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O Centro de Energia de Base na Educação Somática: O Método das Cadeias

CAPÍTULO I: NOÇÕES DE CENTROS DE ENERGIA DO CORPO EM ALGUMAS

1.2 NOÇÕES ACERCA DO CENTRO DE ENERGIA DO CORPO EM PRÁTICAS

1.2.3. O Centro de Energia de Base na Educação Somática: O Método das Cadeias

Musculares e Articulares GDS e sua relação com a respiração

O Método de Cadeias Musculares e Articulares foi criado por Goldelieve Denis Struyf62. Neste método, considerado uma abordagem somática da fisioterapia são reconhecidas seis Cadeias Musculares, definidas como “um conjunto de músculos solidários

62Fisioterapeuta, osteopata e retratista belga criadora do Método GDS nas décadas de 60 e 70. Casada com um

respeitado acupunturista, Goldelieve Denis Struyf teve influência da medicina chinesa na criação do seu método, “O Método GDS trabalha com o conceito de que nossa atitude postural e a forma de nosso corpo derivam de uma multiplicidade de fatores, desde a genética até o psiquismo e o comportamento. Há seis famílias de músculos que dão ao corpo a possibilidade de se expressar. A cada uma destas famílias corresponde uma tipologia psicocomportamental. Entretanto, elas podem, em consequência de uma constância de tensão, aprisionar o corpo em uma determinada tipologia, dificultando sua adaptabilidade mecânica e comportamental e tornando-se, então, fonte de sofrimento”. Informações retiradas do site da Associação de Praticantes do Método GDS, disponível em: http://www.apgds.com.br/homolog/metodo.aspx. Acesso em 20/10/2013

48 entre si pelo fato de encontrarem-se ligados por aponeuroses e serem recrutados em sequência pelo reflexo miotático determinando a interdependência de todas as partes do corpo” (VIEIRA, 2007, p.48).

Figura 5 Cadeias Musculares e Articulares GDS63

Fonte: DENYS-STRUYF, G. Cadeias Musculares e Articulares - O Método G.D.S. São Paulo: Summus; 1995.

O equilíbrio do corpo em pé, no plano anteroposterior está relacionado às cadeias antero-mediana(AM) e póstero-mediana (PM), responsáveis pela manutenção da posição estática e às cadeias póstero-anterior (PA) e antero-posterior (AP), que mais se aproxima da estrutura de músculos profundos e anti-gravídicos estando relacionada à noção de reação, dinamismo para a ação. No plano frontal, dois grupos musculares determinam um modo de equilíbrio observável: o antero-lateral (AL) e póstero-lateral (PL) relacionados à interiorização ou exteriorização dos estímulos.

As cadeias AP e PA são as que estão mais diretamente relacionadas com a respiração e com a emissão vocal. Estas cadeias musculares também estão relacionadas com a noção de reação.

Phillipe Campignion64, colaborador de Goldelieve Denis Struyf faz referência ao diafragma como sendo um “ponto de equilíbrio do corpo inteiro” (CAMPIGNION, 1998,

63No original as imagens não estão dispostas lado a lado. Tomei a liberdade de editá-las e colocá-las desta forma

por economia de espaço. Fonte: DENYS-STRUYF, Goldelieve. Cadeias Musculares e Articulares - O Método G.D.S. São Paulo: Summus: 1995.

64Em seu livro Respir-ações: a respiração para uma vida saudável, Phillipe Campignion, biomecanicista

europeu e fisioterapeuta globalista elabora seu estudo sobre os princípios de Goldelieve Denis-Struyf, analisando os músculos e ossos envolvidos no processo respiratório e sua interação com outros grupos e funções corporais. Campignion propõe o tratamento das tipologias psicocomportamentais apontadas no Método GDS através de exercícios respiratórios para a liberação do excesso de tensão das musculaturas envolvidas.

