• Nenhum resultado encontrado

Segmento 1: transcrição de aula 18/

27 P: exatamente, ou seja, nós temos muito da nossa criação em parte somos o que somos 28((somos o reflexo de uma criação))

4.2 Contextualização da escola João Bezerra

A educação integral no estado de Pernambuco tornou-se política pública em 2008. Seu modelo é fundamentado na concepção da educação interdimensional, como espaço privilegiado do exercício da cidadania e o protagonismo juvenil como estratégia imprescindível para a formação do jovem autônomo, competente, solidário e produtivo. O tempo escolar nas Escolas de Referência em Ensino Médio (EREM) é organizado para atender os estudantes em jornada ampliada da aprendizagem com uma carga horária de 45 horas aulas durante a semana, ou seja, uma escola funcionando com professores e estudantes, em tempo integral, durante os cinco dias semanais.26

A educação interdimensional, por sua vez, compreende ações educativas sistemáticas voltadas para as quatro dimensões do ser humano: racionalidade, afetividade, corporeidade e espiritualidade. A proposta da Educação Interdimensional também foi associada a premissas do referencial teórico da Tecnologia Empresarial Aplicada à Educação: Gestão e Resultados (TEAR), que trata do planejamento estratégico aplicado às escolas que compõem o Programa de Educação Integral.

A Escola de Referência em Ensino Médio João Bezerra situada na Rua Francisco Valpassos, S/N no bairro de Brasília Teimosa, na cidade de Recife, estado de Pernambuco, com CEP 51010-370 é considerada uma escola de grande porte por possuir nos dias de hoje um quantitativo de 1040 estudantes: 641 fazem parte do integral, no período diurno e 399 compõem o EJAI – Educação de Jovens, Adultos e Idosos, à noite.

Toda escola de referência do estado de Pernambuco recebe apoio de três setores aos quais se subordina, ou seja, a Secretaria de Educação, pois todas as normatizações procedem dela, as Gerências Regionais – GRE que coordenam e monitoram os desempenhos dos estudantes e das escolas divididas por áreas e o Programa Intergral que regulamenta e monitora questões ligadas às escolas integrais.

O bairro de Brasília Teimosa, onde se situa a EREM João Bezerra, vem da ação de uma tomada de posse da terra. Um grupo de pessoas que vivia da pesca27, na década de 50, lutou pelo espaço – um areal - que pertencia ao Porto de Recife. Essas pessoas invadiam o território durante a noite e criavam as palafitas para morarem; porém, ao amanhecer, o

26 Informação disponível em: http://www.educacao.pe.gov.br/portal/?pag=1&men=70 Acesso em março

de 2011.

114 exército e a polícia apareciam, derrubavam as palafitas e prendiam os moradores. Ao saírem da delegacia, eles voltavam a ocupar o areal e o processo se repetia.

O nome do bairro está relacionado ao fato de que na época em que o grupo lutava por uma moradia, a cidade de Brasília estava sendo construída com a finalidade de ser a nova capital do Brasil. Enquanto a nova capital usufruía de todo apoio governamental e modernas estruturas, a Brasília de Pernambuco teimava para evitar seu desaparecimento, por isso o nome Brasília Teimosa. Segue a imagem do bairro inicialmente e após investimentos da Prefeitura que visaram a uma melhoria da cidade.

Figura 1: Bairro de Brasília Teimosa

A história do bairro gira em torno de lutas como a história de cinco pescadores que tentaram chegar a Brasília com os barcos feitos por eles para serem recebidos por Juscelino Kubitschek que na época era o presidente do Brasil, a fim de requererem a tomada de posse da terra. No entanto, ao alcançarem o Rio de Janeiro foram recepcionados pela esposa, Sara Kubitschek, que prometeu ao grupo a entrega dos documentos.

Alguns foram entregues, mas foram poucos. Ainda hoje, os moradores pleiteiam pelo documento de posse da terra, uma vez que a maioria da comunidade não tem o certificado que comprove sua moradia. No período de cinco em cinco anos, alguns moradores por meio de sorteio são chamados para uma reunião na Prefeitura da cidade de Recife a fim de receberem os documentos de posse.

O nome da escola – João Bezerra - homenageia um operário do Porto de Recife que lutou para que houvesse estabelecimento de ensino para os filhos dos funcionários. Na época, não havia escola próxima e ele conseguiu convencer a direção do porto a construir uma escola

115 na área destinada à oficina do Porto. O estabelecimento de ensino era bastante simples, existia apenas o equivalente ao Ensino Fundamental anos iniciais. Com o tempo, a escola foi crescendo e passou a ter o Ensino Fundamental anos finais e mais adiante o Ensino Médio.

Passados alguns anos, as turmas de Fundamental (anos iniciais e anos finais) foram sendo encerradas e o Ensino Médio prevaleceu no espaço físico. O Ensino Médio tornou-se, inicialmente, semi-integral28; depois, até os dias de hoje, passou a integral. Esse foi o percurso pelo qual transitou a EREM João Bezerra.

