• Nenhum resultado encontrado

TEMA / ASSUNTO

5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

5.2 Categoria Normas e Procedimentos de Trabalho

Nesta categoria, buscou-se avaliar os aspectos normativos do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, bem como os procedimentos e estratégias uitlizados pelos servidores e juízes no cumprimento de suas funções.

Em relação às normas e aos procedimentos de trabalho, os comentários dos servidores apontam para uma situação de ambiguidade, pois ao mesmo tempo em que a instituição está voltada para o cumprimento da lei, norma dura e escrita, os procedimentos referentes aos trâmites internos dos processos não são rígidos. Na verdade, não são padronizados e, muitas vezes, são desconhecidos pelos próprios servidores. A formalidade da instituição convive com a informalidade da “sobrevivência” dos servidores no dia-a-dia.

O comentário do entrevistado 22 ilustra a falta de informação dos servidores quanto aos procedimentos que deveriam seguir e relaciona este aspecto a um quadro de desorganização do TJ de modo geral. Esse quadro de desorganização remete, mais uma vez, à imprevidência do semeador apontada por Holanda (2011).

O tribunal é muito desorganizado em tudo, em todos os aspectos. Se mandar uma carta registrada, a carta some. Se mandar um processo, o processo some. Não tem informação para o servidor. Você não sabe se o processo tem que dividir em cem, duzentas, trezentas laudas porque ficam mandando pelo site. Eu não tenho que ficar lendo no Diário Oficial procurando quais são as normas. Não tem cursos para gente. Então, ele é desorganizado, muito desorganizado. (E22)

A ausência de padrões nos procedimentos foi evidenciada inúmeras vezes em comentários dos servidores durante as aulas ministradas no Programa de Capacitação, quando um servidor descrevia determinado procedimento da sua comarca e outros servidores

descreviam procedimentos diferentes aplicados nas mesmas situações. Estas divergências ocorreram em relação a prazos, horário de atendimento, acesso a documentos pela parte, trâmite do documento dentro do cartório, etc. Essa ausência de padrões relatada nas aulas também apareceu nos comentários dos entrevistados.

Então, isso dificulta muito. É por isso que a gente fica discutindo, se tivesse um cronograma, um padrão, olha, cartório trabalha assim, assim, assim... ia ser assim com fulano, beltrano, cicrano, independente de quem fosse, já ia ter uma padronização. E até você ia saber onde está emperrando. (E9)

Entre os “responsáveis” pela variação nos procedimentos podemos identificar os juízes, que em última instância são os responsáveis pelas comarcas, e a própria dificuldade dos servidores em cumprirem os procedimentos, seja pelo desconhecimento, pela falta de estrutura e recursos ou pela própria discordância ou resistência ao procedimento.

No comentário do entrevistado 1, pode-se perceber o papel dos juízes na definição dos procedimentos das comarcas:

Em toda Comarca o juiz dá o tom, sempre. Porque ele é o diretor do Fórum, ele que vai dizer como trabalhar. A gente vê sempre alguém falando assim, por exemplo, “não precisa ser feita essa rotina”, aí o pessoal comenta: “lá a gente faz, porque o juiz determina que tem que ser feito” ou então assim, “porque o TJ tem um provimento que nos obriga, por mais que a gente entenda que seja desnecessário”. (E1)

O juiz tem papel extremamente importante no andamento da comarca, pois além de atuar como gestor, é ele quem dá o andamento da comarca, na medida em que realiza um trabalho especial que não pode ser substituído, nos moldes de uma burocracia profissional. Os servidores e todos os trâmites da comarca atuam como apoio às atividades do juiz, que determina, assim, a organização dos procedimentos e o próprio ritmo da comarca. Os comentários dos entrevistados 9 e 18 apontam esta situação, que guarda semelhanças com a descrição da família patriarcal, organizada em torno da figura do senhor do engenho, cujo poder quase absoluto foi apontado por Holanda (2011), Faoro (2007; 1975), Ribeiro (1995) e Furtado (1999).

