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P: neologismo ele cria então ele traz essa novidade pra linguagem próxima aula a gente 47continua gente na próxima aula a gente retoma

Segmento 11: transcrição aula 24/

46 P: neologismo ele cria então ele traz essa novidade pra linguagem próxima aula a gente 47continua gente na próxima aula a gente retoma

Durante o período em que observamos as aulas de P, observamos que a participação dos estudantes nos eventos de aula e das regras estabelecidas para essa participação nos levou a perceber tanto aspectos positivos da interação como falhas que geraram dificuldades comunicativas e mesmo falhas no aprendizado, uma vez que a falta de organização na distribuição dos turnos de fala pode causar problemas que vão desde um mal entendido até conflitos entre os interactantes da comunicação.

Boa parte das vezes em que P lançou uma pergunta a toda turma ou a um estudante específico, ela mesma respondeu ao questionamento. Em uma das várias conversas informais que tivemos fora do espaço da sala de aula, ao ser questionada sobre essa ação P se justificou informando sobre sua preocupação e angústia em relação ao tempo que disponibilizava para dar conta da gama de conteúdos até o dia da prova do ENEM.

No entanto, os turnos dos eventos em sala de aula são sempre controlados por P e, quando ela não faz uso da fala por algum tempo, tem sempre o poder e fazer calar e fazer falar, de continuar ou de interromper como acontece com a tomada de turno entre ela e E1 (linha 10 a 22) em que ela ganha a turno. Além disso, a mudança no footing (linha 19) contradiz o argumento utilizado por P para justificar a sua antecipação das respostas às perguntas formuladas por ela mesma, uma vez que ela solicitou a participação de estudante para realização da leitura sobre Guimarães Rosa.

Antes de iniciar a leitura P solicita um instrumento para que os estudantes possam destacar as ideias relevantes do texto a ser lido. Essa ação é bastante válida, uma vez que já presenciamos em algumas práticas pedagógicas a exigência de algumas habilidades sem, no entanto, os estudantes a terem desenvolvido e/ou vivenciado com o auxílio do professor. P não só pede antecipadamente o instrumento, como também avisa aos estudantes quando esse deve ser utilizado.

No que tange ao objeto de aprendizagem desta aula, a linguagem de Guimarães Rosa, esse tem sua compreensão restringida ao significado do léxico neologismo. Todo conhecimento é mediado pela linguagem, que se constitui em uma forma de poder e proporciona modos particulares de perceber a realidade. McLaren (2000) afirma que a

172 linguagem é mobilizada, muitas vezes, dentro de uma ideologia populista, vinculada à identidade nacional, à cultura e à formação.

Como máscara cultural da hegemonia, é mobilizada para policiar as fronteiras de uma divisão ideologicamente discursiva que separa os grupos dominantes dos dominados, as diferentes etnias, as escolas dos imperativos da vida pública democrática. Como produções materiais, as linguagens correspondem às demandas simbólicas dos grupos; não são neutras, ao contrário, são manifestações ideológicas. Por isso, aprender e ensinar requer adentrar no mundo da cultura, no interior das relações sociais existentes e assim contribuir para a formação de uma cidadania.

As linguagens constituem o mundo e são constituídas por ele, significando as relações e a própria existência humana. Em sua dimensão plural, elas se constituem de forma diversificada, ou seja, manifestam-se de muitas maneiras por meio dos signos que permeiam o mundo e estão presentes em toda e qualquer atividade; não esquecendo que o signo é muito mais que significado. Nessa perspectiva, a literatura também é um campo de entrelaçamento de várias linguagens, uma vez que articula várias como as narrativas orais, as imagens, a escrita, abarcando aspectos da tradição e da memória cultural; da criação e da transformação.

O momento histórico e social mudou e, por isso mesmo, as linguagens se transformaram, interpretando e criando novos sentidos, explicando e inventando novos significados. Logo, essas demandas atuais devem necessariamente repercutir nas escolhas do professor para suas ações pedagógicas, pois é em razão do convívio com as linguagens que os estudantes conferem novas características a suas relações sociais, ampliando formas de ler a realidade, incorporando referenciais culturais que transcendem o meio sociocultural imediato, por isso seu estudo não pode estar restrito ao significado.

No próximo tópico, será analisada a entrevista realizada com a professora dos terceiros anos de Ensino Médio na EREM João Bezerra no ano de 2014 e 2015 a fim de fazermos um estudo comparativo entre seu dizer e sua prática pedagógica.

5.4 A formação profissional e seus reflexos na prática pedagógica

A formação do docente busca estabelecer relações, por meio de investigação e ampliação dos saberes historicamente construídos, entre as diversas culturas e a formação acadêmica, de modo que esse profissional venha a atuar de forma crítica, ética e responsável, pois, segundo Mizukami (2002), o professor é um dos principais atores no processo de

173 ensino-aprendizagem e o responsável pela organização do trabalho pedagógico. Ele é o principal mediador e remediador entre o conhecimento produzido ao longo da história da humanidade e os estudantes.