Ao adentrarmos os muros muito bem grafitados da EREM João Bezerra em março de 2014 nos deparamos com um amplo estacionamento que acomoda tranquilamente 50 carros. Embora pouco arborizado, o espaço físico é bastante acolhedor, pois além de sermos recepcionados com o enunciado de bem-vindos, o vigilante é muito solícito.

Os diversos corredores nos conduzem a um ambiente formado por 20 salas de aulas distribuídas da seguinte maneira: 17 salas voltadas para o ensino da Educação Integral e da EJAI que funciona no turno noturno, 1 sala para o laboratório de línguas, 1 sala para colocar material de almoxarifado, embora o projeto seja transformá-la em uma sala de projeção e 1 sala cedida a uma das professora de língua portuguesa que é portadora de necessidades especiais por possuir dificuldade para se locomover. Devido ao fato de terem ocorridos alguns acidentes com a professora, a gestora achou por bem fazer com que os estudantes se deslocassem até ela, a fim de minimizar essas casualidades.

Além das salas de aulas, existem as salas administrativas: a coordenação, a secretaria, a sala dos professores, a biblioteca e a direção. Existe ainda a sala da banda da escola e a sala da rádio da escola. Há também um laboratório de informática cujos computadores em sua maioria não funcionam e são bastante antigos; um laboratório de química, que é bastante utilizado pelos professores de química, de matemática e de física.

O pátio da escola é utilizado como refeitório, pois ao transformarem a escola João Bezerra em uma EREM esqueceram-se de projetar e construir um espaço destinado às refeições dos estudantes. Existe uma quadra esportiva coberta muito grande; o auditório que também funciona como espaço para as oficinas pedagógicas e teatrais. O auditório possui um anexo onde é guardado o material de montagem das peças, o vestuário etc. Há a despensa e

28 A escola semi-integral tem uma carga horária de 35 horas aulas semanais. É uma escola que funciona

com professores trabalhando cinco manhãs e três tardes ou cinco tardes e três manhãs, e os estudantes, cinco manhãs e duas tardes ou cinco tardes e duas manhãs.

116 uma cozinha, porém a comida do integral não é produzida no ambiente escolar, ela é recebida diariamente toda preparada por uma empresa terceirizada e servida no pátio.

Por fim, existem 19 banheiros para atender a toda comunidade escolar: 4 banheiros masculinos e 4 femininos para os estudantes, no corredor principal, 3 masculinos e 3 femininos na quadra esportiva, 1 na coordenação, 1 masculino e 1 feminino na sala dos professores, por fim 1 masculino e 1 feminino na cozinha.

Figura 2: Grafitagem do muro da EREM João Bezerra29

Antes de passarmos para o próximo tópico, precisamos esclarecer que o espaço físico da escola, particularmente a quadra esportiva, é utilizado pela comunidade em comum acordo com a gestão escolar que visa não só ficar ciente das ações, como também ministrar os horários das atividades, evitando conflitos. Por exemplo, existe um projeto de um dos professores de educação física Driblando o craque cujo objetivo é tirar das ruas os jovens que possam ser envolvidos com a questão do vício. Ele reúne e organiza os meninos todos os sábados para treinar e realizar jogos. Buscando driblar as dificuldades, o professor realizou uma campanha para conseguir tênis usados, conseguiu com ajuda de muitos confeccionar um padrão para os jovens e levá-los para competir. Há um grupo de AA (Alcoólicos Anônimos) que se reúne para jogar futebol nos finais de semana; o espaço também é cedido aos representantes de igrejas (Católica e Evangélica) para celebrações de missas, cultos e reuniões de casais e de jovens; o espaço também é utilizado para os ensaios da quadrilha junina da comunidade, entre outros.

A gestão da escola não libera em hipótese alguma o ambiente escolar para festas comemorativas, sejam elas para os próprios estudantes ou funcionários da escola ou para a

29 Todas as imagens deste estudo, exceto a figura 1 que foi fotografada da imagem existente na sala da

117 comunidade. Transcrevemos uma parte da passagem da entrevista com a gestora em que ela justifica sua posição. Segmento 3: entrevista Gestora 3/1232015.

G: /.../ a gente não libera para festa, porque na gestão anterior tiveram muitos problemas com bebidas alcoólicas. Aqui a gente não libera pra isso, a gente luta para que os jovens daqui não estejam envolvidos com isso, não podemos abrir a escola para esse fim. A própria formatura... não é feito o baile na escola. Se os pais quiserem fazer fora, eles juntam o dinheiro e fazem fora. Na escola, só oferecemos aula da saudade, culto ecumênico e colação de grau, nada de festa ((sempre batendo devagar sobre a mesa como forma de ratificar as palavras)), nem a formatura dos alunos, é o básico.

Durante nossa estada na EREM João Bezerra pudemos constatar o quanto a comunidade de Brasília Teimosa respeita a gestão da escola, pois a mesma além de apresentar uma sensibilidade e maturidade para lidar com os problemas de qualquer espécie – dentro e fora dos muros da escola -, busca evidenciar que a escola pretende contribuir para e com a comunidade do bairro, mas não irá de encontro à ética e aos valores que lhes servem de pilares.

Outline

Documentos relacionados