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[...] Temos que pensar numa “Geografia” que nos faça agir com maior liberdade, passar por um repensar de questões práticas de ordem metodológicas. Não se trata de uma discussão profunda deste caráter. Tampouco de um novo método de pesquisa. Mas diríamos que desarmamento destas ferramentas para que possamos “enxergar”, o objeto de pesquisa em sua pluridimensionalidade. O instrumental metodológico, assim concebido é um processo que construímos também durante a pesquisa, no confronto sujeito & objeto e não algo que já se trás preestabelecido. Desta forma, primamos por uma visão plurimetodológica, contra a visão individualista. Na prática, isto nos permite entender que quando se vai a campo, precisamos ter olhares aguçados para observar, apreender, interpretar o objeto estudado em sua integridade, em seu movimento, na sua contradição e confirmação. Nisto por exemplo, o olhar de um estudioso da geografia irá se diferenciar de outros olhares sobre uma paisagem.

(SILVA, 2004)

A ciência geográfica é marcada por uma trajetória de diferentes “fases”, em consonância com o contexto histórico-social vigente. O novo paradigma surge à partir das pesquisas de vanguarda, que por sua vez seguem uma demanda histórico-social. No entanto, o novo paradigma não substitui completamente o velho, mas sim, estão em constante diálogo na constituição das pesquisas geográficas por meio de pontos de afinidade e desacordo. Daí a necessidade de o geógrafo compreender a formação teórico-metodológica e filosófica de cada uma delas e fazer a opção, clara, de qual/s abordagem/s utilizar nas pesquisas. Estas devem estar atentas à complexidade, às contradições e ao constante movimento da realidade dos fatos e fenômenos pesquisados.

A Geografia Agrária, no início do século XXI, influenciada pelas correntes filosóficas do pensamento que permitem diferentes interpretações, encontra-se envolvida com as questões complexas que formam o campo brasileiro, seja pela ótica do empirismo, da fenomenologia ou da dialética. Nesse sentido, a Geografia como um todo, bem como, a Geografia Agrária, passa por um momento fecundo, pois as pesquisas podem ser construídas a partir das concepções filosóficas de cada pesquisador, o que permite diversos olhares sobre o campo brasileiro, pautados em elementos econômicos, políticos, culturais e ambientais (CHELLOTI, 2009).

Para Oliveira (2004), a proposta teórica da Geografia, para compreender a realidade do campo no Brasil, deve estar vinculada ao entendimento da territorialização do capital e a monopolização do território. Isso porque o campo encontra-se predominantemente marcado pela lógica capitalista, por meio da industrialização da agricultura, ao passo que está também,

contraditoriamente, marcado pela expansão da agricultura camponesa. Na primeira situação, o capital se territorializa e expulsa os trabalhadores para as cidades, e no segundo caso, monopoliza o território, recria e redefine as relações camponesas de produção familiar, por meio da sujeição da renda da terra. Daí as inúmeras transformações territoriais no campo, bem como, a contribuição da abordagem territorial para a Geografia Agrária.

Segundo Thomaz Júnior (2010), os desafios estão postos para a Geografia do Trabalho, para a compreensão da realidade territorial do trabalho a partir do conflito das classes sociais, pois se identificam constantes mudanças nas formas de expressão do trabalho. Dentre elas têm-se a heterogeneização, a flexibilização e a fragmentação do trabalho, relacionadas à destrutividade, regressividade e irracionalidade sistêmica que promove novos sentidos, magnitudes, conteúdos e significados do trabalho. Daí a necessidade de repensar os pilares teóricos da Geografia do Trabalho, para que comtemplem as fissuras, as tramas, ou melhor, as contradições societais. Isso porque se encontra diante de limitações explicativas de um arcabouço teórico que precisa considerar todo esse complexo contexto. Cabe à Geografia do Trabalho repensar os conceitos de acordo com os novos sentidos do trabalho e do ser que trabalha, ao mesmo tempo em que deve abranger os conceitos para as diferentes formas e modalidades de trabalhadores, ou seja, que vendem a sua força de trabalho (THOMAZ JÚNIOR, 2010). Em suma, cabe à Geografia do Trabalho, contemplar os:

[...] significados e registros da identidade do trabalho, [...] a eles devemos vincular nosso interesses em (re)pensar os aprendizados teóricos dessa realidade do trabalho no século XXI, que ao se apresentar de pernas para o ar, nesse ambiente de (des)realização, pode transparecer intransponível, incompreensível, etc. (THOMAZ JÚNIOR, 2010, p. 166).