É na profissão que o professor se define, pois o ensino é parte fundamental de sua identidade na concepção de Hall (2006) que está misturada ao contexto sócio-histórico- cultural determinante de sua função social. A escalada de um posicionamento é indispensável à realização pessoal e à legitimidade de outras competências docentes, de forma a superar uma relação missionária, cuja imagem algumas pessoas têm da profissão, e exigir um movimento de formação por parte do professor.

Aprender a ensinar, a ser professor, é um processo contínuo. Mizukami (2002) declara que ser professor não equivale a um estágio final estabelecido a priori. Inicia-se antes mesmo do ingresso em um curso preparatório, desde o começo da escolarização, como aconteceu com

P em sua jornada. Segmento 1: entrevista Professora 30/11/2015.

P: Minha primeira formação... assim... o curso médio foi o magistério, ou seja, voltado para a educação é::: fiz os três anos de magistério, ensino médio, técnico... chama-se ensino técnico, o médio técnico e lecionei durante oito anos com turma de alfabetização... comecei com maternal e depois eu fui... logo no ano seguinte, a gestora da escola que eu trabalhava me colocou na alfabetização e fiquei os restantes dos anos nessa escola, uns oito anos trabalhando com turma de alfabetização... depois é:: eu abri uma escola da educação infantil até a quarta série... educação infantil de primeira a quarta, antiga nomenclatura e fiquei mais uns seis anos trabalhando também nessa área e quando eu terminei o curso de magistério, eu prestei vestibular e entrei no curso de letras da universidade católica... português- francês... terminando o curso de letras, eu passei um tempo sem estudar, só trabalhando foi quando eu casei e coisa e tal e eu voltei a fazer... a estudar... quando eu decidi fazer pós-graduação em educação especial, então toda a minha formação é voltada pra educação...

/.../aí pós... sim... aí depois eu prestei concurso público para o estado e foi quando eu fui ter o primeiro contato de fato com a minha disciplina de letras, ou seja, quando eu vim ser professora de língua portuguesa de uma turma foi quando eu entrei no estado... eu estou no estado há nove anos... iniciei com as turmas iniciais no estado, peguei quinta série, trabalhei uns três anos na quinta, foi quando esta escola passou a ser EREM... quando ela passou a ser EREM logicamente ela só iria ter ensino médio e aí eu comecei a trabalhar com ensino médio, iniciei com primeiro, segundo e terceiro e fiquei no terceiro ano, então tem uns cinco anos que estou só no terceiro.

Embora nem todos os professores tenham iniciado sua carreira com o curso de magistério, é fato que é com o início das atividades em sala de aula que as aprendizagens tornam-se gestos concretos, pois se materializam em ações que, por sua vez, serão frutos de novas aprendizagens diante das situações complexas que constituem o cenário de uma sala de aula.

174 A escola é um espaço de formação tanto para os estudantes quanto para os professores. Silva (2003) considera que, nas experiências vividas durante a história da escolarização, há vestígios de um habitus professoral constituído por meio da realização do ensino escolarizado. Essas experiências vividas pelo sujeito no processo de tornar-se professor é um elemento importante para a prática de sua atividade.

A atuação do professor abrange uma área complexa, repleta de desafios, com caráter interativo e situado que lhe imprime uma dinâmica relacional com os estudantes, com os conteúdos, com o saber, com os colegas, com a comunidade e, até mesmo, com as crescentes demandas que surgem a cada dia.

Nessa perspectiva, para o exercício da ação docente faz-se necessária a formação científica e pedagógica, ou seja, embasamento. Imbernón (2004) defende que a especificidade da profissão docente está no conhecimento pedagógico. Martins (2003) junta-se a essa afirmação ao argumentar que a formação do professor exige a capacidade de compreender o processo de ensino em suas múltiplas determinações. Para isso, o docente precisa ter claros os fundamentos filosóficos, sociológicos, políticos, ideológicos e pedagógicos do processo de ensino. A formação científica, por sua vez, deve considerar como o conhecimento é construído, agregando valor epistêmico à prática em um movimento de observação, análise, experimentação, avaliação e sistematização de saberes.

Nesse sentido, considerando que o espaço escolar é um local de permanente interações, ajustes, conflitos e (re)construções, pois é um organismo dinâmico e social, faz-se necessário refletir as concepções do professor, uma vez que essas serão refletidas em sua prática pedagógica. Buscando fazer um paralelo entre sua prática e alguns conceitos compreendidos por P, apresentamos a seguir algumas dessas concepções. Começamos em procurar apreender a ideia sobre ensino. Segmento 2: entrevista Professora 30/11/2015.

P: rapaz... é:: realmente muito amplo porque ensinar uma mãe ensina... você começa

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