• Nenhum resultado encontrado

TEMA / ASSUNTO

5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

5.3 Categoria Hierarquia e Equipe de Trabalho

Nesta categoria, buscou-se avaliar as relações hierárquicas, a distribuição de poder e as relações interpessoais entre servidores e juízes no TJBA.

O Poder Judiciário está organizado como uma instituição de hierarquia rígida, com grande distância de poder entre a base (servidores) e o topo (juízes) e na qual uma mudança de posição, praticamente, somente pode ocorrer mediante novo concurso. Essa hierarquia rígida pode ser observada na organização de tribunais de justiça no âmbito estadual, como é o

caso do TJBA.

Assim, a única possibilidade de ascensão dentro do Tribunal de Justiça são os cargos comissionados, como de assessor de juiz, sendo que, na percepção dos servidores, nem sempre estes cargos são ocupados por critério de meritocracia. O cargo de assessor, apesar do status e da remuneração diferenciados, está sujeito às definições do juiz e é uma colocação provisória - o assessor está assessor. Os comentários dos entrevistados 9 e 31 tratam deste aspecto. Estes comentários, também, sugerem que a escolha dos assessores estaria mais ligada a aspectos de relacionamento, compadrio e troca de favores do que a aspectos técnicos e objetivos, levando, mais uma vez, a associação com o personalismo apontado por Holanda (2022) e Freitas (1997).

(...) quando eu olho para a estrutura e vejo, principalmente tribunal, e vejo que as pessoas com cargo comissionados, são pessoas que não têm a capacidade para estar exercendo, e são os que recebem os maiores salários. Sãos essas coisas que nos entristece. Porque não é meritório. (...) Como era na época da monarquia, se você é amigo do rei, você tem tudo. Não necessariamente você é uma pessoa competente para estar ali. (E9)

Só que se eu for crescer, o que é, seria assessoria junto ao tribunal de justiça. Mas isso envolve o que, conhecer alguém, se isso e tal... e um cargo que você sempre está com a corda no pescoço, porque você fica sempre refém de alguma situação. (E9)

Eu sou assessora, mas eu não digo a ninguém. O pessoal não gosta de assessor. (...) Porque a pessoa está assessora, ela não é assessora. É função. É de livre nomeação e de livre... amanhã, eu volto para meu cargo. Segundo, porque quem não é, acha que a pessoa está sendo premiada só com um valor a mais, com um adicional. Não, tem o ônus e o bônus. E o ônus é alto. (E31)

Apesar das atribuições do assessor serem distintas das do juiz, vários entrevistados afirmaram realizar inúmeras tarefas que, a princípio, seriam exclusivas do juiz como, por exemplo, dar sentenças, conforme pode ser observado nos relatos dos entrevistados 22 e 23.

A sentença é exclusiva do juiz. Eu não poderia fazer sentença, é a função dela. Eu não poderia fazer sentença, Eu poderia fazer despacho ou então assessorar ela, mas eu acabo fazendo quase tudo, mesmo que ela corrija depois. (E22)

Devido a essa falta de juízes, o que que o tribunal faz, um remendo. Ele coloca alguns servidores para serem assessores de juiz. Pra que esse assessor? Já, que um juiz custa caro, fazer o concurso e ao mesmo tempo pagar um juiz, então, ele coloca um assessor. Ele vai ajudar o juiz a fazer as sentenças. Isso é comum no tribunal. (E23)

Desse modo, os assessores parecem, em muitos casos, ter atribuições que pertenceriam aos juízes, mas sem o mesmo status. Em comparação com os demais servidores, porém, o status dos assessores é diferenciado. É possível observar esta situação nos comentários dos entrevistados 30 e 32,

Hoje, eu que sou assessor do juiz e eu faço, praticamente, o mesmo trabalho que ele faz e é como se eu fosse um nível abaixo. (E30)

Como assessora eu me sinto reconhecida não só financeiramente, mas pelo respeito da sociedade, que a sociedade não costuma enxergar o técnico. É aquele tipo de coisa, a gente vê o gari varrendo, você passa e é como se ele fosse parte daquele patrimônio e não uma pessoa que está exercendo uma atividade, é invisível. Então, o técnico, (...), ele termina sendo invisível e isso faz com que fique insatisfeito com a instituição, porque não dá para ter raiva da sociedade toda. (E32)

Na rígida hierarquia do Judiciário, o juiz é percebido pelos servidores como tendo grande poder. Esse poder do juiz extrapola as questões de burocracia profissional. Os juízes são vistos, em alguns momentos, como quase intocáveis e podendo fazer o que quiserem, inclusive determinarem atribuições e responsabilidades aos servidores à revelia destes. A prática social do manda-chuva, descrita por Junquilho (2003) como o “manda quem pode, obedece quem tem juízo” pode ser claramente identificada. A grande distancia entre a posição do servidor e a do juiz, também, remete a uma situação de elitismo (RIBEIRO, 1995; FURTADO, 1999).