49 p.53). Seria o diafragma o centro de equilíbrio do corpo, ou o quadril, que é considerado o centro de gravidade o responsável pelo equilíbrio? Parece haver aí uma importante chave para compreender a relação entre o diafragma e o quadril, no equilíbrio do corpo e de suas tensões.

O diafragma é descrito como “um músculo delgado e achatado que separa a cavidade torácica da cavidade abdominal (septum transversum). Ele tem a forma de uma cúpula côncava na parte de baixo, cuja base está em relação com o conjunto inferior da caixa torácica”. (CAMPIGNION, 1998, p.13). Na imagem abaixo é possível verificar a relação do diafragma com os músculos do abdômen e o assoalho pélvico:

Fonte: SOBOTTA (2006)65.

65O tamanho das letras foi alterado para melhor visualização sem nenhuma alteração na imagem e nas setas

50 Este músculo que pertence à cadeia PA age sobre a estática da coluna vertebral da seguinte forma:

O diafragma se insere no nível do segmento declive dorsolombar (L2 a D9), sendo a vértebra D12 considerada a vértebra diafragmática por estar no centro desse segmento, que tende ao deslizamento posterior na inspiração. Na expiração, o psoas entra em ação. Conforme podemos ver na imagem, “é da ação ritmada do músculo diafragma e psoas que resulta a curva lombar fisiológica”. (CAMPIGNION, 1998:15)

Fonte: (CAMPIGNION, 1998, p. 24)

indicativas.

51 Segundo Campignion (1998, p.15-16), a aponevrose66 do diafragma está em perfeita continuidade com as aponevroses do transverso do abdômen, dos quadrados lombares e dos psoas-ilíacos. O peritônio, que forra o conjunto da cavidade abdominal como uma pleura, adere a essas aponevroses e vem reforçar a estreiteza dos laços que unem o diafragma aos psoas, ao quadrado lombar e ao transverso do abdômen.

Situando novamente o diafragma em relação às cadeias ósteo-articulares, lembramos que ele faz parte da cadeia PA. Fazem parte desta cadeia, o longo do pescoço, suboccipitais, transversários espinhosos, diafragma e transverso do abdome Funcionalmente a PA age essencialmente na parte superior da coluna vertebral, reduzindo a lordose cervical, erigindo a alavanca proclive superior e enrijecendo a coluna em retificação com músculos mais numerosos na parte posterior do tronco. Funcionando de forma ritmada com a cadeia PA, a cadeia AP, que é composta pelos escalenos e psoas, corrige a rigidez dessa retificação. (CAMPIGNION, 1998, p. 30- 33)

Quando a cadeia AP está equilibrada com PA, a atividade dos músculos profundos da coluna vertebral e do tórax é liberada:

[...] Livres da inibição ligada à atividade dos grandes músculos superficiais, os pequenos feixes musculares da coluna vertebral podem entrar em ação e intervém no justo alinhamento das peças vertebrais. [...] Esses músculos, por outro lado, tem relação com a respiração. Eles respiram quando as tensões inibidoras que fixam as costelas numa dada posição são reduzidas. O diafragma é um desses músculos. Ele está, pois, submetido à tensão das cadeias anteriores e posteriores. (CAMPIGNION, 1998, p.31)

Diante do exposto, percebe-se que o diafragma, no Sistema GDS exerce influência sobre toda a coluna vertebral, durante a respiração. Se suas aponevroses estão em continuidade com os psoas que são músculos flexores do quadril, o quadril está diretamente implicado na respiração. Não seria, portanto, adequado dissociar os psoas e o quadril da respiração, quando se tem em vista a propulsão do ar para a emissão vocal67.

