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Cidadania na Constituição e na LDB e os PCNs para o ensino médio

G: a escola integral é uma escola que está mobilizada em trabalhar com o adolescente a questão do aprendizado, mas não apenas o aprendizado de conteúdos

1.3 Legislação para a compreensão de uma cidadania

1.3.1 Cidadania na Constituição e na LDB e os PCNs para o ensino médio

Refletir sobre cidadania e função social da escola nos remete tanto à Constituição Federal (CF) quanto à Lei de Diretrizes e Base (LDB), pois os fins da educação brasileira estão definidos nestas duas leis. Não se pode esquecer, no entanto, que as leis expressam apenas uma parte da história educacional brasileira, elas representam os diferentes momentos de nossa história. Muitas leis que envolvem a educação são resultados de lutas de educadores em seus movimentos coletivos. Além disso, não se pode negar que as leis manifestam a disposição dos governos de levar adiante um determinado projeto educacional. Logo, é

34 importante conhecê-las, uma vez que possuem não só as disposições gerais sobre a educação, mas também podem indicar avanços para a superação dos problemas que afetam a realidade da escola.

Na Constituição Federal (CF)6, existem alguns artigos que se referem à cidadania. As principais regras previstas sobre esse tema são as seguintes:

A cidadania é fundamento da República Federativa do Brasil (art. 1º, II);

Quando o Estado não edita norma que regulamente o exercício de direitos referentes à cidadania, tornando seu exercício inviável, é possível ajuizar uma ação de mandado de injunção (art. 5º, LXXI);

São gratuitos os atos necessários ao exercício da cidadania (art. 5º, LXXVII); Compete à União editar leis sobre cidadania (art. 22, XIII);

É proibida a edição de medidas provisórias que tratem sobre a matéria de cidadania (art. 62, § 1º, inciso I, alínea a);

A matéria de cidadania é exclusiva do Congresso Nacional, e não pode ser objeto de lei delegada ao Executivo (art. 68, § 1º, II);

A educação deve ser promovida e incentivada visando ao pleno desenvolvimento da pessoa e ao seu preparo para o exercício da cidadania (art. 205).

No que tange à educação, a CF determina no capítulo III, seção I, artigos 205 a 214. Nelas encontramos que a educação é um direito de todos e um dever do Estado e da família, sua finalidade é o "pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para a cidadania e sua qualificação para o trabalho" (Constituição, artigo 205). Presumimos que pleno desenvolvimento significa não só cuidar da tarefa de ensinar, mas também dar conta de muitas outras dimensões (as formas de convivência entre as pessoas, o respeito às diferenças, à cultura escolar, às diferentes aprendizagens requeridas ao cidadão, entre outras) que possibilitem a cada pessoa o exercício dos direitos civis, políticos e sociais, pois acreditamos que a cidadania tem na igualdade uma condição de existência. Igualdade de direitos, de deveres, de oportunidades. Igualdade, enfim, de participação social e política.

A LDB - também conhecida como lei Darcy Ribeiro - é uma lei de educação que define atribuições específicas para os estabelecimentos de ensino, no quadro da organização nacional e estabelece incumbências à União, aos estados, aos municípios, como também às escolas e aos docentes. A LDB retoma a questão sobre o pleno desenvolvimento, incluindo-o entre os princípios e fins da educação nacional em seu artigo segundo, isto é, ―a educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de

6 Disponível em: http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/con1988_05.10.1988/con1988.pdf

35 solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho‖.7

Segundo Carneiro (2006), a finalidade da educação é de três naturezas, são elas: o pleno desenvolvimento do estudante, o preparo para o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho.

a) O pleno desenvolvimento do educando – Significa que a educação, como processo intencional, deve contribuir para que o organismo psicológico do aprendiz se desenvolva numa trajetória harmoniosa e progressiva. É o nível cognitivo em evolução, voltando-se para a assimilação de certos conhecimentos e de certas operações mentais.