Os entrevistados 21, 5 e 32 fazem comentários a este respeito.

Eu acho que é posição no sentido de hierarquia. Eu acho que, assim, o servidor está procurando uma posição de destaque interno tanto quanto o magistrado. Então, tem aquela divergência, o magistrado tá no topo e o servidor é o escravo. (E21)

Eu vim agora, nós viemos agora de duas juízas jovens, passaram lá acho que três anos, aquela juizite aguda. Gabinete, passa, não te dá “bom dia”, nem “boa tarde”, não olha para você e quando surge uma situação, é você, “você vai ter que fazer”. “Se você não fizer, eu comunico para o tribunal”. É um processo administrativo. Assim, eu substituo, não recebo. Como você assume a titularidade sem receber... e você é obrigado estar ali... então eu substituo, substitui cinco meses uma colega, e eu cheguei de licença estava lá a portaria. A juíza também estava de licença, também deixou a portaria e saiu. Aí, quando ela chegou, me disse: “Eu soube que a senhora está insatisfeita revoltada, se irritou, mas vai ter que ser assim”. (E5)

É uma imposição. Eu substituí durante vários anos e se você recorre ao seu chefe imediato que, nesse caso é o juiz, ele não tem o que fazer e vira e fala; "você vai ficar". É uma maneira até uma posição coronelista do tribunal. "Eu mando e você tem que fazer ou então, pegue suas coisas e vá embora". (E32)

A situação de grande poder do juiz apresentada nos relatos remete a aspectos de patriarcalismo, onde a posição do juiz tem similaridades à do senhor do engenho no Brasil colonial. De acordo com Freitas (1997), o traço hierarquia tem suas origens associadas à família patriarcal e apresenta como características-chaves: (1) tendência à centralização do poder dentro dos grupos sociais; (2) distanciamento nas relações entre diferentes grupos sociais; e (3) passividade e aceitação dos grupos inferiores.

Essas três características podem ser observadas no âmbito do Tribunal de Justiça da Bahia, na medida em que o poder está concentrado com os juízes, existe distanciamento nas relações entre servidores e juízes e os servidores aceitam a situação passivamente.

A concentração de poder nos juízes, também, pode ser associada a práticas patrimonialistas, na medida em que o público, muitas vezes, passa a ser tratado como privado, conforme foi mencionado anteriormente na análise da Categoria Normas e Procedimentos de Trabalho. O entrevistado 32 relaciona este comportamento de práticas patrimonialistas, não apenas ao juiz, mas ao Tribunal de Justiça de um modo geral.

O Tribunal de Justiça no estado da Bahia, ao que me parece, é um órgão público, mas que carrega característica de privado. Não digo isso nem só pelo próprio Tribunal aqui em Salvador, mas pela postura de servidores no interior das comarcas, entendeu? (...) Então, a cultura o que me parece é que eu sou o presidente, eu sou o juiz, eu sou o supervisor, o assesssor do juiz, o desembargador eu posso mandar mais eu tenho o poder de decidir se isso aqui é meu, isso aqui é seu. Apesar de ser público, eu vou fazer uso dessa máquina do jeito que eu quiser. É essa a visão que o Tribunal passa, mistura um pouco o que é público e o que é privado. Acha que é seu, é meu, eu sou o dono do poder, então, eu faço o que quiser com ele. Isso não é so com a questão do juiz e do desembargador não, isso é no contexto geral. É por isso que tá meio tolhido, não vai para frente, porque as pessoas não têm uma cultura universal de que se aquilo melhorar, vai melhorar para todo mundo. Está cada um pensando eu quero melhorar o meu lado. (E32)

Embora a organização Tribunal de Justiça seja vista como tendo uma rígida hierarquia, na qual o juiz possui grande poder, a visão dos entrevistados sobre os juízes não foi necessariamente negativa. Na verdade, de modo diferente da categoria Organização do

trabalho em que não houve grande divergência nas percepções dos servidores, na categoria Hierarquia e Equipe de trabalho foi possível observar uma série de ambiguidades e divergências.