Campignion descreve basicamente três mecanismos de respiração: a adinâmica, a dinâmica e a respiração forçada. A adinâmica é “unicamente diafragmática”, com o homem deitado, com as costas apoiadas, ou ainda de quatro. É uma respiração abdominal em situação de repouso, uma respiração “com mínima intervenção muscular”. A respiração dinâmica, ou

66Aponeurose ou aponevrose é a membrana de tecido conjuntivo que envolve os músculos separando-os uns dos

outros ou lhes serve de inserção. Disponível em: <http://www.portoeditora.pt/espacolinguaportuguesa>

67Conforme apresento mais adiante, a associação do psoas com a respiração constituirá um princípio facilitador

52 seja, com o homem em pé e ativo, está intimamente associada à estática vertebral e suas possibilidades de ereção reflexa, que dependem dos músculos da cadeia póstero-anterior (PA). Esta cadeia está presente apenas no tronco e compreende dois grupos de músculos: músculos mais posteriores, entre os quais os transversários espinhosos, constituindo o grupo dos sentinelas do eixo vertical; músculos mais anteriores, entre os quais o diafragma, constituindo o grupo dos respiradores e pressores. Campignion ressalta que “respirar com a barriga é completamente natural em situação de repouso, mas é completamente errado quando o tronco está ereto”. Está se referindo a uma atitude AP sem apoio PA, que adota o modo adinâmico, tendo uma “atitude vertebral afundada, relaxada” (1998, p.42). A respiração dinâmica, também chamada de respiração natural reflexa, necessita de uma grande liberdade articular e, portanto muscular na caixa torácica e no conjunto do corpo. Campignion (1998, p. 50) explica que:

Em certos casos, somos levados a recorrer, no início do tratamento, a certas maneiras de respirar, não para educar, mas para liberar o corpo de suas tensões ou para obter um ganho de mobilidade nas articulações torácicas. Estufar a barriga na

expiração é muitas vezes solicitado para obter um aumento de mobilidade para baixo. [Grifos meus]

O terceiro tipo de respiração descrito por Campignion, a respiração forçada é o tipo de respiração mais utilizado no contexto do trabalho do performer, que necessita muitas vezes garantir maior sustentação e projeção vocal. Na respiração forçada a intervenção do encadeamento PL, é requerida “a partir dos músculos eretores da coluna vertebral e por intermédio dos músculos de revezamento: o angular da omoplata, os romboides, o grande denteado e longo dorsal” (1998, p.43). Para acentuar a expiração, o músculo transverso do abdome, se torna mais ativo e induz a participação do encadeamento AL:

A cadeia antero-lateral é rotatora interna das cinturas e dos membros. Por esta razão, Françoise Mèzieres fazia com que se mantivessem os membros e as cinturas em rotação externa durante a expiração, a fim de obter um maior alongamento dos músculos rotatores internos. (CAMPIGNION, 1998, p. 51-59). [Grifos meus].

É interessante perceber que na dança Topeng a rotação das cinturas é realizada pela rotação externa do fêmur e pela elevação dos cotovelos e afastamento lateral das escápulas. É possível deduzir confrontando a prática na oficina Topeng e o estudo do Método GDS que a própria posição da dança Topeng de certa forma “molda” o corpo para a respiração e o trabalho vocal.

53 Campignion afirma não existir um método correto de respirar, mas que este varia de acordo com a tipologia do indivíduo. O autor faz referência a Françoise Mèzières segundo a qual “todos os indivíduos tendem a estar bloqueados em inspiração” (1998, p.51). O expirar facilita o relaxamento pelo alongamento dos músculos envolvidos no bloqueio torácico em posição inspiratória. “É por esta razão [afirma ele] que no método Mèzières, o tempo forte, ativo é o da expiração”. (CAMPIGNION, 1998, p.51).

A relação entre o diafragma e o assoalho pélvico constitui um apoio respiratório, de grande importância para a fonação. De acordo com Campignion,

O diafragma está no centro de dois espaços hermeticamente fechados e aspirado para cima pelo vácuo pleural e suspenso com os órgãos intratorácicos à coluna dorsal alta, até a C7. [...] O assoalho pélvico também aspirado, aparenta-se mais com um diafragma do que com um assoalho. A chave para preservar a estática dorsocervical é um equilíbrio de tensões que promova a suspensão das estruturas intratorácicas, e abdominais. É bom que este conteúdo seja aspirado na direção de um pescoço bem ereto e livre (1998, p. 25) [Grifos do autor].