Porque o trabalho do cartório é um trabalho de suporte. Você deixa a bola na cara do gol, para o cara ir lá e chutar. Mas se o cara não chuta... (E9)

Na verdade, nós servidores, nós somos o reflexo do juiz. Quando o juiz é atuante, quando o juiz ele age, ele tem posicionamentos, ele realmente tem uma preocupação com a realidade

local, o trabalho flui com mais celeridade. (E18)

O tom imprimido pelos juízes às comarcas em que atuam tende a ser alterado periodicamente. Na medida em que é razoavelmente comum uma mudança de juiz a cada dois ou três anos, dependendo da situação e status da comarca. O comentário do entrevistado 33 mostra bem a transitoriedade do juiz: “E digo sempre, prego, que juiz é passageiro e nós colegas vamos ficar até a expulsória”.

Os comentários dos entrevistados 5, 13, 9 e 36 apontam os impactos da mudança de juiz na organização do trabalho e, também, podem ser associados a uma situação de protagonismo do juiz que remete ao patriarcalismo do Brasil colonial identificado por Holanda (2011), Faoro (2007;1975), Ribeiro (1995) e Furtado (1999).

A gente tem uma dificuldade porque a gente passa por muitos chefes. O juiz passa dois anos, três, vai embora. Então, você encontra ótimos juízes, agora a gente está com um juiz substituto, ele é mineiro e ele diz que ele é anti-toga, ele não trabalha de paletó, ele liberou um monte de situações, o funcionário pode tudo, desde quando ele não seja preguiçoso e ele tenha responsabilidade e comprometimento. (E5)

Mudou drasticamente do primeiro juiz para o que está agora, porque o primeiro juiz, ele ia presencialmente lá e dedicava um tempo muito grande a resoluções dos processos. Então, nós tínhamos um juizado na Bahia que era exemplo, de verdade. Hoje, nós não temos mais. Então, realmente tem um abismo entre minha realidade inicial e minha realidade agora. (E13)

Aí, um entende dessa forma, aí muda tudo... aí, outro, não, faça assim, assim, assim... aí muda tudo. E aí tem a questão das vaidades, tem que administrar. Porque um pode até ter adotado um esquema, esse esquema realmente é sensacional, vamos adotar isso daqui para frente. Aí o cara não, chega, “não, eu quero que seja feito do meu jeito”. Aí você muda tudo para ser feito do jeito que agrada. Aí, ele pega depois e sai. (E9)

Isso é muito comum no tribunal da Bahia.(...) As rotinas cartorarias sempre se adaptam a um jeito próprio do juiz. Por exemplo, tem um juiz que gosta que você faça um tipo de certidão de uma forma, o outro já acha aquilo desnecessário. Um juiz é mais metódico o outro é mais prático. E a gente tem que se adaptar ao ponto de vista do juiz. (E36)

O impacto da mudança de juiz não se dá apenas nos aspectos relacionados à forma de tratamento e ao grau de autonomia concedido ao servidor apontado nos comentários dos entrevistados 5, 9 e 36, mas também, no próprio entendimento da lei e até nos detalhes da organização física do ambiente de trabalho, conforme se pode perceber nos comentário dos

entrevistados 1, 20 e 17. Essa centralização do poder no juiz pode ser relacionada com o traço da hierarquia identificado por Freitas (1997) e com a prática social do manda-chuva, descrita por Junquilho (2003).

(...) A lei de drogas quando foi feita tem um procedimento no processo ordinário, então se você vai notificar ou citar, aí quando veio a lei, a juíza antiga aplicava a notificação. Mudou um pouquinho, só a rotina e a gente continuou fazendo. Quando veio esse último juiz agora, ele entende que não, porque a lei diz que tem que citar. Não tem que notificar. Então, a gente teve que dar uma melhorada, uma organizada, pra atender. Mas nada que deixasse assim a gente meio atarantada. Só a forma de trabalhar dele é tão centralizadora que às vezes a gente fica, perde o eixo. (E1)

(mudança de juíz) Tem impacto porque cada juiz pensa de um jeito. E, às vezes, o trabalho precisa ser normatizado. É aquilo que uma colega colocou com relação à administração do tribunal, quando muda o juiz, a gente tem que se adequar como que ele quer e não quer, ele é o chefe. E tem muita coisa no Direito que é entendimento. Um juiz entende de um jeito, o outro entende do outro, a gente tem que ir se adequando. (E20)

