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Breve incursão sobre o conceito de opinião pública

interesses.212

Com efeito, os partidos políticos, enquanto associações privadas, passam a ter como objectivo a transformação de interesses privados num interesse público comum, isto é, a transformação de interesses particulares num interesse geral pública e politicamente representativo. Tais organizações de carácter privado que, segundo Habermas, estão em condições de manipular a opinião pública sem se deixarem controlar por ela, estão mais interessadas em fortalecer o prestígio da sua posição do que, propriamente, em gerar temas de discussão pública. Assim, os partidos políticos passam a funcionar como elementos medidores entre os interesses das organizações privadas que «irrompem» na publicidade. Ao mesmo tempo que os «partidos de notáveis» se convertem em «partidos de massas», o Parlamento transforma-se numa esfera de elementos vinculados pelo mandato a um partido específico que procura, mediante aclamação pública, influir no comportamento eleitoral da população. Neste ponto, os meios de comunicação de massa servem de suporte publicitário onde os dirigentes políticos «fabricam» algo parecido com «publicidade». Por conseguinte, as opiniões do Público sobre assuntos de carácter público já não se formam dialógica e racionalmente. Formam-se, antes, mediante símbolos oferecidos por uma publicidade fabricada cuja mecânica escapa aos indivíduos.213

Breve incursão sobre o conceito de opinião pública

Apesar do tratamento científico acerca de fenómenos colectivos de opinião corresponder ao aparecimento da sociedade de massas214, o uso do conceito «opinião

pública», como aspecto pertencente aos governos democráticos, tem uma história que remonta à República Romana. Com efeito, nos célebres discursos In Catilinam, Cícero assevera que seria muito grave o Senado não seguir a opinião do povo romano contra Lúcio Sérgio Catilina.215 Por outro lado, em pleno Renascimento é visível como Maquiavel indica ao

212 Idem, p. 225.

213 Cf. Jürgen Habermas, op.cit., p. 247.

214 Cf. Luis Gonzalez Seara, Opinion Pública y Comunicación de Masas, Barcelona, Ediciones Ariel, 1968,

p. 14.

215«Até quando enfim, ó Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda há-de zombar de

nós essa tua loucura? A que extremos se há-de precipitar a tua audácia sem freio? Nem a guarda do Paladino, nem a ronda nocturna da cidade, nem os temores do povo, nem a afluência de todos os homens de bem, nem este local tão bem protegido para a reunião do Senado, nem o olhar e o aspecto destes senadores, nada disto conseguiu perturbar-te? Não sentes que os teus planos estão à vista de todos? Não vês que a tua conspiração, a têm já dominada todos estes que a conhecem? Quem, de entre nós, pensas tu que ignora o que fizeste na noite passada e na precedente, em que local estiveste, a quem convocaste, que deliberações foram as tuas? Oh tempos, oh costumes! O Senado tem conhecimento destes factos, o cônsul tem-nos diante dos olhos; todavia, este homem continua vivo! Vivo?! Mais ainda, até no Senado ele aparece, toma parte do conselho de Estado, aponta-nos e marca-

príncipe o quão importante é gozar do amor do povo, porque o povo é o elemento mais forte e poderoso.216

Contudo, é a partir da Idade Moderna que o conceito ganha, embora progressivamente, uma maior importância. No Ensaio sobre o entendimento humano (1690), John Locke considera a opinião pública como uma lei que, juntamente com a «lei divina» e a «lei civil», constitui a norma de comportamento dos homens. É a «lei da opinião ou da reputação» que deve determinar o que em cada sociedade se constitui como virtude – o que respeita essa lei – e o que se constitui ou considera como vício – o que vai contra ela –, o que merece recompensa ou castigo, o que é publicamente respeitável e o que é publicamente condenável.

As leis pelas quais os homens regulam geralmente as suas acções e julgam da rectidão ou prevaricação das mesmas, parecem-me ser estas três: - 1 A lei divina. 2. A lei civil. 3. A

lei da opinião ou reputação, se assim a posso chamar. Pela relação que estabelecem com

a primeira, os homens julgam se as suas acções são pecados ou deveres; pela segunda, se são crimes ou não: pela terceira, se são virtudes ou vícios.217

Ora, se os cidadãos não possuem nenhum poder executivo, a «lei da opinião ou reputação» permite que estes conservem o poder do juízo moral. Neste sentido, a terceira lei de Locke, que se estabelece mediante um consentimento «secreto e tácito»218, traz para a

vida pública «o poder de julgar bem ou mal, de aprovar ou desaprovar acções daqueles com quem vivem e com quem conversam», sendo que é a partir desta aprovação e desaprovação que «estabelecem entre eles o que irão designar como virtude e vício».219 Locke atribui especial importância ao foro privado da consciência humana que ajuda a sociedade a desenvolver as suas próprias leis morais.220 A moral civil, desenvolvida no espaço privado de

cidadãos que se reúnem para discutir e investigar as leis morais, constitui o acto de judgement ou de censura dos cidadãos. Precisamente por isto, John Locke chama à «lei da opinião ou da reputação» Law of Private Censure, no sentido em que as opiniões privadas dos cidadãos entram na esfera pública dotadas de meios de coerção – elogio e censura –, que

nos, com o olhar, um a um, para a chacina. E nós, homens valorosos, cuidamos cumprir o nosso dever para com o Estado, se evitamos os dardos da sua loucura. À morte, Catilina, é que tu deverias, há muito, ter sido arrastado por ordem do cônsul; contra ti é que se deveria lançar a ruína que tu, desde há muito tempo, tramas contra todos nós.» Cf. Cícero, As Catilinárias, Lisboa, Edições 70, 2006, pp. 29- 30.

216 Cf. Maquiavel, O Príncipe, Lisboa, Guimarães Editores, 2007, pp. 79-81.

217 John Locke, Ensaio Sobre o Entendimento Humano, Volume 1, Livro II, Capítulo XXVIII, §- 7, Lisboa,

Fundação Calouste Gulbenkien, 2005, p. 467.

218 Idem, Volume 1, Livro II, Capítulo XXVIII, §- 10, p. 468. 219 Idem, Volume 1, Livro II, Capítulo XXVIII, §- 10, p. 469.

220 «Qualquer que seja a regra pela qual, como uma pedra-de-toque, examinamos as nossas acções

voluntárias e testamos a sua virtude e as designamos de acordo com esta, tais designações são, como sempre foram, a marca do valor que lhes atribuímos: mesmo se, afirmo, retirarmos essa regra dos costumes do país, ou da vontade do legislador, a mente é facilmente capaz de observar a ligação que qualquer acção tem em relação à mesma e de julgar se a acção concorda ou discorda com essa regra; e, assim, possui a noção de bem ou de mal moral, que é a conformidade ou a não conformidade de uma acção em relação a essa regra; e esta é, assim, muitas vezes designada de rectidão moral». Idem. Volume 1, Livro II, Capítulo XXVIII, §- 14, p. 472.

conferem validade pública à lei. Por conseguinte, a moral civil torna-se num poder público que obriga os cidadãos a adequar as suas acções ao consentimento da Law of Fashion, or Private Censure.221 As leis devem estar sujeitas ao princípio do bem público e é somente no

espaço público que os juízos privados se manifestam como lei. Tais leis devem ser feitas tendo em conta o bem comum e são elas que, doravante, exprimem e determinam o limite do poder da autoridade.

Assim, é possível concluir que a lei da opinião ou da reputação tem um âmbito mais vasto e um poder de coerção maior do que a própria lei civil. Apesar de, como reconhece Noelle-Neumann, a expressão «opinião pública» não aparecer na obra de Locke, o conceito estará indirectamente presente de duas formas: «primeiro na sua ideia de acordo, que apenas se pode interpretar como unidade social e, portanto, pública; depois na sua insistência no ‘lugar’, com a sua conotação de espaço público por excelência».222