Campignion afirma existirem além do diafragma propriamente dito, três outras estruturas que funcionam como diafragmas:

O diafragma pélvico, formado pelo plano profundo do períneo68resiste por seu tônus próprio no momento da inspiração e é posto em tensão pelo aumento da pressão intra- abdominal. Neste jogo de pressões entre o diafragma propriamente dito e o pélvico, a tonicidade do músculo transverso do abdome é importante para dirigir a pressão para cima e evitar que ela se comunique à pequena bacia.

O diafragma faringiano representa um papel nas diferentes funções fisiológicas: a tosse a deglutição e a fonação. Este, “permite além de outras coisas, regular a pressão intratorácica em complementariedade com o diafragma torácico”. (KAPANDJI apud Campignion, 1998, p.59).

O diafragma craniano, formado por membranas intracranianas possui um ritmo próprio, denominado de movimento respiratório primário69. E pode ter seu ritmo entravado pelo excesso de tensão nas cadeias anteriores e medianas e posteriores e medianas. (AM-PM).

Suquet (2011, p.524) também relaciona a ondulação da coluna à teoria da osteopatia,

68E que compreende as partes esfincteriana e elevadora do ânus, os isquiococcigianos, o piramidal da bacia e o

obturador interno.

69A respiração primária surge no terceiro mês da vida intrauterina “Neste ritmo fisiológico de base se enxertam

todos os outros ritmos/movimentos [...], de modo particular o da respiração pulmonar.” (Rouquet apud SUQUET, 2011, p.524).

54 segundo a qual “a coluna „respira‟ pelo ritmo do lento fluxo e refluxo do líquido céfalo- raquidiano”. É interessante perceber que o diafragma craniano de Campignion é análogo à Lin

Tai, à membrana do tubarão referida por Fernandes, conforme expus na p.29. A

movimentação fluída, a ondulação da coluna vertebral parece metaforizada na imagem de um peixe nas artes marciais chinesas. O tubarão está imerso na água, assim como o bebê no terceiro mês de gestação, está imerso no líquido amniótico. A técnica respiratória da ginástica

Daoyn também se referia à tentativa de retorno à vida intrauterina pelo dandien, ou tan’ien.

Na abordagem GDS, quando uma cadeia é dominante em uma dada região, essa é marcada com um sinal que lhe é próprio e que a caracteriza em relação às outras. A supressão total das dominâncias é impossível, pois são a base da biotipologia, mas os excessos podem ser trabalhados, para que o indivíduo não perca a liberdade de sua movimentação e para que tais cadeias musculares não se tornem realmente cadeias que aprisionam o indivíduo numa tipologia psicossomática.

Fonte: (CAMPIGNION, 1998, p. 65)

Observando as imagens não é difícil perceber que a quando as cadeias PA –AP estão em equilíbrio ocorre a liberação da cervical, o que facilitará a emissão vocal. Essa tipologia é praticamente idealizada, posto que em menor ou maior grau as demais tipologias estarão presentes. Campignion propõe exercícios que conjugam movimento e respiração para cada tipologia específica, alguns retirados do Yoga. No Método GDS, “A única conduta válida

55 para todos os indivíduos, que vai de encontro ao método de FNP, [Facilitação Neuroperceptiva] e a Coordenação Motora [de Mèzières], são os movimentos espiróides que possibilitam uma ação sincrônica das cadeias musculares” (VIEIRA, 1998, p. 46).

Em relação ao Centro de Energia de Base do corpo, podemos perceber através do

Método GDS o quanto o diafragma age sobre a coluna vertebral em conjunto com os psoas,

envolvendo e alterando o equilíbrio do corpo num todo.

1.2.4 O Centro de Energia de Base na Educação Somática: O Sistema Bartenieff: