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Mapa 8 – Espacialização da produção de leite em Goiás Fonte – Goiás (2012)

2.2 Do complexo agroindustrial (CAI) ao sistema agroindustrial lácteo brasileiro: o papel do Estado

2.2.3 A pecuária leiteira em Goiás

69).

O autor salienta ainda que:

As diversificações na forma de produzir e de adequar a produção, segundo as necessidades datadas de acumulação do capital, refletem implicações da Renda Capitalista da Terra [...] na redefinição das formas de sociabilidade. Implica dizer que, sob as mais distintas formas, que a mesma se estabelece como mediação da incorporação da divisão social do trabalho como generalização possível – ao menos enquanto sentido, porque não estamos desconsiderando aqui a produção de relações não capitalistas de produção – das relações de produção no campo, introjetadas, sob a moldura da agroindústria, como necessidade do capital urbano-industrial. [...] Trata-se de formas de incorporação de desigualdades à racionalidade capitalista, ainda que sob relações de produção distintas [...] (ALFREDO, 2008, p. 103).

As constantes necessidades de modernização, mediante a realização de empréstimos para atender às imposições do mercado, dentre outros aspectos, ilustram alguns dos efeitos da reestruturação produtiva e da mundialização do capital na dinâmica do setor lácteo brasileiro como um todo, e por consequência, nas diferentes bacias leiteiras, dentre elas, a de Corumbaíba (GO). Nota-se que a reestruturação produtiva do capital e do trabalho traz mudanças na dinâmica dos laticínios e na organização da produção nas propriedades rurais, bem como, na relação entre esses dois agentes do setor lácteo.

2.2.3 A pecuária leiteira em Goiás

Para Clemente (2006), os fatores que têm direcionado espacialmente a produção de leite para o Cerrado estão relacionados à:

[...] fluidez espacial que permitiu a integração entre os diferentes mercados e espaços de produção, no qual a concorrência entre eles passou a se dar de forma acirrada. A menor perecibilidade do leite e derivados, fez com que produtos de procedências e níveis de qualidade diversos passassem a disputar o mesmo setor geográfico de consumo. Neste cenário, o leite do cerrado vem se destacando por ser mais competitivo que o leite produzido nas chamadas bacias tradicionais de Minas Gerais e de São Paulo (CLEMENTE, 2006, p. 94-95).

Na emergente bacia leiteira goiana predominou o sistema de alto nível tecnológico, com modernização crescente, incentivos fiscais e aquisição de equipamentos e animais especializados, muitos oriundos das bacias leiteiras paulistas, principalmente a forte introdução da granelização do leite desde 1997 e a produção de forragens durante todo o ano. Isso porque o processo de modernização parcial da agropecuária nacional expandiu a fronteira produtiva para o Centro-Oeste. Esse movimento foi motivado pelos seguintes fatores: aumento no consumo do leite longa vida, podendo ser transportando por longas distâncias; crise da pecuária de corte tradicional, fazendo com que os produtores se dedicassem ao leite; crise na agricultura nos primeiros anos do Plano Real; reduzido custo da terra; linhas de

financiamento do FCO46 e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), dentre outros; e o avanço da indústria de laticínios para essa região (PAULILLO; HERRERA; COSTA, 2002).

Mesmo que a expansão da modernização da produção leiteira tenha se instalado em Goiás, conferindo características de especialização da produção, bem como, a presença de um alto nível tecnológico, é preciso ressaltar que de um modo geral, “[...] o atual contexto do sistema agroindustrial do leite no Brasil é dominado por uma produção não especializada, em que grande parte dos produtores se dedicam, além da produção de leite, a outras atividades [...].” (CRISTINA DOS SANTOS, 2004, p.51).

Clemente (2006) ressalta que:

[...] no Brasil a produção de leite sempre esteve baseada em pequenas e médias propriedades, gerenciadas por proprietários descapitalizados e com baixa utilização de tecnologias, caracterizando sistemas de produção rudimentares que se aproximavam muito do extrativismo, ou quando não praticada por pecuaristas de corte que se dedicam ao leite apenas nos períodos que a carne não apresentava bons preços, sendo portanto, um subproduto da pecuária de corte. Tais condições têm colocado os produtores de leite não especializados numa situação bastante vulnerável frente às novas exigências do mercado, sobretudo aqueles que dependem da renda obtida com a venda do leite para sobreviverem (CLEMENTE, 2006, p. 86- 87).

