatividade dos carros e motoristas, evitando qualquer tipo de relação que possa estabelecer vínculo empregatício entre o locador e o locatário. Para isso, o motorista que faz locação do carro é constantemente submetido a rodízio, trocando sempre de carro, o que resulta em novos contratos com a empresa. A licença para o motorista é concedida em nome da empresa que solicita ao órgão municipal responsável. Quando o contrato com a empresa é finalizado, esta solicita a baixa da licença para aquele motorista. O motorista locador tem que cumprir acordos com a empresa locatária de fazer algumas vistorias no veículo durante a semana correspondente ao contrato de aluguel. Quando o acordo deixa de ser cumprido, o veículo é apreendido pelo proprietário. O motorista fica

impedido de renovar a locação e a licença é cassada.

Além dos motoristas de táxi registrados regularmente, foi constatado que o número de trabalhadores que realizam transporte público individual exercendo a função de motoristas de táxi, mas em situação irregular junto ao GETAX, pode chegar a um total de três mil. Incluem-se aí os táxis em situação irregular para funcionamento, ou seja, com licença não renovada e que circulam pela cidade prestando o serviço de transporte diariamente e são conhecidos como táxis "chapa-fria". Outro grupo é composto por motoristas particulares com carros próprios, que realizam a atividade de forma clandestina.

Essa situação pode desencadear problemas que vão desde os descumprimentos de aspectos de segurança dos passageiros como a perda de controle do Estado na regulamentação e cumprimento das exigências normatizadas para o transporte público. Some-se a isso a concorrência desleal entre os taxistas regulamentados e os irregulares, favorecendo o surgimento de conflitos entre trabalhadores, além da invisibilidade da real situação de exposição ao risco de violência, já que pode haver um grande número de motoristas de táxi camuflados entre os diversos motoristas de automóveis particulares. Essa característica da profissão descortina variadas possibilidades dos rumos da pesquisa diante de tanta diversidade.