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CINEMA E EDUCAÇÃO

No documento CONTRIBUIÇÕ S ARA A P T CA DO NT (páginas 85-90)

uma reflexão pedagógica acerca do livro o clube do filme

CINEMA E EDUCAÇÃO

Com o surgimento da fotografia, no século XIX, a humanidade passou a poder reproduzir mecanicamente a realidade estática. A reprodução do movimento chegaria algumas décadas mais tarde com o nascimento do cinema, cuja paternidade é disputada entre o estadunidense Thomas Alva Edson e os franceses Louis e Auguste Lumière, e cujos precursores são Eadweard Muybridge e Èmile Reynaud (Enciclopédia Barsa Universal, 2007).

O cinema é um sistema de reprodução de imagens em movimento, registradas em filme ou digitalmente e projetadas sobre uma tela. Aspectos técnicos que não vamos discutir aqui. O importante é compreendermos o que é cinema e o que é educação para, assim, estabelecer uma relação entre ambos os conceitos. Nesse sentido, segundo Roseli Pereira Silva (2007: p.50):

O cinema é tido como um dos mais poderosos meios de comunicação de massa do século XX, razão pela qual não se pode ignorar a força, nem malbaratar o grande poder da educação, oferecido por esse meio. Os filmes são uma fonte de conhecimento e se propõem, de certa forma, a “reconstruir a realidade”. A linguagem cinematográfica tem o mérito de permitir que a relação entre filmes e imaginário social aconteça.

Assim o cinema, além dos efeitos de paixão, atração, reflexão, emoção e deslumbramento, é conhecimento. Ele é tudo isso e muito mais; se tornou uma das maiores fontes inspiradoras e moderadoras de valores ideais de vida. Proporciona possibilidades infinitas, e compreendê-lo como arte para uma perspectiva transformadora, é ver através dele uma estratégia de ensino para uma educação de qualidade; para a compreensão mais radical da realidade e do ser humano.

Hoje, principalmente, o cinema faz parte do dia-a-dia de quase toda a população brasileira, e acreditamos que a escola precisa estar mais sintonizada com essas novas tecnologias e linguagens para, assim, tentar cumprir o seu papel de educadora. Pois educar é promover o desenvolvimento físico, intelectual e moral do indivíduo, com o objetivo de integrá-lo à sociedade por meio da transmissão de valores e conhecimentos acumulados. Nesse sentido primordial, toda sociedade, por mais simples que seja, tem algum sistema de educação. Contudo, o termo educação refere- se, no geral, ao sistema em que o aprendizado se dá organizado numa sequência de etapas a serem vencidas sucessivamente, do ensino primário ao superior, o que costumamos chamar de educação formal, oferecidas em escolas, colégios e universidades, que seguem normas gerais definidas pelo governo.

A proposta de Gilmour para a educação de seu filho é exatamente o inverso. É retirá-lo de uma educação formal, da escola que carece, muitas das vezes, de um currículo significativo. E propõe um método pedagógico controverso, uma nova metodologia, diante da situação vivida pelo filho na escola; um novo caminho a ser incluído entre tantos outros métodos. No entanto, tal decisão é percebida como algo desafiador, pois não é fácil tirar um filho da escola devido ao seu fracasso e, em troca disso, oferecer-lhe filmes semanais escolhidos pelo próprio pai. Até que momento da vida de um jovem com fracasso escolar, os filmes poderiam ser substituídos pela sala de aula?

Então, tudo que discutimos até agora nos conduz para a seguinte questão: como o cinema pode contribuir para a atividade do ensino, independente de este ensino ser formal ou informal?

Como foram debatidos na oficina, filmes podem fazer parte do processo de compreensão da própria existência e da construção de renovados caminhos para o ensino e a aprendizagem. Mas a exibição de filmes não é “a solução” para problemas pedagógicos, mas apenas uma abordagem, um caminho, pois sempre teremos diferentes contextos condicionantes a serem relacionados (social, cultural, econômico). Na questão econômica, por exemplo, foi abordado na oficina o alto índice de evasão escolar. À medida que se avança na faixa etária, as exigências do ensino aumentam drasticamente. Neste caso, diferença social e evasão escolar são fatos relacionados, diante da necessidade de subsistência, especificamente, a necessidade de se trabalhar. No livro, Gilmour propõe que o filho saia da escola, não por dificuldades financeiras, nem pela necessidade de alguém para auxiliar no trabalho como ocorre com frequência no Brasil. Na educação do campo, muitos alunos desistem de estudar para ajudar os pais na lavoura.

Outra questão interessante abordada na oficina são as regras existentes no processo de ensino aprendizagem. Exemplo disso são as presentes no livro O clube do filme. A exibição semanal dos filmes também tinha regras a serem cumpridas. Uma regra importante a ser destacada é a integridade da exibição dos filmes. Por isso era proibido telefonema durante a exibição; contudo, o interessante é que as regras não eram simplesmente impostas, mas razoavelmente apresentadas e justificadas.

