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Estudos realizados pelo NIOSH (1997) indicam que, durante o período entre 1980 a 1992, foram registrados, nos EUA, 9.937 homicídios ocorridos no ambiente de trabalho. Oitenta por cento das vítimas são do sexo masculino, em idade entre 25 e 34 anos; 73% da raça negra, 76% cometidos com armas de fogo. O referido estudo revela que o motorista de táxi tem sido a principal vítima, correspondendo a 22,7% do total de homicídios ocorridos no exercício da atividade de trabalho, o que implica uma de taxa de risco de 15,1 por 100 mil trabalhadores. Outro estudo realizado pelo Bureau of Labor

Statistics – BLS aponta que os homicídios no trabalho, ocorridos de 1992 a 1994,

ocorreram durante roubos, correspondendo a 73% do total dos casos (NIOSH, 1998). Estudo realizado pela Bureau of Labor Statistics, EUA, 1998 revelou que, em relação à população geral, os taxistas estavam 28 vezes mais expostos ao risco de agressões não sexuais e 67 vezes mais expostos aos roubos com violência. Além dos homicídios, estima-se que eles sofrem mais agressões físicas (184 por 1.000 trabalhadores). Ficam atrás apenas dos policiais (306 por 1.000 trabalhadores) e guardas de segurança privada (218 por 1.000 trabalhadores), profissionais que figuram nas mais elevadas taxas de vitimização (WARCHAL, 1998).

Ao mesmo tempo em que os estudos revelam alta vitimização de motoristas de táxi, apontam para um baixo registro de queixas policiais. Este comportamento está associado às características da profissão pelo isolamento e condição de vulnerabilidade quando se trata de enfrentar os perigos percebidos para o exercício da profissão

(HAINES e CAHILLI, 1996). A elevada sensação de insegurança tem levado a categoria a lançar mão de medidas legais e extralegais de proteção (CERQUEIRA e NORONHA, 2006).

Outro estudo dedicado a inventariar as formas de vitimização dos motoristas de táxi na Austrália revela que 84% dos entrevistados tinham sofrido sonegação de pagamento (calote), aproximadamente 75% deles haviam sofrido agressões verbais e 30% sofreram agressões físicas, sendo que, destes, 14% já haviam sido assaltados (HAINES e CAHILLI, 1996).

No Canadá, uma pesquisa realizada por Stenning (1995) revela que motoristas de táxi compõem um grupo ocupacional altamente vitimizado. Dos 50 motoristas de táxi entrevistados, 85% foram vítimas de algum tipo de vitimização criminal no trabalho, sendo 36% por roubo e 15% por roubo com arma de fogo. Apesar de não apresentar dados precisos sobre vitimização fatal, o estudo registra que, do total de homicídios ocorridos durante o cumprimento das funções ocupacionais, os motoristas de táxi aparecem como a segunda categoria mais vitimizada, perdendo apenas para oficiais de polícia.

Stenning (1995) em pesquisa realizada no Canadá apresenta como resultado final que do total de entrevistados 85% referiram ter experimentado alguma foram de vitimização criminal pelo menos uma vez durante a carreira profissional. Um terço (36%) deles foram vitimizados durante os doze meses que durou a referida pesquisa, sendo que a maioria tem efeitos considerados menores pelos próprios taxistas em relação a perdas econômicas e tipo de agressão (roubo).

O uso de armas de fogo foram referidas em 10% das experiências, sendo os canivetes as armas mais utilizadas pelos perpetradores do crime. Apesar disso, enfrentam uma inquietante alta taxa de homicídios divulgados pelas Estatísticas oficiais no Canadá. As taxas são proporcionalmente tão altas quanto às dos profissionais da área de segurança (policiais) no cumprimento das funções de trabalho, apesar de não existir dados precisos sobre os números de motoristas em atividade naquele país.

A pesquisa revela, ainda, que os motoristas com maior tempo de profissão afirmavam não ter sofrido nenhum tipo de vitimização, assim como aqueles que

passaram com treinamento formal se diferenciavam daqueles que não fora treinados pela quantidade de experiências de vitimização apenas para os não treinados.

Portanto, apontando como medida eficiente contra a vitimização por violência os treinamento de segurança no trabalho específicos em relação a vitimização por violência. Também revela que no Canadá é elevada a subnotificação oficial das ocorrências pelos taxistas. E, portanto, não resultando em procedimento legal. Deixando de legitimar oficialmente a condição de vítima do motorista de táxi na maioria das ocorrências. As vítimas atribuem a não notificação por a) não consideram sérias as vitimizações; b) não acreditam na resposta policial diante da vitimização; c) tempo perdido para o registro das ocorrências representando perdas financeiras.