A migração da produção leiteira para os Estados produtores emergentes, como Goiás, por exemplo, está relacionada à mobilidade geográfica do capital e às mudanças do trabalho (HARVEY, 2005). Ao mesmo tempo, acentua o efeito social da política da redução de custos de transação da grande indústria láctea, mas marginaliza o campo, conduzindo pecuaristas descapitalizados à clandestinidade ou à retirada do setor. Isso porque:

O processo de migração da produção leiteira para os Estados produtores emergentes como Goiás potencializa esse efeito social. As grandes empresas avançam na captação do leite dessas regiões, já que os produtores apresentam melhor sustentação para o endividamento e a modernização produtiva, pois os preços da terra são mais baixos, há incentivos fiscais dos governos estaduais, a produção de grãos é elevada e, consequentemente, os custos de produção são mais baixos (PAULILLO; HERRERA; COSTA, 2002, p. 198).

Além da compra do leite in natura, as unidades de beneficiamento de muitas empresas também migraram para as novas bacias leiteiras. Figueira; Belik (1999), afirmam que vem ocorrendo um deslocamento de empresas de laticínios para a região do Cerrado,

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O FCO tem por objetivo contribuir para o desenvolvimento econômico e social da Região Centro-Oeste, mediante a execução de programas de financiamento aos setores produtivos, em consonância com o Plano Regional de Desenvolvimento. Na qualidade de administrador do Fundo, o Banco do Brasil oferece apoio financeiro aos investimentos de produtores rurais, pessoas físicas ou jurídicas e pessoas jurídicas de direito privado que se dediquem à atividade produtiva nos segmentos agropecuário, mineral, industrial, comercial e de serviços, agroindustrial e turístico da Região Centro-Oeste. (Disponível em: <www.mi.gov.br>. Acesso em: 17 de maio de 2012, às 11h).

favorecido principalmente pelo aumento do consumo do leite longa vida, tanto no que se refere às cooperativas centrais e algumas singulares, quanto às empresas privadas. Essa tendência se deve à aquisição de matéria prima na região por preços menores. Já que a diferença de preço da matéria prima gera desvantagens competitivas para algumas empresas onde o custo da matéria prima é mais elevado.

Segundo Costa e Silva (2005) a modernização da pecuária leiteira em Goiás, ocorrida a partir dos anos 1990, foi marcada pelo aumento da produção, pelo crescimento econômico e pela concentração de renda. Em Piracanjuba (GO), a produção de leite é uma atividade do pequeno e médio proprietário de terras, com média de 124,6 ha e a maior parte da mão de obra utilizada é familiar. Nesse período, um grupo de pequenos e médios proprietários modernizaram fortemente sua produção com a introdução de raças leiteiras europeias, mais produtivas, que promoveram a adoção de diversos insumos e a mecanização da produção com o uso de ordenhadeiras, o que significou o aumento da produção e da produtividade. Mas, esse crescimento não foi acompanhado pela melhoria das condições de trabalho e da qualidade de vida dos trabalhadores que atuam no setor. O aumento da renda foi apropriado pelas empresas que passaram a atuar no mercado de leite, tais como: “[...] a indústria veterinária; a indústria de máquinas agrícolas; as centrais de sêmen; as indústrias de rações; as indústrias de sementes e adubos; os laticínios [...]” (COSTA E SILVA, 2005, p. 52). Então:

[...] teria havido na década de 1990 um processo de transferência do setor rural para o industrial e um processo de concentração de renda dentro da cadeia produtiva do leite. A pecuária leiteira repete o mesmo padrão de todo o desenvolvimento da história brasileira: processos modernizantes se sobrepõem a estruturas reacionárias (relações de trabalho atrasadas) já existentes sem eliminá-las. A modernização brasileira sempre foi do tipo reacionária, produtivista, chamada também de conservadora (COSTA E SILVA, 2005, p. 52).

Segundo a Secretaria de Gestão e Planejamento do Estado de Goiás (SEGPLAN) Goiás ocupou o 2º lugar em vacas ordenhadas no Brasil nos anos de 2000, 2005-2010. Em 2010 apresentou um total de 2.479.869 vacas ordenhadas. Ocupou também em 2000 e 2005 o 2º lugar na produção de leite no País, o 4º lugar nos anos 2006 e 2007, o 3º lugar em 2008 e 4º lugar em 2009 e 2010. A produção total de leite no ano de 2010 foi de 3.193.731 (mil) litros. Além da produção, a produtividade também aumentou, passando de 0,54 em 1995, 1,09 em 2000, 1,13 em 2005, e 1,28 em 2010. A Tabela 11 mostra a quantidade de rebanho bovino, de vacas leiteiras e a produção de leite no período de 1995 a 2010.

