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Mapa 2. Distribuição hierárquica das vias públicas da cidade de Salvador, 2010.

2.4.1 Técnicas empregadas no processo

Foram utilizadas as técnicas de entrevistas com trabalhadores privilegiando a narrativa livre, havendo interferência da pesquisadora somente quando havia necessidade de realizar pergunta de algo que não ficou compreendido ou para complementar a ideia ou quando o assunto não foi abordado.

As entrevistas dividiram-se em entrevista do tipo aprofundada e focalizada realizadas individualmente com trabalhadores. Ocorreram em locais diversos pré- estabelecidos entre pesquisador e entrevistado. Aconteceram no ponto de táxi, nas dependências da associação, do sindicato, em praça pública e área de alimentação em shopping da cidade. A duração média das entrevistas foi entre 90 a 120 minutos. Todas as entrevistas fora gravadas com autorização dos entrevistados e posteriormente transcritas para o processo de análise.

Outro tipo de entrevista, a focalizada ou breve, foi realizada utilizando roteiro semi-estruturado, tendo como finalidade abordar questões específicas ou focalizadas orientadas por objetivos da pesquisa, como por exemplo, as “medidas de segurança adotadas pelos taxistas”. Elas ocorreram nos locais de trabalho, durante espera de clientes, nas cinco principais paradas de táxi localizadas no Aeroporto, Terminal Rodoviário, Estoque do Shopping Iguatemi, Avenida Afrânio Peixoto e Centro Histórico/Pelourinho e através de telefone.

As entrevistas foram gravadas em aparelhos do tipo digital pela facilidade no processo de transcrição das entrevistas. As gravações foram organizadas e guardadas em pastas de arquivo no computador e com cópia em mídia regravável (CD e DVD). Todas as gravações foram transcritas transformadas em textos escritos que foram protegidos com senhas de segurança que restringem o acesso. O conteúdo das gravações foi utilizado apenas como recurso para análise das narrativas interpretação e construção de conhecimento sobre a ocupação, vitimização e segurança.

Os grupos focais planejados no projeto inicial não encontraram espaço para acontecer, mas as entrevistas que inicialmente seriam individuais nos pontos e estoques foram se transformando em entrevistas em grupo pela própria dinâmica dos trabalhadores. O que aconteceu foi que quando começava uma entrevista com algum

dos taxistas no ponto aos poucos outros se aproximavam e começavam a fazer parte da entrevista espontaneamente. Foi sendo percebida essa dinâmica pela pesquisadora a técnica foi absorvida adotada. Outras entrevistas breves foram realizadas durante a corrida com táxi e outras através de telefone para buscar informações complementares ou resolver dúvidas.

Adotamos as entrevistas em grupo tendo como justificativa a experiência durante entrevistas exploratórias quando esse tipo de entrevista surgiu espontaneamente e gerou narrativas entre os trabalhadores que extrapolou a técnica de entrevista planejada, passou a ser uma conversa, discussão entre trabalhadores com a presença de um pesquisador. Sendo observado que, ao tempo que a conversa avançava chegou momentos de completa indiferença dos trabalhadores em relação a presença do pesquisador. O que resultou em relatos espontâneos trazendo conteúdos bastante interessantes e não previstos pelo pesquisador.

Os grupos eram compostos por seis e cinco taxistas, respectivamente, sendo importante registrar que durante a entrevista dois dos entrevistados saíram para atender chamado e fazer transporte. O grupo aconteceu de forma espontânea a partir da iniciativa dos próprios trabalhadores, que passaram a convidar os colegas para participar da conversa. O grupo é entendido como do tipo aberto, permitindo a permeabilidade de entrada e saída dos membros de discussão numa adaptação exigida, já que os mesmos aconteceram em horários e durante a espera de clientela.

As entrevistas realizadas durante o trajeto e com o carro em movimento parece ter deixado os motoristas mais tranquilos e confiáveis sendo possível de alguns motoristas registrar relatos interessantes sobre vitimização, opinião sobre a as medidas de segurança necessárias e os principais problemas que afligem os taxistas em Salvador. Foram realizadas entrevistas informais sem a utilização de roteiro pré- definido, mas obedecendo aos interesses dos objetivos da pesquisa. Foram realizadas essas conversas informais na cidade de Salvador, em Recife, em Fortaleza, em Campinas.

Foram utilizados instrumento semi-estruturado nas entrevistas aprofundadas e aquelas focalizadas, abordando aspectos que compõem a estrutura ocupacional dos motoristas de táxi, aspectos da cultura ocupacional adotados por essa categoria (rituais - iniciação, mudanças de status, tipos de lazer, crenças religiosas e políticas, valores

morais, atitude, linguagens, diante situações que solicitem senso de solidariedade, organização social, dentre outras atividades produtivas), condições de saúde do trabalhador (agravos mais frequentes), formas de agressão que vitimizam, efeitos da vitimização, estratégias de proteção e segurança adotadas individual e coletivamente, além da percepção de risco/vulnerabilidade nas vias públicas da cidade, mapeamento de risco no território municipal de Salvador.

As observações diretas aconteceram em três momentos. O primeiro momento foram visitas discretas para observar a dinâmica do ponto (localização, quantidade de táxis, interação dos taxistas com ambiente) e os trabalhadores que frequentavam, além de observar a vizinhança. O segundo momento foi de aproximação com trabalhadores e realização de entrevistas e anotações sobre o ambiente. O terceiro foi para observar o ambiente em outros horários e dias da semana com objetivos detectar mudanças e padrões tanto do ambiente quando dos trabalhadores.

Na tentativa de construir um mapa mental das áreas de risco de violência na cidade de Salvador sob o olhar do taxista, foi utilizado um mapa da cidade e solicitado que os taxistas apontassem no desenho as áreas que consideravam de risco. O que aconteceu foi uma rejeição dos taxistas em lidarem com a localização gráfica. Eles olhar para o papel e começavam a falar dos locais, bairros, ruas perigosas para eles, mas não utilizavam o papel. Ignoravam o mapa. A pesquisadora mudou de tipos de mapa usou mapa turístico, mas continuo a rejeição, então optou para descrição na narrativa do taxista e abandonou o instrumento gráfico.

Acreditamos que esses desenhos metodológicos e técnicas empregadas nas pesquisas empíricas, em ciências sociais, agreguem a necessidade de modificações para garantir maior diálogo entre interlocutores, possibilitando que as informações sejam emitidas não só para o pesquisador, contribuindo para diminuir os ruídos entre o comportamento natural entre trabalhadores no seu cotidiano e o comportamento modulado diante do observador (pesquisador) (CLIFFORD, 1998).