O medo do fracasso foi outra questão exposta. Gilmour (op. cit.: 46) também teve medo que sua proposta resultasse em nada

Mas e se nada acontecesse? E se eu o estivesse empurrando para um beco sem saída, sem escapatória, para uma sucessão de empregos ruins e chefes chatos, sem dinheiro e com muita bebida? E se eu estivesse preparando o cenário para tudo isso? Diante disso, podemos ver que o medo do fracasso, da culpabilização que se coloca diante de Gilmour por não alcançar os objetivos propostos, são os mesmos medos presentes em nosso cotidiano escolar, quando um professor entra em sala de aula com o objetivo de propiciar um espaço de construção de conhecimento, de conscientização individual através do processo de interrelação, de um movimento de interiorização para exteriorização, não de uma forma isolada, mas coletiva. Ele se propõe a transformar a vida do educando, de intervir no aprendizado, e quando esse processo de conhecimento não alcança os objetivos propostos por ele mesmo, sente que fracassou; portanto, também sente medo e esse medo pelo fracasso é repassado para a escola. O mesmo ocorre com o aluno quando sente que não tem capacidade de continuar os estudos ou quando se apega apenas às notas e não a todo o processo de conhecimento que está vivenciando, pensando apenas nos resultados. O aluno também se sente culpado, também tem medo do fracasso, do que esperar do seu futuro, ou seja, essa responsabilidade e essa culpa são repassadas do educando para o professor que, consequentemente, transmite para a escola. Contudo, não devemos encontrar um culpado para o fracasso de um aluno; devemos, sim, saber refletir que nossas atitudes e comportamentos como pais e educadores, são fundamentais para a superação de um fracasso escolar, e certamente, isso refletirá no futuro do aluno.

Existe um período para o aprendizado. Depois que ele passa é tarde de mais disse Bouissac, com a lucidez insuportável dos educadores franceses. Tarde demais? Ele está querendo dizer, eu me perguntei, que a educação é como o aprendizado de uma língua, isto é, que você tem que pegar o sotaque certo até uma

:

determinada idade (12 a 13 anos), ou nunca vai falar direito? Pensamento preocupante. Será que deveríamos ter mandado Jesse para um colégio militar? (...) Será que ele tinha aprendido alguma coisa durante o último ano, sob a minha “tutela”? Algo que valesse a pena saber? (IBIDEM, p.90-92).

Assim, a questão está no processo de aprendizado e não em um período específico. A produção de conhecimento pode ocorrer a qualquer tempo, como também em qualquer lugar.

No fundo, o essencial nas relações entre educador e educando, entre autoridade e liberdades, entre pais, mães, filhos e filhas é a reinvenção do ser humano no aprendizado de sua autonomia. (FREIRE, 1996, p. 94).

No entanto, o grande problema do processo de ensino-aprendizagem é de o mesmo não ser valorizado como um processo contínuo, mas sim um processo com metas e resultados a serem alcançados. Por isso mesmo, este artigo acredita que é através do cinema, não apenas como diversão, mas como uma ferramenta educativa, que possa se lançar um novo olhar, uma nova perspectiva de uma prática educativa compromissada, voltada para a construção de um sujeito crítico que, através das experiências cotidianas de sua própria vida, relacione o universo cinematográfico com a sua realidade socioeconômica e cultural. Também espera do educador, professor, pesquisador, que assuma o compromisso de ampliar seu olhar e sua prática para a sala de aula.

Ora, o que precisamos é assumir o desafio de inserir na escola o cinema e outras atividades extraclasses, pois sabemos de sua importância no processo de ensino-aprendizagem. Além disso, sabemos que se tratando de cinema e educação se tem um belo exemplo de construção reflexiva da existência. Segundo Bernardet (2008, p. 13), “no cinema, fantasia ou não, a realidade se impõe com toda a força”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARROS, Armando Martins de. Educando o olhar: notas sobre o tratamento das imagens como fundamento na formação do pedagogo. In: SAMAIN, Etienne. O

a

fotográfico. 2 ed. São Paulo: Hucitec/Editora Senac São Paulo, 2005. p. 191198.

BERGER, John. Modos de ver. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

BERINO, Aristóteles. O clube do livro e o gênero do filme. Disponível em:

<http://www.revistapontocom.org.br/?p=1313>. Acesso: 13 jan. 2010.

BERNARDET, Jean-Claude. O que é cinema. São Paulo: Brasiliense, 2008. (Coleção

primeiros passos; 9).

BRANDÂO, Carlos Rodrigues Brandão. O que é educação. São Paulo: Brasiliense,

2006.

ENCICLOPÉDIA BARSA UNIVERSAL.São Paulo: Barsa Planeta, 2007. 18 v. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

GILMOUR, David. O Clube do Filme. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2009.

SILVA, Roseli Pereira. Cinema e educação. São Paulo: Cortez, 2007.

No documento CONTRIBUIÇÕ S ARA A P T CA DO NT (páginas 85-90)