Nesse sentido, a figura do juiz é percebida em alguns momentos como antagônica ao servidor e em outros como próximo e parceiro. É interessante observar que quando os entrevistados querem ressaltar pontos positivos ou qualidades dos juízes como chefes apontam para quebra de hierarquia e para existência de proximidade no relacionamento.

Esta situação pode ser relacionada com aspectos de cordialidade e personalismo (HOLANDA, 2011), entendidos no sentido de valorização do aspecto relacional e busca por proximidade e afeto nas relações. Os comentários dos entrevistados 5, 4 e 17 ilustram esta valorização do aspecto relacional pelo servidor.

Ele não quer que ninguém passe o horário. Ele não aceita. Ele é muito servidor. Eu nesses vinte e sete anos, eu vi muito pouco isso. (E5)

O juiz que eu trabalho é uma pessoa bem aberta, comunicativa, ele é amigo, uma pessoa próxima da gente. É muito bom ele também, isso facilitou muito, isso traz segurança. (E4) Eu tenho informações de outras colegas que são assessoras de juízes de outras comarcas que sentem muita dificuldade. Juízes que não reconhecem o trabalho delas. Não que não reconhece, é como se não tivesse essa proximidade... (E4)

Eu sou sub-escrivã, eu sou substituta da escrivã, que é chefe de cartório. Então eu sou subordinada a ela, que não nos trata como subordinada, não tem essa hierarquia de poder dentro do cartório. Ela trata muito assim de igual, como também em relação às escreventes, somos parceiras ali dentro. Inclusive o próprio juiz não vê a gente dessa forma. Então é muito fácil quando você trabalha com esse tipo de gente, com esse tipo de ambiente, é muito fácil, até fluir tudo e a gente desenvolver todo o trabalho dentro do cartório. (E17) As declarações dos entrevistados sobre os juízes variam, assim, de acordo com as experiências que tiveram nas comarcas em que atuaram e das informações recebidas de colegas de outras comarcas. O protagonismo do juiz na estrutura do Judiciário parece explicar isso, na medida em que como o juiz é o responsável, quando o relacionamento é próximo ou os subordinados gozam de relativa autonomia é porque o juiz assim o quis.

Nesse sentido, os “mandos” e “desmandos” dos juízes nem sempre são vistos pela instituição e os servidores sentem-se, muitas vezes, desprotegidos. Nos comentários do

entrevistado 20 a este respeito pode-se identificar a prática do faz de conta, descrita por Junquilho (2003) como uma situação em que o desempenho não é medido formalmente e o que vale é a informalidade.

o servidor que não trabalha sofre um processo administrativo, e o juiz que não trabalha? Porque tem Comarca que tem juiz titular, tem o juiz da Comarca e nada anda! Minha colega estava comentando que o juiz tem um ano que um processo (?), uma sentença simples, não é nada complexo. Por que não fez? Se ela botou lá é porque tem uma prioridade, mas por algum motivo está lá ou ele mesmo estabeleceu a ordem. (E20)

A minha maior queixa que hoje eu vejo é essa que eu te falei da questão dos juízes, e a gente brincava “quando ele quer se promovido” tem uma charge assim “trabalhando, trabalhando!”... “Esse quer passar de substituto pra titular, trabalha muito, produz tudo”. E depois ele anda a passos de tartaruga, é isso que me preocupa, a organização não pode fazer vista grossa pra isso. Porque infelizmente ou é o juiz que faz, assina, a coisa anda, senão fizer, travou. Travou o sistema todo. (E20)

Nesse cenário, a criação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) no âmbito do processo de reforma do Judiciário é vista de maneira positiva pelos servidores, na medida em que sua atuação é entendida como limitando e fiscalizando os juízes. Os entrevistados 33, 25 e 10 fizeram comentários sobre este papel do CNJ.