Nessa perspectiva, a Geografia do Trabalho4 vem sendo (re)construída pelos geógrafos na tentativa de compreender as fissuras do mundo do trabalho, contemplando as diversas tramas societais e as múltiplas faces da classe trabalhadora. A esse respeito, Thomaz Júnior enfatiza que seus objetivos devem:

Reconhecer as marcas territoriais do trabalho e seus significados topológicos, na sociedade em que vivemos; apreender os significados e os sentidos do trabalho, no seio da classe trabalhadora. [...] fazendo um exercício constante para o redimensionamento teórico-conceitual-metodológico, com vistas a identificar, internamente à dinâmica geográfica do trabalho, sua constante (des)realização, [...] (THOMAZ JÚNIOR, 2011, p. 04).

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O Centro de Estudos de Geografia do Trabalho (CEGeT) tem apresentado avanços nessa reflexão teórica. O núcleo de pesquisa está vinculado ao departamento de Geografia da Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Presidente Prudente (SP). Desde a sua fundação, em 1996, o CEGeT, coordenado pelo Professor Antônio Thomaz Júnior, construiu uma rede de estudos de Geografia do Trabalho formada pelo CEGeT Paraíba, pelo CEGeT Curitiba e outros núcleos de pesquisa, dentre eles o Núcleo de Estudos Geografia, Trabalho e Movimentos Socais (GETeM), do Curso de Geografia da UFG/Campus Catalão.

As pesquisas desenvolvidas na rede CEGeT tem como objetivo central compreender o mundo do trabalho e dos trabalhadores, na cidade e no campo, a partir das contradições e do conflito capital x trabalho. Nessa perspectiva, as abordagens teórico-metodológicas das pesquisas partem dos conflitos territoriais na sociedade, ocasionados pela luta de classes, com ênfase às formas concretas do trabalho no campo e na cidade. Com isso, segundo Thomaz Junior5, busca compreender o tecido social a partir do conflito. Ademais, de acordo com Thomaz Júnior, existe um compromisso político, nas pesquisas e pesquisadores, em revelar os conflitos sociais, identificando o conteúdo complexo do trabalho e as contradições do movimento territorial da classe trabalhadora no Brasil. Além disso, é objetivo dos pesquisadores, construir uma Geografia do Trabalho que auxilie na identificação e denúncia qualificada da invisibilidade das forças de exploração, dominação, controle do trabalho e da natureza pelo capital, dentre elas, as doenças ocupacionais, situações de risco, mutilações e contaminação, relacionadas à questão ambiental.

Como integrante da rede CEGeT, o Grupo de Estudos Geografia, Trabalho e Movimentos Sociais (GETeM/UFG/CNPq) está vinculado ao departamento de Geografia da Universidade Federal de Goiás (UFG), Campus Catalão (CAC). Foi criado em 2006 como um desmembramento do Núcleo de Estudos Socioambientais (NEPSA). É formado por estudantes, professores e pesquisadores da Geografia e de diversas áreas do conhecimento e, ainda dialoga com a comunidade, sindicatos e movimentos sociais. Segundo Marcelo Rodrigues Mendonça6, coordenador, as leituras e discussões realizadas pelo grupo abordam as temáticas da relação capital x trabalho, relação campo-cidade, movimentos sociais, questões socioambientais e agrárias. Especificamente, as pesquisas realizadas objetivam compreender as transformações oriundas da territorialização do capital nas áreas de Cerrado, ou seja, esse processo, em constante (re)construção é contraditório, formado por camadas, tramas, teias e redes, com diferentes tempos históricos que se materializam no espaço. Nesse sentido, tem como centralidade apreender como ocorre a subordinação da renda da terra, os efeitos disso para a relação campo-cidade, para os empresários rurais, os pecuaristas, os camponeses, os trabalhadores rurais, nas suas diferentes modalidades, bem como, para os trabalhadores de um modo geral e para os movimentos sociais que culminam em territórios em disputa. O conceito de território em disputa envolve o território hegemonizado pela lógica capitalista e o território

5 Conferência com o Professor Antônio Thomaz Júnior na XII Jornada do Trabalho realizada em Presidente

Prudente (SP) em 2012. A Jornada do Trabalho é um Simpósio anual realizado pela rede CEGeT para fortalecer o debate sobre as temáticas da Geografia do Trabalho, para os integrantes do grupo, estudantes, professores, pesquisadores e comunidade em geral que se interessem pela temática.

hegemonizado pela lógica camponesa, ambos hibridizados. Assim, analisam a sociedade a partir das transformações espaciais e temporais, produzidas pela relação capital x trabalho. Daí a necessidade de se pensar as mudanças espaciais e suas particularidades, como nesta pesquisa, dedicada ao entendimento da territorialização da agroindústria leiteira em Corumbaíba (GO).

Reconhece-se que não existe apenas uma maneira de pensar o “[...] o complexo mundo das investigações científicas. O ideal seria empregar métodos de acordo com as possibilidades de análise e obtenção de respostas para o problema proposto na pesquisa.” (SILVA; MENEZES, 2001, p. 28). Para Minayo (2003) a metodologia deve ser entendida como uma articulação entre conteúdos, pensamentos e existência, já que as concepções teóricas de abordagens, a teoria e a metodologia caminham juntas. Ela deve dispor de um instrumental claro, coerente, elaborado, capaz de encaminhar os impasses teóricos para o desafio da prática. Com isso, a metodologia ou os procedimentos metodológicos assumem um papel de destaque, pois norteiam o trabalho do pesquisador rumo aos objetivos propostos nesta pesquisa. “A metodologia constitui todo um referencial ontológico, epistemológico do pesquisador.” (BARROS, 2008, p. 72).

É válido ressaltar que a Geografia trabalha com fenômenos sociais em constante construção, por isso, a atenção em relação à escolha e restrição do método e a metodologia a serem utilizados nas pesquisas. As questões sociais são fluidas, dinâmicas e com consciência histórica, daí a necessidade de se apreender, ao menos, em partes, as complexidades da realidade e dos fenômenos investigados.

Na tentativa de compreender a territorialização do capital agroindustrial lácteo em Corumbaíba (GO) e reconhecer as mudanças espaciais oriundas desse processo buscou-se um conjunto de procedimentos metodológicos que permitissem, mesmo parcialmente, desvelar as tramas da relação capital-trabalho no Município, que significaram novas relações sociais, novas intencionalidades, novos territórios.

Entende-se que a escolha dos procedimentos metodológicos, concomitante à abordagem teórico-metodológica, conduz a pesquisa e interfere nos resultados alcançados. A própria seleção dos instrumentos e a forma como serão trabalhados, está intimamente relacionada à formação histórica, política e ideológica do pesquisador. O sucesso na utilização destes irá depender também da sua habilidade. Isso porque, a partir da empiria o pesquisador recorre a uma variedade de procedimentos metodológicos que sejam capazes de auxiliar na realização do estudo, a partir do seu compromisso e envolvimento com a pesquisa, e ainda, pelo respeito e valorização dos sujeitos e fenômenos pesquisados. Assim, não interessa aos

geógrafos somente os resultados da pesquisa, organizados numa dissertação, mas também, a trajetória e os processos de construção da pesquisa.

Nesta pesquisa, o método e a metodologia estão articulados, fazendo parte de um instrumental teórico e metodológico que configuram a forma de abordagem. No que se refere ao método de abordagem foi utilizado como centralidade o referencial teórico pautado no materialismo histórico dialético. Isso porque as interpretações da realidade, à luz deste método são as que conseguem avançar na compreensão dos fenômenos e sujeitos que a compõem, a partir da contradição. O método dialético é pautado na ação recíproca, na mudança dialética e na interpretação dos contrários, ou seja, parte do princípio de que o mundo não é formado por coisas prontas e acabadas, mas por um constante processo em que as relações estão sendo construídas e reconstruídas, a partir da contradição e dos contrários que configuram uma unidade (MARCONI; LAKATOS, 2007).

Os procedimentos metodológicos foram agrupados em três etapas principais: a pesquisa teórica; pesquisa documental; e pesquisa de campo, realizadas concomitantemente e de acordo com as ações inerentes a cada uma das etapas.

A pesquisa teórica, ou revisão de literatura foi relevante para a construção desta pesquisa, pois constituiu o momento de conhecer o que já foi publicado sobre o tema. Luna (1996) esclarece que a revisão de literatura permite mostrar através de obras já publicadas, o que já se sabe sobre o tema e quais as lacunas e entraves teóricos e metodológicos existentes; permite também a inserção do tema do problema da pesquisa num quadro teórico, ou em vários, para explicá-lo; conhecer quais procedimentos metodológicos vem sendo aplicados nas investigações desta temática, tanto para a coleta de dados, quanto para a sua interpretação; recuperar a evolução de um conceito que explique as suas evoluções e implicações. Com isso, construiu-se um referencial teórico básico que auxiliou na compreensão do objeto de estudo e dos sujeitos pesquisados.

Dentre as obras e textos consultados referentes à metodologia de pesquisa em Geografia e nas demais ciências humanas e sociais, estão: Thompson (1992), Bosi (1994), Luna (1996), Marconi; Lakatos (2007), Ramires; Pessôa (Org.) (2009), Alentejano; Rocha- Leão (2006) e Demo (2009). No que se refere às categorias espaço, território e ao processo de formação do espaço brasileiro, estão: Santos (1985; 1999; 2001; 2002), Haesbaert (2007), Raffestin (1993), Fernandes (2009), dentre outros. Sobre trabalho e reestruturação produtiva do capital, estão: Harvey (2000; 2005; 2009), Thomaz Júnior (2000; 2002; 2009) e Mendonça (2004; 2010). Sobre a relação campo-cidade, tem-se: Willians (1989) e Marques (2006). As

literaturas especificamente sobre Goiás, o Sudeste Goiano e Corumbaíba, são: Calaça; Chaveiro (2012), Gondim Júnior (2010), Carneiro (2006), Melo (2008), dentre outros.

A pesquisa documental foi realizada em arquivos públicos, tais como projetos de lei e leis, publicados pela Câmara Municipal de Corumbaíba (GO), onde foi possível conhecer as leis municipais de incentivo e concessões para as indústrias que se instalaram, ou desejam se instalar no Município. E ainda, pesquisa em arquivos da Cooperativa dos Produtores Agropecuários de Corumbaíba (COOPAC) para conhecer o histórico, a dinâmica da Cooperativa, e ainda, a relação entre os cooperados.

Os dados censitários foram obtidos nas publicações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), onde constam dados gerais do País, dos estados e municípios brasileiros. Já os dados, especificamente sobre Goiás e Corumbaíba, foram obtidos nos sites da Secretaria de Estado de Gestão e Planejamento do Estado de Goiás (SEGPLAN/GO), da Superintendência de Estatística, Pesquisa e Informações Socioeconômicas do Estado de Goiás (SEPIN/GO) e do Instituto Mauro Borges. As informações sobre o espaço urbano foram obtidas na Secretaria Municipal de Ação Urbana e na Secretaria Municipal de Finanças de Corumbaíba (GO).

O trabalho de campo é um importante recurso metodológico para as pesquisas em Geografia. Nesta pesquisa, esteve aliado à observação, à observação participante, ao diário de campo e às fontes orais, ou seja, às entrevistas semiestruturadas. Além de possibilitar um avanço na compreensão da realidade complexa e contraditória que compõe estas tramas, teias e redes que (re)constroem os espaços, territórios e os sujeitos que neles atuam, tais instrumentos permitem que as pesquisas geográficas sejam construídas a partir da dinâmica da realidade, e não apenas como pesquisas de gabinete, as quais acabam priorizando as abordagens teóricas, que em si, não contemplam as suas heterogeneidades e especificidades dessa realidade.

A complexidade inerente à realidade investigada enfatiza a necessidade de os geógrafos retornarem literalmente ao campo, para confrontarem a diversidade que não pode ser reduzida aos esquemas teóricos fechados e inflexíveis, pois é o próprio movimento da realidade que os alimenta. Nesse sentido, não se pode dispensar a reflexão articulada na investigação do campo que está em constante transformação (PAULINO, 2012).

O trabalho de campo é entendido como um instrumento que possibilita a interação entre a teoria e a prática. Isso porque se constitui “[...] como uma ferramenta a serviço dos geógrafos, desde que articulada com a teoria, capaz de possibilitar a conexão da empiria com a teoria.” (ALENTEJANO; ROCHA-LEÃO, 2006, p. 54). Nesta pesquisa o trabalho de

campo foi realizado a partir de uma teoria que o fundamentou e ofereceu subsídios para que a coleta e a interpretação das informações e dados fossem elaboradas a partir das suas aparências, mas em busca da sua essência, articulando-os entre o local e o global. Nesse caso, buscou-se compreender “o mundo no lugar e o lugar no mundo”, conforme enfatiza Mendonça (2004). Com isso, a pesquisa visa trazer uma “Geografia do Município”, porém na sua relação com o mundo, ou seja, Corumbaíba (GO) no mundo.

