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59 Cf Gilbert Maurey, op.cit., p 114.

palavras foram os instrumentos».61 Trata-se de uma «antologia de existências» que reflecte sobre um instrumento que cruza mecanismos políticos com efeitos de discurso. Um mecanismo que assegura a distribuição do poder, a disponibilização dos mecanismos de soberania:

(…) a soberania política vem inserir-se ao nível mais elementar do corpo social; de sujeito a sujeito – trata-se, por vezes, dos mais humildes –, entre os membros de uma mesma família, em relações de vizinhança, de interesse, de profissão, de rivalidade, de amor e de ódio, é possível fazer valer, além das tradicionais armas da autoridade e da obediência, os recursos de um poder político que tem a forma do absolutismo; cada um, se souber jogar o jogo, pode tornar-se face ao outro um monarca terrível e sem lei: homo

homini rex; uma cadeia política inteira vem entrecruzar-se com a trama do quotidiano.62

Referimo-nos às lettres de cachet, uma espécie de «serviço público» onde «as vergonhas e os segredos são oferecidos pelo discurso à acção do poder».63 Trata-se de

enclausurar os súbditos sem fazer notar tal enclausuramento. Todavia, correspondem a um pedido vindo de baixo que se funda na denúncia, na delação, no interrogatório ou na queixa, tornando «descritíveis» e «transcritíveis» as pequenas coisas do quotidiano. No essencial, correspondem a documentos, postos à disposição dos súbditos, onde acções «indesejáveis», infames ou escandalosas são oferecidas ao poder administrativo pela acção do discurso. Às lettres de cachet cabe «dizer» o indizível, o «ínfimo», o que é mais difícil de dizer e de notar porque não contém glória nenhuma, o mais oculto, «o mais interdito e o mais escandaloso», enfim, tudo o que deveria permanecer em segredo. A literatura torna-se meio de coacção e as palavras impõem a autoridade e o castigo dos dispositivos de espionagem. Com as lettres de cachet, o quotidiano vê-se atravessado pelos mecanismos de um poder político que garante a vigilância entre os súbditos e, sobretudo, a ubiquidade do monarca.

Contudo, e no que se refere ao poder, a potencialidade do segredo diz respeito ao facto de ele poder jogar em duas direcções: protegê-lo ou colocá-lo em perigo. A evolução do segredo exige que este adquira a sua própria forma, isto é, passar de um facto bem determinado, localizado, para uma forma imperceptível, puramente esotérica. No momento em que a percepção do segredo – determinação – , se encontra com o seu modo de acção – influência –, também ele secreto, o segredo atinge a tal imperceptibilidade absoluta.

Na sua forma encontramos dois componentes essenciais do segredo, percepção secreta e modo de acção, ou influência secreta; tais componentes acabam por se tornar traços

61 Michel Foucault, «A vida dos homens infames», in O que é um autor?, S.L, Editora Vega, Passagens,

1992, p. 96.

62 Idem, pp. 114-115. 63 Idem, pp. 117.

fundamentais da forma do segredo e são eles que, doravante, não vão parar de o reconstruir, reformular ou recarregar.64

Não obstante, todo o segredo enfrenta o espectro da divulgação, o fantasma do «pôr a descoberto». Se A confia um segredo a B, o jogo passa a estar mais aberto e com isso multiplica-se o risco de desvelamento. Importa reparar os pontos fracos do sistema, precaver a fuga de informações e, acima de tudo, organizar uma boa resposta em caso de divulgação. Deleuze e Guattari captaram bem esta necessidade de proteger o segredo quando escreveram o seguinte:

Qualquer sociedade secreta contém um núcleo ainda mais secreto, camuflado, que compreende e protege o segredo, que executa as sanções da sua divulgação (…). Todas as sociedades secretas comportam um núcleo especial que tem o seu próprio modo de acção, também ele secreto, por influência, deslize, insinuação, pressão, de onde nascem as famosas palavras-chave, os códigos e a linguagem secreta (e não existe aqui nenhuma contradição já que nenhuma sociedade secreta pode sobreviver fora do projecto universal de penetrar na sociedade, de se envolver, pressionando as hierarquias e a segmentação: a hierarquia secreta conjuga-se mediante uma conspiração de iguais. A sociedade secreta exige aos seus membros que se comportem como verdadeiros “peixes dentro de água” mas, ao mesmo tempo, ela procurará ser sempre “água para os seus peixes”. Isto significa que é necessário que prevaleça sempre uma cumplicidade entre todos aqueles que fazem parte dessa sociedade e que partilham o segredo.65

