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O Centro de Energia de Base em relação à respiração e ao fenômeno vocal – A

CAPÍTULO I: NOÇÕES DE CENTROS DE ENERGIA DO CORPO EM ALGUMAS

1.2 NOÇÕES ACERCA DO CENTRO DE ENERGIA DO CORPO EM PRÁTICAS

1.2.2. O Centro de Energia de Base em relação à respiração e ao fenômeno vocal – A

A necessidade de se fazer ouvir em cena demanda do performer o controle da intensidade da voz. Para altas intensidades o fluxo aéreo impulsionado precisa ser aumentado. A fonoaudióloga Mara Behlau (2008, p. 28) aponta que “utilizamos diversos mecanismos para a variação da intensidade vocal, sendo o principal, o aumento da pressão de ar subglótica e o controle de sua saída por um maior fechamento glótico”, ou seja, aproximando as pregas vocais. A técnica de apoio respiratório-vocal é estudada no campo da Fonoaudiologia para ampliar a capacidade e sustentar a vocalização. De acordo com Cláudia Pacheco e Tutti Baê (2009, p. 19-21):

O tipo respiratório conhecido como ideal para a fala ou canto é o costo diafragmático abdominal, que prioriza a abertura das costelas, e, consequentemente, provoca anteriorização do osso esterno, e abaixamento do diafragma, resultando numa expansão abdominal [...] Nos momentos de maior demanda de ar na expiração, para facilitar a saída do ar e adquirir o controle da expiração utilizamos a musculatura torácica e abdominal, que trabalham em conjunto.

Estas autoras assinalam a importância de vários músculos envolvidos no momento do apoio à coluna de ar durante a expiração: a musculatura da cinta abdominal (reto abdominal, oblíquo interno e externo e transverso do abdômen), junto da musculatura torácica superior (diafragma, intercostais internos e externos) e musculatura torácica inferior (quadrado lombar, oblíquos e ilíaco). Fisiologicamente, no momento da expiração, explicam as autoras que a musculatura da cinta abdominal abaixa as costelas e empurra o conteúdo abdominal para dentro. Sem a ativação da musculatura da cinta abdominal, ocorre um esforço compensatório da musculatura extrínseca e intrínseca da laringe, que gera sobrecarga vocal. Isso ocorre devido à falta do aumento de pressão na área subglótica.

Um ponto do corpo específico é salientado pelas autoras: “no momento do apoio a atenção deve estar voltada para a região pubiana (4 dedos abaixo do umbigo)”, na qual estão inseridos os músculos da cinta abdominal.

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Fonte: PACHECO&BAÊ, 2006, p.21

Pacheco e Baê (2009) salientam que a musculatura pélvica e abdominal precisam ser tonificadas para que o fluxo do ar se mantenha constante.

Behlau (2010) também cita, em relação ao abdômen, duas técnicas respiratórias principais utilizadas no canto: belly in, com a parede abdominal contraída, e belly out, com a parede abdominal distendida ao longo da emissão. A autora afirma, baseada em um estudo de Sundberg (1987) que “ambas as técnicas mostraram efeitos similares na produção do som” (2010, p.301)

Se o processo da respiração é um processo essencial ao organismo, indispensável para a manutenção da vida do corpo humano, na produção vocal, o ar é a fonte de energia indispensável.54 A voz é produzida na laringe que tem uma série de funções, das quais destaco a função respiratória, a deglutitória e a fonatória. As cinco principais cartilagens que dão estrutura à laringe são: epiglote, tireóide, cricóide e o par de aritenóides. Estas cartilagens dão apoio aos músculos extrínsecos da laringe que são responsáveis pelos movimentos de abaixamento e elevação da laringe55, e intrínsecos56 que atuam na abertura e fechamento das

54A respiração será melhor descrita no decorrer deste capítulo, no ítem 1.2.3. Uma breve explicação sobre o

sistema respiratório pode ser verificada no vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=sQU4LVJr7TI.

55Os oito músculos extrínsecos encontram-se divididos em dois grupos: elevadores ou supra- hióideos,

localizados em cima do osso hióide, e abaixadores ou infra-hióideos, abaixo do osso hióide. Nos sons agudos a laringe eleva-se pela ação dos supra-hióideos e nos sons graves, abaixa por ação dos infra-hióideos. (PACHECO, BAÊ, 2008)

56Os músculos intrínsecos da laringe dividem-se em músculos adutores (tireoaritenóideo, interaritenóideo e

cricoaritenóideo lateral), que aproximam as cordas no momento da fonação, músculo abdutor (cricoaritenóideo posterior) que as afastam no momento da inspiração, e o músculo tensor (cricoaritenóideo) que alonga as pregas vocais, possibilitando a emissão de tons mais agudos durante a fonação. (PACHECO, BAÊ, 2006, p.39)

45 pregas vocais. As pregas vocais se prendem anteriormente na cartilagem tireóide e posteriormente nas cartilagens aritenóides, o que possibilita o movimento de abre e fecha que elas realizam respectivamente no ato da respiração e da fonação. (PACHECO, BAÊ, 2006, p. 33-35).

Fonte: BEHLAU, 2008, p.7

Para que a voz seja produzida usamos como matéria prima o ar. “O sistema respiratório funciona como uma bomba, produzindo fluxo e pressão de ar para excitar o mecanismo vibratório57 das pregas vocais”. (BEHLAU, 2008, p. 28).