Também David Hume dedicou um capítulo ao tema da opinião pública. Enquanto John Locke tratou o tema da opinião dando especial relevo ao homem comum, com David Hume a problemática da opinião é vista sob a perspectiva dos governos. Considerando que as opiniões são um aspecto importante para os assuntos do Estado, Hume sublinha que as opiniões veiculadas por pessoas particulares produzem o consenso necessário para que qualquer governo funcione.223 «Como a força está sempre do lado dos governados, os governantes

apoiam-se unicamente na opinião; e esta máxima aplica-se tanto aos governos mais despóticos e militares como aos mais livres e populares».224

Porém, torna-se importante realçar que a expressão opinion publique surgiu pela primeira vez no célebre Discurso sobre as artes e as ciências (1749) de Jean-Jacques Rousseau. De facto, a concepção da opinião pública como sendo um juízo político face às actuações do governo encontra pouco apoio na conceptualização de Rousseau. Isto porque o autor emprega o termo no velho sentido de opinion, ou seja, opinion como reputação, crédito, como a consideração que uma pessoa tem em relação a outra.225

Tal como Locke e Hume, Rousseau relaciona o conceito de «opinião pública» com o de «reputação», ao mesmo tempo que destaca o seu importante papel na sustentação da coesão social. A opinion publique permite, com efeito, que os indivíduos se adaptem aos costumes e, por conseguinte, ajuda a proteger a moral da decadência. Talvez por considerar que os homens viviam melhor no seu Estado de Natureza, Rousseau considerou a existência de uma quarta lei para além do direito penal, direito público e direito civil:

221 «Estas três, então – a primeira, a lei de Deus, a segunda, a lei das sociedades políticas, e a terceira,

a lei dos costumes, ou da censura privada –, são aquelas leis com as quais os homens frequentemente comparam as suas acções, e é de acordo com a conformidade a uma destas leis que eles tomam as suas medidas, quando julgam da sua própria rectidão moral e designam as suas acções como boas ou más».

Idem. Volume 1, Livro II, Capítulo XXVIII, §- 13, p. 471.

222 Elisabeth Noelle-Neumann, La espiral del silencio. Opinión pública: nuestra piel social, Barcelona,

Paidós, 1995, p. 100.

223 Idem, p. 103.

224 David Hume, «Dos primeiros princípios do governo», in Ensaios Morais, Políticos e Literários, Lisboa,

Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2003, pp. 399-416.

Para além destas três classes de leis há uma quarta, a mais importante, que não está gravada no mármore ou no bronze, mas antes em todos os corações dos cidadãos; uma lei que forma a verdadeira constituição do Estado; cuja força se renova a cada dia; que vivifica as outras leis quando estas envelhecem ou desaparecem; que mantém no povo o espírito das suas instituições originais e substitui imperceptivelmente a força do hábito pela da autoridade. Refiro-me às modas, à moral, aos costumes e, sobretudo, à opinião pública, um factor desconhecido pelos nossos teóricos da política, mas que dele depende o êxito de todos nós.226

Como a promulgação das leis é tarefa, exclusivamente, do príncipe e como, não obstante, o poder legislativo apenas se encontra no povo, o príncipe tem a necessidade de sondar o clima de opinião no sentido de decidir, posteriormente, quais são as convicções do povo que são suficientemente válidas para ganharem força de lei. Como, sobre este ponto, comenta Noelle-Neumann: «a lei apenas se baseia num acordo prévio, no sentido de comunidade que constitui o fundamento real do Estado».227

Nesta tarefa de observação pública, o príncipe beneficia da actividade desenvolvida pelo «censor», uma espécie de tribunal especial que procura salvaguardar aos princípios morais. «A censura conserva a moral e evita a corrupção das opiniões, conservando a sua rectidão com medidas inteligentes e, em algumas ocasiões, determinando-as quando todavia são duvidosas». Neste sentido, a censura seria o «meio de expressão da opinião do povo» e, se como defendeu David Hume, «o governo apenas se baseia na opinião», em Rousseau a opinion publique seria «a rainha do mundo», algo que não está submetido ao poder dos reis.