Todavia, será um erro considerar o segredo como um valor suficientemente fiável para que nele repousem excessos de poder. Vale um exemplo: largamente construído em redor do segredo, a brutalidade do estalinismo encontrava-se mascarada em leis e práticas dissimuladas aos olhos do comum dos mortais. As perseguições políticas faziam-se, preferencialmente, ao cair da noite e as execuções eram discretas e, por vezes, até mesmo secretas.66 Para adquirir uma legitimidade interna indispensável à sua omnipotência, Estaline

64 «Et l’on retrouvera sur cette forme même le deux concomitants du secret, la perception secrète et le

mode d’action, l’influence secrète, mais ces concomitants sont devenus des ‘traits’ de la forme qui ne cessent de la reconstituer, de la reformer, de la recharger». Cf. Gilles Deleuze, Félix Guattari, op.cit., p. 353.

65 «Toute société secrète comporte une arrière-sociéte encore plus secrète, soit qu’elle perçoive le

secret, soit qu’elle le protège, soit qu’elle exécute les sanctions de sa divulgation (…). Toute société secrète comporte son mode d’action, lui-même secret, par influence, glissement, insinuation, suintement, pression, rayonnement noir, d’où naissent les ‘mots de passe’ et les languages (et il n’y a pas là de contradiction, la société secrete ne peut pas vivre hors du projet universel de pénétrer toute la société, de se glisser dans toutes les formes de la société, en en bousculant la hiérarchie et la segmentation: la hiérarchie secrète se conjugue avec une conspiration des égaux, la société secrète ordonne à ses membres d’être dans la société comme des poissons dans l’eau, mais elle aussi doit être comme l’eau parmi les poissons;)». Cf. Gilles Deleuze, Félix Guattari, op.cit., p. 352.

66 «Estaline viveu na obsessão permanente da conspiração, do envenenamento…Não faltam anedotas

sobre os cortejos de viaturas oficiais todas idênticas, mas das quais apenas uma transportava o Koba, sobre os quartos novos em que ele dormia todas as tardes, sobre as portas diferentes de que ele se servia para entrar no Kremlin…Mesmo os seus companheiros que o ajudaram a liquidar os bolcheviques, Kossior, Postichev, Rudzutak, Iagoda…não escaparam ao que se seguiu ao Congresso dos Vencedores, o XVII Congresso realizado em 1934, à loucura destruidora desse homem desconfiado: 1108 em 1996

fez desaparecer todos os mecanismos da chamada «legalidade socialista». O Comité Central que, com Lenine, se reunia duas vezes por mês, passou a reunir-se de dois em dois meses em 1922 e apenas três vezes por ano em 1934. Por outro lado, os congressos que antes se reuniam todos os anos tornaram-se cada vez mais raros. «O mesmo é dizer que o poder obedece à lógica do segredo, da hipercentralização e a submissão à boa vontade de Estaline».67 Ainda como factor de legitimidade interna, Estaline levou a cabo um processo

cuja autoridade dependia da repressão e da violência. A contra-espionagem tornou-se prática comum no regime e os novos militantes, quase todos desprovidos de cultura marxista, são obrigados a assinar uma declaração onde se comprometem a «jamais divulgar de qualquer forma segredos do Estado»68 a que, eventualmente, pudessem ter acesso. De facto, em As

Origens do Totalitarismo (1951), Hannah Arendt mostra-nos a forma como os movimentos totalitários adoptaram o modelo e os princípios de acção das sociedades secretas:

No estágio anterior à tomada do poder, os nazis nada mantinham em segredo. Foi apenas durante a guerra, quando o regime nazi se torna inteiramente totalitarizado e a liderança do partido se viu cercada por todos os lados pela hierarquia militar, da qual dependia para a condição da guerra, que as formações de elite receberam instruções perfeitamente claras para manterem absolutamente secreto tudo o que dissesse respeito à “Solução Final”, isto é, extermínio em massa dos judeus. Foi também por essa época que Hitler passou a agir como chefe de um bando de conspiradores, mas não sem anunciar e divulgar pessoalmente esse facto com bastante clareza. No decorrer de uma reunião com o Estado- maior, em Maio de 1939, Hitler estabeleceu as seguintes normas, que pareciam terem sido copiadas de uma Cartilha de sociedades secretas: “1- Nenhuma informação será dada a quem não precisa saber. 2- Ninguém deve saber mais do que precisa. 3- Ninguém deve saber antes do tempo necessário.69

«Saber dissimular é o saber dos reis»70 escreveu Richelieu, na medida em que aquele que governa não deve deixar transparecer nada e, se não for possível ler-lhe o que quer que seja no rosto, também não vai ser possível aceder a decisões e conteúdos que importam disfarçar. De resto, o tema da dissimulação foi recentemente recuperado por Rosário Villari num livro que permitiu renovar a interpretação do modelo de acção política da era barroca. Em o Elogio da Dissimulação (1987), Villari define o século XVII como «o grande século da dissimulação» e considera que esta é «uma definição geral, característica da mentalidade comum e que vai desde a experiência dos mais pequenos grupos religiosos e intelectuais até às práticas de governo».71

delegados do Congresso e 98 dos 139 membros do Comité Central foram executados». Cf., Marc Nouschi,

O Século XX, S.L, Instituto Piaget, 1995, p. 227.

67 Idem, p. 211. 68 Idem, p. 212.

69 Hannah Arendt, As Origens do Totalitarismo, Lisboa, Dom Quixote, 2001, p. 497. 70 Cf. Gilbert Maurey, op.cit., p. 107.

71 «La definizione del Seicento come «grande secolo della dissimulazione» há una dimensione generale,

Também Justo Lipsio, no célebre tratado Politicorum sive civilis doctrina (1592), se insurgiu contra a técnica da dissimulação: «sejam expulsas da vida humana simulações e dissimulações. No que diz respeito à vida privada é certo, mas da vida pública nem tanto, e não pode fazer outra coisa quem tenha em mente a República»72, escreveu um dos principais

eruditos do humanismo renascentista. Das considerações de Villari e de Lipsio é legítimo retirar pelo menos uma coisa: estar na vida pública, na esfera da acção política, é participar no seu inevitável engano e na sua necessária astúcia. Segundo Francis Bacon, um homem que se dedicou aos cargos públicos durante o reinado de Jaime I, «no que se refere às decisões o político deve reflectir, não apenas sobre o que fazer ou omitir, mas também sobre aquilo que deve simular».73 Interpretando as palavras de Bacon, Villari conclui que a «prudência» e a

«paciência» têm uma característica em comum, a saber, «a sua estreita afinidade com a técnica da dissimulação»74. Certo é que a dissimulação é, ao mesmo tempo, a arte da

paciência e, também, um elemento fundamental que caracteriza a prudência do príncipe. Com efeito, a dissimulação pode ser entendida como meio de ver a realidade tal qual ela é, pois se dissimular é fazer não parecer aquilo que é, a sua arte afigura-se como uma via que permite aceder a determinados conteúdos. Deste facto resulta que a técnica da dissimulação deixe intacto o princípio da realidade, pois ao contrário do que acontece com a simulação, a dissimulação não põe em causa a diferença do «verdadeiro» e do «falso», do «real» e do «imaginário».75 Por tudo isto, podemos dizer que ela é um instrumento do poder,

uma atitude característica da corte.

Já em A Ilha do Dia Antes (1998), Umberto Eco sublinha que devemos «aprender a fazer com a palavra arguta» o que não podemos fazer com «a palavra aberta». Para Eco, saber dissimular é «ser tecelão de palavras de seda».