Os taxistas referem que pelo menos a mais de um ano utilizam dispositivos designados para proteção contra vitimização, portanto medidas preventivas, sendo eles dois canais de rádio; na cabine central possui controle de fechamento automático das fechaduras das portas disposta junto ao motorista. Trava de controle do motorista na janela do táxi “botão de pânico” que conecta o motorista com agência (empresa de táxi). Comunicação computadorizada (on line) com a empresa de táxi; acesso ao endereço do cliente “lista negra”. E ainda a posse de arma no táxi. O próprio táxi, o carro, transforma-se em escudo de segurança onde estão os equipamentos de proteção principal.

No Brasil a mídia exerce um importante papel no processo de divulgação das ocorrências de violência que envolve trabalhadores diante subnotificação oficial. Assim mesmo, os casos só ganham relevância e registro pela mídia impressa (jornais e revistas) quando se trata de agressões com grave repercussão contra a integridade física ou em situações de morte. Fica ocultado um conjunto de efeitos produzidos nas variadas formas de vitimização que impactam sobre a saúde e sobre a qualidade de vida daqueles que são vítimas da violência, atingindo não só o trabalhador, mas, indiretamente, familiares e outros colegas de trabalho que ora passam a conviver com a percepção potencial do risco de violência. Torna-se comum verificar uma precária caracterização das circunstâncias em que ocorre o ato violento, identificação das vítimas e dos agressores, porém, com as imperfeições evidentes, tem sido uma importante fonte de investigação, possibilitando construir cenas e cenários a serem analisados com auxílio de trabalho de campo e discussões teóricas.

As taxas apontam para uma vitimização masculina desproporcional quando comparadas com as mulheres em semelhantes situações. Os acidentes fatais e não fatais tornam-se resultados de comportamento que inclui enfrentamento de situações perigosas como forma de obter ou manter respeito (Souza, 2006). Os homens representam maioria esmagadora como agressores e como vítimas de violência. Eles são em maior número de usuários de drogas, de suicídios, além de apresentarem desvantagem em quase todas as causas específicas de mortalidade quando comparada à situação feminina e com expectativa de vida de oito anos a menos que as mulheres (MINAYO, 2005).

Segundo dados levantados por Souza (2005) no Brasil no período de 1991 a 2000, ocorreram 1.118.651 mortes por causas externas, das quais 82,8% foram do sexo masculino, sendo no mesmo período verificado que a taxa média de mortalidade masculina por causas externas foi de 119,6/100.000 habitantes, e observada que representa cinco vezes mais que a taxa média para as mulheres que foi de 24/100.000 habitantes. Quanto se observa a taxa de mortalidade de homens na faixa etária entre 20 a 24 anos ela passa a ser de 10,1 vezes mais que das mulheres no mesmo período. E, analisando as taxas de mortalidade de acordo com o tipo de causa externa é nos homicídios que o risco de morte de homens se intensifica chegando a 12 óbitos masculinos para cada morte de uma mulher pela mesma causa. As principais causas de mortalidade masculina são os homicídios e acidentes de transporte, portanto atribuindo a dois importantes símbolos de identidade masculina: a arma e o carro.

Souza (2005) revela uma distribuição espacial e territorial que apontam por uma cartografia da violência que vitimiza pessoas do sexo masculino com diferenciais identificados em algumas cidades brasileiras. No Macapá é onde apresenta maior mortalidade masculina numa proporção de 10,3 mortes masculinas para uma feminina, sendo que nas cidades de menor diferença são em média de quatro vezes mais que as femininas.

No mesmo estudo apresenta que a violência não letal vitimiza ainda mais os homens que as mulheres. Nas internações hospitalares por causa externas 84,5% são de homens, jovens (entre 15 a 39 anos). Quanto às formas de agressão a supremacia foi para as internações motivadas por lesões causadas por arma de fogo (33,2%), seguida de objeto cortante e penetrante (26,4%) e força física (14,8%). Foi verificado que entre os internados a maior taxa de mortalidade foi das vítimas de arma de fogo (9,7 por 100

internações) e tendo o custo 34,4% maior que o custo de todas as agressões, sendo conclusivo o alto potencial de letalidade e gravidade dos danos provocados.

Em relação ao local onde ocorrem as mortes de homens por homicídios são predominante os espaços públicos como ruas, bares, enquanto as mortes das mulheres se dão nos espaços privados (lar e imediações). Os homicídios de homens são perpetrados por desconhecidos enquanto das mulheres são conhecidos da vítima (WAISELFISZ, 2007).

Wierviorka (1997) aponta o narcotráfico como grande vitimizador de jovens do sexo masculino e descreve que a situação brasileira encontra-se favorável para inserção de jovens nas atividades informais, ilícitas e criminosas como forma de sobrevivência devido a falta de oportunidade no mercado formal de trabalho e outras atividades que possibilitem a reafirmação e conformação da masculinidade. Entre motoristas de táxi variados estudos apontam para a suspeita e evidências de alguns trabalhadores envolver- se com atividades ilícitas.