b) Preparo para o exercício da cidadania – O conceito de cidadania centra-se na condição básica de cidadão, isto é, titular de direitos e deveres a partir de uma condição universal [...] e de uma condição particular [...]. Estes direitos são tidos, na atualidade e universalmente, como indicadores de competência social. A educação escolar é parte deles e, ao mesmo tempo, manancial para o seu exercício. A cidadania, hoje, não se reduz ao âmbito da ação do Estado, mas se dilata nas diferentes formas de pressão da sociedade civil para responder às particularidades de grupos e de pessoas.

c) Qualificação para o trabalho – A relação educação-trabalho deve ser entendida como a necessidade de fazer do trabalho socialmente produtivo um elemento gerador de dinâmica escolar. O estudante é estimulado, pelo conjunto dos agentes da sala de aula (Professor, disciplina, materiais instrucionais e processos de acompanhamento e de avaliação), a inserir o aprendizado nas formas de produtividade. [...]. A qualificação para o trabalho não quer significar uma divisão da vida em dois tempos: um tempo próprio para estudar e outro, um tempo sucedâneo, para trabalhar. Considerando que não existem valores pedagógicos descontextualizados da prática social e da vida real, entende-se que a educação no e

para o trabalho é inerente à educação política. Não se pode pensar em formação humana do aluno se, pela ação do trabalho, o cidadão não contribuir para humanizar as estruturas sociais, econômicas e políticas. (CARNEIRO, 2006, p. 33-34).

Nesse sentido, a missão de cada escola, de cada gestor, de cada professor é favorecer o pleno desenvolvimento do educando, preparando-o para a cidadania e qualificando-o para o trabalho. Esse aspecto é assegurado pela LDB, uma vez que a maior característica desta lei é a flexibilidade. As escolas têm autonomia para prever formas de organização que permitam atender às peculiaridades regionais e locais, às diferentes clientelas e necessidades do processo de aprendizagem (art. 23). Do mesmo modo, estão previstas formas de progressão parcial (art. 24, III), aceleração de estudos para alunos com atraso ou adiantamento escolar, aproveitamento de estudos e recuperação (art. 24, inciso V, b, d, e). Essas e outras medidas têm por objetivo promover uma cultura de sucesso escolar para todos os educandos.

7 Disponível em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf Acesso em março de 2010.

36 Em relação ao ensino médio – foco de nosso olhar - a LDB por meio dos artigos 35º e 36º oferece conteúdo concreto às especificidades básicas da educação média estabelecendo suas finalidades e conceituando-as como o coroamento da formação a que todos têm direito para dar continuidade aos estudos e aprendizados, para trabalhar e para pertencer autonomamente à comunidade local e nacional. Estabelece, também, que o ensino médio, entre outras diretrizes, destacará a educação tecnológica básica, a compreensão do significado da ciência, das letras e das artes, o processo histórico de transformação da sociedade e da cultura, e a língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania.

É fato que o ensino médio brasileiro tem sido afetado pelas mudanças nas formas de convivência, de exercício da cidadania e de organização do trabalho, impostas pela nova geografia política, pelo processo de globalização e pela revolução tecnológica. Frente a esse cenário, o CNE (Conselho Nacional de Educação) aprovou a proposta providenciada pelo MEC (Ministério da Educação), ou seja, as DCNEM8 (Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio) que, segundo Carneiro (2006),

[...] são, na verdade, um compacto de ‗definições doutrinárias sobre princípios, fundamentos e procedimentos a serem observados na organização pedagógica curricular‘ de cada escola. Os princípios norteadores desta organização são:

1 – A estética da sensibilidade: busca substituir a estética da repetição e da padronização, incentivando o aprender criativo, a função humana da curiosidade, o desenvolvimento da afetividade e ―as formas lúdicas e alegóricas de conhecer o mundo‖.

2 – A política da igualdade: busca, a partir do respeito aos direitos humanos, desenvolver o princípio constitucional da igualdade no acesso aos bens sociais e culturais, no respeito ao patrimônio comum, no encorpamento do espírito de responsabilidade tanto na área pública como no mundo das relações privadas e na intolerância com todas as formas de discriminação.