O caráter imprescindível do trabalho de campo para a ciência geográfica, como um todo, bem como, para as pesquisas em Geografia Agrária e na Geografia do Trabalho, se deve ao fato de que tanto o campo brasileiro quanto o mundo do trabalho e dos trabalhadores passa por reformulações, experimentando uma série de mudanças oriundas da chamada modernização conservadora da agricultura, desde os anos 1970 e da reestruturação produtiva do capital e do trabalho, desde os anos 1990. Nesse contexto surgem novas territorialidades e novas lógicas produtivas que não eliminam por completo as práticas preexistentes, como as práticas camponesas, por exemplo, mas ao contrário, são reelaboradas e inseridas na “nova lógica” de reprodução do capital. Nesse aspecto, o trabalho de campo oportuniza o contato entre a dinâmica inerente ao movimento do real e a teoria que fundamenta a pesquisa, e ainda, a formulação de um campo teórico-conceitual que seja capaz de explicar os fatos e fenômenos que o compõe.

Tanto o trabalho de campo, quanto a observação, a observação participante, as entrevistas e o diário de campo são instrumentos utilizados, sobretudo, na pesquisa qualitativa, embora a pesquisa quantitativa também signifique um eficiente recurso metodológico.

Nesta pesquisa, a pesquisa quantitativa foi aliada à pesquisa qualitativa, pois ambas se complementam. Para Matos; Pessôa (2009) a pesquisa qualitativa difere-se da pesquisa quantitativa por questões teórico-metodológicas: a pesquisa quantitativa estabelece e segue planos elaborados com rigidez, quantificando os resultados. Já a pesquisa qualitativa é direcionada ao longo do seu desenvolvimento, consiste na interpretação dos fatos e fenômenos estudados. Estas formas de pesquisas podem ser utilizadas de forma complementar, pois “[...] qualitativos e quantitativos são diferentes, porém não são excludentes. [...]”. (SOUZA JÚNIOR, 2009, p. 27).

Os trabalhos de campo foram realizados na cidade e no campo em Corumbaíba (GO). Na cidade, foram visitados os bairros e ruas no intuito de conhecer a dinâmica de cada um, perceber as mudanças espaciais, identificar as relação sociais estabelecidas, assim como, as diferentes formas de territorialização do capital e do trabalho que (re)constrói o espaço e se

materializa na paisagem. Além disso, foram visitados os seguintes locais: sede do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Corumbaíba (STTR), Sindicato dos Produtores Rurais de Corumbaíba (SPR), da Cooperativa dos Produtores Agropecuários de Corumbaíba (COOPAC) e na sede da Italac Alimentos.7 No campo foram visitadas as propriedades rurais do Município que se dedicam à atividade leiteira. Dentre elas, uma propriedade onde a família fabrica queijos; cinco propriedades especializadas na produção leiteira, denominadas empresas rurais; seis propriedades camponesas que vendem leite para a COOPAC; e outras seis propriedades de pecuaristas que fornecem leite in natura para a Italac Alimentos8.

A observação constituiu o princípio para os trabalhos de campo, já que proporcionou o contato com o espaço, com a paisagem e com os sujeitos a serem investigados. A observação participante também foi desenvolvida nesta pesquisa. Souza Júnior (2009) afirma que a observação participante é a possibilidade de maior aproximação entre o pesquisador, os sujeitos da pesquisa e a realidade socioespacial da qual fazem parte. Esta estratégia metodológica permitiu uma maior percepção em relação ao mundo vivenciado pelos sujeitos da pesquisa, oportunizando uma análise além do discurso que se instaura. A observação participante foi realizada em uma empresa rural, em uma propriedade camponesa e em uma propriedade de pecuarista9, objetivando conhecer a organização interna da unidade produtiva, as relações de trabalho, tais quais, as diferentes formas de manejo do gado e os distintos sujeitos que nela atuam sendo: os pecuaristas, os empresários, os trabalhadores rurais e as famílias camponesas.

“A utilização de entrevistas como fonte vem de muito longe e é perfeitamente compatível com os padrões acadêmicos.” (THOMPSON, 1992, p. 22). Esta fonte de dados adquire centralidade nas pesquisas em Geografia, pois oferece novas perspectivas e revela novos campos de pesquisa por valorizar os diferentes saberes e a memória do homem. Ademais, permite que os sujeitos forneçam dados e informações fundamentais para a compreensão da dinâmica da realidade investigada.

7 Vale destacar que a empresa não permitiu a realização de trabalho de campo na unidade fabril. Mesmo assim, o

gerente de política leiteira concedeu uma entrevista sobre a relação estabelecida entre a empresa e os produtores/fornecedores de leite.

8 O ponto de partida para a pesquisa nas propriedades rurais foi a sondagem da diversidade de propriedades