Ao romper a resistência decorrente da aproximação das pregas vocais, o ar provoca um movimento ondulatório na mucosa que recobre o músculo vocal. A vibração da mucosa é responsável pelo som gerado nas pregas vocais58. A diferença na produção de um som grave ou agudo, ou seja, a sua frequência, é resultado da ação muscular e da pressão do ar, o que

57A mucosa da prega vocal vibra em velocidade muito acelerada, em frequência de 100Hz no homem, e ao redor

de 200Hz na mulher (BEHLAU, 2008)

58Existem várias teorias para explicar a produção da voz, sendo a teoria mioelástica-aerodinâmica a mais aceita

mundialmente. (BEHLAU, 2008, p.37)

46 determina o número de vibrações de nossa prega vocal59. As ondas sonoras que correspondem ao som grave são amplas e necessitam de espaço maior para ressoarem, as ondas sonoras agudas são amplificadas em espaços pequenos. É a forma do trato vocal que determina suas propriedades de ressonância60. As estruturas do trato vocal61 interferem no som produzido pelas pregas vocais de diversas maneiras, seja modificando a ressonância, ou desempenhando a função de articuladora do som, podendo transformar esse som em fala ou canto. (PACHECO, BAÊ, 2006, p. 33-49). A voz, identificada como som, pode ser definida acusticamente como este, ou seja, como “uma onda que vibra e se propaga num meio elástico, o ar”. (PACHECO, BAÊ, 2006, p. 46). Assim sendo, suas propriedades são: altura, que é determinada pela frequência grave ou aguda; duração, que é o tempo de produção do som; intensidade, que é determinada pela amplitude das vibrações dando ao som a propriedade de ser mais forte ou mais fraco; e timbre, qualidade do som que permite conhecer sua origem. (PACHECO, BAÊ, 2006, p. 50). Todas essas características do som estão inter- relacionadas no momento da emissão vocal.

A fonoaudióloga Mara Behlau conceitua voz como:

fonação acrescida de ressonância [...] A laringe produz a fonação enquanto que o trato vocal produz a voz. Do ponto de vista físico, a voz é o som produzido pela vibração das pregas vocais, modificado pelas cavidades de ressonância situadas acima e abaixo dela, ditas cavidades de ressonância. (BEHLAU, p.26)

Behlau (2008) coloca que o aparelho fonador não existe enquanto unidade física, mas como unidade funcional, havendo a necessidade de interação harmônica de órgãos de diferentes sistemas do corpo humano. Considerando os aspectos emocionais Behlau coloca ainda que “a fonação é uma função neurofisiológica inata, mas a voz vai se formando ao longo da vida, de acordo com as características anatomofuncionais do indivíduo e os aspectos emocionais de sua história pessoal”. (BEHLAU, 2008, p.26). A integração do corpo como um

59A estrutura da laringe e o processo fonatório pode ser brevemente visualizada no vídeo: Laringe (Anatomia,

Características, Funções, Glote | Laringe). Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=Y-10C-XZnYc.

60As cavidades de ressonância para Behlau estão acima e abaixo da laringe, enquanto que para Pacheco e Baê

(2006) estão apenas acima, na máscara. A visão de Pacheco e Baê a este respeito está de acordo com a de Matteo Belli, ator italiano pesquisador da voz, que utiliza dos termos: consonadores para as cavidades de ressonância que estão abaixo da laringe e ressonadores para as cavidades acima, na máscara. A diferenciação ocorre para Belli, por considerar que a voz, sendo produzida na laringe não ressoa abaixo dela, mas que a participação da vibração do ar ocorre. A informação acerca da pesquisa de Belli foi obtida em uma oficina de Canto Harmônico com o aluno de Matteo Belli, o ator e cantor Massimiliano Buldrini. Para visualizar a prática de ressonadores,

consonadores e harmônicos da voz falada com Matteo Belli, acesse: http://www.youtube.com/watch?v=Y-10C-

XZnYc

61As estruturas que fazem parte do trato vocal são: laringe, faringe, palato mole e palato duro, língua, mandíbula,

47 todo para o processo de fonação e produção da voz, considerando os aspectos emocionais do indivíduo está implícita no tratamento dado à voz pela Fonoaudiologia.

A noção de apoio vocal para a emissão em altas intensidades e sua relação com a laringe, que considero como outro apoio já que nela várias estruturas se mobilizam para a produção vocal, agindo quase como um diafragma, é bastante útil para entendermos o Centro

de Energia de Base para a fonação no treinamento do performer. Entretanto, a correlação do

apoio respiratório em um corpo que se movimenta em diversos planos como no caso, o do performer, necessita também da contribuição de outras áreas, além da Fonoaudiologia. Para tanto, as propostas da Educação Somática: O Método das Cadeias Musculares e Articulares

GDS e o Sistema Bartenieff serão apresentadas.

A Educação Somática “é o campo de estudo que engloba uma diversidade de conhecimentos onde o domínio sensorial, cognitivo, motor, afetivo e espiritual se misturam com ênfases diferentes”. (Fortin, 2009, apud FERNANDES, 2002, p. 310). Na Educação Somática, derivada do termo Soma o corpo não é tido como objeto, mas somado ao sujeito, rompe-se, portanto, com a ideia de dualismo entre as substâncias.

A seguir, apresento algumas contribuições da Educação Somática em relação ao entendimento do mapeamento e funcionalidade do Centro de Energia de Base na performance vocal.