Mudou porque um gosta de trabalhar de um jeito, outro gosta de trabalhar de outro. Um juiz não gosta de processo dentro do gabinete, outro juiz só quer dentro do gabinete. Até a maneira de organizar os processos em caixas era diferente. Isso atrapalhava um pouco quando um juiz saía e outro entrava. Mas, assim, quando era um substituto, que só ia substituir uma vez na semana, duas, teve um tempo que a gente ficou assim, aí não mudava nada não, até porque ele não exigia, ele estava ali de passagem. Mas quando foi uma juíza auxiliar, foram dois substitutos que ficaram mais tempo, a gente teve que mudar muitas coisas para poder a gente se adequar ao trabalho dele. (E17)

O lugar privilegiado ocupado pelos juízes na dinâmica do Tribunal de Justiça remete ao conceito de estamento de Faoro (1975), entendido como “uma situação de consideração social da qual gozam certos grupos de pessoas em situação de senhorio político”. Os juízes, assim, têm a prerrogativa de, praticamente, definir o andamento da comarca, com procedimentos e ritmos segundo suas conveniências. Este poder do juiz de organizar a coisa pública, também, pode ser associado a práticas patrimonialistas, na medida em que o juiz pode submeter a coisa pública a sua vontade particular.

O protagonismo do juiz nas atividades do Judiciário tem diversas implicações na dinâmica e organização do trabalho. Estas implicações serão discutidas mais profundamente na análise da categoria Hierarquia e Equipe de Trabalho.

que as normas, regras e procedimentos sejam descumpridos no âmbito do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, como a falta de recursos, servidores e juízes, desorganização do tribunal, falta de padrão devido à definição dos procedimentos serem responsabilidade do juiz e às frequentes mudanças de juiz. Assim sendo, percebe-se um quadro, no qual as normas não são rígidas.

Essa situação exposta ajuda a criar no servidor certa descrença em relação às normas, que muitas vezes são vistas pelos servidores como empecilhos à entrega do serviço ao cidadão. O servidor, muitas vezes, adota, então, uma postura de “quebra” de regras e normas – o jeitinho – para tentar dar conta de determinadas situações. O comentário do entrevistado 1, onde o mesmo relata um caso em que não seguiu a norma prevista porque entendeu que assim poderia resolver uma situação, ilustra esse ponto, que, também, pode ser associado ao traço da malandragem (FREITAS, 1997) e a prática social de dar a volta por cima (JUNQUILHO, 2003).

Acontece no TJ como em qualquer serviço público. Porque o “jeitinho brasileiro” por um lado é ruim você burlar uma regra. E tem o “jeitinho brasileiro” que você diz: “não, não é desse jeito, mas dá pra fazer pra resolver o problema”. Por exemplo, quando a gente faz autorização de viagem, o pai ou a mãe vai chegar o documento original e você faz a autorização. (...) Na juíza antiga, quem assinava era o escrivão, esse juiz não, ele fala que quem dá autorização é ele. Quando chegava a pessoa que estava com a xerox, não podia ser xerox... Você tem duas opções: dizer “não vou”... A gente tem fé pública, então eu posso resolver. Eu liguei pro lugar que estava a certidão, falei com o oficial, ela me confirmou todos os dados, eu certifiquei atrás e dei fé e fiz a autorização pra ela. Eu falei “se der algum problema, pelo menos eu liguei pra lá e tenho como registrar”, eu tirei uma cópia e guardei. Essa é a diferença, isso foi um “jeitinho brasileiro”? Foi. Porque não está previsto isso, mas resolvi o problema. Eu acho que a finalidade era justamente essa. (E1)

O comentário do entrevistado 32 ilustra uma situação muito citada pelos entrevistados, que afirmaram que o jeitinho brasileiro, entendido como uma quebra de regras, seria um procedimento comum no TJ, que ocorre com o objetivo de resolver uma situação em benefício do cidadão e o servidor usaria este recurso devido ao não cumprimento prévio pelo TJ de condições como prazo ou provimento adequado de recursos. Esse jeitinho brasileiro não é utilizado, normalmente, para proveito do servidor e parece ter, algumas vezes, uma conotação altruísta.

(jeitinho brasileiro?) Todo dia. Às vezes, você, como o Judiciário não dá resposta no tempo ideal, as partes costumam ir ao fórum, que não seria o ideal, que o juiz, ele tem obrigação

de atender o advogado. Então, o que que acontece a parte, aquela que acha que tem a maior urgência, ela vai no gabinete e aí, você para o que você está fazendo e vai pegar o processo dela. Como o CNJ quer meta, se o processo dela for mais fácil de fazer, você vai falar assim "eu vou despachar este porque vai baixar o meu concluso”, entendeu? Então, você faz. Outro fato, chega uma mãe chorando com processo de guarda que tem prioridade diante de outros processos, mas tem 20 processos de guarda que tem prioridade. A mãe daquele foi lá chorando... E você vai despachar. Você está desmerecendo os outros? Se você pensar de uma forma contábil, tá. Mas, não, você está querendo ajudar alguém que foi lá te pedir socorro, uma mãe que foi lá chorando, é um pai que quer enterrar o filho que não tem certidão de nascimento. E o que você faz? Você termina passando mesmo na frente. É a realidade, seria hipócrita se falasse. Todo mundo sabe disso que o processo que está lá embaixo vem para cima. Não é para ganhar. Eu sou uma pessoa honesta. Não recebo um real. (E32)

Já, a situação descrita pelo entrevistado 2 mostra que algumas normas podem ser quebradas e outras não, pois a sua quebra poderia acarretar um ônus ao servidor.

Vou dar um exemplo clássico, são dois, um positivo e um negativo. Se uma pessoa me pedir uma correspondência, lá na comarca a gente só envia dia de sexta feira. Se ela pediu segunda, vai sexta, se ela pedir quinta, vai sexta. (...) Mas às vezes tem um problema de alguém que está para receber um benefício, alguma coisa de Minha Casa Minha Vida, que tem que entregar naquele dia. Então, a gente sempre da um jeitinho de enviar via Sedex, de dar um jeito dessa certidão chegar lá no dia seguinte. Aí é o jeitinho brasileiro positivo. É aquele atendimento que encerra, por exemplo, chega o horário final, duas horas da tarde, meu computador está ligado ainda, mas eu já estou encerrando, aí chegou alguém fora do seu horário, você tem que dar um jeitinho brasileiro, dependendo do caso, para ajudar. Mas tem o jeitinho brasileiro negativo, por exemplo, lá a gente não pode tirar cópia de um documento, tirar Xerox, até porque nem tem copiadora lá. Imagina eu levar um patrimônio, um documento de lá, para tirar Xerox para alguém. Então não adianta, pode ser a necessidade que for eu não posso dar nenhum jeitinho brasileiro em relação a isso, porque eu posso responder por isso. Então, em relação ao nosso trabalho é isso, esse jeitinho brasileiro. (E2)

Além destas situações, onde se observou a quebra das normas e regras pelos servidores, também puderam ser observadas diversas situações em que as normas e regras estabelecidas são quebradas pelos juízes e pelo próprio tribunal.

O relato do entrevistado 6 descreve uma situação em que o procedimento referente à saída de processos do cartório foi alterado com a mudança de juiz e, depois, devido à influência de um advogado foi alterado novamente.