Com efeito, o próprio Alexis de Tocqueville acabou por identificar o conceito de «opinião pública» com a pressão que os indivíduos exercem uns sobre outros e, mormente, sobre os governantes. Em Da Democracia na América, o autor sublinha que nos países onde o povo é realmente soberano, é «o povo quem manda» e mesmo que a forma de governo seja representativa, é óbvio que as opiniões, os preconceitos, os interesses e mesmo as paixões do povo não conseguem encontrar obstáculos duradouros que os impeçam de se manifestar na orientação diária da sociedade». Contudo, Tocqueville reconhece que à volta do povo «agitam-se continuamente os partidos, que procuram atraí-los e obter o seu apoio».228

Ora, decorria o ano de 1922 quando surgiu uma das obras fulcrais sobre o tema da «opinião pública», obra que insistiu, peculiarmente, na relação entre opinião pública e jornalismo. De facto, o livro Public Opinion, do jornalista Walter Lippmann, pretendeu

226«A ces trois sortes de loix, il s’en joint une quatrieme, la plus importante de toutes; qui ne se grave

ni sur sur le marbre ni sur l’airain, mais dans les coeurs des citoyens; qui fait la véritable constitution de l’Etat; qui prend tous les jours de nouvelles forces; qui, lorsque les autres loix vieillissent ou s’éteignent, les ranime ou les supplée, conserve un peuple dans l’esprit de son instituition, et substitue insensiblement la force de l’habitude â celle de l’autorité. Je parle de moeurs, des coutumes, et sur- tout de l’opinion; partie inconnue à nos politiques, mais de laquelle dépend le succès de toutes les autres: partie dont le grand Législateur s’occupe en secret, tandis qu’il paroit se borner à des réglements particuliers qui ne sont que le ceintre de la voûte, dont les moeurs, plus lentes à naitre, forment enfin l’ inébranlable Clef». Cf. Jean-Jacques Rousseau, Oeuvres Complètes; Du Contrat Social,

Écrits politiques, Paris, Gallimard, 1964, p. 394.

227 Noelle-Neumann, op.cit., p. 115. 228 Alexis de Tocqueville, op.cit., p. 215.

demonstrar como se formam as percepções que as pessoas têm do mundo real, como se escolhem, compõem e transmitem as mensagens que chegam às pessoas mediante o papel desempenhado pelos meios de comunicação. Num trabalho, até então, sem quaisquer precedentes, Lippmann descreve fenómenos que a psicologia social e a investigação empírica em comunicação confirmaram décadas mais tarde.229

Num livro bastante revelador, Lippmann identifica um aspecto basilar da concepção teórica da opinião pública. Segundo o autor, os «estereótipos», ao orientarem a percepção das pessoas para associações geralmente «negativas», favorecem a eficácia dos processos de opinião. «Orientam a percepção, atraindo a atenção sobre alguns elementos – normalmente negativos – e produzindo uma percepção selectiva.230 Assim, e no que se refere à política

pública, a cristalização de concepções em estereótipos pode afectar a imagem dos actores políticos, isto porque a opinião pública afecta-nos «como o ar que nos rodeia». Como o mundo político é «invisível» ou «inalcançável», existe a necessidade de pensarmos esse mundo, de o explorarmos recorrendo à imaginação. Neste sentido, Lippmann assevera que as pessoas tendem a adoptar a experiência indirecta do mundo, moldando a sua experiência real – directa – com a experiência indirecta. Só assim o homem «aprende a ver com a mente enormes regiões do mundo que nunca pôde ver, tocar, cheirar, ouvir ou recordar», construindo, mentalmente, «uma imagem fidedigna do mundo que está fora do seu alcance». Constituindo «uma imagem ordenada e mais ou menos coerente do mundo», os estereótipos funcionam como a imagem possível do mundo que nos rodeia. Deste modo, qualquer comportamento exterior que não vá ao encontro dos nossos estereótipos, do «nosso universo», parece um ataque contra «os pilares do universo».231

Lippmann conclui, com efeito, que a proporção das nossas observações directas é bastante pequena comparativamente às observações que nos transmitem os meios de comunicação. Por conseguinte, o leitor apenas pode completar a sua percepção sobre o mundo mediante uma consciência que, em boa medida, foi criada pelos meios de comunicação. Como o mundo real não está totalmente ao nosso alcance, a perspectiva dos meios de comunicação sobre o mundo é, também, a nossa perspectiva sobre o mundo. Mas como se combinam e constroem essas observações? Para Lippmann, existem «valores notícia» que permitem fazer uma selecção rigorosa sobre o que se vai referir, o que deve chegar ao público e o que este deve reter. «Qualquer jornal que chega ao leitor é o resultado de uma série de selecções», sublinha o autor. Refira-se que, em 1947, o psicólogo social, Kurt Lewin, apelidou este fenómeno de gatekeeping.