Eu gostaria de fazer uma pontuação em cima do CNJ. Eu acho, assim, eu vivia tão desanimado quando você vê o Judiciário é só escândalo aqui, escândalo aí. Com a criação do Conselho Nacional de Justiça, eu acho que deu a nós a condição de saber que os TJs não estão mais soltos. Que apesar de todas as dificuldades, mesmo o CNJ e tal, aquela coisa toda, mas o papel desempenhado pelo CNJ tem dado a nós a segurança de que a coisa não será resolvida e a solução não virá no curto prazo, mas que algumas coisas já começam a caminhar. (E33)

Dentro do tribunal, hoje, a coisa melhor é o Conselho Nacional de Justiça, o CNJ. Porque antes os juízes lá fazia e acontecia e nada acontecia a eles. (...) Hoje, todo mundo sabe que existe um superior, tem que prestar contas a um superior. (E25)

Hoje, nós temos corregedor do interior, qualquer dúvida que temos, qualquer denúncia a gente tem acesso direto. Uma coisa há 15 anos é até utopia a gente dizer que tinha acesso. Hoje essa acessibilidade é bem maior. Até mesmo a criação do CNJ que pressionam os tribunais, para que nós servidores sejamos participantes direto da evolução do Judiciário. Porque eu creio assim que o Judiciário é todo, é o corregedor, é o desembargador, é o presidente do tribunal, é o juiz, é o serventuário, todo mundo trabalhando junto. (E10)

O CNJ também é apontado pelos entrevistados como agente de transformação e viabilizador de melhores condições de trabalho, conforme pode ser observado nos relatos dos entrevistados 30, 36, 8 e 9.

Eu vejo que o TJ, apesar de estar meio anacrônico, ele tá buscando, mesmo que meio futucado pelo CNJ, mas tá mudando, tá mudando a cara do tribunal e eu vejo que tá melhorando bastante em alguns aspectos. Esse pessoal novo que tá entrando agora são pessoas sérias, os juízes, (...), são pessoas que realmente tão ajudando muito o desenvolvimento. Mas, ainda tem muito o que fazer. (E30)

Não podemos negar a influência do CNJ nos tribunais em geral. Então, depois do CNJ foram colocadas metas e uma delas foi aperfeiçoamento e outras mais e, a partir disso, essas metas passaram a ser implementadas. E eu acho que o CNJ é a grande figura que está impulsionando estas mudanças. (E36)

Uma boa coisa... o que eu vejo de boa coisa está acontecendo agora. Que é esse primeiro passo, acho que essa interferência, essa tomada de frente do CNJ, esse passo que ele está dando, eu acho que é mais do que acertado. (E8)

E vendo assim que, na verdade, a estrutura, eu cheguei a conclusão que a estrutura que é feita para não funcionar. Então o CNJ vem com uma grande pressão, falando, vamos botar isso agora para funcionar. As pessoas não estão sabendo o que fazer para essa estrutura andar, para esse gigante acordar, como dizem aí do Brasil. E os tribunais, na minha concepção, a mesma coisa. vem de uma estrutura de coronelismo mesmo, aquelas pessoas estavam acostumadas a estarem sentadas na sua cadeira, as outras pessoas temerem aquelas pessoas. E hoje não. Assim, até a questão do juiz, que constitucionalmente é um órgão, ele hoje não passa de um servidor também. Já caiu por terra aquela figura do juiz como um ser intocável. E isso foi importante, eu acho que o CNJ trouxe essa importância para aproximar mais da população. (E9)

De um modo geral, o servidor percebe o TJ como em processo de evolução tanto no que concerne às relações de trabalho, como em relação às condições de infraestrutura e equipamentos. Os entrevistados 10, 14, 15, 16 e 32 mencionaram a melhoria do TJ e os entrevistados 4, 8, 9, 17, 20, 23, 25, 26, 29, 30, 33, 34 e 36 relacionam esta mudança à atuação do CNJ.

Ainda no âmbito das mudanças representadas pelo CNJ, alguns entrevistados identificam na definição de diretrizes e metas para as comarcas por este conselho um indício de que os resultados das comarcas serão acompanhados e, assim, os bons servidores poderão ser reconhecidos pelo seu desempenho, o que não ocorre ainda no TJ. O entrevistado 30

comentou a este respeito, levando, novamente, a uma associação com a prática do faz de conta (JUNQUILHO, 2003).