Tabela 11 - Estado de Goiás: rebanho bovino e produção de leite (1995-2010)

Ano Rebanho bovino* Vacas leiteiras* Produção de leite**

1995 18.492.318 2.680.338 1.450.158

2000 18.399.222 2.006.038 2.193.799

2005 20.726.586 2.334.558 2.648.599

2010 21.347.881 2.479.869 3.193.731

*Cabeças.

** Valor em mil litros.

Fonte - IBGE/ SEPLAN-GO/SEPIN/Gerência de Estatística Socioeconômica – 2010. Organização - CARNEIRO, Janãine D. P. L., 2012.

Carvalho (2011) apresenta um estudo acerca da produção atual da bacia leiteira goiana, suas principais características e especificidades. Para o autor, Goiás teve um grande aumento da produção na década de 1990, já no período entre 2000 e 2009, houve uma desaceleração. Esta estagnação no crescimento, em comparação aos da região Sul, estaria relacionada ao baixo preço pago pelo produto no mercado, em relação ao alto custo do processo produtivo, o que acaba por desestimular o investimento nesse setor por parte dos produtores em geral.

O estado havia sido o grande destaque da década de 90, com crescimento anual que chegou, em dado momento, a atingir mais de 35%, segundo o IBGE. [...] O estado foi o berço da Centroleite, que de forma inovadora passou a reunir grande quantidade de leite para comercialização conjunta, obtendo como resultado uma equalização dos preços com Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, os redutos mais tradicionais. [...] Apesar de tudo isso, o leite em Goiás não manteve o ritmo. Pelo contrário, vem sendo ultrapassado em crescimento por outros estados que, embora tenham largado atrás, vem obtendo taxas de crescimento superiores. Nesta década, o crescimento relativo de Goiás foi ultrapassado pelo de SC e do PR (CARVALHO, 2011, p. 01).

Segundo a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (FAEG)47, de 2000 a 2007, a taxa de crescimento da produção de leite de Goiás foi de apenas 2,48% ao ano, e a de Santa Catarina, de 9,01% ao ano. Se continuar nesse ritmo, Goiás passará, em breve, ao quinto lugar na produção leiteira. A queda no ritmo de crescimento foi atribuída à falta de assistência técnica, inexistência de políticas eficazes de renda, dificuldades em gerenciamentos de custos e riscos da atividade, bem como, o desestímulo ao produtor.

Em 2009 foi realizado pela FAEG e pelo SENAR48, um estudo acerca do sistema lácteo goiano. O Diagnóstico da Cadeia Produtiva do Leite em Goiás foi elaborado a partir das declarações de 500 produtores selecionados por critérios de faixa de produção e

47 A Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (FAEG), uma entidade de grau superior, sem fins lucrativos,

que tem como fim exclusivo, a defesa do produtor rural. Faz parte do sistema da Confederação da Pecuária e Agricultura do Brasil (CNA) entidade máxima de representação dos agricultores e pecuaristas brasileiros, junto com outras 26 federações. Lidera o sistema FAEG/SENAR-Goiás/Sindicatos Rurais. A Faeg é uma instituição privada composta por sindicatos rurais de 126 municípios goianos que são base dos demais que formam o conjunto das 246 cidades goianas. A FAEG-GO é mantida por 60 mil produtores rurais goianos que são empresários ou empregadores rurais. (Disponível em: www.sistemafaeg.com.br).

distribuição geográfica. Os temas abordados referiam-se à produção, produtividade, renda, preços dos insumos e serviços, com enfoque para os três segmentos: produção, indústria e varejo. Os dados foram coletados no período entre julho de 2008 e julho de 2009.