A rosa parece bela porque à primeira vista dissimula ser coisa tão caduca, e embora da beleza mortal costuma dizer-se que não parece coisa terrena, ela não é mais do que um cadáver dissimulado pelo favor da idade. Nesta vida nem sempre se deve ser de coração aberto, e as verdades que mais nos importam dizem-se sempre até meio. A dissimulação não é uma fraude. É uma indústria de não mostrar as coisas como são. E é indústria difícil: para nela ser excelente é preciso que os outros não reconheçam a nossa excelência. Se alguém ficar célebre pela sua capacidade de camuflar-se, como os actores, todos saberiam que ele não é o que finge ser. Mas dos excelentes dissimuladores, que existiram e existem, não se tem notícia alguma. – E notai – acrescentou o senhor de Salazar –, que convidando a dissimular não vos convidamos a permanecer mudo como um parvo. Pelo contrário. Deveis aprender a fazer com a palavra arguta o que não podeis fazer com a palavra aberta; a mover-vos num mundo que privilegia a aparência, com todos os

pratica di governo». Cf. Rosario Villari, Elogio della dissimulazione: la lotta política nel seicento, Roma, Laterza, 1987, p. 25.

72 «Sianno dalla vita humana bandite Simulatione e Dissimulatione. Della vita privata è vero, della

publica non cosi, né altrimenti puo fare chi abbia in mano tutta la Republica». Idem, p. 19.

73 «Su queste scelte il politico deve riflettere, non solo su che fare o che omettere, ma anche su cio

deve simulare». Idem, p. 21.

74 Idem, p. 25 e ss.

desembaraços da eloquência, a ser tecelão de palavras de seda. Se as flechas perfuram o corpo, as palavras podem trespassar a alma.76

Ora, podemos fazer uma analogia entre «os excelentes dissimuladores» de que «não se tem notícia alguma», e o mito de Proteu, o deus marinho que tinha dois dons: o da «premonição» e o da «transformação». Como não gostava de prever o futuro, Proteu assumia variadas formas para espantar os que se aproximavam. Em Biologia, o mimetismo é o fenómeno que permite que um organismo se pareça com outro, obtendo alguma vantagem funcional. O objectivo desta técnica é enganar os sentidos do outro, induzindo-o a uma determinada conduta. Por crypsis entende-se o fenómeno através do qual os organismos passam despercebidos face a outros organismos, enquanto o fenómeno que permite aos organismos inofensivos confundirem-se com organismos perigosos – destacando as suas características sobretudo através da cor – se designa por aposematismo. Nada confunde mais o adversário do que este mimetismo que permite mudar continuamente de máscara, não deixando que os adversários conheçam a verdadeira face daqueles que estão diante de si.

Esta capacidade mimética está, também, presente na linguagem que pode permitir uma ocultação do pensamento. O encobrimento pode ocorrer de duas formas: usando uma linguagem esotérica, uma escrita «entrelinhas», só compreensível para os integrantes do círculo, ou recorrendo à ironia para dizer o contrário daquilo que se pensa.

Em La persécution et l’art d’écrire (1952), Leo Strauss considera que às doutrinas heterodoxas – doutrinas excluídas pela opinião reconhecida como moralmente obrigatória para todos –, só lhes resta a forma esotérica para se expor publicamente. Como, sobre este ponto, constata Strauss:

A literatura esotérica pressupõe que existem verdades fundamentais que nenhum homem honesto pode exprimir em público, porque elas causariam mal a muitos que, por terem sido feridos, terão naturalmente tendência para, por sua vez, fazerem mal aquele que exprimiu essas verdades desagradáveis.77

A linguagem é exposta de forma dissimulada no interior de uma linguagem exotérica misturando-se com os conteúdos da doutrina ortodoxa. A escrita «entrelinhas» caracteriza-se pelo recurso ao implícito velado no interior de uma escrita explícita.