O servidor público no Judiciário aqui na Bahia acabou sendo punido pela nossa eficiência. Porque assim, se você faz 5 tá bom, vem 5 amanhã. Se você faz 10, vem 10 amanhã. Se você faz 100, vem 150 amanhã. Acaba que quando você produz, vem tudo para você. É ao contrário da iniciativa privada que você é gratificado pela eficiência. No Judiciário e no poder público você é punido pela sua eficiência. Aí, os colegas jogam tudo para cima de você. "Não ele faz, então tome". (E30)

A iniciativa privada, citada pelo entrevistado 30, foi mencionada poucas vezes pelos entrevistados nesta pesquisa, mas em todas as menções apareceu de forma positiva, como modelo de eficiência a ser seguido. O comentário do entrevistado 17 associa a eficiência da comarca à utilização de práticas da iniciativa privada e o CNJ parece ser visto como o agente que irá introduzir estas práticas no tribunal de justiça.

O relacionamento lá entre servidores e juízes é excelente. É excelente, trabalhamos de igual, tem uma parceria mesmo. Somos muito respeitados e muito reconhecidos por ele. Mas também a gente encara o cartório, trabalho de cartório como se fosse, como se estivéssemos na empresa privada. Trabalhamos muito com metas. (...) A gente conseguiu extinguir muita coisa antiga, ainda faltam algumas coisas. Essas metas que o CNJ mesmo propõe e tal, a gente conseguiu alcançá-las. Então, assim, eu tenho visto de forma muito positiva isso, que melhorou muito nesses últimos anos. (E17)

Os comentários dos entrevistados sobre o CNJ, nos quais valorizam a atuação deste conselho na definição de diretrizes e metas e no acompanhamento da atividade dos juízes, podem ser relacionados com valores do gerencialismo como planejamento e responsabiização. Já, a ideia de identificação das práticas do setor privado como sinônimo de eficiência e desempenho e representando um modelo para as instituições públicas, encontra-se na própria base do gerencialismo.

Em relação às equipes de trabalho, ao relacionamento entre os servidores em suas comarcas e à visão do próprio servidor, de modo semelhante ao observado em relação à visão sobre os juízes, foi possível observar ambiguidades e divergências.

O relacionamento entre os servidores nas comarcas é visto, algumas vezes, como excelente ou ótimo e em outras vezes aparece como não tão positivo. Os comentários dos entrevistados 15, 16, 19 e 2 ilustram este aspecto.

Agora, um grande fator diferencial que eu considero o ambiente que eu trabalho, ele é maravilhoso. As pessoas que trabalham comigo são sensacionais, então isso ajuda muito. (E15)

O cartório em si é perfeito. Assim, a forma da gente interagir entre nós (E16)

Não é só no sistema Judiciário, existe aquela coisa meio que “eu não vou te passar o meu conhecimento” só que pra mim isso não é barreira. (E19)

Então, em relação aos meus colegas, a maioria eu tenho uma relação boa, mas em si eu tenho um colega que eu tenho uma certa dificuldade, ele já respondeu processo administrativo e eu estou ocupando a função que era dele. Então, ele tem dificultado assim muito o nosso trabalho. A equipe em si, ele sempre acha um modo de estar tirando algumas coisas, não dando as informações corretas, incompletas. Mas a gente está tentando conciliar isso daí, conversando, o juiz está participando também, para ver se consegue resolver. (E2) A visão que o servidor tem sobre si mesmo e sobre seus colegas também varia bastante. Muitas vezes, o entrevistado declara ter uma visão negativa sobre o servidor de um modo geral, mas não se enquadra nesta visão, conforme se pode observar nos relatos dos entrevistados 2, 3, 4 e 19.

Como eu posso te dizer, não é mal acostumado, tem uma palavra, deixa eu ver... Ele é acomodado. Se acomoda muito fácil, assim, aquilo que para ele é determinado. Tem que ser assim, são poucos aqueles que questionam e conseguem transformar a realidade. Ele se acomoda. Quando eu entrei no tribunal, a primeira coisa que eu vi, ah, porque você vai encontrar muitos servidores mais antigos e tem que ter um cuidado, por causa disso. Aí eu cheguei no setor e de repente eu ouço, eu preocupada lá em atender alguém, tem muita gente aí? “Não, vá com calma, o serviço é assim mesmo”. Servidor então, eu acho que quando se fala de servidor público em si, a gente já vê assim, o servidor público é acomodado, não são todos. (E2)

Eu acho que a estabilidade traz essa comodidade. Eles acham que o emprego é inatingível.