No segmento indústria, segundo o Diagnóstico da Cadeia Produtiva do Leite em Goiás (2009), nota-se um parque industrial moderno, todavia, com capacidade ociosa; elevado poder de competição da cadeia produtiva do leite goiano, nos mercados interno e externo, em razão do baixo custo da produção; maior concentração no segmento da produção do que na indústria; distância de Goiás dos principais centros de consumo, indicando a necessidade de enfatizar a produção leiteira com mais sólidos; continuidade na compra, pela indústria láctea estadual, de parte do leite diretamente dos produtores e de parte, no mercado spot49; facilidade de rastreabilidade, devido à compra direta. Já no segmento varejo, o leite UHT é o mais vendido nos supermercados, funcionando como um chamariz, com pequena margem de lucro para o supermercado; já a margem de ganho de queijos é elevada; o preço pago pelo consumidor do leite longa vida é influenciado pelo elevado preço da embalagem e, o varejo trabalha com grande diversificação de produtos lácteos.

No que se referem aos produtores, os principais pontos evidenciados no Relatório foram os seguintes: a produção de leite em Goiás é típica de pequenas propriedades com a braquiária brizanta como principal pastagem; o elevado capital investido apareceu em todos os estratos, sobretudo, para os de até 50 litros de leite por dia; na composição capital investido, a “terra” ficou em primeiro lugar, o que indica a predominância de sistemas extensivos de produção de leite, e o menor, na aplicação de tecnologias; a adoção de tanque de resfriamento é de 41%, sendo 4,10% nos produtores de até 50 litros e de 100% para os de acima de 1.000 litros; diante das dificuldades com mão de obra para o manejo do rebanho, o uso de ordenha mecânica foi feito por 24,20% dos entrevistados e o botijão de sêmen, por apenas 12,80%; a irrigação foi utilizada por apenas 2,80%, o que revela um baixo nível tecnológico, já que os produtores evitaram tecnologias intensivas objetivando garantir a sobrevivência do sistema de produção.

Nesse sentido, o produtor seleciona um pacote tecnológico equilibrado; os produtores de leite em Goiás se dedicam a atividade leiteira por muitos anos, são experientes, o que, por um lado, facilitou a estabilidade do negócio, por outro lado, representou resistência às mudanças tecnológicas; a maior permanência do produtor junto à atividade leiteira facilita a

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O mercado spot abrange basicamente operações na bolsa de mercadorias. É muito usado por produtores agrícolas quando precisam urgentemente de recursos financeiros ou quando o preço de seus produtos está em um patamar elevado (Disponível em: www.milkpoint.com.br).

administração dos negócios; a falta de controle leiteiro na maioria das propriedades, sobretudo nas de menor produção, contribui para as deficiências na administração da atividade; quanto à mão de obra empregada os pequenos produtores, onde predominam a mão de obra familiar, avaliaram como boa qualificação, já os maiores produtores, onde predominam os contratos, avaliaram de forma ruim ou regular.

Sobre a assistência técnica, 51,80% dos entrevistados não receberam nenhuma assistência técnica, e apenas 23,30% receberam entre uma e duas visitas por ano; a assistência técnica recebida pelos produtores foi prestada pelas empresas de laticínios, cooperativas e empresas de insumos; a adoção de tecnologias sobre rotação de pastagens, concentrado para vacas leiteiras e silagem foi adotado com mais frequência nos maiores produtores; quanto ao número de ordenhas por dia, 56% realizavam apenas uma, e no estrato de até 50 litros de leite por dia, 91,80%; a inseminação e o aleitamento artificial foram pouco adotados pela maioria dos produtores entrevistados, com destaque apenas para os produtores acima de 1.000 litros; quanto ao sistema de produção predominou a natural não controlada; a maior frequência de produtores com vacas sem padrão definido foi no estrato de até 50 litros de leite por dia, já os maiores produtores possuíam vacas com maior grau de sangue holandês; a maioria dos entrevistados não concordou com o sistema de pagamento por leite-cota e leite-excesso, nem com a bonificação por volume, mas concordou com a bonificação por qualidade; a isenção do pagamento de frete foi uma prática generalizada entre os entrevistados; o resfriamento do leite foi adotado pela maioria dos produtores, mas os entrevistados com até 50 litros de leite por dia adotaram-no com baixa frequência; a queda do preço do leite e margem bruta por litro levam o produtor a buscar mais volume de produção; embora permaneçam na atividade, em razão da margem bruta ser positiva, verificou-se um contínuo empobrecimento do produtor, que não consegue remunerar a mão de obra familiar ao custo de oportunidade e também não conseguia manter o capital investido, onerando a mão de obra familiar ao custo de oportunidade e também não conseguia manter o capital investido, o que onerava os custos pela depreciação deste capital; quando perguntado por que se dedicar à produção de leite, a resposta mais comum foi “[...] porque tem renda mensal” _ o que revela a busca pela estabilidade de seus negócios.