Deste modo, o uso da máscara, quer seja de forma mimética, quer recorrendo a uma linguagem velada, acessível apenas a iniciados, permite confundir o adversário e fazer com que as coisas pareçam diferentes daquilo que, efectivamente, são. Como refere o Padre António Vieira, até um elemento tão puro e cristalino como a água se pode tornar escuro:

O polvo, com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge; com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma

76 Umberto Eco, A Ilha do Dia Antes, Lisboa, Difel, 2006, pp. 102-103.

brandura, a mesma mansidão. E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa, testemunham constantemente os dois grandes doutores da igreja latina e grega que o dito polvo é o maior traidor do mar. Consiste esta traição do polvo primeiramente em se vestir ou pintar das mesmas cores, de todas aquelas cores a que está pegado. As cores, que no camaleão são gala, no polvo são malícia; as figuras, que em Proteu são fábula, no polvo são verdade e artifício. Se está nos limos, faz-se verde; se está na areia, faz-se branco; se está no lodo, faz-se pardo; e se está em alguma pedra, como mais ordinariamente costuma estar, faz-se a cor da mesma pedra. E daqui que sucede? Sucede que o outro peixe, inocente da traição, vai passando desacautelado, e o salteador, que está de emboscada dentro do seu próprio engano, lança-lhe os braços de repente, e fá-lo prisioneiro. Fizera mais Judas? Não fizera mais; porque nem fez tanto. Judas abraçou a Cristo, mas outros o prenderam; o polvo é o que abraça e mais o que prende.78

Para um autor como Francis Bacon, «há três graus na arte de o homem se esconder e dissimular». O primeiro é o da discrição, reserva e segredo; serve para que não se deixe ver aquilo que é. O segundo é o da dissimulação negativa; quando o sujeito deixa sair sinais de que não é o que é. O terceiro é o da simulação afirmativa; quando se supõe que o sujeito é aquele que, efectivamente, não é.79

Todavia, existem obstáculos naturais à divulgação do segredo, obstáculos que passam pelo esquecimento, recalcamento do segredo, lei e moral. Recalcar o conteúdo de um segredo situa a operação num outro nível de complexidade que o seu simples esquecimento. O retorno de algo que repousara no inconsciente surge do estado do aparelho psíquico num determinado momento, sendo que por vezes é necessário procurá-lo nos sonhos, actos falhados ou lapsos. Eis a explicação de Deleuze e Guattari:

(…) o inconsciente recebeu a tarefa cada vez mais pesada de ser ele mesmo a forma infinita do segredo, ao invés de funcionar apenas como uma caixa de segredos. Podemos dizer tudo mas, ao mesmo tempo, não diremos nada já que é necessário possuir arte da psicanálise para medir se esses conteúdos têm, ou não, uma forma pura. Neste ponto assiste-se a uma aventura inevitável, o momento em que o segredo é elevado à sua forma. O segredo torna-se cada vez mais “fino”, espalhando-se por toda a parte uma vez que o seu conteúdo se torna molecular, ao mesmo tempo que a sua forma se dissolve.80

Com efeito, esquecimento e recalcamento podem ser considerados como obstáculos intrínsecos à divulgação do segredo, sendo que lei e moral correspondem a forças exteriores.

78 Padre António Vieira, Sermão de Santo António aos Peixes, Lisboa, RBA Editores, 1996, p. 55. 79 Cf. Francis Bacon, Ensaios, Lisboa, Guimarães Editores, 1992, pp. 45-46.

80 «(…) l’inconscient reçut la tache de plus en plus lourde d’être lui-même la forme infinite du secret,

au lieu d’être seulement une boîte à secrets. Vous direz tout, mais, en disant tout, vous ne direz rien, puisqu’il faut tout l’art du psychanaliste pour mesurer vos contenus à la forme pure. Pourtant à ce point, une aventure inévitable arrive, quand le secret est ainsi élevé à la forme. (…) Plus on en fait une forme organisatrice structurante, plus le secret deviant mince partout répandu, plus son contenu deviant moléculaire, en meme temps que sa forme se dissout». Cf. Gilles Deleuze, Félix Guattari,

Por um lado, a moral ensina que não se deve trair a confiança e a amizade que o outro nos depositou. Como refere Mazarin, «facilmente poderás ajuizar acerca da capacidade de um homem para guardar um segredo pelo facto de, a pretexto da amizade, ele não te revelar os segredos dos outros. Um método excelente é enviar-lhe uma pessoa da tua confiança que lhe faça confidências, para ver se depois as vem contar, ou que se esforce por levá-lo a revelar

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