Argumentando que «as imagens que existem na cabeça das pessoas, as imagens dos outros, delas próprias, das suas intenções, relações e necessidades, são as suas opiniões públicas»232, Walter Lippmann sustenta que as cristalizações de concepções em estereótipos

229 Cf. Noelle-Neumann, op.cit., p. 190. 230 Idem, p. 191.

231 Cf. Walter Lippmann, La opinión pública, Madrid, Editorial C. de Langre, p. 93.

232«En general denominamos asuntos públicos a los aspectos del mundo exterior que están relacionados

determinam, em grande medida, o ângulo e o conjunto de factos que vemos. Não obstante, o autor ressalva o carácter ortodoxo da opinião pública, sobretudo quando refere que «uma opinião pública é primeiramente uma versão moralizada e codificada dos factos. A visão selectiva é, então, conduzida por cristalizações e avaliações morais que determinam o que deve ser dito e o que deve ficar por dizer. Ao seleccionarem um conjunto de factos como elementos pertencentes à cultura mediática, os meios de comunicação oferecem uma perspectiva sobre o mundo, sendo certo que, muitas vezes, essa é a única perspectiva que o público absorve. É, então, neste sentido que se afirma que só existe o que se conta, isto é, só existe o que foi integrado pelos media como cultura mediática.

Ora, enquanto Walter Lippmann fala de «estereótipos» na formação da opinião pública, um autor como Niklas Luhmann aponta para a necessidade de se encontrarem «fórmulas verbais», formas específicas de formação dos temas de discussão pública. Segundo Luhmann, só na parte final do século XVIII «surgiu o conceito moderno de opinião pública como o soberano “secreto” e a autoridade invisível da sociedade política» tendo, com efeito, a própria opinião pública «sido estilizada como um paradoxo, como o poder invisível do visível».233 Beneficiando do postulado iluminista, a opinião pública assumiu a tarefa de censura e adquiriu a função de «uma espécie de árbitro no domínio político»234, no sentido de

evitar abusos do poder.

Interessado em retirar implicações políticas do conceito «opinião pública», Luhmann procurará discernir que «estados» e «operações concretas», que «sistemas físicos e sociais» são a fonte do que as pessoas realmente pensam. Considerando que o conceito de «opinião pública» se refere ao sistema social da sociedade, e não ao que realmente acontece na(s) consciência(s) das pessoas individuais235, Luhmann rejeita a evidência do conceito, isto é, a

pressuposição da opinião pública como o conjunto de opiniões de indivíduos privados às quais o poder político deve prestar atenção. De resto, a aceitação do pressuposto de que os indivíduos e os seus «estados de consciência» são portadores de uma opinião pública comum conduziria, segundo Luhmann, a uma conceptualização da opinião pública como estrutura rígida ou «quase monolítica». Como a sociedade é um sistema «constituído por comunicações e só por comunicações»236, a produção e reprodução da comunicação, mediante um processo

autopoiético, é especificada e condicionada na sua própria rede de comunicações. Por conseguinte, «o que quer que esteja contido na unidade do conceito de “opinião pública” é assim meio e forma ao mesmo tempo»237 e, como atesta o próprio Luhmann, este facto tem, desde logo, duas consequências: significa, por um lado, que o conceito de opinião pública

dependen de nosotros o no interesan. Las imágenes mentales creadas por ellos, las imágenes de ellos mismos, de otros indivíduos, de sus necesidades, propósitos y relaciones constituyen sus opiniones públicas. Las imágenes que provocan reacciones por parte de grupos de personas, o de indivíduos que actúan en nombre de grupos, constituyen la Opinión Pública com mayúsculas». Cf. Walter Lippmann, La

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