Dessa forma, na cadeia produtiva de leite em Goiás, muitos produtores produzem pouco e, uma minoria deles produz muito. A principal mão de obra empregada é a familiar, e o nível tecnológico ainda é baixo para a maioria dos produtores. Além disso, do ponto de vista mercadológico, a atividade no estado não é especializada, observa-se uma grande quantidade

de produtores que se dedicam à produção leiteira na garantia de renda mensal, e por conciliá- la a outras atividades produtivas da terra, tais como, a pecuária de corte e outras atividades agropecuárias. Os maiores problemas enfrentados pelos pequenos produtores são a “falta de crédito rural” e a “deficiência de informações técnicas”; já os problemas enfrentados pelos grandes produtores são a “deficiência na qualidade da mão de obra” e “deficiência de informações de mercado”. Isso revela a heterogeneidade do setor de produção láctea no estado, onde de um lado têm-se os produtores tecnificados e especializados na atividade leiteira, e de outro lado, as unidades produtoras camponesas, com o trabalho familiar e pouca, ou nenhuma tecnologia empregada. Cada um desses perfis de produtores tem dinâmicas de funcionamento distintos, apresentando desafios para se manterem no setor e ampliar a quantidade e a qualidade do leite produzido (FAEG/SENAR, 2011).

Com base no Diagnóstico da Cadeia Produtiva do Leite em Goiás realizado em 2009, pode-se dizer que a atividade leiteira está presente na maioria das propriedades rurais, cuja produção é destinada ao mercado. Todavia, dentre as mesmas tem-se uma minoria especializada, com alta produção e produtividade, e ainda, a maioria de propriedades em que a pecuária leiteira é realizada de maneira extensiva, não especializada que utiliza mão de obra familiar. Estas enfrentam problemas com a falta de assistência técnica, queda do preço do leite no mercado, sobretudo, a partir da política de preços do leite por quantidade e qualidade implantadas pelos laticínios que atingem principalmente os pequenos produtores. Os produtores, especializados ou não, diante da reestruturação do setor agroindustrial lácteo nos anos 1990, estão inseridos na dinâmica do capital agroindustrial e financeiro, representado pelos Laticínios e pelas indústrias de insumos e equipamentos. Nesse contexto veem-se diante da problemática, entre se especializar na produção leiteira para atender as exigências do mercado, garantindo maior lucratividade, ou manter-se no mercado, mas mantendo a pluriatividade e garantido a sua reprodução enquanto unidade camponesa de produção.

Para o Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Goiás tem o pior serviço de extensão rural do País, junto com o Piauí.50 Além disso, no estado, a assistência técnica é restrita e há grande dificuldade em fazer com que as tecnologias cheguem às famílias camponesas, já que apenas 10% delas tem acesso ao serviço. Essa realidade está relacionada às políticas governamentais, como as

50 Esta afirmativa é do diretor do Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ministério do

Desenvolvimento Agrário (MDA), Argileu Martins da Silva, proferida durante o 11º Congresso Internacional do Leite, realizado em Goiânia (GO), em novembro de 2012. Para o diretor é preciso reorganizar a Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater - GO), que foi desintegrada durante os últimos governos (MCP, 2012).

desempenhadas pela Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado de Goiás (SEAGRO), com ações voltadas, exclusivamente ao agronegócio e aos latifundiários ligados à Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (FAEG). A falta de política pública voltada para os produtores camponeses é ressaltada pelo MCP (2012), ao afirmar que “[...] as poucas ações são, apenas, de caráter assistencialista, e diante disso não se pode esperar outra coisa a não ser o abandono às famílias camponesas por parte do estado” (MCP, 2012).

De acordo com o presidente da FAEG, José Mário Schreiner51, o desestímulo enfrentado pelos produtores de leite decorre de um conjunto de fatores que precisam ser combatidos para que a atividade retome a pujança de anos anteriores, sobretudo, com políticas voltadas para o setor. O problema enfrentado pelos produtores, como mão de obra escassa e não qualificada para lidas com inovações tecnológicas, insegurança no mercado e falta de assistência técnica, se associa às grandes importações, surge então, a necessidade de estabelecer cotas às importações de leite em pó e queijos provenientes da Argentina, Uruguai