Ah sim, aconteceu um caso bastante interessante, porque nós sabemos, servidores, que os processos eles só podem sair do cartório ou quando os advogados fazem carga, porque aí eles têm autorização legal para poder conduzir o processo, por estar com prazo ou qualquer outro tramite judicial. Fora isso, só com um servidor, tem que levar, conduzir o processo, para tirar uma cópia, levar até o juiz, caso ele peça esse processo, etc. E nessa transição, na saída de um juiz para o outro, ficaram vários alvarás para serem assinados, de vários advogados. Quando o juiz retornou, ele assinou alguns e aí ele saiu de novo, não sei, uma licença, uma coisa assim, quando ele retornou, tinham vários outros para serem assinados. E eu levei esses processos para que ele tomasse ciência, precisava apenas de uma assinatura dele para ser liberado esse dinheiro para as partes e ele virou para mim e falou assim: “você leva tudo de volta, porque eu não te pedi nada”. Eu falei: “pois não”. Levei. E assim que eu trouxe os processos, que deixei no cartório, um advogado, presidente da OAB me questionou: “você não levou os processos?” Eu disse: “levei, mas o juiz disse que não ia assinar nada, que ele não pediu nada”. Então o presidente da OAB foi até ele, ele imediatamente ligou de volta: “traz os processos de volta”. Então, assim, daí em diante os processos passaram a sair do cartório com carga, “olha doutor, se o senhor quiser levar, tudo bem, o senhor faz carga no processo e leva”. Não é o procedimento padrão, foi um procedimento que foi criado para se adequar a forma como ele trabalhava. Se o servidor mandar o processo, ele manda devolver. Mas se um advogado levar o processo, ele vai e assina, recebe o processo. Nisso que ele saiu de férias, substituiu um outro juiz, eu fiz o mesmo procedimento: “se o senhor quiser fazer carga, o senhor leva lá, se ele quiser assinar”. Aí o juiz foi e questionou o advogado: “Não, não vou assinar. Eu só assino se um servidor vier trazer o processo”. Aí, o advogado foi e esclareceu, “ seu colega fez com que a rotina mudasse”. (E6)

Esta situação descrita no relato do entrevistado 6 pode ser associada a aspectos do traço cultural do personalismo (HOLANDA, 2011; FREITAS, 1997), entendido como valorização do aspecto relacional, que, neste caso relatado parece surgir no favorecimento do compadrio e da troca de favores.

Em relação ao não cumprimento de normas e regras pelo próprio tribunal, foram destacadas pelos entrevistados diversas situações, onde o TJ não dispensa ao servidor tratamento compatível com o determinado por lei ou norma definida pelo próprio tribunal. A maioria destas situações está ligada a alocação de servidores fora de suas funções originais para as quais prestaram concurso ou a carga horária ou remuneração em divergência do definido normativamente, conforme observado nos comentários dos entrevistados 2 e 9.

Agora, se tratando do tribunal enquanto instituição, voltada para os seus servidores, esse jeitinho brasileiro também existe, isso que estou falando, que eles não se preocuparam em

cumprir determinadas formalidades para atingir o objetivo final, já dá aquele jeitinho direto. Já vem a informação, por exemplo, em relação ao cartório extrajudicial, o tribunal teria que designar alguém que fosse graduado em direito, para assumir esse cargo e que fosse da linha de cartório. Mas não, se deu um jeitinho brasileiro de pegar alguém do juizado, que era atendente, que tinha nível, independente de eu ter nível superior ou não, que não é na área, é economia, de pegar alguém de nível médio e colocar para assumir. Sem se preocupar com o que isso poderia acarretar, até para a pessoa, as responsabilidades que a pessoa iria assumir, mas se deu o jeitinho brasileiro. E com o jeitinho brasileiro a gente está trabalhando... (E2)

Eu acho que é essa questão do jeitinho brasileiro. Por exemplo, ao invés de colocar mais servidores, ao invés de preencher as vagas, aí cria-se o turnão. (E9)

Uma situação comentada pelos entrevistados foi a questão das substituições. A substituição é o procedimento de responsabilizar um servidor pelo cumprimento das funções relativas a outro cargo que esteja vago na sua comarca. Nestas situações, o servidor acumula sua função original com a função que está substituindo. Pela norma, as substituições devem respeitar as exigências de escolaridade de cada cargo. Assim, um servidor que ocupa um cargo de nível médio não poderia substituir num cargo de nível superior. A norma também prevê um acréscimo no salário do servidor que está substituindo. Estas condições, porém, não estão sendo seguidas pelo tribunal, conforme pode ser observado nos comentários dos entrevistados 2, 6 e 31.

Então, é assim, é muito difícil, têm muitas pessoas, como eu falei no início, que estão em desvio de função, que estão exercendo uma função a mais e não tem nenhum tipo de reconhecimento por isso, está ali trabalhando e continua esperando uma decisão de uma justiça que é lenta, que acaba sendo injusta. E não chega. (E2)