3 – A ética da identidade: busca ultrapassar as dicotomias entre público e privado, entre mundo moral e material, praticando um humanismo permeável de elementos de solidariedade, espírito público e reciprocidade, qualidades que devem cimentar as ações da vida cotidiana, profissional, social, civil. Enquanto fundamento educativo, esta ética não se preocupa em ―enquadrar‖ os alunos em modelos preestabelecidos de conduta social. (p. 121 – 122).

Esta aprovação teve como objetivos: sistematizar os princípios e diretrizes gerais contidos na LDB; explicitar os desdobramentos desses princípios no plano pedagógico e traduzi-los em diretrizes que contribuam para assegurar a formação básica comum nacional; e

8 Disponível em: http://pactoensinomedio.mec.gov.br/images/pdf/resolucao_ceb_002_30012012.pdf

37 dispor sobre a organização curricular da formação básica nacional e suas relações com a parte diversificada do currículo, e a preparação geral para o trabalho.

A fim de desdobrar o texto das DCNEM, o Ministério da Educação criou os PCNEM (Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio) que, diferente das diretrizes, segundo Carneiro (2006),

[...] constitui uma rota segura de construção do novo currículo do Ensino Médio, no processo sempre tenso de qualquer reforma educacional. As indicações expressas são referenciais norteadores da nova organização do currículo do Ensino Médio, respeitada a pluralidade cultural, regional, ética, religiosa, política e econômica do tecido social do País. O horizonte será um só: a busca da qualidade da educação mediante a construção da cidadania concreta. (p. 122).

Os PCNEM9 visam garantir aos educandos o direto de usufruir do conjunto de conhecimentos reconhecidos como necessários para o exercício da cidadania. Por não possuir caráter de obrigatoriedade, pressupõe-se que os mesmos serão adaptados às peculiaridades locais, uma vez que são uma referência para a transformação de objetivos, conteúdos e didática do ensino. Os PCNEM têm como objetivo auxiliar os educadores na reflexão sobre a prática diária em sala de aula e servir de apoio ao planejamento de aulas e ao desenvolvimento do currículo da escola.

No que tange à cidadania, os PCNEM deixam claro a formação do cidadão ao currículo escolar. Não se trata de tomar a construção de sujeitos cidadãos como um assunto extra, mas incorporar a cidadania à estrutura da educação. O Estado delega à educação escolar uma contribuição para a formação de sujeitos. Os estudantes não devem ser vistos apenas como receptáculos de informações e de conteúdos, eles devem procurar ser críticos, atuantes, autônomos e participativos tanto no espaço escolar como fora dele.

A formação da cidadania associa-se, ao longo dos PCNEM, às seguintes preocupações: saber se informar, comunicar-se, argumentar, compreender e agir; enfrentar problemas de diferentes naturezas; participar socialmente, de forma prática e solidária; ser capaz de elaborar críticas ou propostas; e especialmente, adquirir uma atitude de permanente aprendizado.

38 Não se pode negar que a preocupação com a formação de sujeitos cidadãos é trabalhada em todo o texto, materializando-se na ideia de que ela deve ser exercida. No que tange, particularmente, à área de língua materna,

[...] o ensino de Língua Portuguesa, hoje, busca desenvolver no aluno seu potencial crítico, sua percepção das múltiplas possibilidades de expressão lingüística, sua capacitação como leitor efetivo dos mais diversos textos representativos de nossa cultura. Para além da memorização mecânica de regras gramaticais ou das características de determinado movimento literário, o aluno deve ter meios para ampliar e articular conhecimentos e competências que possam ser mobilizadas nas inúmeras situações de uso da língua com que se depara, na família, entre amigos, na escola, no mundo do trabalho. (PCNEM, p. 55).

Nesse sentido, a formação da cidadania não pode ser vista como um item isolado, mas como mais um objetivo proposto pelos PCNEM. O tema não apenas norteia a exposição sobre o ensino no documento, como também atravessa e se torna constitutivo dos diversos aspectos abordados, como o da relação intrínseca que deve haver entre conteúdos e a formação da cidadania, ou ainda da relação entre os temas transversais e práticas cidadãs.

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